terça-feira, 23 de março de 2010

Infeçcão Raivosa: peso e fúria sem levantar bandeiras

Esses quatro paulistanos estão juntos desde 2003 tocando um som "pesado" e expondo suas ideias através de letras que refletem a realizadade de milhões de brasileiros, insatisfeitos com a situação geral do país, entre outros problemas. Em sete anos, eles lançaram um EP e pretendem em 2010, lançar o primeiro álbum. Se você ainda não conhece a Infecção Raivosa, confira abaixo a entrevista que o baterista André Barone concedeu com exclusividade ao zine/blog Canibal Vegetariano.

Canibal Vegetariano: Qual o significado de Infecção Raivosa?
André Barone:
No começo a banda se chamava Infectantes. Começamos a fazer um som mais agressivo e pesado, e achamos que o nome não combinava com nossa proposta. O nome é resultado de tudo o que vemos no nosso dia-a-dia. Injustiça, desigualdade social, preconceito, e isso vai nos infectando, deixando com raiva, e através dessa infecção raivosa, passamos nossa mensagem através da música.

CV: Quais são as influências da banda? E o que vocês pensam sobre rótulos? Pois eu vi um show de vocês e deu para notar que vocês transitam muito bem por várias vertentes do rock, principalmente pela parte mais pesada.
AB:
Cara, as influências são muitas. Hardcore, Metal, Thrash. Bandas como Slayer, Biohazard, Agnostic Front, Pantera, Sepultura, Metallica, dentre muitas outras, são bandas que todos nós gostamos, depois cada um tem um gosto pessoal. O Rafael e Everton curtem muito Rap, o Claudinei e eu curtimos mais metal. Rotulação acontece, mas desde que não haja preconceito e separatismo, tudo bem. Coisas do tipo: “Aquela banda toca hardcore e eu sou headbanger, então não curto!” Isso sim é uma rotulação medíocre.


Juntos desde 2003, a banda pretende lançar ainda este ano seu primeiro álbum

CV: Em que as mudanças de formação influenciou no estilo da banda?
AB:
O Rafael e Everton gostam muito de rap e acabaram trazendo, algo disso. Isso é bom, quanto mais influências musicais, mais rica fica música.

CV: Devido a uma mistura de ritmos, nos shows de vocês acaba ocorrendo também uma mistura de pessoas de "tribos" diferentes. Rola algum tipo de violência ou acontece tudo de boa?
AB:
Sempre aconteceu de boa, mesmo porque, nós mesmos da banda não levantamos bandeira de nenhum movimento e nem nos rotulamos.

CV: Nestes sete anos de banda, vocês lançaram um EP intitulado "Tributo a uma sociedade perdida". Quais os planos para este ano e quando teremos um álbum da banda?
AB:
Este ano estamos priorizando composições, pois queremos gravar um Álbum.

CV: Em relação a espaço para shows, como está São Paulo? E o interior do Estado? Onde vocês costumam se apresentar com frequência?
AB:
Em São Paulo tem bastante lugar, porém, não tem estrutura.
Ainda tem pessoas que querem cobrar da própria banda para ela tocar. Claro, que se for banda já conhecida, com certa notoriedade, acaba tocando em lugares mais legais, com mais estrutura. Sobre o interior, tocamos em algumas cidades, e sempre foi bem legal. Acho que no interior, tem menos lugar e os eventos acontecem com menor frequência, porém quando acontece, a galera se une mais e faz uma parada bem estruturada.


Os caras acreditam que ao invés de só reclamar, a juventude, e o povo em geral, deve agir mais

CV: Nas letras de vocês, há muitas críticas à sociedade, igreja e política. Estamos em um ano de eleições. Vocês acreditam que algo pode mudar no Brasil? Qual é o ponto de vista político da banda? E quais os conselhos que vocês dão aos mais jovens sobre este assunto?
AB:
Tenho que ter fé e fazer minha parte, e assim acredito que um dia vá mudar meu velho, mesmo sabendo que vai demorar bastante. Cada um fazendo sua parte, fazendo mais e criticando menos. Nós da banda não discutimos política. Falamos apenas das coisas que estamos vendo. Fazemos crítica tanto às pessoas do governo, tanto à cidadãos comuns, acomodados e que não fazem nada de bom para colaborar. Para os jovens, deixo um conselho: falem menos e fação mais. Só falar mal do governo, falar mal do outro, não vai adiantar.

