terça-feira, 12 de dezembro de 2023

‘Festival do Caramelo’

Por Ivan Gomes


O final da tarde e início da noite de domingo (10) foi marcado por três ótimos shows que rolaram no D’Villa Drinks, em Várzea Paulista/SP. Rosário, Fistt e Garage Fuzz fizeram a festa de uma galera que compareceu em bom número para o evento organizado pela Time Bomb Wear e Oba! A festividade marcou a volta, em definitivo, da Rosário aos palcos, após alguns anos de hiato.

E a festividade que não possuía um nome próprio o apelidei de “Festival do Caramelo” pois assim que cheguei ao D’Villa, na porta estava um desses simpáticos cães caramelo, mas com um detalhe, este possuía credencial plena para o evento e tinha acesso inclusive aos bastidores, ou seja, o caramelo impõe respeito.

O evento estava marcado para 17h30, exatamente o horário que consegui chegar e logo que me aproximei do bar, foi possível ouvir os primeiros acordes da Rosário que dava o pontapé inicial na festinha. E a banda, que retorna após alguns anos, volta com mudança na formação. Os caras que antes formavam um quarteto, agora se apresentam como quinteto e com a adição de mais uma guitarra, que deixou o hardcore deles ainda com mais peso e abertura para possíveis improvisos antes, talvez, não pensados.

Devido a uma série de fatores na vida pessoal de alguns integrantes, a banda havia dado um tempo. Em agosto deste ano eles se apresentaram no mesmo D’Villa, mas neste fim de ano o show foi diferente, melhor em comparação com o anterior e a mudança na formação mostra que os caras virão com tudo em 2024. Vamos aguardar!

Sobre a apresentação, em pouco mais de meia hora eles entregaram tudo aquilo que se espera do agora quinteto e para quem está acostumado. Agito, riffs, uma excelente interação com o público e muita diversão. Antes de encerrar, houve a participação de Dedo, vocalista da banda Fim da Aurora.

Ao final da primeira apresentação, à noite chegava e o calor aumentava. Isso exigiu uma pausa para hidratação e aquele papo com os camaradas ao lado externo do D’Villa, principalmente em relação aos assuntos de grande relevância, como o futuro do Santos Futebol Clube e o próximo amistoso do Pisa Fofo Futebol Clube. Enquanto isso, ele, o Caramelo, entrava e saía como se realmente fosse o dono do pedaço e “exibia com orgulho” sua credencial plena.

Entre um papo e um sarro e outro, voltamos para o interior do bar para acompanharmos a Fistt, que está há quase três décadas na estrada e tem realizado em muitas cidades a turnê de seu último trabalho, “A arte de perder”. Banda afinada, afiada e os caras despejaram uma pancada de hits, um atrás do outro. O público estava ensandecido, no mais do que bom sentido da palavra, cantou cada música junto ao vocalista Nick. Se não me falha a memória, essa foi a primeira apresentação deles que acompanho Nick de volta ao seu instrumento, o baixo. Outro ponto que acho interessante, é que durante as apresentações em Jundiaí, ou em cidades vizinhas, ao invés de citar o Hangar 110, que está presente na versão de “Ex-underground”, Nick faz referências ao famoso bar do Bilé.

O show foi tão bom que os caras fizeram chover. Enquanto o suor escorria por corpos próximos uns dos outros que não paravam de se mexer embalados pelo punk dos jundiaienses, ao lado de fora uma forte chuva caía. Foi água, suor e punk rock para lavar a alma. A apresentação ainda teve a participação de ex-integrantes que compareceram para prestigiar a banda.

Mas à noite ainda prometia. Assim que a Fistt deixou o palco, houve mais um tempo para hidratação ao lado externo, tudo sendo observado pelo Caramelo, e na sequência viria outra banda clássica do cenário underground nacional, a Garage Fuzz.

