domingo, 26 de outubro de 2008

Canibal nas ondas do rádio

Atenção, quem estiver a fim de ouvir boa música a partir das 23 horas de terça-feira, dia 28 de outubro, acesse:

www.novaradioweb.com.br

Os (ir) responsáveis do Canibal Vegetariano estarão no programa rádio livre, apresentado pelo Fabinho, rolando sons de algumas bandas que divulgamos na última edição do zine (Ecos Falsos, Instiga, Leptospirose, etc.), bem como outras bandas locais e algumas gringas.

Programa Radiola

O guitarrista Rafael Piera, da banda de Itatiba The Bebber´s Operários, apresentará o programa Radiola toda quarta às 23 horas na Nova rádio Web. Para ouvir, acesse:

http://www.novaradioweb.com.br/




quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Banda Merda - "Carlos" (Läjä records)



Hoje meu dia foi um pouco mais feliz por
uma simples razão: ouvir um bom disco de rock faz qualquer aficionado por música enlouquecer. E foi o que aconteceu com essa "bolachinha".
O disco Carlos da banda capixaba Merda é simplesmente um luxo. Músicas rápidas, pesadas, com uma pegada punk e muita criatividade. Precisei ouvi-lo mais de uma vez, de tão bom. Realmente é de cair o queixo.
O play já começa com uma faixa que é um arrasa quarteirão (“Faster Girl”) e vai aumentando de intensidade até chegar à vinheta no meio do disco. Outras faixas que merecem destaque são: “Efedrina”, “Nirvana dos Pobres”, “Só Amanhã”, “Eu Odeio Crianças” e, na minha opinião a melhor do disco, “Punk Crente”. Essa última faixa que citei é simplesmente sensacional.
Você não conhece a banda Merda? Nunca ouviu falar desse disco? Entre agora no link da banda, ouça as faixas que estão disponíveis no myspace dos caras e aproveite para ouvir um rock com o único compromisso de criar arte. E, após isso, procure pela internet, ou em alguma loja de disco, essa preciosidade do rock independente. (IG)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Kid Vinil: "O herói do Brasil" (entrevista)



O jornalista, apresentador, radialista, músico, cantor, DJ, executivo, colecionador de discos e agora escritor, Kid Vinil, bateu um papo com o zine Canibal Vegetariano sobre o lançamento de seu livro o "Almanaque do Rock", o futuro da música, discos preferidos e outros assuntos.

Se você ainda não o reconheceu, vamos refrescar sua memória. Kid Vinil no final dos anos 70, isso no século XX, era radialista e foi um dos primeiros, se não o primeiro cara a botar Punk Rock para rolar nas rádios. Ele também foi vocalista da banda Verminose e Magazine, que quase na metade da décade de 80, estourou nas paradas com os hits "Tic Tic Nervoso" e "Sou Boy". Kid também apresentou programas na TV Cultura (o Som Pop foi um deles) e durante três anos esteve à frente do Lado B na MTV. Chega de blá blá blá e vamos à entrevista.


Canibal Vegetariano: Quando rolou a idéia de escrever o Almanaque do Rock?

Kid Vinil: No ano passado um dos editores da Ediouro me consultou sobre fazer um almanaque dentro da série, daí pensei em fazer contando detalhes sobre a história do rock desde a década de 50 e citando também o rock brasileiro. Em menos de um ano já tinha todo material pronto. Daí partimos para as finalizações (ilustrações, fotos).



CV: Você acredita que o mercado de livros musicais no Brasil é pequeno? Como é esse mercado fora do País?

Kid: Realmente se compararmos o número de publicações nacionais com a quantidade de publicações estrangeiras, com certeza temos poucos títulos. Mas, nos últimos anos cresceram as publicações sobre rock no Brasil. A própria Ediouro lançou os almanaques dos anos 80, 70, e 90 e agora o dos Beatles e aquele livro dos Rolling Stones. Acho que já temos um número considerável de títulos no mercado.



CV: No início deste século houve um retorno do Magazine, inclusive com o lançamento de um bom albúm o "Na Honestidade", como está o Magazine e fale um pouco sobre seu novo projeto o Kid Vinil Xperience.


Kid: A volta do Magazine foi por esse CD da Trama, foi bem legal reunir a banda e gravarmos um CD de músicas inéditas. Agora estou com esse projeto Kid Vinil Xperience, que traz o guitarrista do Magazine, o Carlos e dois músicos novos, o Mauricio no baixo e o JC Goes na bateria. Fazemos uma retrospectiva do meu trabalho ( Verminose,Magazine,Heróis do Brasil) temos algumas inéditas e covers de coisas que gosto do punk e da década de 80.