CV: Vocês estão sendo patrocinados por uma empresa. Como funciona este esquema e como os fãs veem esta ajuda à banda?
AB:
Banda independente sofre pra caralho (risos). Os caras da weird, ouviram o som e curtiram. Eles nos apóiam com o esquema de roupa, que aliás são muito foda (www.weird.com.br). Isso dá mais ânimo. Você vê seu trabalho sendo valorizado, pois há pessoas que realmente curtem. Cara, como os fãs veem?? Não sei nem se nós temos fãs (risos), mas se tem, nem imagino, acho que eles ficam mais fãs (risos).


Foto da capa do primeiro EP lançado pela banda

CV: Agradeço pela entrevista, espero que vocês voltem em breve para Itatiba e deixo o espaço para suas considerações finais.
AB:
Muito obrigado ao zine Canibal Vegetariano pela oportunidade e pela força. O show de Itatiba foi muito foda. Com certeza queremos voltar.
E muito obrigado aqueles que vem nos acompanhando e dando força. VALORIZEM A CENA UNDERGROUND E DIGA NÃO À PANELA!
Para entrar em contato:

infeccaoraivosa@gmail.com

http://www.myspace.com/infeccaoraivosa

http://www.youtube.com/user/infeccao

http://twitter.com/infeccaoraivosa

Abraço a todos.

Infecção em Itatiba

Como algumas pessoas devem saber, o editor deste zine também toca em uma banda de rock, Mão de Vaca, e em novembro de 2009, nós fomos convidados para tocar no 1º Self Fest, que foi realizado em um moto clube em Itatiba. Além de nós, Itatiba foi representada pelo punk do Olho de Cadáver e o hardcore do Gatilho. As outras três atrações eram de cidades próximos, uma banda era de Jundiaí, outra de Itupeva e o festival seria encerrado pelos paulistanos da Infecção Raivosa.
Eu ainda não os conhecia, mas pelo que ouvi do pessoal que estava trazendo o show dos caras para a cidade, eles tocavam um hardcore de peso e fúria. Os shows foram rolando, até que chega a vez da Infecçao. Logo nos primeiros acordes notei que os rapazes tinham razão, a banda era muito boa mesmo. Passando por várias influências do rock, os caras mandam muito bem, fazendo um som impossível de ficar botando rótulo.
Além das ótimas músicas, os temas das letras são muito boas também, nada de discursos vazios e sim, pontos de vista de pessoas indignadas com os rumos do país e da humanidade em geral. E a cada nova música que eles mandavam, a galera, ensandecida, cantava em coro, junto com o pessoal da banda, chegando em alguns instantes, a tomar conta sozinha da música. Ao final da apresentação, todos estavam satisfeitos, público, banda e todo o resto. Sem dúvida que o show destes caras, está entre os melhores que vi em 2009, e eu vi show para caralho neste ano.

domingo, 14 de março de 2010

Na matéria rock'n'roll estes Estudantes são dez!

Eles se consideram anti-profissionais, mas ano passado fizeram dois grandes shows, um em Campinas, no Festival Auto Rock e outro em Bragança Paulista, no Festival Cardápio Underground. Em dez anos de carreira lançaram um split CD, com uma banda de Curitiba, e lançaram em vinil o 1º álbum. A seguir, você confere a entrevista que a banda carioca Estudantes, concedeu ao blog/zine Canibal Vegetariano.