Este que vos escreve havia acompanhado outros dois shows dos caras, mas nenhum soou tão redondo quanto o apresentado em Várzea Paulista. A interação entre público e banda foi simplesmente sensacional e serviu para fechar com chave de ouro um domingo de dezembro não tão quente, mas que teve uma temperatura que podemos considerá-la bem alta dentro do D’Villa, pois foi possível acompanhar três ótimos shows.

E como sempre ocorre em eventos desse tipo, ao final, estávamos em muitos não apenas no papo e despedidas dos camaradas, como houve a clássica passada na “banquinha” de camisetas e CDs. É impossível sair sem comprar nada. E antes do retorno para casa, ainda houve tempo para nos despedirmos do “dono” do evento, o cão caramelo.

Para encerrar, peço licença a Daniel ETE, o mestre das caveiras, para escrever aqui uma de suas frases, que resume bem o evento do dia 10: “o mundo do rock é lindo!”

Ivan Gomes, 45 anos, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, transmitido semanalmente pela Mutante Rádio e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única virtude.

Foto 1: Guilherme Malaquias, vocalista da banda Rosário.

Foto 2: O cão caramelo.

Foto 3: Fabiano Nick, vocalista e baixista da Fistt. 

Todas as imagens captadas por Pedro Henrique, no Instagram: @ph.fotos

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Os deuses do futebol riem da nossa cara...

Por Ivan Gomes

O célebre, saudoso e grande mestre, Eduardo Galeano, disse certa vez que “o futebol é a única religião que não tem ateus”. Só quem gosta dessa modalidade esportiva e torce para algum time compreende o quão profundo é esse pensamento de um dos maiores escritores latino-americano e por que não escrever do mundo? Só para constar, Galeano é uruguaio.

Escrevo essas mal traçadas linhas três horas após o final do jogo entre Santos e Grêmio, disputado na Vila Belmiro, no domingo, 20 de agosto. Para pessoas que não se importam com isso, esse jogo seria só mais um a ocupar parte da grade das redes de televisão, que, para essas pessoas, deveriam transmitir algo com mais qualidade.

Mas quem torce para um time, no meu caso para o Santos, esse jogo era chave, afinal, estamos na virada de turno do Campeonato Brasileiro e meu time faz uma campanha pra lá de pavorosa, tanto que está na zona do rebaixamento e tem flertado de maneira cada vez mais preocupante com a segundona.

A partida também marcava o retorno da torcida santista ao estádio, após cumprir uma suspensão bem dolorida. Com o passar do tempo, vimos novamente que o time não estava nada bem, até que antes do primeiro minuto, da etapa final, sofremos um gol. Pânico geral! Mas ao contrário dos últimos jogos, dessa vez o time manteve a tranquilidade e conseguiu chegar ao empate.

Mas aí que está a ironia e a graça que os deuses gostam de fazer conosco. A peleja encaminhava-se para seu final, passava-se dos 44 minutos do segundo tempo. O Grêmio, que buscava a vitória para assumir a vice-liderança do torneio, pressionava. Mas em um cruzamento para a área, a zaga do Santos tirou a bola em direção à lateral. Um jogador adversário ao ver o rumo que a pelota seguia, correu para o gandula e pediu rápida reposição.

Enquanto o pobre atleta tricolor mendigava agilidade na reposição de bola, os deuses aprontaram. A bola foi em direção à lateral, mas caprichosamente bateu próxima à linha lateral e permaneceu no gramado. Um jogador santista notou que ela não saiu, correu para alcançá-la e deu passe para o gol da vitória do alvinegro praiano... 2 a 1 após 18 míseras partidas sem saber o gosto do triunfo...

Eu tenho dúvidas quanto à existência de alguma divindade, ou divindades, mas creio que há os deuses do futebol. Talvez eles tenham contribuído com o time do Rei Pelé. Mas algumas pessoas que estavam na Vila foram ainda mais além. Elas afirmam ter visto o espírito do rei dar um toque de classe para o atacante santista. Teria sido nosso eterno rei que nos encaminhou para essa importante conquista. Galeano estava certo!

Ivan Gomes, 45, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, transmitido semanalmente pela Mutante Rádio, e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única virtude