quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quem disse que o ROCK morreu?

Entra ano e sai ano, sempre alguém solta: "o rock morreu". Aí eu pergunto: como isso aconteceu? Para mim quem faz este tipo de comentário está completamente equivocado, no mínimo, muito desinformado, pois acredito que o rock nunca esteve em uma fase tão boa e tão real. Por que real?
O verdadeiro rock está voltando ao underground. Enfim, saiu dos holofotes da mídia. As bandas, apesar de ralarem mais, ganharam a liberdade de fazer o tipo de música que estão a fim. Isso faz com que elas não fiquem presas a conceitos obsoletos de produtores e gravadoras, que estão sempre querendo lapidar isso ou aquilo para que o som fique acessível e eles consigam ganhar um "rio" de dinheiro, explorando a música como se fosse uma laranja em rádios, mtv e programas de auditório.
Quer ver como o rock está ficando cada vez mais forte? É só observar a quantidade de festivais que rolam pelo mundo afora. Mas para dar uma idéia clara para o leitor, vou me limitar apenas ao nosso país. Aqui, nós temos festivais em Cuiabá (Mato Grosso), em Rio Branco (Acre), em Goiânia (o já tradicional Goiânia Noise e o Bananada), além de vários festivais nos estados do Nordeste. Em Natal, no Rio Grande do Norte, tem o Mada (Música Alimento da Alma). No Paraná, em Londrina, existe o Festival Demo Sul, que este ano trouxe uma das bandas mais clássicas da cena de Seattle, Mudhoney.
Em nossa região, sempre tá rolando uma parada ou outra, seja em bares, barracões, estações de trem... onde tem espaço e dá plugar os instrumentos, a galera do rock vai. E a quantidade de bandas, boas bandas, que estão aparecendo, gravando discos de maneira independente e fazendo turnês?
Na edição de outubro do zine Canibal Vegetariano, há várias resenhas de shows: festival Auto Rock em Campinas, Primeiro Grito Urbano em Itatiba, entre outros. Isso só demonstra que a procura pela música rock continua. O que mudou foi somente o apelo comercial que o rock possuía a alguns anos atrás.


BANDAS

E as bandas? Bem, atualmente existem bandas de todos os estilos e para todos os gostos. Em Bragança Paulista, tem o Leptospirose, que está lançando o segundo disco de música própria (sem contar o EP junto com o Merda). Os caras fazem um rock pesado, rápido e urgente. Ainda em Bragança, tem o punk rock do Racha Cuca (que já tocou em Itatiba). Em Campinas, tem o indie rock do Instiga que já lançou o terceiro álbum, a Lunettes que faz um rock, meio pós punk, muito original. Tem também a banda clássica de punk rock Muzzarelas. Isso sem falar em Superdrive, Radiare, Del-O-Max, que, inclusive, lançou recentemente um álbum somente em vinil. Há ainda a Letal Charge, que toca "metal", o Drákula que mistura punk rock com surf music, Violentures, etc.
Em Amparo tem o Executer, banda de thrash metal qu
e está na estrada a mais de 20 anos. Outro local, que tem uma grande quantidade de bandas e de boa qualidade, é o Sul de Minas Gerais. Quem já ouviu o Grindcore do Stomachal Corrosion sabe que eles não perdem em nada para qualquer banda gringa. Vila Velha, no Espírito Santo, deu origem ao Mukeka de Rato, Merda e os Pedreros. Caruaru, em Pernambuco, tem uma banda de thrash metal, o Alkymenia, que acabou de lançar o primeiro EP. Esses foram alguns exemplos de como está o cenário rock na região e no país.
Outro detalhe: se o rock estivesse morto, com certeza, eu não teria escrito esse texto, não existiria o zine, o blog e muito menos os programas "A Hora do Canibal" e o "Radiola", ambos estão na grade da Nova Rádio Web (http://www.novaradioweb.com.br/). O rock hoje é um "tiozão" com mais de 50 anos, já tem muita experiência e está cada vez mais com a cabeça aberta para novas experiências. Uma das maiores qualidades deste estilo é que ele nunca se conformou em se manter de um único jeito, sempre viveu uma metamorfose. Quando ele estava se acomodando, sempre vinha (e ainda vem) alguém para sacudi-lo e mostrar que há outros caminhos a serem percorridos.
A missão do zine nisso tudo, nesta explosão silenciosa do rock, é informar, apresentar bandas e ser apresentado a elas, é derrubar muros e construir pontes, pois já existem motivos diversos que fazem com que as pessoas fiquem cada vez mais distantes uma das outras. Por que quem gosta de rock tem que viver de maneira segmentada, sempre naquele nicho? O rock é inquieto, ele gosta de fusões e misturas excêntricas. Como o rock nasceu? Da mistura da música branca (country) e a música negra (blues). Isso em um país, cuja sociedade vivia em um conflito racial dos mais estúpidos, como se não fossem seres humanos. Hoje, o que nos divide é o dinheiro, o emprego, os locais em que moramos e freqüentamos. Por que deixar que a cultura, principalmente a música, nos separe? As mudanças sempre acontecem aos poucos: derrubando a barreira cultural, conseguiremos força para o restante. Rock sempre: sem preconceitos e idéias pré-concebidas. Antes de falar, ouça! (IG)

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