CV: Vamos fazer como no Alta Fidelidade. Quais são suas cinco bandas favoritas de todos os tempos? E quais os discos?

Kid: The Beatles - o álbum branco

The Rolling Stones - Beggars Banquet

David Bowie - Ziggy Stardust and The Spiders from Mars

Ramones - Ramones

The Smiths - The Queen is Dead



CV: Algumas pessoas desprezam o rock que é feito atualmente e vivem dizendo que só nos 60, 70, que o rock era rock mesmo. O que
você pensa dessas comparações. Dá para afirmar que um tempo é melhor que outro?

Kid: Não gosto dessas comparações, acho que cada época tem seu estilo e seu valor. O importante é encontrar as coisas boas que são feitas em cada década. Hoje existem muitas bandas boas, a Internet facilita muito pra gente encontrar e descobrir coisas novas e de qualidade.



CV: Kid, nós que gostamos de comprar vinil, CD´s, sofreremos em um futuro não muito distante, com a falta desse tipo de comercialização de música? Ou você acredita que os "discos" podem voltar?

Kid: Lá fora na verdade nunca deixaram de fabricar vinil. Eu compro semanalmente os compactos das novas bandas "indies" que eu gosto, Compro relançamentos do selo italiano Akarma, por exemplo. Tudo sai em vinil lá fora, infelizmente aqui no Brasil é que pararam de fabricar vinil e dificilmente voltem a fazê-lo, pois tudo aqui é caro e ninguem tem poder aquisitivo pra comprar discos de vinil. Se até o CD ficou caro pro brasileiro, imagina o vinil. Virou apenas objeto de colecionadores por aqui, ao passo que lá fora ainda é produto de consumo.



CV: A internet ajuda ou atrapalha as bandas? Pois quem tem loja especializada está sofrendo, pois as vendas estão caindo e o pessoal ou compra CD falsificado ou "baixa" música. Como você ve essa situação?

Kid: Como eu citei acima, num país como o Brasil que o poder aquisitivo da maioria é muito baixo, o cd orginal acabou morrendo. Todo mundo apela pro download, é mais fácil, prático, ninguém proibiu essa prática, tá tudo liberado. É uma pena que as gravadoras não conseguiram regulamentar essa coisa do download. Prejudicou muita gente, principalmente as gravadoras aqui no Brasil e as lojas de discos que estão fechando a cada dia. O artista na verdade precisa de divulgação e fazer shows pra ganhar algum dinheiro. Vendas de discos nunca significaram muito pro artista, principalmente quando ele está preso a uma grande gravadora. Para o artista independente sim, é uma desvantagem pois ele vende seus discos nos shows e se alguém disponibiliza na net ele sai perdendo. Na Europa e nos EUA as pessoas ainda têm o hábito de frequentar lojas de discos, pois é diferente eles ganham pra isso e tem poder aquisitivo. É aquela velha história aqui o CD custa até mais de 40 reais dependendo do titulo, é inviável!



CV: Você que passou por várias fases do rock, acredita que existirão bandas com a longevidade de grupos como Rolling Stones, Rush, Ac/Dc? Por que?

Kid: Hoje nós vivemos mais do que nunca a era da descartabilidade, a maioria das bandas tem vida curta. Acho bem difícil apostar na longevidade de certos grupos. Alguns podem até sobreviver por uns 10 ou mais discos como o Oasis, por exemplo, mas será dificil baterem os Rolling Stones.



CV: Como você vê a atual cena do rock no Brasil? Como está o público, shows, bandas? Atualmente o que é melhor para uma banda, ficar no underground, ou assinar com uma grande gravadora?

Kid: Hoje no Brasil vivemos a era do rock independente, tudo que acontece está na cena alternativa, nos festivais (Goiania Noise, Demo Sul, Bananada etc)

As bandas todas optam pelo caminho independente, não existe mais espaço nas grandes gravadoras. Não há mais interesse das grandes gravadoras em lançar bandas novas com propostas que diferenciem da mesmice "emo", por exemplo. A saída é partir pro circuito independente.



CV: Kid, muito obrigado pela entrevista, deixo o espaço para você divulgar shows, venda do livro, enfim, o espaço é seu.

