domingo, 27 de abril de 2014

O hardcore que aquece a alma

Canibal Vegetariano
  Após pouco mais de um mês que teve início o outono brasileiro 2014, pela primeira vez no Estado de São Paulo tivemos uma noite agradável desta estação. Com um clima para lá de convidativo para um rolê noturno, a equipe do Canibal Vegetariano deslocou-se até Campinas, mais especificamente para o Bar do Zé, onde rolaria a apresentação da banda paulistana Gritando HC, que há 20 anos está no mercado independente.
Com um pacote de zines impressos em baixo dos braços fomos alimentar e aquecer nossas almas com o bom hardcore produzido pela banda. Devido a um erro de comunicação, chegamos mais cedo do que o costumeiro e o que nos restou foi organizar uma disputa de bilhar. Enquanto o jogo rolava, aproveitamos para alimentar o esqueleto também, afinal, como dizia minha avó: "saco vazio não para em pé". O bom de ir a um bar como este, é que o rango tem trilha sonora com muito punk e hardcore que vibrava nas caixas de som.

Canibal Vegetariano

Devidamente alimentados, antes da apresentação, nós conversamos com a vocalista da banda, Lee, que muito gentilmente concedeu uma entrevista muito sincera sobre a banda e todo este tempo que estão na estrada, em breve o papo estará disponível aos leitores. Podemos adiantar que a conversa foi franca e durou um tempo considerável, afinal, a banda tem duas décadas de discos, shows e outros rolês.


Com a conversa em dia, Lee foi para o palco, pois estava na hora da banda mostrar o que é hardcore. Com muita competência e experiência, a banda fez a galera agitar e rapidamente as rodas de "pogo" foram abertas. No palco, os músicos apresentaram um entrosamento fantástico e as "cavalgadas" de baixo de Ritchie casou bem com a batera de Tony, que não economizou pancadas em seu kit.

Canibal Vegetariano

Em relação ao set list, a banda apresentou vários clássicos de duas décadas de carreira e o coro do público ecoou forte pela madrugada. Antes de apresentar as duas últimas músicas, Lee agradeceu a todos os presentes e também a galera do Canibal Vegetariano. E a noite foi encerrada com "Dinheiro sujo" e o classicaço "Velho punk". Com a alma devidamente aquecida, só nos restou voltar para casa pois o esqueleto sentiu um pouco o vento da madrugada.



  

domingo, 20 de abril de 2014

Rock 'garageiro' que vem dos Pampas

Arquivo pessoal
A banda Motor City Madness é uma daquelas que faz um som que não deixa o ouvinte respirar. Com riffs marcantes e rock’n’roll na medida certa, o quarteto gaúcho formado por Sergio Caldas (voz e guitarra), Rodrigo Fernandes (bateria), Cassio Konzen (guitarra) e Rene Mendes (baixo) é uma das boas revelações que vem de Porto Alegre. Para saber mais sobre o trabalho deles, conversamos com o guitarrista e vocalista Sergio Caldas.

Canibal Vegetariano: Quais as influências da banda? Há quanto tempo estão juntos? Houve mudança de formação?
Sergio Caldas:
Cada um curte muitas coisas diferentes, acho que isso dá uma 'vibe' legal na hora de juntar  tudo. É uma mistura de tudo, Motörhead, Zeke, Suécia, Tarantino, cerveja, Misfits, churrasco, Radio Birdman, MC5, a gente é meio adolescente velho. E foi nessa pilha que a banda começou, pela metade de 2012, tomando uma no bar. Tivemos duas trocas na formação logo nos primeiros meses.

CV: Antes de ouvir o disco de vocês, acompanhei uma apresentação em Campinas. Vocês conseguem levar a energia do palco para o álbum, como rolou o processo de gravação?
SC:
Foi ao vivo no estúdio, todo mundo junto, para ter esse ‘feeling’ de show. Na época gravamos todas as músicas que a gente tinha, para mostrar bem como era a banda nesse tempo. Foram duas sessões de gravação, da primeira [2012] surgiu um EP que foi lançado só digital e completamos com mais seis faixas que, juntas, são o disco que saiu.

