quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Os deuses do futebol riem da nossa cara...

Por Ivan Gomes

O célebre, saudoso e grande mestre, Eduardo Galeano, disse certa vez que “o futebol é a única religião que não tem ateus”. Só quem gosta dessa modalidade esportiva e torce para algum time compreende o quão profundo é esse pensamento de um dos maiores escritores latino-americano e por que não escrever do mundo? Só para constar, Galeano é uruguaio.

Escrevo essas mal traçadas linhas três horas após o final do jogo entre Santos e Grêmio, disputado na Vila Belmiro, no domingo, 20 de agosto. Para pessoas que não se importam com isso, esse jogo seria só mais um a ocupar parte da grade das redes de televisão, que, para essas pessoas, deveriam transmitir algo com mais qualidade.

Mas quem torce para um time, no meu caso para o Santos, esse jogo era chave, afinal, estamos na virada de turno do Campeonato Brasileiro e meu time faz uma campanha pra lá de pavorosa, tanto que está na zona do rebaixamento e tem flertado de maneira cada vez mais preocupante com a segundona.

A partida também marcava o retorno da torcida santista ao estádio, após cumprir uma suspensão bem dolorida. Com o passar do tempo, vimos novamente que o time não estava nada bem, até que antes do primeiro minuto, da etapa final, sofremos um gol. Pânico geral! Mas ao contrário dos últimos jogos, dessa vez o time manteve a tranquilidade e conseguiu chegar ao empate.

Mas aí que está a ironia e a graça que os deuses gostam de fazer conosco. A peleja encaminhava-se para seu final, passava-se dos 44 minutos do segundo tempo. O Grêmio, que buscava a vitória para assumir a vice-liderança do torneio, pressionava. Mas em um cruzamento para a área, a zaga do Santos tirou a bola em direção à lateral. Um jogador adversário ao ver o rumo que a pelota seguia, correu para o gandula e pediu rápida reposição.

Enquanto o pobre atleta tricolor mendigava agilidade na reposição de bola, os deuses aprontaram. A bola foi em direção à lateral, mas caprichosamente bateu próxima à linha lateral e permaneceu no gramado. Um jogador santista notou que ela não saiu, correu para alcançá-la e deu passe para o gol da vitória do alvinegro praiano... 2 a 1 após 18 míseras partidas sem saber o gosto do triunfo...

Eu tenho dúvidas quanto à existência de alguma divindade, ou divindades, mas creio que há os deuses do futebol. Talvez eles tenham contribuído com o time do Rei Pelé. Mas algumas pessoas que estavam na Vila foram ainda mais além. Elas afirmam ter visto o espírito do rei dar um toque de classe para o atacante santista. Teria sido nosso eterno rei que nos encaminhou para essa importante conquista. Galeano estava certo!

Ivan Gomes, 45, é produtor e apresentador do programa 3 Notas, transmitido semanalmente pela Mutante Rádio, e torcedor do Santos Futebol Clube, sua única virtude

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O encontro da Filosofia Existencialista com Bob Dylan e a Jovem Guarda


Por Ivan Gomes

O professor e filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, em uma de suas palestras, citou um trecho do livro do Apocalipse, da Bíblia, que diz: “Deus vomitará os mornos, pois não é quente nem frio...” Quando pensei no texto para esta edição da Raro Zine, essa fala veio imediatamente em minha mente, pois nas palavras que virão, irei abordar o encontro da Filosofia Existencialista, principalmente de Sartre e Camus, com músicas influenciadas nas obras de Bob Dylan e da Jovem Guarda.

O encontro inusitado ocorreu no disco lançado em 1987 pela banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, o segundo trabalho de estúdio dos caras, denominado “A Revolta dos Dândis”. Importante destacar que os gaúchos formaram uma das bandas mais odiadas e amadas do país, por isso a lembrança da fala do Cortella mencionada no início do texto.