Os cariocas da Estudantes estão há dez anos tocando seu punk/hardcore pelo Brasil



Canibal Vegetariano: Para começar peço que façam uma apresentação da banda, integrantes, instrumentos e influências.
Vitão:
Eu faço os vocais. Escuto basicamente som parecido com o que a gente faz, punk e hardcore velho. Consigo escutar algo de outros estilos também, pode ser jazz, blues, rap, pop, funk, surfmusic, metal... desde que seja boa música, tô ouvindo...
Manfrini: Eu toco guitarra, e adoro punk/harcore do início dos anos 80!
Diogo: Bateria, meio o que o Vitão citou, predominando sub-gêneros do punk até aproximadamente 2003, de lá pra cá não ouvi muita coisa nova, exceto os discos novos de bandas antigas e discos antigos que eu não conhecia. Ao criar as baterias dos Estudantes, sofri acidentalmente uma certa influência do Iron Maiden, mas com os tempos descaralhados e com bem menos peças no kit.
Dony: Eu toco baixo, com distorção. Estou na banda a pouco mais de 1 ano, eu era fãnzinho dos estudantes hehe, até a hora que me ligaram perguntando se eu estaria afim de entrar pra banda, me amarrei na idéia e topei!  Gosto de ouvir as coisas quase que de sempre, Black Flag , Flipper, Bad Brains, Kennedys, Cramps, The Sonics, The Seeds, Link Wray, Ventures, Sabbath, Mc5,  Stooges, Melvins e sei lá, mais um monte de coisas.

CV: Como é tocar rock pauleira, hardcore, em uma cidade como o Rio de Janeiro? Como é a cena rock local? Há vários espaços para shows?
Dony:
É como comer gengibre com banana e mijar no ralo.
Manfrini: É aquela coisa, a gente sempre reclama, mas também se diverte...se não, não estaríamos nessa há tanto tempo.
Vitão: Um pouco complicado. Tem alguns lugares legais como a Audio Rebel, Planet Music... às vezes rola em algumas boates do “rock” também.
Diogo: Nossos shows aqui ficaram meio falidos depois que boa parte dos nossos amigos desistiram de ir. Os que rolam no subúrbio são sempre bons! Um fato curioso: aqui rola um sol bizarro durante dias seguidos, mas quando tem show dos Estudantes, quase sempre chove!


Estudantes "detonando" em sua apresentação no Festival Cardápio Underground em Bragança Paulista

CV: Duas apresentações de vocês no interior de São Paulo, em 2009, chamaram muito a atenção da galera rock, devido a energia e fúria que vocês demonstram no palco. De onde vem toda a raiva e ao mesmo tempo tesão pela música?
Dony:
Bem, shows fora de casa, é sempre outra coisa, até porque aqui no Rio é uma merda, 97,9 % dos shows que fazemos por ano aqui, é no mesmo lugar, aí fode, dá no saco tá ligado?! Aí é natural, quando vamos tocar em outro estado, bate aquela adrenalina, aí a coisa fica quente.
E de onde tiramos tanta raiva? Pode ter certeza que é do calor infernal que faz aqui no "Hell de Janeiro", já passou um dia de verão aqui no Rio? “Cumpadi”, é sinistro, 42 graus na mente, e sensação térmica de 60 graus, parece que nossas mentes estão derretendo. Ainda mais eu, que sou o único suburbano da banda, onde não tem mar nem porra nenhuma. Mar aqui, só se for de sangue, bagulho doido!
Vitão: Eu moro em Botafogo, colado no cemitério, pelo menos bate uma brisa dos defuntos. Bom, como a gente não é banda profissional, tem show que é bom e tem show que é uma merda. Tem show que a platéia se amarra mas a gente acha um lixo e vice-versa. Quanto ao ódio, é isso, a gente é roqueiro e mora no Rio, isso já basta como explicação. Mas respeito com a nossa cidade, só nós podemos falar mal dela (risos)...
Diogo: O Manfrini pode falar melhor sobre a raiva, tem até música nova sobre isso. No meu caso vem de ter que trabalhar muito pra pagar as contas, viver em um país zoado, de usar o transporte público e de não querer ter um carro para não acabar preso no trânsito sem lugar pra estacionar. Podiam anunciar de fato a data certa do fim do mundo para poder largar tudo e seguir tocando rock até o juízo final, como disse o Manfra em uma noite alcoólica. O tesão vem de berço, é algo que se descobre e, em alguns casos, se perde. Felizmente, no meu caso ele aumenta. A vida de adulto costuma fazer as pessoas buscarem sentimentos bons que fluíam enquanto você era mais jovem, a vida era uma festa e você entregava sua alma em tudo que fazia. Tocar é bom pra caralho e você se lembra disso cada vez que faz. Ponto.
Manfrini: Acho que procuramos dar o máximo de nós nos shows, se não for assim, não faz sentido… E dar aqui, não é algo artificial, representado… música é uma forma de arte, de expressão humana, e no palco é a hora de soltar todo essa energia, todos os sentimentos, bons e ruins. A raiva, no sentido de gana, vontade, paixão, é o que nos faz, seres humanos, seguirmos vivos.