Kid: Seria legal deixar o meu site e blog, aliás no blog eu tenho um podcast semanal onde eu toco as novidades que eu tô ouvindo e recomendo muita coisa nova, vale a pena acessar!

www.kidvinil.com

www.kidvinil.blogspot.com

O som que é captado pelos roqueiros: entrevista com a banda Ecos Falsos


A banda paulistana Ecos Falsos, formada em 2001 por estudantes da USP, conta com letras decentes e refrões inflamáveis, resultando em um rock barulhento às vezes, bem humorado sem ser patético. O quarteto é formado por: Gustavo Martins (guitarra,baixo e vocal), Daniel Akashi (guitarra, vocal), Felipe Danos (guitarra, baixo e vocal) e Davi Rodrigues (bateria). O nome "Ecos Falsos" vem de um sinal captado por radares onde supostamente há atividade alienígena. É uma expressão usada na ufologia, o estudo das atividades de OVNI´s, sabe aquele lance de disco voador, Arquivo X, Guerra nas Estrelas? Então, é por aí. Confira a seguir uma entrevista exclusiva de Gustavo Martins ao zine Canibal Vegetariano.


Canibal Vegetariano: Como está o cenário para as bandas independentes atualmente, não somente em São Paulo, mas em todo o País? Estrutura, grana, incentivo...

Gustavo Martins: É um bom momento para se ter uma banda, existem festivais bacanas que dão suporte para viajar em quase todas as capitais, além de uma grande rede de casas que se pode marcar show. Com dedicação, cara de pau e um bom som, uma banda pode tranqüilamente botar o pé na estrada e em pouco tempo marcar shows fora de seu Estado, desde que saiba se divulgar pela internet também. Não vou mentir: existe muito mais bandas do que o mercado independente pode suportar, ainda é algo muito pequeno se comparado com outros estilos como o forró, axé etc., mas está MUITO melhor do que há dez anos.


CV: O que vocês pensam da Internet em geral e o compartilhamento de músicas. Isso ajuda ou atrapalha uma banda em começo de carreira? E uma banda com um certo tempo de estrada?

GM: Obviamente ajuda, e não há mais escapatória pra isso, independente da estrada que tenha a banda. Ainda não foi fechado em definitivo o formato de como os músicos podem ser remunerados pela internet, mas o mais provável é que nunca sejam - o lucro da música simplesmente passou da venda do CD para a venda do show, já que esse suporte não é mais necessário. Da mesma forma que é mais fácil qualquer um acessar a sua música, é mais fácil criar um público disposto a te ver e comprar camisetas, adesivos ou mesmo o próprio disco. Se for pensar, é um mundo mais justo, pois não se compra mais tanto gato por lebre.


CV: Quais são os principais festivas do Brasil?

GM: Independentes existem vários, pra todos os gostos, mas eu citaria o Goiânia Noise, o Casarão em Porto Velho, o Gig Rock em Porto Alegre, o Se Rasgum em Belém... Osem São Paulo e no ABC são muito estruturados também.


CV: O que representa para a banda ser indicada para o Prêmio Dynamite? E em quais categorias vocês concorrem?

GM: É um reconhecimento feliz do seu trabalho, e por incrível que pareça o único, por isso tão importante. A gente concorre como Melhor Disco de Indie Rock de 2007, com um monte de amigos nossos, é muito legal. Eu acho que ainda falta uma categoria de videoclipes, já que a MTV se absteve desse papel, há uma produção muito bacana e isso merecia ser revisto com mais cuidado.


CV: Quais foram as maiores dificuldades que vocês já passaram com a banda? E um momento que compensou o sacrifício?

GM: Dificuldades acontecem toda hora, todos nós temos que ter outros empregos para nos sustentar e cada fim de semana que a gente precisa pedir folga pra tocar é um puta sacrifício, estamos sempre a ponto de sermos mandados embora, ahahaha! Os momentos que compensam são, obviamente, os shows e os contatos de pessoas por todo Brasil que gostam do nosso trampo, e nos incentivam a continuar.


CV: Vocês acreditam que nós teremos bandas, principalmente as que começaram neste século, não só no Brasil, mas no mundo, com carreiras longas, como os Rolling Stones?

GM: Acho possível que as bandas durem, mas não nesse tamanho gigantesco que os Stones foram, sinceramente acho que isso não existe mais. E nem deve ser a meta de ninguém, acho que viver de música já está ótimo, pra que ficar milionário se você já faz o que gosta?


