quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Os deuses do futebol riem da nossa cara...

Por Ivan Gomes

O célebre, saudoso e grande mestre, Eduardo Galeano, disse certa vez que “o futebol é a única religião que não tem ateus”. Só quem gosta dessa modalidade esportiva e torce para algum time compreende o quão profundo é esse pensamento de um dos maiores escritores latino-americano e por que não escrever do mundo? Só para constar, Galeano é uruguaio.

Escrevo essas mal traçadas linhas três horas após o final do jogo entre Santos e Grêmio, disputado na Vila Belmiro, no domingo, 20 de agosto. Para pessoas que não se importam com isso, esse jogo seria só mais um a ocupar parte da grade das redes de televisão, que, para essas pessoas, deveriam transmitir algo com mais qualidade.

Mas quem torce para um time, no meu caso para o Santos, esse jogo era chave, afinal, estamos na virada de turno do Campeonato Brasileiro e meu time faz uma campanha pra lá de pavorosa, tanto que está na zona do rebaixamento e tem flertado de maneira cada vez mais preocupante com a segundona.

A partida também marcava o retorno da torcida santista ao estádio, após cumprir uma suspensão bem dolorida. Com o passar do tempo, vimos novamente que o time não estava nada bem, até que antes do primeiro minuto, da etapa final, sofremos um gol. Pânico geral! Mas ao contrário dos últimos jogos, dessa vez o time manteve a tranquilidade e conseguiu chegar ao empate.

Mas aí que está a ironia e a graça que os deuses gostam de fazer conosco. A peleja encaminhava-se para seu final, passava-se dos 44 minutos do segundo tempo. O Grêmio, que buscava a vitória para assumir a vice-liderança do torneio, pressionava. Mas em um cruzamento para a área, a zaga do Santos tirou a bola em direção à lateral. Um jogador adversário ao ver o rumo que a pelota seguia, correu para o gandula e pediu rápida reposição.

Enquanto o pobre atleta tricolor mendigava agilidade na reposição de bola, os deuses aprontaram. A bola foi em direção à lateral, mas caprichosamente bateu próxima à linha lateral e permaneceu no gramado. Um jogador santista notou que ela não saiu, correu para alcançá-la e deu passe para o gol da vitória do alvinegro praiano... 2 a 1 após 18 míseras partidas sem saber o gosto do triunfo...

Eu tenho dúvidas quanto à existência de alguma divindade, ou divindades, mas creio que há os deuses do futebol. Talvez eles tenham contribuído com o time do Rei Pelé. Mas algumas pessoas que estavam na Vila foram ainda mais além. Elas afirmam ter visto o espírito do rei dar um toque de classe para o atacante santista. Teria sido nosso eterno rei que nos encaminhou para essa importante conquista. Galeano estava certo!

Ivan Gomes, 45, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, transmitido semanalmente pela Mutante Rádio, e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única virtude