CV: Vocês estão juntos desde o ano 2000. Em 2001 vocês lançaram um split CD com a Evil Idols, e depois houve uma espera longa para o lançamento do primeiro album de vocês. Qual o motivo, vamos dizer assim, da demora?
Vitão:
Somos lerdos e anti profissionais. E tivemos vários baixistas mais anti profissionais que a gente.
Manfrini: Bom, acho que não houve um motivo, mas sim motivos…
Primeiro, trocamos de baixista um monte de vezes. Depois, todos nós estudávamos, ou trabalhávamos, e preferíamos gastar nosso tempo livre fazendo outras coisas… sei lá, tomando cerveja por exemplo (risos). Levamos a banda como um hobby eventual….Fazíamos 5 shows e 3 músicas por ano... Até que chegou uma hora em que estávamos com um monte de músicas prontas sem registro, e com uma formação estável, o que deixava o som bem redondo… Estava muito legal pra não ter registro…
Diogo: Eu estou sempre enrolado com projetos e já perdi muito tempo com noitadas, mulheres e bebida, aquela confusão. Risos.
Vitão: Hobby nada! Isso pra mim é sério (risos)!!!


O guitarrista Manfrini em mais uma apresentação da Estudantes: "Acho que procuramos dar o máximo de nós nos shows, se não for assim, não faz sentido…"


CV: Este álbum foi lançado em vinil. De quem foi a ideia e quantos foram lançados? As vendas atingiram a expectativa da banda?
Vitão:
Foram 100 prensados. Eu e Manfrini decidimos lançar em vinil, mas o dinheiro tava curto, só deu para fazer 100. Acabou rapidinho. Até superaram as expectativas. Depois a Laja lançou em CD, mas CD ninguém quer saber...
Manfrini: Como o Vitão falou, a ideia de lançar em vinil foi minha e dele. Muita gente falou que estávamos viajando, que deveríamos lançar em CD e tal. Mas nós batemos o pé, gastamos uma grana do nosso bolso e fizemos a bolacha. Agora, nosso bolso era pequeno, e, infelizmente só deu pra fazer 100 cópias. Que saíram bem rápido… Mas o lance legal, não foram as vendas em si, mas a capacidade do disco em divulgar nosso som. Para uma banda que não lançava nada há 7 anos, sendo que a única coisa lançada tinha sido aquele split capenga (da nossa parte) com a Evil Idols, a receptividade foi muito boa. Fiquei feliz, porque as pessoas que curtem o som que eu gosto de ouvir e fazer gostaram do disco.
Diogo: Toda hora me pedem uma cópia, mas estou guardando uma extra para vender no e-bay se alguém da banda bater as botas antes de mim.

CV: Como vocês veem o mercado musical atualmente. O CD ninguém liga, atualmente encontra-se tudo na Internet e grátis. Agora, com o vinil, que até há algum tempo era considerado obsoleto, existe uma grande procura.
Manfrini: Na verdade, o que importa, é uma forma de divulgar o som que nós fazemos, é fazer com que as pessoas que gostam da nossa música possam ouví-la. Particularmente, eu gosto muito de comprar vinil, acho, hoje, a forma mais legal de se ouvir música. Não é uma coisa descartável como o CD, ou mp3, rola todo um ritual de colocar o disco na vitrola, a capa é grande..entende?
Mas a Internet e o mp3 possuem um viés interessante também, pela facilidade de acesso a uma gama de bandas legais desconhecidas de todo o mundo...
Vitão: Atualmente eu compro só vinil. No máximo disco de banda nacional que só saiu em CD. O único problema que eu acho de pessoal baixar e só ouvir no computador é que geralmente elas ouvem em caixinhas vagabundas que deixam o som um lixo... Você gasta uma fortuna no estúdio pra deixar o som decente pra nada...
Diogo: O nosso som é meio feio e combina com o formato vinil, se o seu equipamento é antigo, como o meu, os ruídos completam o caos. O CD ganha disparado do mp3, com um bom equipamento e caixas potentes, mas não dura e não tem apelo visual. Não faço a mínima idéia de como anda o mercado real para quem vive disso, mas fico feliz de pessoas como Mozine (Laja) e Boka (Pecúlio) estarem na ativa, são tipo heróis.