CV: As grandes revistas de músicas estão ficando cada vez mais raras. Qual a importância que os fanzines impressos e virtuais têm para as bandas que estão começando?

GM: A importância é vital e infelizmente é muito sub-aproveitada, porque não basta a coisa estar na internet, é preciso essa "rede de inteligência" que filtre e indique as coisas bacanas para um público maior. O fim das revistas de música é um fenômeno que acontece junto com o fim de todas as revistas, tudo está vendendo menos, o brasileiro lê pouco mesmo, as coisas não se sustentam. Espero que os zines virtuais e blogs consigam cobrir essa lacuna, mas isso exige uma dedicação e preparo que a maioria das pessoas não têm.


CV: Após um ano do lançamento do albúm "Descartável Longa Vida", quando teremos um novo disco do Ecos Falsos? E hoje, vocês acreditam naquela "mística" do segundo disco?

GM: Estamos trabalhando arduamente em novas músicas, que terão uma sonoridade bem mais variada e intrigante que as primeiras, sem perder o punch, porque não queremos fazer segundo disco bunda-mole. É só isso que me preocupa, o resto vai acontecer naturalmente, como sempre foi - não sabemos fazer de outro jeito! hahaha.

CV: Quais as dicas que vocês podem dar para a galera que está montando um banda?

GM: Olha, eu recomendo MUITO que as pessoas assistam a esse documentário aqui, "Caixa Preta" que inclusive tem um depoimento meu e dá muitas dicas bacanas para bandas que estão começando:http://www.dailymotion.com/drrliverecord/video/x6tkh1_caixa-preta-conteudo-independente_music


CV: A banda já fez turnê no exterior? Se sim, quais os lugares e em caso negativo, há planos para isso?

GM: Não, mas planejamos algo sim. Eu gostaria de ir pra Portugal, mas é mais provável que role algo nos EUA, o esquema de viagem é mais barato e as cidades são mais próximas. Mas está tudo em projeto ainda, se rolar deve ser só no fim de 2009.


CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para considerações finais.

GM: Peço a todos que se interessarem pela banda que freqüentem nosso blog no http://www.ecosfalsos.com.br/ - sempre tem novidades lá, datas de show, vídeos bacanas e tudo mais. Entrem em contato com a gente, vão aos shows das bandas independentes, leiam fanzines, participem também dessa cena, que sem dúvida vai ser algo ótimo de contar pros netos. Valeu!


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Almanaque do Rock / Kid Vinil (Ediouro 241 Páginas)


O que dizer de um livro, que se chama Alamanaque do Rock e é escrito por Kid Vinil? Kid, ao lado de feras como Fábio Massari, o Reverendo, Roberto Maia, o Homem Enciclopédia, e Régis Tadeu, é sem dúvida um dos caras que mais entende do assunto em nosso país.

No livro, Kid conta toda a história do rock em seus mais de 50 anos, relatando desde seus primórdios, até os dias atuais, passando pelo rock internacional e nacional. Além de suas carreiras, as principais bandas da história têm seus discos mais importantes comentados.

Juntamente com os textos diretos e de fácil entendimento para quem é novo no assunto, o livro vem recheado de fotos dos ídolos do estilo. Uma curiosidade é que quase todas as imagens foram extraídas da discoteca do próprio autor. Não preciso dizer que o cara é um grande colecionador de discos. Então para quem gosta de um bom rock e uma boa leitura, não perca a oportunidade de adquirir o almanaque. (IG)

Independência ou morte!