“A Revolta dos Dândis” é o nome de um dos capítulos do livro “O Homem Revoltado”, escrito pelo filósofo franco-argelino Albert Camus. Segundo Humberto Gessinger, letrista dos Engenheiros do Hawaii, o disco era para levar o nome de “Facel Vega”, nome do veículo no qual Camus era passageiro quando se acidentou e morreu em decorrência da gravidade dos ferimentos.

Além da citação do capítulo da obra de Camus no nome do disco, “A Revolta dos Dândis” serviu de inspiração para duas músicas, divididas em parte 1 e 2. À época do vinil, as faixas abriam os respectivos lados. As letras, tanto da parte 1 quanto da 2 estão recheadas de ideias baseadas em obras de Camus e do filósofo francês Jean Paul Sartre.

No refrão da faixa de abertura, Humberto canta: “eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem, que não passa por aqui, que não passa de ilusão...” O refrão faz clara referência a outra obra de Camus, “O Estrangeiro”. Nesta obra, a personagem principal apresentada por Camus é Meursault, alguém que é indiferente a tudo e a todo momento, para várias situações, diz “tanto faz”. Mas, a vida sempre nos coloca em situações de escolha e uma das principais teses do existencialismo é a angústia que sentimos em relação a isso, não há como viver sem escolher, o fato de não escolhermos entre um e outro é uma escolha.    

Ainda sobre o refrão é possível notar a influência de Sartre que diz que a existência precede a essência e com isso somos lançados no mundo, um mundo que existe há muito tempo antes de nossa chegada e que tem suas próprias regras. Neste mundo, há escolhas e a partir daí podemos nos sentir um estrangeiro, como Meursault, que fica indiferente e não dá a mínima às escolhas.

O sentimento de ser algo que não se encaixa pode ser “o estrangeiro, passageiro de algum trem”, um trem que é uma mera metáfora do que é a vida, uma vida que não passa por ele, pois é indiferente às escolhas, uma vida que não passa de ilusão. A ilusão citada na canção pode ser uma fuga de responsabilidades. Algo que não se encaixa no pensamento existencialista.

A vida é a todo momento uma escolha, gera angústia e a pressão de escolha constante, para algumas pessoas, faz com que elas busquem possível fuga de uma realidade que não foi engendrada por nós. Em apenas uma canção, há toda uma carga existencialista que pode ser trabalhada, refletida e gerar ainda mais angústia. 

E a angústia trazida pelo compositor fica na frase: “entre americanos e soviéticos, gregos e troianos, entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos. Entre a minha boca e a tua, há tanto tempo, há tantos planos, mas eu nunca sei pra onde vamos...”

Toda essa angústia é cantada de maneira arrastada com uma melodia marcada por violão e gaita, com imensa influência de Bob Dylan. A música ainda tem baixo e bateria nas marcações, mas ela segue arrastada do início ao fim, que cria todo clima denso para o pensamento existencialista.

JOVEM GUARDA

Com uma abertura de disco que remetia ao folk dos anos 60, do século passado, algo que ia totalmente na contramão do que outras bandas brasileiras faziam à época, pois os Titãs lançaram, em 1986, o “Cabeça Dinossauro”, o Camisa de Vênus eram tidos como punks, os Paralamas iniciavam flerte com estilos influenciados por música latino-americana. O RPM era a banda que mais utilizava da tecnologia e os Ratos iniciavam uma busca por um som cada vez com mais peso e distorção.

Como estavam totalmente na contramão e ninguém na gravadora botava fé nos Engenheiros, os caras aproveitaram para fazer o que estavam a fim no segundo disco. Se na abertura havia influência de Dylan, na canção “Infinita Highway”, uma das mais conhecidas da banda, mesmo com quase sete minutos, Gessinger seguiu com a influência existencialista para a letra, mas o som veio calmo e com guitarras limpas, como muitas bandas, ou conjuntos, da Jovem Guarda faziam.

Em um trecho da canção Gessinger diz: “mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir, não queremos ter o que não temos, nós só queremos viver... Sem motivos, nem objetivos. Estamos vivos e isto é tudo.”