CV: O que melhorou e o que piorou na cena independente nacional desde que vocês começaram a banda?
Dony:
O que melhorou é que a cena está cada vez pior, e isso é ótimo, daqui a dez anos não existirá mais nenhuma banda boa, será o fim!
Vitão: Hummm... o acesso pela Internet facilitou muito o trabalho de divulgação do som e principalmente em fazer contatos no exterior. O pior são as bandas de visual ridículo e som idem.
Manfrini: Os fotógrafos! De resto continua ruim como sempre foi. Talvez um pouco diferente, mas ainda ruim... Até porque, se fosse boa não teria graça. Não ia dar para reclamar de tudo, e ficar imaginando como na gringa seria bem melhor isto, ou aquilo... (risos)
Diogo: O novo “hardcore sertanejo” não é legal, definitivamente. A Internet é bacana e a maior presença feminina no público de rock foi a maior conquista das últimas duas décadas.


"Somos lerdos e anti-profissionais. E tivemos vários baixistas mais anti-profissionais que a gente" Vitão

CV: Quais os planos dos Estudantes para 2010?
Vitão:
Bom, já estamos gravando sons novos. Daqui a pouco estaremos com dois lançamentos inéditos. Cinco músicas num split CD e outras cinco em vinil que vai sair pelo selo americano “todo destruído”.
Dony: De repente um filme pornô dos Estudantes, nós 4 em um super clima transado. E quem sabe, contratar um sanfoneiro para dar um tiquinho de brasilidade para o som da banda.
Manfrini: Ano passado, falei que nos planos de 2009 estava, entre outros, uma tour na Europa. Bom, não rolou…Então, sem planos ousados para 2010 (risos)... Estamos esperando nosso novo 7" vir dos EUA, o split de cinco bandas que vai sair aqui no Brasil mesmo. E pretendemos tocar o máximo possível por ai...
Diogo: Eu espero arranjar algum tempo para editar algum material videográfico da banda.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para divulgação de venda de material, ou que vocês considerarem mais importante.
Dony:
É nóis! Uhu!
Vitão: Para entrar em contato, escutar som, foto, etc... checa o nosso myspace. Abraço!
Diogo: Nos convide para tocar em sua cidade, nós gostamos de conhecer novos lugares. Só estamos meio velhos pra dormir no sofá de neguinho, esquema patrão, por favor! Abraços!
Manfrini: Sintam raiva, faz bem à saúde! Ah, e não sejam passivos, desconfiem de tudo que tentarem lhe enfiar goela abaixo!

Todas as fotos foram cedidas pela banda

segunda-feira, 1 de março de 2010

Oito Mãos, quatro caras e um disco com identidade

Os campineiros da banda Oito Mãos estão lançando seu primeiro álbum, intitulado "Vejo Cores nas Coisas", e aproveitando esta oportunidade, nós do zine/blog Canibal Vegetariano, conversamos com o baixista Felipe Bier, que comentou sobre o período de gravação e os próximos passos da banda. Abaixo, vocês conferem a entrevista na íntegra.

Canibal Vegetariano: Vocês estão juntos há cinco anos e após o lançamento do EP "Inverno Inusitado" e alguns singles, lançam o primeiro álbum. Podemos dizer que o disco saiu na hora certa, ou ele demorou um pouco?
Felipe Bier:
O disco saiu na hora certa, pois somente agora amadurecemos o bastante para que um disco como “Vejo Cores nas Coisas” fosse realizável. Digo isto pois sempre fomos uma banda muito criativa, mas que precisou trabalhar muito para entrar nos trilhos, se conhecer etc. O “Inverno Inusitado” tem músicas excelentes, mas reflete a nossa imaturidade em muitos aspectos, sobretudo técnicos. Além disso, durante esses cinco anos de banda, soubemos fazer com que as músicas soassem como Oito Mãos, e nãos mais como Los Hermanos, Oasis, Coldplay, Beatles etc.