A banda Rites of Spring

Quando fui chamado para escrever esse texto, já perguntei logo de cara: “Sobre o que vou escrever?”. A resposta me deixou confuso e surpreso ao mesmo tempo: “Rock independente”. “Independente. Independente. Rock. Rock Independente”. A resposta ficou martelando na minha cabeça durante uma semana. Mas de repente, enquanto eu tomava banho, uma dúvida essencial invadiu minha cabeça: “Mas pêra ai, será que todo rock não deve ser independente? Será que independência não é uma qualidade intrínseca ao rock?”
Todos esses anos, presenciei discussões calorosas sobre esse gênero tão amado e odiado pelas multidões. E sempre, no centro dessas discussões, estava a famosa questão: “O que é vendido e o que não é?”. Para a maioria das pessoas que ouvem rock, essa pergunta é essencial, uma espécie de regra de ouro que dita se uma banda é ou não é boa. Há sempre aquela ilusão de que o rock se distancia brutalmente da música pop, como se ele também não fosse feito para vender. Qualquer estilo tem seu público e isso é fato.
Acho que tentar reduzir o que é rock a um aspecto tão simples como esse, isto é, de que rock verdadeiro é tudo aquilo que se distancia do mainstream, não passa de uma perda de tempo (e de saliva gasta em discussões sem fim à beira de mesas de bar). Talvez valha mais à pena olhar para outro aspecto: o quanto as bandas fazem um som honesto, em outras palavras, INDEPENDENTE.
Mas o que quero dizer com esse termo? Se pegarmos os discos “Nevermind” e "The Earth is not a Cold Dead Place" de bandas tão díspares como Nirvana e Explosions in the Sky, vemos que algo soa como autêntico ali. Há uma tradução de uma experiência imediata, intensa e, conseqüentemente, livre de amarras. Não estou dizendo que não havia preocupações mercadológicas ou de outros tipos, mas o resultado final soa tão novo e, portanto, tão autêntico, que essas preocupações ficam a segundo plano e passam despercebidas. Pouco importa que o disco do Nirvana tenha vendido 23 milhões de cópias e o do Explosions in the Sky somente 20.000. Há em ambos uma tal entrega do artista à sua obra que tudo é tragado pela música feita por ele. E quando isso ocorre o resultado final é um disco que é centro, não periférico; um disco que não depende de nada e caminha com suas próprias pernas. Resumindo: uma obra que é INDEPENDENTE.
Quando eu ouço um disco de rock e sinto a intensidade correndo nas veias de cada música, sei que estou diante de algo verdadeiro, sincero. Mas quando o contrário ocorre, logo aparecem com toda a força as preocupações secundárias que movem o disco – grana, público alvo, imagem, fama, etc. O que estou defendo aqui é, portanto, que todo rock deve ser independente, pois se isso não ocorrer, ele já assinou seu atestado de óbito. Rock nunca deve ser música para ouvidos anestesiados, para sala de espera em consultório de dentista. Um gênero que nasceu de uma fusão de puro sentimento entre blues, R&B e country, só pode guardar em si uma granada prestes a explodir. (V.F.S.)

Elliott Smith – “Either / Or”


Em uma época de iPhones e mp5s, um disco gravado em quatro canais soa um tanto quanto anacrônico. Mas o fato é que “Either / Or” de Elliott Smith está ai para lembrar que existe algo além de toda essa plasticidade que nos rodeia. Em cada música, é possível ouvir a fragilidade e fracassos de um homem no limite.

Com seu violão e uma voz sussurrada - que beira o ininteligível em certos momentos - Elliott compõe melodias folk em que há ecos da suavidade pop dos Beatles e a melancolia sombria de Nick Drake. A fusão desses dois elementos vem acompanhada de letras fortes que tratam principalmente da luta de Elliott para vencer as drogas, ou melhor, para continuar vivo. Em uma primeira audição, pode-se passar despercebido todo o desespero de versos como “Quando eles limparem a rua, eu serei a única merda deixada pra trás.” ou “Torço para que você não fique me esperando / porque não estou indo pra lugar algum.”. São necessárias várias audições para que o ouvinte consiga digerir todo o conteúdo intenso de “Either/Or” que, vale notar, se esconde sob suas melodias assobiáveis.

Infelizmente Elliott Smith morreu em 2003 com uma facada no peito em um provável suicídio. Mas felizmente ele deixou uma discografia recheada de obras-primas. E “Either/or” não é exceção. Mais do que um disco, “Either/ or” é uma espécie de tesouro naufragado que nos faz notar que há ainda algo de estranho batendo em nossos peitos. E isso, em uma época de tecnologia sufocante, é um sopro vital. (V.F.S.)

Vivemos em um país democrático?



O que esta pergunta tem a ver com o rock'n'roll? Tudo. Sempre alguém fala, "ainda bem que este país é democrático, queria ver se fosse nos tempos da ditadura"... e por aí vai. Mas o rock sempre pregou a liberdade, por isso vou escrever algumas palavras, pois sou livre.

Mas, por que algumas pessoas ainda acreditam que realmente vivemos em uma país democrático? Isto é algo que gostaria de entender. Tudo bem, na época da ditadura, tudo era proibido. Qualquer coisa fora do normal investigavam; espancavam e mandavam cidadãos que iam contra o governo militar para outros países; os artistas enviavam as letras para o órgão da censura analisar e depois decidir se a banda ou cantor poderia gravar ou não.