O ser humano é isso, não podemos deixar a vida nos levar como queria a personagem de Camus, precisamos seguir o caminho, escuro, deserto, sem saber onde iremos chegar. A única certeza que temos é que somos finitos, mas enquanto estamos aqui precisamos seguir, mesmo sem saber para onde ir.

Ainda neste raciocínio, quanto mais nos fazemos, tomamos a consciência de que não temos motivos para estarmos aqui, nada é pré-determinado, nossa essência é engendrada a partir da existência e das escolhas, sem motivos e nem objetivos, fomos lançados ao mundo e estamos sujeitos a tudo, estamos vivos, não sabemos por qual razão, mas temos um caminho a seguir.    

O texto acima traz pequenos trechos de somente duas canções. Ao todo são 11 faixas que percorrem a sonoridade sessentista, o folk de Dylan, as guitarras limpas da Jovem Guarda e toda angústia existencialista. Mesmo que você odeie a banda, como a maioria, é interessante um dia sentar-se e ler as letras.

Para encerrar, ao contrário de mais de 90% das pessoas que estudam Filosofia e buscam o estudo por influência de algum dos grandes pensadores, eu fiz o caminho contrário. A música além de me levar ao jornalismo, ao ouvir “A Revolta dos Dândis” fui levado a conhecer Sartre e Camus. Após contato com as obras desses pensadores, é que fui conhecer a Filosofia. Por isso que às vezes, sempre, me sinto “um estrangeiro passageiro de algum trem.”

Ivan Gomes é produtor e apresentador do programa A Hora do Canibal pela Mutante Rádio e às vezes participa de rodas de Filosofia em escolas por aí.      

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

‘Eu sou apenas um velho latino americano’


Por Ivan Gomes

O saudoso Belchior escreveu uma das músicas mais incríveis do cancioneiro popular brasileiro em seu segundo álbum, denominado “Alucinação”, lançado em 1976. A canção que dá nome ao disco é uma grande pérola, mas podemos falar sobre ela em outra ocasião. Mas o que chama atenção é a canção “Apenas um rapaz latino americano”. Letra, canção e o tema.

Em alguma aula, não me recordo a matéria, mas o assunto era sobre a América Latina, lembro quando um professor disse que apesar de estarmos na América do Sul, o Brasil não se sente parte da América Latina. Um outro comentário disse que sempre demos as costas, afinal, a maior parte da população brasileira vive próxima “à costa leste” do continente.

Mas a música e a cultura sempre existiram como se fossem algo para destruir os muros e nos remeter à importância em se criar pontes. Sim, somos brasileiros, uma mistura de muitas e variadas etnias e sim, somos latino-americanos. Acredito que chegou a hora de não valorizarmos apenas o que o Centro diz ou dita como regra. Está na hora de buscarmos ouvir e conviver mais com nossos Hermanos. Afinal, estamos na periferia do capital, gostem ou não.

E essa convivência tem rendido frutos há algumas décadas e tem aumentado a cada ano. Atualmente, com ajuda das redes sociais, conseguimos ter mais acesso a informação e com isso buscamos sempre ampliar nossos conhecimentos musicais. E em rápidas consultas na rede conseguimos saber mais sobre cada país. E com todo esse acesso, facilitou e despertou ainda mais interesse em saber como está o rock em nossos vizinhos.

Falar sobre o rock argentino é tranquilo, devido a quantidade de bandas de qualidade, em todas as vertentes, que nossos hermanos produzem. Seja no passado ou no que chamamos de underground, os argentinos estão com produção incrível. Me lembro que a primeira vez que ouvi dizer que havia rock na Argentina foi quando os Paralamas do Sucesso trouxeram Charly Garcia. Era apenas um garoto e não entendia nada, não que hoje entenda, mas aquilo chamou atenção. E os Paralamas eram uma banda que com o passar do tempo notei que dialogava muito como nossos vizinhos, com ritmos que fogem do habitual, assim como regravações de algumas canções. Também com o tempo soube que eles são muito queridos, principalmente na Argentina.