Capa do CD da banda. Os caras curtiram tanto que acreditam que ela ficaria ainda melhor em vinil


CV: Como foi o processo de gravação? E como o disco será comercializado?
FB:
O processo de gravação foi, ao mesmo tempo, uma delícia e muito penoso. Passamos o ano inteiro de 2009 gravando as 13 faixas. Gravamos tudo no estúdio que montamos no quintal do André Leonardo, guitarra e voz da banda. Foi uma experiência muito legal, não só porque estávamos gravando em um ambiente que nos era familiar, mas também porque tínhamos todo o tempo do mundo para errar, experimentar, errar de novo, voltar e por aí vai. Testamos tudo que pudemos e a prova disso é a primeira faixa do álbum – “Ninguém” – que é uma puta viagem nascida das nossas experimentações. Algo realmente gratificante sobre essa produção toda do CD é que mantivemos o controle sobre todas as etapas de sua construção: o que lhe dá um ar meio ‘artesanal’ e sobretudo autoral. Ou seja, para o bem ou para o mal, o que está ali é a Oito Mãos. O disco será comercializado da maneira como são os discos de bandas independentes no sentido estrito da palavra: venderemos para as pessoas que se interessarem, venderemos em shows, pensamos em colocar em algumas lojas aqui de Campinas, bancas de jornal etc. Desse jeito pretendemos fazer o Cd chegar aos fãs. Mas não criamos nenhuma expectativa em relação a ganhar uma grana, vender todas as cópias e tal. Tanto é que já começamos a divulgação e providenciamos na Internet todas as faixas mesmo antes do Cd chegar às nossas mãos. O mais importante para nós é que o som se espalhe.

CV: Mesmo vivendo em um mundo conturbado, vocês lançaram um disco com o nome "Vejo Cores nas Coisas" e uma capa colorida. Algumas pessoas podem entender que se trata de uma banda otimista em relação ao futuro. O que vocês pensam sobre isso? E como surgiu a ideia do título e o conceito da capa?
FB:
Não saberia dizer se somos uma banda otimista em relação ao futuro, até porque estamos falando de quatro pessoas que têm visões divergentes acerca de muitas coisas. Mas acho que temos o seguinte sentimento na banda: nesse mundo conturbado, excessivamente desencantado, a música (e falando aqui da boa música) é uma das poucas coisas que guarda certa dose de mistério, de ousadia. Posso dizer que grande parte da visão que temos sobre as coisas, sobre a política, sobre a vida deve muito à música, à nossa sensibilidade musical. Por isso, para nós, não se trata de apenas fazer uma música meramente agradável: como a garota da capa, tentamos fazer música sempre esboçando aquele olhar para fora da cerca. Respondendo mais diretamente a pergunta: somos ao mesmo tempo uma banda otimista e pessimista. Não acreditamos que a nossa música vai mudar o mundo – tampouco mudará o mundo da música, muito provavelmente –, mas acho que acreditamos no poder crítico que a arte pode exercer, no teor de verdade que ela carrega.
A idéia do título surgiu em meio a muitas discussões que tínhamos na época. Numa dessas, o Leandro Publio (guitarra e voz) contou-nos de uma viagem dele. Para ele, todas as músicas tinham uma cor. Quando ele ouvia uma canção, ele dizia “essa é azul” ou “essa é vermelha”... é como se as cores, como frequências que são, fossem como os sons que compõem as músicas. Gostamos da ideia, ainda mais porque não nos soava nada blasé, o que definitivamente não é nossa característica. Sobre a ideia para a foto da capa, ela surgiu no centro de discussões ainda mais acaloradas. O André teve a ideia de alguém olhando através de uma cerca colorida. Eu comprei a ideia e fiz um teste quando estava de férias: comprei um monte de tinta guache, passei numa marcenaria e montei uma cerquinha colorida. Todo mundo gostou da ideia, ela ficou.