Mas hoje, final da primeira década do século XXI, no governo do oligofrênico Lula, acredito que ainda há censura, devido a respostas que recebi de alguns jornalistas. Como o zine agora sai por uma editora, os caras falaram que seria bom arrumar um jornalista responsável devido a alguns problemas que poderiam ocorrer. E então eu perguntei "que tipo de problema?" Aí citaram alguns e eu fui conversar com profissionais da área, explicando o conteúdo do fanzine, até levando números anteriores, mas a resposta era sempre a mesma, "prefiro não assinar, é complicado, qualquer problema pode sujar para o meu lado e posso até perder o meu registro de jornalista". No mínimo quatro pessoas me responderam de maneira parecida. Então pensei, por que tanto medo?

Após alguns dias de análise das respostas e lembrando toda a palhaçada que o nosso governo faz, cheguei à conclusão que no Brasil nós vivemos uma pseudo-democracia, pois alguns pensamentos que fogem um pouco do senso comum, podem ser motivo de processos. Atualmente o que mais se ouve é essa palavra "processo". Tudo é motivo para algum espertinho tentar tirar proveito de alguém e faturar em cima. Então eu não posso me expressar como quero, falar ou escrever tudo o que penso? Fodam-se todos, aqui o espaço é meu e escrevo o que quiser, nenhum corrupto vai me torrar o saco. Nenhum jornalista assinou, respeito a opinião deles, é um direito que eles têm, mas o zine saiu e escrevi tudo o que passou pela minha cabeça. Aqui ninguém quer difamar ninguém, o espaço é pequeno para falarmos de música, então temos que aproveitar o máximo possível. Estamos a fim de levar informação e cultura para a galera que hoje é super mal informada, queremos informar da maneira mais honesta os leitores do zine.

E por que as pessoas são mal informadas? Porque nós não temos direito de escolha. Esse é mais um aspecto que mata a democracia. Revistas, jornais, MTV, só escrevem e tocam o que é pago, o famoso "jabá" e as rádios então... Alguém acredita que o NX Zero e a Pitty são tão bons assim? De jeito nenhum, eles são horríveis, só têm a fama devido ao jabá que as gravadoras pagam para as rádios e MTV. Quem assistiu ao último VMB certamente sabe do que estou falando. É igual política, entra ano e sai ano e são sempre os mesmos, vide os vereadores que foram eleitos em Itatiba para o período de 2009-2012. O jabá é algo ignóbil, nojento e impede que bandas que fazem um som por amor consigam trilhar um caminho de sucesso. Quantas bandas nunca sairão da obscuridade devido ao preconceito e falta de apoio? Viver honestamente de arte e cultura em um país pobre e medíocre e com uma educação de quinta categoria como o nosso é algo heróico. Não por acaso, muitas pessoas abrem mão de suas ideologias para sentir o falso gosto da glória. Estamos vivendo atualmente a era do politicamente correto. E isso nada mais é que um cabresto imposto no povo para impedi-lo de pensar e falar o que realmente sente.

Você acredita em tudo que sai nos jornais e revistas? Tudo o que é noticiado nos telejornais e programas de TV? Acredita que o sucesso de alguns artistas hoje é devido à competência deles? Que o Faustão leva algumas bandas em seu programa porque ele acha legal? Que os dez clipes mais pedidos na MTV foram escolhidos pelos telespectadores? Se a sua respota for sim para algumas destas perguntas, por favor, após ler isto, jogue o zine no lixo. Mas não na rua, pois vai emporcalhar ainda mais a cidade. Limpe a bunda com ele, mas não o guarde. Pois com certeza você não é uma pessoa livre, é somente mais um que foi engolido por essa máquina voraz de alienação que algumas pessoas (principalmente alguns "intelectualóides") chamam de mídia. (IG)

Festival Autorock 2008 (Campinas) parte 2



Durante dez dias do mês de agosto rolou em Campinas o III Festival Auto Rock, que reuniu em vários locais, diversas manifestações culturais, entre shows de bandas de rock independente, palestras, etc.

No último dia, o palco foi a Estação Cultura, onde seis bandas se apresentaram: Funeratus, Kamala, Parentes da Vítima, Leptospirose, Mussarelas e Cólera.

