quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Festival Planeta Terra (08/11/2008)

A equipe do zine Canibal Vegetariano esteve no festival Planeta Terra conferindo de perto este evento que contou com a presença de mais de 15 mil pessoas. Confira abaixo a resenha / relato do festival.


Mais uma resenha?


O leitor do zine, ao ver o título desse texto, deve estar se perguntando: “Pra que mais uma resenha desse festival, com tantas na internet e até mesmo em grandes jornais?” Sim, essa pergunta é muito pertinente e, de certa forma, foi o ponto de partida para o que irei escrever. Eu poderia fazer algo sério, seguindo os padrões jornalísticos em voga na grande mídia, mas não. Acho melhor fazer algo diferente. Uma espécie de relato que desconstrói a falsa impessoalidade pregada por tais padrões. E é isso que irei fazer: colocarei aqui impressões captadas por um fã de rock. É isso mesmo leitor: um fã de rock falando pra você de uma experiência que ele teve. Por isso, encare este texto com uma conversa de bar. Puxe a cadeira, senta aí e vai ouvindo o que tenho a dizer.



Pra começo de conversa...


Cheguei ao local do show por volta das cinco da tarde. Como não conheço São Paulo, nem vou tentar descrever onde era o lugar. Logo de cara, o que mais impressionava era a organização do evento: filas bem definidas, funcionários indicando onde ficar e checando se estava tudo em ordem, panfleto com mapa do local e horário dos shows, etc. Não havia do que reclamar e nem como se perder: estava tudo na mão do público. Em um segundo momento, já dentro do evento, o que se destacava era o ambiente. O show ocorreu em uma indústria abandonada, repleta de imensos galpões, uma espécie de retrato de uma São Paulo pós-industrial, habitada por fábricas fantasmas. E nada mais adequado para um show de rock do que esse clima de decadência e sujeira de contornos cinza. E foi nesse ambiente que pude presenciar, em uma maratona de mais de dez horas, shows de diversas bandas de vários estilos e lugares.


Ao que interessa...


Primeiro tempo


O primeiro show que vi foi o da Malu Magalhães (vale ressaltar que não pude acompanhar todos os shows, pois muitos ocorriam simultaneamente e também cheguei um pouco atrasado no evento). A menina fenômeno estava no palco principal destilando seu repertório de canções folk pop. Para quem não conhece, Malu tem uns quinze anos e foi considerada pela mídia (leia-se MTV, Globo, Folha de São Paulo, etc.) como garota prodígio e destaque na internet. Vou ser sincero com vocês, não consegui enxergar a razão pra tanto hype. O que antes me cheirava a jabá dos grandes, se confirmou mais ainda, ali diante da performance ao vivo da cantora. Entre “papapapapapas” e “tchutchutchutchutchus”, uma coisa não saía da minha cabeça: “As peripécias vocais dessa garota não me convencem não!”. O fato é que a meiguice de Malu, se deixada de lado, revelam uma menina com um talento normal, nada que justifique o bombardeio feito pela grande mídia. Por isso, não agüentei e, depois de uma meia hora, fui conferir o que rolava em outros lugares.

No palco dentro de um galpão (“Indie Stage”), quem tocava era a banda Animal Collective. Não tinha ouvido o som dos caras antes e, depois da apresentação ao vivo, pensei: “Agora que não quero ouvir mesmo!”. Com um misto de indie rock, recheado de pitadas de experimentalismo e eletrônica, o Animal Collective não empolgou o público presente, chegando mesmo a despertar umas vaias pelo excesso de estrelismo e frescurices dos músicos. Novamente, dei uma conferida e, não demorei muito, para tirar meu time de campo.