Sílvia Montico

A banda particiou de dois festivais e ganharam uma grana que foi fundamental para a gravação do CD


CV: Algumas bandas de Campinas lançam CD's com apoio do poder público, através de uma lei municipal de incentivo a cultura. O álbum de vocês também conta com esse incentivo?
FB:
Pode-se dizer que ele conta com um incentivo indireto. Foi com o dinheiro que ganhamos no festival “Cena Musical Independente”, realizado pelo governo do Estado de São Paulo, em dezembro de 2008, que conseguimos a grana de que precisávamos para montar nosso home studio. Em setembro de 2009, ficamos em quarto lugar no segundo Unifest Rock, festival de alcance nacional promovido pela prefeitura de Campinas. Com isso, conseguimos o dinheiro para prensar as cópias do CD.

CV: Vocês prentedem lançar o disco em vinil?
FB:
Vontade nós tínhamos, mas infelizmente estamos quebrados no momento. Quem sabe, não é? Sempre dizemos que a arte do CD ficou muito bonita e merecia ser apreciada em vinil. Certamente é um desejo da banda, mas no momento o CD tem prioridade.

CV: Vocês tocaram nos espaços mais importantes da música independente em Campinas e participaram de dois festivais, um deles em São Sebastião, onde vocês ganharam uma grana, por estar entre os melhores classificados. O que vocês pensam desses festivais e como está a agenda de shows?
FB:
Esses festivais foram muito importantes, não só pela grana. Aprendemos muito, conhecemos outras bandas, vimos o que as pessoas estão fazendo no Estado, no Brasil. Isso é muito importante para sabermos localizar o nosso som em meio a tanta coisa sendo produzida. Além disso, sempre é uma experiência boa tocar num palco maior, já que estamos acostumados ao clima dos “inferninhos”. E, é claro, é ótimo saber que não estamos loucos ao pensar que nosso som é de boa qualidade: quando há a chancela de um festival de grande porte, temos a comprovação de que nossa intuição não está nos enganando.
A agenda de shows ainda está meio vazia: como passamos esse último ano muito concentrados no Cd, tocamos pouco. Pretendemos voltar a nos apresentarmos em breve, com lançamento do CD e tudo mais.

CV: Há planos para uma turnê no exterior?
FB:
Planos não há. Mas se rolasse um convite e condições materiais para que isso acontecesse, seria uma experiência inesquecível! Vamos ver... vamos mandando nosso som para todo lugar. Quem sabe algum maluco da Romênia não nos chama pra um festival de lá?

Felipe Pompeo


Uma definição importante da banda: "Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir"


CV: A cena do rock independente cresce a cada ano. O que vocês pretendem fazer para se destacar entre as demais bandas? Vocês acreditam que ainda é possível músicos de banda, principalmente de rock independente, viver de música?
R:
Essa é uma questão delicada. Se por um lado, o rock independente cresce a cada ano, ele é absorvido de maneira muito seletiva pelo grande público. Acho que estamos passando por um momento de redefinição das fronteiras e limites do campo musical. A Internet ajuda em muitos aspectos, atrapalha em outros. É possível viver de música, mas somente contando com a grana que se ganha em shows. É impossível contar com a renda de venda de CD's. A nossa estratégia é exatamente não ter uma: fazemos as músicas, simplesmente. Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir. Não temos muita preocupação com nossa aparência, com a maneira como nos vestimos etc. Não pensamos em cantar em inglês para atingir a um público maior, nada disso. Tentamos pensar que estamos agregando valor à própria música em si, apesar de sabermos que só isso não é suficiente para trazer notoriedade a qualquer banda que seja. A era dos grandes estouros de mercado acabou, isso é certo.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais.
FB:
Nós é que agradecemos muito. Estamos ralando bastante para que o “Vejo Cores nas Coisas” chame a atenção das pessoas, e espaços como o Canibal Vegetariano só podem nos ajudar! Esperamos que ouçam o CD e que o apreciem e se divirtam como nós nos divertimos ao produzi-lo. Deixo aqui os lugares na internet onde podem nos encontrar: www.oitomaos.com ; www.myspace.com/oitomaos ; www.twitter.com/oitomaos ; www.oinovosom.com.br/oitomaos . Em todos esses espaços é possível ter acesso às nossas novas músicas, bem como ao link para baixar o disco “Vejo Cores nas Coisas” inteiro. Estamos também no Orkut, se quiserem nos procurar por lá!