quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sex Enough: em menos de um ano, banda conquista público com trabalho 100% autoral

A banda sorocabana Sex Enough está há menos de um ano na estrada e conquista público em cada local que passa. Fazendo um rock honesto e com influências de música erudita, os integrantes apostam em canções próprias para desbravar o Brasil e o mundo. A seguir você confere uma entrevista exclusiva que o zine/blog Canibal Vegetariano fez com a galera, para descobrir a receita desse sucesso.

Canibal Vegetariano: Para começarmos, apresentem a banda, nomes, instrumentos e etc.
Sex Enough:
Nós somos a banda Sex Enough de Sorocaba/SP. Vocal e baixo - Danny Viana, Vocal e guitarra - Wagner Ferreira, Guitarra - Mauricio Nogueira, e Bateria por Thiago Balera.

CV: Vocês são uma banda com menos de um ano e já tem músicas próprias no repertório. Por que vocês decidiram compor o próprio material?
SE:
Na verdade, só temos material 100% próprio, até então não fizemos nenhum cover.

CV: Quais são as influências da banda e em que vocês se inspiram para escrever as letras?
SE:
Os gostos variam bastante, mas música erudita é o que mais prevalece, devido à formação de parte da banda. Mas cada integrante tem seu gosto particular, que varia em tudo que você possa imaginar. Todas as letras são da baixista. Algumas letras são baseadas em fatos vividos. Mas em outros casos, uma ou duas palavras a inspiram, e depois ela só desenvolve a estória em torno do assunto.


Danny Vianna, vocal e guitarra, por oito anos tocou na orquestra de violões de Sorocaba

CV: Nesses dez meses de banda, quantos shows vocês realizaram e como foi a recepção do público, principalmente em relação as músicas próprias?
SE:
Fizemos alguns shows em Sorocaba, Campinas e Itapetininga. Mas foram situações curiosas, em que a necessidade era mesmo de shows de bandas autorais. Nós achamos que hoje o leque musical está bem mais aberto, mais receptivo à novas bandas. O público já não busca mais ouvir somente cover de bandas iniciantes. As pessoas sempre procuram por novidades. Tivemos ótima aceitação por onde passamos e assim que o CD estiver 100% concluído, retornaremos aos shows.

CV: Como é a cena de Sorocaba e quais são os espaços disponíveis para bandas indie?
SE:
Está cada vez melhor, aos poucos as pessoas estão dando mais valor para bandas autorais. Mas há poucos lugares para tocar na cidade ainda.


Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por três anos

CV: Qual é a formação musical de cada integrante? Todos são músicos eruditos? Em caso positivo, porque montar uma banda de rock?
SE:
Danny Viana fez Conservatório de Tatuí, já tocou na "Orquestra de Violões de Sorocaba" durante 8 anos e na "Orquestra Sinfônica de Sorocaba" como musicista contratada.
Wag Ferreira - Formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos. Também foi integrante da Orquestra de Violões de Sorocaba por 9 anos. Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por 3 anos. Tem vários trabalhos lançados em MPB. Thiago Balera - multi-instrumentista, também cantor e compositor.
O fato de montar uma banda de rock surgiu naturalmente. Começamos como algo simples que foram tomando proporções cada vez maiores. O rock tem influência da música erudita em muitos pontos

CV: E vocês vivem de música ou tem outros trabalhos paralelo a banda?
SE:
Danny Viana e Wag Ferreira são professores de música. Maurício Nogueira é proprietário do estúdio Aquarela Records. Thiago Balera tem trabalhos paralelos onde é vocalista e guitarrista e também trabalha como modelo.


O batera da banda, Thiago Balera é multi-instrumentista, além de ser cantor e compositor

CV: A banda Wry, que também é de Sorocaba, passou 7 anos na Inglaterra. Vocês tem a pretensão de tocar e morar fora do Brasil?
SE:
No mês de dezembro recebemos convites para alguns shows em Nova York, Brooklin, Manhatan e Long Beach na Califórnia. Estamos fechando datas, e provavelmente faremos o lançamento do CD por lá.

