terça-feira, 22 de outubro de 2013

Promoção A HORA DO CANIBAL e O Grande Ogro

Devido a comemoração de cinco anos do programa A HORA DO CANIBAL e também do fanzine/blog Canibal Vegetariano, nós, em parceria com a banda instrumental paulistana O Grande Ogro, realizamos promoção para presentear um ouvinte/leitor com o novo EP da banda.
Com quatro músicas de rock instrumental, os paulistanos mostram muita versatilidade e faz rock sem frivolidades, além de citar uma certa urgência nos temas. Além do CD, o vencedor levará para casa três adesivos.

Para participar, basta o ouvinte enviar e-mail para zinecanibal@hotmail.com ou enviar mensagem para Canibal Vegetariano no Facebook. A frase mais tosca leva para casa a “bolachinha”. Caso o vencedor seja de Itatiba poderá retirar o brinde na sede da rádio Click Web. Caso more em outra cidade, receberá o brinde no conforto de seu lar, sem despesas de envio. A promoção vale até os primeiros dias de novembro.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Quando a poesia encontra o rock'n'roll

Arquivo Pessoal 
O poeta itatibense Mateus Machado lançou recentemente mais um livro de poesias "A beleza de todas as coisas". Aproveitando a oportunidade, o fanzine/blog Canibal Vegetariano falou com o poeta sobre esta obra e também sobre o cenário musical, pois o autor é envolvido em outras áreas de manifestações artísticas. A entrevista na íntegra você confere abaixo.

Canibal Vegetariano: Mateus, sobre o que você escreve neste livro?
Mateus Machado: É sobre um conceito oriental, da tradição indiana, que diz que toda a manifestação da vida, boa ou ruim, é um ato sagrado. Já não se trata mais das nossas dualidades, herdadas sobretudo da tradição bíblica e da cultura judaico-cristã. Tal conceito rompe com os limites de nossas dicotomias; bem/mal, certo/errado, luz/trevas etc. Para uma mentalidade ocidental é um conceito difícil de assimilar. A crise espiritual de um povo se reflete em sua crise poética, na ausência criativa, na má interpretação e compreensão de seus próprios símbolos. Em culturas antigas, como os egípcios, havia três maneiras de exprimir seus pensamentos; a primeira era clara e simples, a segunda era simbólica, metafórica, e a terceira era sagrada. Havia o sentido próprio, figurado e transcendente em uma mesma palavra. A Beleza de Todas as Coisas é a manifestação do poder divino em tudo, porque a vida se alimenta de si própria. A vida, e seu ciclo de nascimento, morte e ressurreição, que é um tema mítico universal, é do que fala minha poesia. Outro tema central é o sagrado feminino, ou como diz Joseph Campbel “é a histórica rejeição do feminino, da Deusa-Mãe, implícita na história do Jardim do Éden". A vida é um fogo que se auto consome.

CV: Você lançou outros livros de poesia e também uma estória de ficção, em parceira com Nádia Grecco. Neste novo trabalho, teve influência da astrologia?
MM: O interesse pela Astrologia surgiu desde muito cedo. Quando me formei Astrólogo percebi que poderia usar esse sistema, carregado de uma linguagem simbólica, dentro da minha poesia. Tal recurso eu comecei a usar no meu segundo livro de poesia, A Mulher Vestida de Sol, porém, hoje em dia uso com mais autoridade. Mas a linguagem astrológica na poesia não é algo novo. Dante Alighieri (1265-1321) na Divina Comédia faz uso da Astrologia.

"Governar um país cuja população tenha, ao menos, um nível “médio” de educação e, consequentemente, de argumentação crítica, seria um pesadelo para os políticos corruptos"

CV: Você se formou no assunto e o que isso mudou na sua maneira de escrever e pensar sobre literatura e o mundo em geral?
MM: Sim. Para você ter uma melhor compreensão do Mundo e sua dinâmica se faz necessário primeiro conhecer a si próprio. Somos uma linguagem simbólica. Um Astrólogo entenderá o verso “Urano poderoso na Casa do Destino”, ele encontrará um leque de possibilidades interpretativas no contexto do poema. Um leitor que não conhece Astrologia não terá o mesmo alcance. Mas em nossos dias de Google, qualquer pesquisa se torna rápida e fácil. Um leitor comum ainda pode contar com a força das imagens, e essas mesmas imagens universais estão estampadas no seu inconsciente, faz parte de sua herança primitiva.