Devido à falta de grana e de um veículo para locomoção, a galera do zine chegou quase no fim da apresentação do Funeratus, mas deu para perceber que os caras mandam muito bem no Heavy Metal. A qualidade do som estava excelente e o grupo tem uma boa presença de palco. Em seguida veio outra banda que toca metal, mas desta vez rolou um thrash metal. A banda Kamala, além de possuir bons músicos, tem boas músicas e deu para notar que os caras já têm um público cativo.

A terceira banda a se apresentar foi a "Parentes da Vítima", que mandou um punk rock muito bem feito. Não deu para acompanhar todo o show, já que precisávamos de comida e de uma "passadinha" no banheiro (ainda faltavam três bandas).

DISCOS

Durante o lanche e o intervalo que rolava entre as bandas, fomos dar um rolê para apreciar as "bancas" que algumas bandas montaram para vender suas mercadorias. Quem estava com grana e procurava discos, camisetas descoladas e outros acessórios, não teve do que reclamar. Discos raros e por preços justos. Não resisti e acabei comprando dois vinis do Garotos Podres (valeu pela oferta Quique!).

Após as compras, o bicho pegou novamente no palco. Dessa vez, era o Leptospirose que inciava sua apresentação. Desde o final de 2006 que não via os caras ao vivo e foi melhor do que imaginava. Eles executaram um repertório de músicas do primeiro disco, do split lançado no ano passado e de inéditas que estarão no próximo álbum, cuja previsão de lançamento é novembro. Para finalizar tocaram Festa Punk, com participação especial de Daniel ET dos Muzzarelas. Não é necessário dizer que o show dos caras foi foda. Foi simplesmente “uma porrada na orelha”, como dizia o Gastão.

Na seqüência, veio a banda do ET: o Muzzarelas. Outro puta show de rock, daqueles que você pára, ouve e fala: "Meu, do caralho!!". Os caras mandam muito bem em disco e ao vivo é melhor ainda.

Para encerrar a noite, uma das bandas pioneiras do Punk Rock no Brasil: Cólera. Nunca tive a oportunidade de vê-los ao vivo, por isso vou falar da minha primeira impressão. Os caras estão há 29 anos na estrada, fazendo um som íntegro, sem frescuras e com muita competência. "Eles te dão a mão, te dão a mão, só pra empurrar...". Vai dizer que isso não é a nossa realidade? As letras e os discursos da banda continuam mais atuais do que nunca. Foi um "showzaço". Agora em outubro os caras estão partindo para uma turnê pela Europa, sorte para eles.

Foi realmente um final de tarde e noite daqueles que ficarão na memória até os últimos dias (isso se não se o Alzheimer não esvaziar nossa memória). Ficam aqui vários parabéns. Primeiramente, para a Prefeitura de Campinas que proporcionou um belo evento, uma vez que quase todos os shows foram com entrada livre, inclusive os que nós acompanhamos. Em segundo lugar, para as bandas que realizaram belas apresentações. Por fim, para o público que curtiu rock durante várias horas e em nenhum momento houve qualquer briga ou discussão. Todos vocês estão de parabéns, pois mostramos para os que vivem criticando nós roqueiros de sermos violentos e o caralho a quatro, que sabemos respeitar locais públicos e pessoas com idéias distintas. Com certeza nós demos um grande exemplo de que é possível conviver com as diversidades. (IG)

Festival Autorock 2008 (Campinas) parte 1


Foi em uma tarde fria de inverno que aconteceu o terceiro dia do festival independente autorock. Ao lado de trens velhos, na estação cultura de campinas, o público pôde presenciar – diga-se de passagem sem pagar um tostão - o verdadeiro rock brasileiro. Digo verdadeiro porque não estou falando daquele rock movido a jabá, apresentado sob as luzes de imensos holofotes, mas sim do rock feito clandestinamente nos porões mais sujos das cidades, impulsionado por muito suor e força de vontade.

A primeira banda a subir ao palco, por volta das cinco horas da tarde, foi a Instiga de Campinas. Com um indie rock esperto, eles mandaram um repertório com músicas de melodias simples que soavam como uma mistura de Talking Heads com Los Hermanos. A única coisa que incomodou um pouco foi o fato de não ser possível entender com clareza as letras, já que a voz do vocalista estava um pouco baixa. Mas isso, vale ressaltar, não fez com que o show não fosse interessante.