Já era umas oito da noite quando o Jesus and Mary Chain subiu ao palco principal. Para mim, é difícil não falar bem dos caras. Gosto muito do som da banda e, depois do show, virei ainda mais fã deles. Conhecidos pela sua indiferença diante do público, com shows na década de 80 que duravam 10 minutos e geralmente acabavam em pancadaria na platéia, eles desconstruíram toda essa imagem com uma performance impecável. Os irmãos Reid provaram que estão mais vivos do que nunca, por meio de um repertório recheado de clássicos: “Just Like Honey”, “Reverence”, “Sidewalking”, “Happy when it rains”, “Head on”, “Cracking up”, entre outras. Ah, vale lembrar que eles tocaram uma música inédita: “Kennedy Song”. Li em algum lugar uma crítica, dizendo que foi um show morno. Em um país acostumado com programas de auditório e artistas-macacos - que pulam pra lá e pra cá, fazendo de tudo para serem captados pelas lentes das câmeras -, um show sóbrio que prioriza a música antes de tudo, causa

um enorme estranhamento. Por isso, leitor, não se deixa enganar por tais críticas: o show do Jesus and Mary Chain foi de uma qualidade impressionante e não pecou em nada.

Após o anestesiante show do Jesus, corri para o Indie Stage, onde dei uma sacada no show da banda Foals que já caminhava pro final. Fiquei impressionado com a qualidade dos músicos e com a empolgação deles. Experimentalismos e energia contagiante, esse pode ser um resumo do que vi. Uma pena eles terem tocado na mesma hora do Jesus. Ao acabar o show, fiquei com um gostinho de quero mais.


Segundo tempo


Já havia se passado quatro horas de shows, que - diga-se de passagem - iniciaram-se sempre pontualmente, e muito ainda estava por vir. Às dez em ponto, foi a vez do Offspring subir ao palco. Veteranos do punk rock e talvez a banda mais conhecida da noite, eles fizeram um show burocrático que agradou somente aos fãs. Sim todos os clássicos e hits estavam lá: “Gone away”, “Americana”, “Why don’t you get a job?”, “Come out and Play”, “Self Steem”, etc. O leitor pode pensar: “Repertório de jogo ganho”. Porém, o fato é que a banda é uma espécie de cão que ladra mas não morde. A época deles já passou e, na minha humilde opinião, foi sepultada, principalmente, com o disco “Americana”.


As irmãs Deal (Breeders)


À meia noite, Bloc Party e Breeders se apresentaram em palcos diferentes. Depois do vexame do Bloc Party na MTV (para quem não sabe, os caras fizeram um playback, muito do vagabundo, em uma suposta apresentação ao vivo no VMB), muita gente foi ver o Breeders. E eu não fui exceção. Gosto das duas bandas, mas optei pelas irmãs Deal. E não me arrependi. O show foi incrível: em um palco menor, as guitarras falaram alto, detonando, no bom sentido, os ouvidos de quem estava por lá. Só pedradas no set list: “Cannoball”, “No Aloha”, “I Just want to get along”, “Divine Hammer”, “Huffer”, os covers “Shocker in Gloomtown” (Guided by voices) e “Happiness is a warm gun” (Beatles), entre outras. O público cantou junto as músicas e o Indie Stage quase veio abaixo com “Cannoball” e “Divine Hammer”. Impressionante!

Para fechar a noite, quem subiu ao palco principal foi o Kaiser Chiefs. A simpatia do vocalista Ricky Wilson e as músicas dançantes da banda empolgaram o público que não ficou parado por um segundo. Os sucessos radiofônicos “Everyday I Love You Less And Less”, “Ruby”, “Modern Way”, “Na Na Na Na Naa’ (esta recebida pelos fãs com vários cartazes com "Na" escritos) e “I Predict a Riot”, fizeram a alegria de fãs e não fãs. E foi lá pelas três da manhã que eles terminaram o show, com um público cansado, mas sedento por mais.


Abraços e até


Bem pessoal, essas foram as impressões de um fã de rock comum. Tentei compartilhar com vocês minhas opiniões de um festival que esbanjou profissionalismo (coisa rara nesse nosso país de tolerância a atrasos, principalmente, quando se trata de shows de bandas gringas). Realmente foi uma noite incrível e espero estar presente no próximo festival do Terra. (VFS)

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