Ainda sobre a Argentina, lembro que logo que a Leptospirose voltou de sua primeira “gira” por lá, com passagem pelo Uruguai, conversei com o Quique Brown, vocalista e guitarrista da banda, que disse algo mais ou menos assim: “A Argentina é muito Ramones, punk rock, enquanto o Uruguai é mais ‘Motorhead’”.

Em meu programa de rádio, A Hora do Canibal, que está há quase 12 anos no ar, ao longo desse tempo sempre busquei trazer algumas bandas clássicas e também algumas novidades do que rola em nossos vizinhos. Amigos, colegas e ouvintes também contribuem muito nesta jornada. Foi por meio de meu colega Denis Fontanesi que descobri uma das bandas argentinas que mais ouço, a Nueva Ética. Hardcore de qualidade magnífica e com postura política e ótimos discursos em suas letras.

Na mesma levada trouxe outras bandas como Flema, Los Lótus, The Tormentos, Boom Boom Kid, Fun People, Los Piojos, Soda Stéreo, regravada pelos Paralamas. Da Argentina, em algumas edições do programa rolei muitas bandas que estão presentes em uma coletânea lançada pelo selo Scatter Records, que em 2011 lançou um disco com uma mescla de bandas argentinas, brasileiras, estadunidenses. Lembro de ouvir Autoramas e Macaco Bong nesta coletânea. Os brasileiros sempre muito bem representados e muito queridos pelos hermanos. E para sabemos mais sobre a cena na Argentina, basta acompanhar o Raro Zine, sempre com entrevistas e resenhas.

E sobre o Uruguai, o que dizer do país de Pepe Mujica e do mestre German Martinez? Como disse Quique Brown, o Uruguai é muito “Motorhead”, muito hardcore, muito punk, muito som no talo. Motosierra é uma banda que pode resumir muito bem isso. Uma das bandas mais sensacionais da história do rock está aqui, bem ao nosso lado e tivemos a sorte de poder acompanhá-los em suas apresentações que considero insanas, no mais que bom sentido da palavra. E foi com a Motosierra que fiz uma das entrevistas mais interessantes e doidas para A Hora do Canibal e para meu finado zine/blogue Canibal Vegetariano.

Mas o Uruguai também é Silverados, Gonzo, Los Mokers, Hablan por la Espalda, Chicos Elétricos, Guachass, Austral, entre tantas outras. Gonzo tive o prazer de ver um show dele em Campinas/SP. Uma apresentação visceral e uma aula de rock’n’roll. Da banda Guachass conferi apresentação em Bragança Paulista/SP e foi incrível. Lembro que este show foi no período da tarde e muitos pais que gostam de bons sons levaram seus filhos e, ao final, quase todas as crianças agitavam no palco junto com a banda.

Devido ao espaço não consigo escrever mais, mas há muito o que se dizer e escrever sobre o que tem rolado de bom em nosso continente e como tem rolado, ou rolava antes da pandemia, um intercâmbio muito interessante entre bandas brasileiras e nossos vizinhos.

Há muito para falar sobre a cena argentina, uruguaia, chilena, de onde vem uma das bandas mais sensacionais que vi ao vivo. Foi em um antigo bar do camarada ETC, em Jundiaí/SP. Lembro que quando cheguei para ver a “Against All My Fears”, não enxerguei o vocalista. Mas quando a música começou, o cara mostrou uma raiva e um vocal insano ao extremo que fez estremecer a casa. Se não me engano, os caras alteraram o nome para o espanhol.

Quando se começa a escrever, uma cacetada de imagens e lembranças vem à tona e fica difícil lembrar de tantas situações vividas e nomes. Mas o mais importante é que as bandas estão por aí e que hora ou outra a pandemia irá passar e o que realmente espero é que cada vez mais os organizadores de shows tragam as bandas dos países vizinhos. A cena, se é que podemos chamar assim, está efervescente e há muita banda boa e para todos os gostos.