CV: A previsão para vocês gravarem o primeiro EP é este mês? Quando começam? E se já começou, como está ficando,e o quais as pretensões da banda para 2010?
SE:
Estamos com o EP finalizado, mas gostamos tanto do resultado que decidimos fazer o CD. No mês de fevereiro finalizaremos as gravações por completo. Está ficando mais detalhado, estamos gravando com calma, diferente das versões ao vivo do myspace que foram gravados depois de dois ensaios. Os arranjos estão mais elaborados, a banda está bem entrosada. Esperamos atender as expectativas. Este ano também teremos um clip da musica Sunny Days, feito em Stop Motion.


Wag Ferreira é formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos

CV: Como vocês veem o jeito que a música é divulgada e comercializada atualmente? Vocês pensam que as ferramentas atuais ajudam ou acabam atrapalhando?
SE:
A Internet é um meio de comunicação muito forte, é claro que há o grande problema da pirataria, do enfraquecimento das gravadoras. Mas não conseguiríamos ter nosso trabalho divulgado em 48 países (como mostra dados em nosso Myspace), apenas com gravações demos, sem a Internet.

CV: Agradeço vocês pela entrevista e deixo o espaço para vocês xingarem, divulgar shows e etc.
SE:
Nós que agradecemos a oportunidade. Estamos fechando com alguns selos a distribuição do CD, em breve teremos grandes novidades.

Crédito das fotos: Divulgação

sábado, 16 de janeiro de 2010

Paebiru – Psicodelia à moda nordestina


Paebiru é um dos discos mais raros da música brasileira e está avaliado em cerca de R$ 4 mil

O texto que segue a seguir é uma resenha escrita por um grande camarada, Carlos Ferrari, que é fanático por música, e guitarrista, dizem as más linguas que é dos bons. Nesta resenha ele fala um pouco da história de um dos discos mais raros da música nacional, esperamos que gostem. Boa leitura!

Os discos brasileiros de música psicodélica/progressiva/instrumental/experimental dos anos 70 tornaram-se “moda” entre colecionadores e audiófilos mundo afora. Os discos originais são disputados por milhares de dólares em leilões na Internet e títulos são relançados em vinil e cd em países como Inglaterra, Alemanha, Portugal, Bélgica e até na Polônia e esgotam-se rapidamente. No mundo inteiro nessa época fazia-se um som na mesma linha, no auge do rock progressivo. O que se explica então o fato dessa procura e interesse muito maior pelo som feito aqui?
A resposta talvez esteja naquilo que sempre diferenciou nossa música. A quantidade absurda de ritmos, instrumentos e diferentes linguagens musicais, que incorporadas às sonoridades que vinham de fora, resultaram talvez na mais rica fase de música experimental brasileira, desde o sul até o norte do país.
O símbolo maior dessa fase talvez seja o disco Paebiru de Lula Côrtes e Zé Ramalho, tanto pela diversidade de sonoridades e experimentações quanto pela mística criada em torno de suas histórias.

O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui

Gravado em 1975, o disco foi planejado e gravado em 4 canais por Lula Cortês, que já vinha de um disco anterior, Satwa e pelo estreante Zé Ramalho. A obra é considerada por muitos críticos uma “Tropicália Nordestina” porque contou com a participação de nomes como Alceu Valença, Robertinho do Recife e Geraldo Azevedo. O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui. Cada lado é dividido em elementos da natureza: água, fogo, terra e ar e com sonoridades que procuravam direcionar a esses elementos, utilizando instrumentos das mais diferentes origens.
Não bastasse a qualidade musical incontestável, a tiragem do disco original foi reduzida a 300 cópias, devido a uma enchente que inundou os estoques da lendária gravadora Rozenblit de Recife. Um exemplar é avaliado hoje por volta de R$ 4 mil. Há relançamentos alemães e ingleses em cd e vinil que se esgotam rapidamente.
Paebiru é daqueles discos que devem ser ouvidos muitas vezes pra um entendimento maior e ainda sim sempre haverá algo a descobrir. É um trabalho fundamental para se entender a fusão da música brasileira, especialmente nordestina com o rock progressivo e todos os rumos do rock nacional desde então.