Canibal Vegetariano

CV: Como é o mercado de poesia no Brasil? Ele chega a ser mais complicado do que outras formas de literatura?
MM: A Poesia é marginal, sempre foi. Mesmo em culturas antigas como a pré-islâmica, quando os poetas eram tão ou mais importantes que os príncipes, ou na cultura celta em que ser poeta era também exercer um sacerdócio, no caso os Druídas, a classe mais alta entre o povo celta. Costuma se dizer que culturalmente o Brasil não é um país de leitores de poesia, como acontece com outros países da América Latina. Há poetas consagrados aqui no Brasil que se fossem viver com o dinheiro da venda de seus livros morreriam de fome. No entanto há leitores de poesia no Brasil sim. O que falta é interesse e  investimento por parte da indústria editorial de grande porte, da mídia de modo geral, do governo...claro que, governar um país cuja população tenha, ao menos, um nível “médio” de educação e, consequentemente, de argumentação crítica, seria um pesadelo para os políticos corruptos.

CV: Na hora de escrever, quais são suas influências? Cite seus escritores favoritos, não apenas em poesia.
MM: Minhas influências são todas as coisas que gosto. Neste livro você encontrará referências de filmes, artes plásticas, música, mitologia, literatura etc. A lista de escritores favoritos é bem extensa, isso porque tenho muitos interesses. Citarei apenas alguns autores contemporâneos e clássicos que me influenciaram neste livro especificamente: Joseph Campbel (mitólogo), Mircéa Eliade (poeta e estudioso das religiões), Neil Gaiman, James Joyce, Nick Cave, Roberto Piva, Ana Akhmátova, Jorge Luis Borges, Liv Ullman (atriz), Dante, Blake, etc.

CV: Falando em escritores e parafraseando Antonio Abujamra. Qual seu escritor favorito e qual você ainda não descobriu?
MM: Favoritos são muitos, pode ficar com os já citados acima. Os que ainda não descobri com mais profundidade são Antonin Artaud, Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Hilda Hilst, no entanto, eles já estão entre os meus preferidos.

CV: Você também toca em banda de rock. Como a música pode influenciar um escritor ou poeta?
MM: A leitura de maneira geral pode acrescentar maior conteúdo, maior senso crítico, estético, perspectivas diferentes na música, na vida de cada pessoa. Só tem a acrescentar. Sempre existiu uma parceria entre poesia e música, desde a época dos trovadores medievais.

Arquivo Pessoal

CV: Falta poesia no rock atualmente?
MM: Falta poesia em muita coisa, no rock sobretudo. Mas também há muita coisa boa sendo feita atualmente, de artistas consagrados como Nick Cave até bandas que estão começando agora. O problema é a indústria da música com sua cultura de enlatados e música fast food. O que é bom dificilmente tem espaço na grande mídia. A figura do poeta hoje em dia virou uma piada, a própria poesia virou um pastiche mal feito. Para a Poesia ser respeitada nos dias de hoje é necessário que ela se imponha como ato terrorista, baseada em uma fé extrema, cega se for preciso, mas falta coragem, falta paixão, falta sabedoria para se olhar por dentro. A pergunta é: Quem vai querer um poeta na idade do Rock?

CV: Você como escritor, como vê a chegada dos e-books?
MM: A era de Gutemberg está chegando ao fim. Há muita vantagem nos e-books (e desvantagens também, afinal, quem vai querer um Mundo perfeito?). Mas os livros impressos ficarão ativos por muito tempo ainda. Como sempre, a Poesia sobreviverá.