CV: Como o público recebeu o disco de vocês e quem ouve a banda?
SC: Cara, a galera tem recebido bem, pelo fato da gente ter feito bastante show ano passado, viajado bastante e conhecido uma galera diferente, conseguimos espalhar o material em vários lugares do país e a resposta é bem positiva. Já disseram que a gente se daria bem tocando em Goiânia, pessoal lá gosta dessas barulheiras como a nossa. ‘Tô’ esperando o telefone tocar [risos].
Arquivo pessoal
CV: Como está a cena portoalegrense atualmente? Porto Alegre é considerada um celeiro de bandas, tem bons locais para apresentações?
SC: Atualmente é um celeiro de bandas covers. Aqui os covers são artistas, dão entrevistas, sub celebridades, ‘Sofá da Hebe’. Mas já teve um monte de artista legal, até hoje tem na verdade. Essas entressafras vem e vão, isso serve pra renovar a parada, aparecer gente nova, é legal. Tem várias bandas recentes daqui de Porto Alegre que são boas e estão tentando fazer alguma coisa para melhorar a situação. Som e equipamento decente sempre são importantes, mas para nós, os melhores lugares para tocar mesmo são os que têm mais gente a fim de curtir o som e os que a gente se divirta mais.

CV: Qual a vantagem de ser uma banda independente e qual a principal desvantagem?
SC:
Acho que a vantagem é poder tomar as decisões sem ter que pedir aprovação de alguém, a gente faz o que quer e o que acha que é legal. Mas também não sei ao certo porque nunca estive do outro lado. Hoje todo mundo gosta de dar discurso panfletário quando só conhece a teoria, mas nunca experimentou na prática. Essa questão de ser independente [e autoral] é bem subjetiva porque no Brasil é muito difícil fazer com que a banda se sustente por si só. Então temos que ter outros trabalhos e conciliar datas de viagem com o trampo, mentir que tem parente doente para viajar no meio da semana, atrasar a conta da luz para poder inteirar no ‘preju’ de show que deu errado, essas coisas.

CV: Há planos de excursões para outros países?
SC: Ano passado fizemos uma gira pelo Uruguai e Argentina, que a gente pretende repetir e tentar ir cada vez mais longe. A pilha é sempre essa, tocar o máximo possível e cada vez mais longe de casa. Hoje tá bem mais fácil trocar contatos, marcar shows à distância, as passagens tão mais acessíveis para quem produz os shows, então tudo é possível.

Arquivo pessoal
CV: Qual o melhor momento na estrada e qual o pior?
SC: Estar na estrada sempre é muito legal. Conhecer gente nova, lugares diferentes, mesmo quando tem roubada de show falido, som ruim, pouca gente, alguma coisa sempre dá certo. São experiências de vida que, na hora, parecem uma merda, mas depois é história para contar. Hoje praticamente todos os meus amigos e conhecidos ‘existem’ por causa de banda, turnê, essas paradas. O pior momento é ter que voltar à realidade e ter que bater cartão na segunda de manhã.

CV: Quais os planos da banda para este ano?
SC: Olha, para esse ano devemos filmar mais uns clipes, temos músicas novas para gravar também, estamos armando mais uns shows por outros estados [em 2013 além do Rio Grande do Sul, rodamos por São Paulo e Minas Gerais], isso deve rolar depois do meio do ano, se sobrar alguma coisa inteira depois da maravilhosa Copa do Mundo.


CV: Agradeço pela entrevista e deixo espaço para considerações finais.
SC: Obrigado a todos que vão aos nossos shows, aos que compram nossos discos, camisetas, que ouvem pela internet e espalham a palavra por aí. Essas coisas são simples mas nos faz continuar. Procurem bandas novas, tem muita coisa legal aparecendo e acessível em tudo que é ‘streaming’ por aí. Parem de achar que R$ 10 num ingresso é caro. É muito melhor do que ficar em casa vendo novela e postando selfie no instagram. Valeu pela força, estamos sempre a disposíção. Abraço! RAWK!