Chego ao final do texto e nem consegui falar sobre o Peru, Equador, Bolívia, Paraguai, Colômbia e Venezuela. A Venezuela talvez seja algo que um dia ainda venha a escrever sobre as bandas de lá, tenho rolado algumas no programa. Mas chama muita atenção o que tem rolado no país do “roqueiro” Maduro que, no último 13 de Julho, felicitou os ouvintes do estilo com uma foto dos Ratos de Porão.

Iniciei o texto com uma citação ao grande mestre Belchior e fecho com uma alusão aos paulistanos da Flicts, que em 2013, no álbum “Singelos Confrontos”, gravaram a canção “Latino América” que em parte da letra diz: “Nós somos filhos de sangues intensos, cada sangue uma coloração, uma origem, uma direção, todos eles a se encontrar, todos eles a se misturar em nós... somos latino americanos!”

Ivan Gomes, 42, é jornalista, professor, torcedor do Santos e apresentador do programa A Hora do Canibal, pela Mutante Rádio 

domingo, 11 de outubro de 2020

A história que a ‘escola’ não conta


Um dos temas mais discutidos em nosso país atualmente é a questão das escolas e da educação. A pandemia que nos afeta há alguns meses mudou drasticamente a rotina de todos nós. Infelizmente muita gente morreu e uma parte não apenas devido às complicações da doença, mas pela falta de estrutura de nosso sistema de saúde. E saúde tem tudo a ver com educação. E aí você pode se perguntar: por que devo ler isso em uma revista musical? Pois agora vamos entrar no quesito música!

Em algumas conversas recentes com amigos e com minha própria companheira, sempre comento que aprendi mais sobre história e geografia com discos de rock, ou com futebol, do que nos vários anos que passei sentado em alguma cadeira dentro de uma sala de aula. Mas isso não ocorreu por problemas com os professores, mas sim pelo próprio sistema educacional que não permite que nós pensemos sobre os assuntos.

Esse tema é abordado por Mao, vocalista e letrista da banda Garotos Podres, no segundo álbum da banda, lançado em 1988, denominado “Pior que antes”. Em uma das faixas, “Escolas”, Mao traz toda essa revolta e como o sistema não servia para que pensássemos e sim apenas fôssemos massacrados. “Nas escolas, onde a cultura é inútil, nos ensinam apenas a sentar e calar a boca”. Infelizmente, quem trabalha com educação sabe que mesmo 32 anos depois dessa música, o sistema continua o mesmo.

Em outra parte da letra, Mao diz que nas “escolas você aprende que seu destino já está traçado, pois querem os transformar em cordeirinhos domesticados, prontos para serem transformados em operários escravizados.”

Na escola não aprendemos que vivemos em nichos, que existe muito ódio, preconceito entre tantos outros problemas em nossa sociedade. Nas escolas recebemos apenas informações que podem ser úteis para que consigamos alguma colocação no mercado de trabalho, mas não nos ensina a importância de nos sindicalizarmos, o quão é importante contestar ordens obsoletas e não nos submetermos a mandos e desmandos de patrões e chefes. Como diz a canção, nas escolas somos apenas domesticados.

No trecho final da música, Mao deixa a domesticação explícita: “Me mandaram à escola para me dominar, me mandaram à escola para me manipular, me mandaram à escola para me escravizar, me mandaram à escola para me domar”. Fizeram isso com nossos pais, conosco e provavelmente fazem isso com nossos filhos.

E ainda neste álbum, Mao vai lidar com a questão do governo, o fato de não gostar do governo e à época do lançamento do disco à frente da presidência estava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o José Sarney. “Eu não gosto do governo, não confio no presidente, eu não acredito na ‘Ordem e Progresso’”. A faixa de abertura é um soco no estômago e isso não nos é ensinado nas escolas. O quanto um governo pode ser nefasto para uma população. Atualmente temos um grande exemplo.