Em seguida, foi a vez da Radiare, também campineira, subir ao palco. Essa banda talvez tenha sido a que mais me agradou. Remetendo a nomes como Teenage Fanclub, Elliott Smith, Superdrag e Beatles, eles executaram um Power pop muito bem feito. Talvez o público não tenha se empolgado tanto, pois geralmente quem vai a um show de rock sempre espera barulho. O Radiare caminha na direção contrária dessa idéia comum e aposta na sutileza e sensibilidade, demonstrando que, às vezes, um sussurro derruba mais do que um grito.


Radiare no Autorock (foto por Alessandra Luvisotto)



Já era fim de tarde quando o Drakula, também de Campinas, destilou seu empolgante misto de punk rock e surf music. O público agitou e dançou ao som de músicas rápidas sobre vampiros e zumbis. Diante das estripulias dos músicos da banda, é impossível não lembrar de Misfits e The Cramps.

Após o Drakula quem tocou foi a Violentures. Com músicas instrumentais, a banda faz uma surf music misturada a um rock de garagem. O resultado são melodias que não deixam ninguém parado.

Em seguida, quem subiu ao palco foi a Lunettes. Apesar da vocalista estar com a voz bem rouca, a banda não comprometeu e fez a galera agitar ao som de suas músicas dançantes. Que Cansei de Ser Sexy que nada! A Lunettes manda um repertório new wave muito mais interessante do que a badalada banda paulista. O teclado à la década de 80 é muito legal.

O penúltimo (e incendiário) show da noite foi o da paraibense Zefirina Bomba. Ilson, munido de sua viola envenenada a distorção, cantou músicas inteligentes que expõem um Brasil esquecido e, para muita gente, jamais visto. Raiva, paranóia e ousadia são os elementos de que a Zefirina se mune para compor seu rock explosivo. Com certeza, Kurt Cobain sorriu em seu túmulo.

Por fim, quem fechou o terceiro dia do festival foi o Rock Rocket. Talvez seja a banda que menos me agrada. Grande parte do público estava lá esperando por eles, mas o rock machista do Rock Rocket não me empolga. As letras sobre a velha retórica de sexo, drogas e rock and roll são, para mim, mais do mesmo. Até hoje não entendo o hype que a banda teve uns tempos atrás na MTV. Sério mesmo, esse negócio de coçar o saco e cuspir cerveja pro alto me soa muito falso. Mas gosto é gosto e não se discute. (V.F.S.)

1º Grito Urbano em Itatiba (Setembro de 2008)


Racha Cuca ao vivo em sua apresentação

Foi realizado no último domingo de setembro, o 1º Grito Urbano em Itatiba, o evento foi organizado pelo Piera, guitarrista da banda itatibense de "Street Oi", The Bebbers Operários. O local escolhido foi o Deck Bar. As apresentações ficaram a cargo de duas bandas de Itatiba (Movediça e The Bebbers Operários), o Racha Cuca de Bragança e do Instiga (Campinas), que fechou a noite.

A primeira banda a se apresentar foi a Movediça, que agitou a galera com clássicos do rock, além dos blues do Velhas Virgens. A banda é boa, mas ainda tem um problema: os caras não contam com música própria, ficando apenas nos covers. Mas segundo Ismar, um dos guitarristas e vocalista da banda, em breve eles começarão a tocar material próprio.

Na sequência veio o The Bebbers Operários, que mandou todo o repertório de canções próprias. A banda formada por Piera (guitarra), Rodrigo (vocal), Carlão (bateria) e Carlinho (baixo), está mais afiada do que nunca e mandou mais um bom show que, durante várias canções, fez a galera abrir rodas próximo ao palco.

Os terceiros a tocar foram os bragantinos do Racha Cuca. Eles tocaram várias músicas próprias com muita energia e competência, sem falar da atuação do vocalista Manson, um verdadeiro showman. O cara toda hora ficava se banhando em cerveja e ainda por cima rasgava a camiseta. A última música que executaram foi “Bodies” do Sex Pistols. Para resumir, um show insano no bom sentido. Parabéns aos caras.

Quem fechou o festival foi a banda Instiga de Campinas. Os caras já estão no terceiro álbum e tocaram várias músicas do novo disco, além de músicas das outras bolachinhas. O único ponto negativo foi o público. Poucos ficaram para ver a apresentação e deixaram de conhecer uma excelente banda, com ótimas canções e bons músicos. Se algum dia eles voltarem para cá, não perca a oportunidade de curtir o competente som produzido pelos campineiros. Para mim foi uma das melhores apresentações que vi este ano. (IG)