terça-feira, 21 de outubro de 2008

O som que é captado pelos roqueiros: entrevista com a banda Ecos Falsos


A banda paulistana Ecos Falsos, formada em 2001 por estudantes da USP, conta com letras decentes e refrões inflamáveis, resultando em um rock barulhento às vezes, bem humorado sem ser patético. O quarteto é formado por: Gustavo Martins (guitarra,baixo e vocal), Daniel Akashi (guitarra, vocal), Felipe Danos (guitarra, baixo e vocal) e Davi Rodrigues (bateria). O nome "Ecos Falsos" vem de um sinal captado por radares onde supostamente há atividade alienígena. É uma expressão usada na ufologia, o estudo das atividades de OVNI´s, sabe aquele lance de disco voador, Arquivo X, Guerra nas Estrelas? Então, é por aí. Confira a seguir uma entrevista exclusiva de Gustavo Martins ao zine Canibal Vegetariano.


Canibal Vegetariano: Como está o cenário para as bandas independentes atualmente, não somente em São Paulo, mas em todo o País? Estrutura, grana, incentivo...

Gustavo Martins: É um bom momento para se ter uma banda, existem festivais bacanas que dão suporte para viajar em quase todas as capitais, além de uma grande rede de casas que se pode marcar show. Com dedicação, cara de pau e um bom som, uma banda pode tranqüilamente botar o pé na estrada e em pouco tempo marcar shows fora de seu Estado, desde que saiba se divulgar pela internet também. Não vou mentir: existe muito mais bandas do que o mercado independente pode suportar, ainda é algo muito pequeno se comparado com outros estilos como o forró, axé etc., mas está MUITO melhor do que há dez anos.


CV: O que vocês pensam da Internet em geral e o compartilhamento de músicas. Isso ajuda ou atrapalha uma banda em começo de carreira? E uma banda com um certo tempo de estrada?

GM: Obviamente ajuda, e não há mais escapatória pra isso, independente da estrada que tenha a banda. Ainda não foi fechado em definitivo o formato de como os músicos podem ser remunerados pela internet, mas o mais provável é que nunca sejam - o lucro da música simplesmente passou da venda do CD para a venda do show, já que esse suporte não é mais necessário. Da mesma forma que é mais fácil qualquer um acessar a sua música, é mais fácil criar um público disposto a te ver e comprar camisetas, adesivos ou mesmo o próprio disco. Se for pensar, é um mundo mais justo, pois não se compra mais tanto gato por lebre.


CV: Quais são os principais festivas do Brasil?

GM: Independentes existem vários, pra todos os gostos, mas eu citaria o Goiânia Noise, o Casarão em Porto Velho, o Gig Rock em Porto Alegre, o Se Rasgum em Belém... Osem São Paulo e no ABC são muito estruturados também.


CV: O que representa para a banda ser indicada para o Prêmio Dynamite? E em quais categorias vocês concorrem?

GM: É um reconhecimento feliz do seu trabalho, e por incrível que pareça o único, por isso tão importante. A gente concorre como Melhor Disco de Indie Rock de 2007, com um monte de amigos nossos, é muito legal. Eu acho que ainda falta uma categoria de videoclipes, já que a MTV se absteve desse papel, há uma produção muito bacana e isso merecia ser revisto com mais cuidado.


CV: Quais foram as maiores dificuldades que vocês já passaram com a banda? E um momento que compensou o sacrifício?

GM: Dificuldades acontecem toda hora, todos nós temos que ter outros empregos para nos sustentar e cada fim de semana que a gente precisa pedir folga pra tocar é um puta sacrifício, estamos sempre a ponto de sermos mandados embora, ahahaha! Os momentos que compensam são, obviamente, os shows e os contatos de pessoas por todo Brasil que gostam do nosso trampo, e nos incentivam a continuar.


CV: Vocês acreditam que nós teremos bandas, principalmente as que começaram neste século, não só no Brasil, mas no mundo, com carreiras longas, como os Rolling Stones?

GM: Acho possível que as bandas durem, mas não nesse tamanho gigantesco que os Stones foram, sinceramente acho que isso não existe mais. E nem deve ser a meta de ninguém, acho que viver de música já está ótimo, pra que ficar milionário se você já faz o que gosta?


CV: As grandes revistas de músicas estão ficando cada vez mais raras. Qual a importância que os fanzines impressos e virtuais têm para as bandas que estão começando?

GM: A importância é vital e infelizmente é muito sub-aproveitada, porque não basta a coisa estar na internet, é preciso essa "rede de inteligência" que filtre e indique as coisas bacanas para um público maior. O fim das revistas de música é um fenômeno que acontece junto com o fim de todas as revistas, tudo está vendendo menos, o brasileiro lê pouco mesmo, as coisas não se sustentam. Espero que os zines virtuais e blogs consigam cobrir essa lacuna, mas isso exige uma dedicação e preparo que a maioria das pessoas não têm.


CV: Após um ano do lançamento do albúm "Descartável Longa Vida", quando teremos um novo disco do Ecos Falsos? E hoje, vocês acreditam naquela "mística" do segundo disco?

GM: Estamos trabalhando arduamente em novas músicas, que terão uma sonoridade bem mais variada e intrigante que as primeiras, sem perder o punch, porque não queremos fazer segundo disco bunda-mole. É só isso que me preocupa, o resto vai acontecer naturalmente, como sempre foi - não sabemos fazer de outro jeito! hahaha.

CV: Quais as dicas que vocês podem dar para a galera que está montando um banda?

GM: Olha, eu recomendo MUITO que as pessoas assistam a esse documentário aqui, "Caixa Preta" que inclusive tem um depoimento meu e dá muitas dicas bacanas para bandas que estão começando:http://www.dailymotion.com/drrliverecord/video/x6tkh1_caixa-preta-conteudo-independente_music


CV: A banda já fez turnê no exterior? Se sim, quais os lugares e em caso negativo, há planos para isso?

GM: Não, mas planejamos algo sim. Eu gostaria de ir pra Portugal, mas é mais provável que role algo nos EUA, o esquema de viagem é mais barato e as cidades são mais próximas. Mas está tudo em projeto ainda, se rolar deve ser só no fim de 2009.


CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para considerações finais.

GM: Peço a todos que se interessarem pela banda que freqüentem nosso blog no http://www.ecosfalsos.com.br/ - sempre tem novidades lá, datas de show, vídeos bacanas e tudo mais. Entrem em contato com a gente, vão aos shows das bandas independentes, leiam fanzines, participem também dessa cena, que sem dúvida vai ser algo ótimo de contar pros netos. Valeu!


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