domingo, 6 de abril de 2014

Kurt Cobain: a construção do mito

Charles R. Cross - 172 páginas - Editora Agir

No ano em que a morte de Kurt Cobain completa 20 anos, o jornalista Charles R. Cross, autor da biografia do vocalista e guitarrista do Nirvana, "Mais pesado que o céu", escreve "A construção de um mito", texto que aborda o que levou Cobain a ser o maior nome do rock'n'roll nos últimos 20 anos.
Sobre vários aspectos, o autor aborda os fatos que levaram Cobain, um rapaz do interior, ser líder de uma das bandas mais influentes de todos os tempos. No decorrer das páginas, Cross relata influências que o guitarrista e vocalista teve em sua carreira, a influência que ele exerceu não apenas na música, mas na moda, no comportamento e como foi apontado como o líder de uma geração, rótulo que Cobain sempre rejeitou.
Na segunda parte do livro, Cross escreve sobre o momento de Seattle, a "explosão" de bandas, ocorrida em curto espaço de tempo. Outro tema abordado é o vício em drogas e o que teria levado o Cobain ao consumo excessivo de heroína e cometido o suicídio. No encerramento, há alguns depoimentos de músicos sobre a música do Nirvana e a pessoa de Kurt Cobain. Leitura totalmente indicada aos fãs da banda.

sábado, 5 de abril de 2014

‘Um disparo... um estouro’: 20 anos sem Kurt Cobain

Há 20 anos a voz de Kurt Cobain era calada por ele mesmo, há quem diga que não, que ele teria sido assassinado, mas duas décadas depois, ainda dizem que Kurt tirou a vida com um disparo. Mesmo tanto tempo passado, as dúvidas pairam no ar e o caso foi reaberto, devido ao avanço da tecnologia, a Polícia de Seattle crê que algo ainda exista para ser esclarecido.
Independente do que tenha ocorrido, dizem que há exatos 20 anos, 5 de abril de 1994, Kurt partiu deste mundo e deixou em poucos anos obras que muitos não conseguiram realizar em décadas. O legado deixado por Kurt e o Nirvana foram três álbuns de estúdio, Bleach (1989), Nevermind (1991) e In Utero (1993), sendo o segundo, considerado um dos melhores e mais vendidos discos da história da música e um dos que mais influenciou pessoas.
No final dos anos 80, do século passado, sentia-se que algo estaria por vir, Bleach trazia aos holofotes um som diferente, um respiro em meio a tanta música pré fabricada de qualidade duvidosa. Mas foi em 1991 que o Nirvana, com Dave Ghrol na batera, fez o disco que mudaria tudo de lugar. O sucesso que seria a salvação de um rapaz pobre e que morava em pequenas cidades, foi a janela para que ele, que usava drogas e tinha problemas de saúde, se afundasse ainda mais.


Mesmo com tantos problemas, Kurt mostrou sua capacidade de criar músicas, de escrever letras que falavam tanto dele e de seus fantasmas, mas que tantas pessoas se identificavam e se identificam, pois somos humanos, somos falhos e cheios de dúvidas. Mas Kurt teve a sensibilidade de expor suas angústias e revolta em seus riffs de guitarra, em seu vocal cheio de desespero e na urgência de seus shows.
Nós que gostamos de rock temos várias pessoas que admiramos, mas são poucos os “ídolos” que tem coragem de expor suas preferências, suas opiniões. Além de levar músicas que falavam direto a um grande grupo, Kurt ainda apresentou bandas desconhecidas de grande parte do público e hoje, junto com o Nirvana, tem seus discos nas prateleiras. Talvez, a diferença de Kurt não seja apenas sua capacidade de fazer música, mas sim de ouvi-la e senti-la. Ele era o cara que buscava sempre algo novo e quando encontrava fazia questão de mostrá-lo.


Kurt para muitos atualmente é tratado como se fosse um deus, mas para nós ele era o cara que fazia o que muitos ainda fazem, ouvia música, buscava novidades, tocava seu instrumento, não ficava preso a um passado que não volta e tinha paixões, basta ver e ouvir a maneira como Kurt encerra o álbum “Unplugged MTV”, cheio de dor, paixão, um ser humano entregue ao poder de uma canção. Talvez seja por isso que ele nos faz tanta falta!

 Fotos: Reprodução Internet