Questionar autoridades é algo que não aprendi nas escolas, aprendi com os discos de rock, punk, principalmente com este disco dos Garotos. Pensei que ao invés de nos obrigarem a cantar o famigerado “hino nacional” antes da entrada para as aulas, deveríamos cantar este hino a plenos pulmões, principalmente o segundo trecho: “mas ninguém pode me censurar, pois não sou obrigado a gostar, confiar e acreditar em nada deste mundo.” A educação deveria ser emancipadora, não essa prisão sem grades, uma prisão ideológica, que nos vende a imagem de falsos heróis.

Nas escolas quase nunca falamos ou debatemos sobre a ditadura militar, ou cívico-militar, pois uma parte da sociedade defendeu essa aberração e ainda no final da segunda década do século XXI há ainda quem acredite que homens de fardas e coturnos têm alguma capacidade para administrar um país. Tem gente que não aprendeu o mínimo que a escola oferece e nem aquilo que os discos e bandas ofertam. Pensar não é algo que faça parte da escola.

Toquei no assunto da ditadura pois, na segunda faixa do disco, Mao canta “não queremos anistia aos torturadores, não queremos que os assassinos fiquem impunes. Amordaçaram e torturaram toda uma nação, nos deixaram órfãos de uma mãe pátria”.

Em 1988, quando os Garotos lançaram o “Pior que Antes”, também foi promulgada a Constituição vigente até os dias atuais. Inclusive, o disco foi lançado pouco depois, caso contrário, o disco não poderia conter a faixa “Batman”, a última canção censurada no país. Foi com a Constituição que o país recuperou a liberdade de expressão.

Volto, neste parágrafo, à questão da música “Anistia?”. Quando chegou ao final da ditadura e houve o período de redemocratização, o Brasil não “acertou as contas” com o passado. Pensamos que uma nova lei resolveria todos os nossos problemas. A desgraça da ditadura não foi condenada, ela apenas foi deixada de lado e atualmente vemos os muitos fantasmas que nos cobram. Não conhecer nossa própria história, não fazer os acertos custa caro e pagamos o preço atualmente. Os Garotos cantaram a bola, poucos ouviram, a maioria fez ouvidos moucos. Enquanto isso, na Argentina, nossos vizinhos, as pessoas que participaram da ditadura pagam um alto preço. Houve condenações para que servisse de exemplo e para mostrar quão nefasta é uma ditadura.

Também foi nesse disco que aprendemos sobre como é ser suburbano, ou da periferia. Em “Subúrbio Operário” Mao fala sobre alguém que nasce em um destes lugares espalhados pelo país. “Nasceu no subúrbio operário de um país subdesenvolvido, apenas parte da massa de uma sociedade falida. Submisso a leis injustas que os fazem calar. Manipulam seu pensamento e o impedem de pensar”. Esse trecho inicial nos remete novamente à escola e também à música “Escolas”. Afinal, ele fala novamente sobre manipulação, sem direito a pensar... algo que nos faz falta para construirmos uma sociedade com menos desigualdade e com oportunidades para que as pessoas consigam desenvolver seus potenciais.

Ainda nesta canção, em sua parte final, uma das melhores lições que os Garotos poderiam nos deixar: “Sem esperança de uma vida melhor, pois os parasitas sugam seu suor. Sobrevivendo das migalhas que caem das mesas, dos donos do papel, dos donos do papel.” Nós vamos à escola sem saber o porquê, somos manipulados, vendemos nossa força de trabalho em troca de migalhas... Mas isso não nos é ensinado. Nos vendem a ilusão de que “seremos alguém”, mas os papéis sempre tiveram donos, isso não nos é mostrado. Somos adestrados a engolir as migalhas, sem reclamar, com sorriso no rosto e gratidão a alguma divindade.

Em uma outra faixa, “Caminhando para o nada”, Mao fala sobre uma pessoa que sai apressada para o trabalho, geralmente em meio a uma multidão desesperada enquanto “os donos do capital manobram a economia, saqueando a sua vida e promovendo a miséria geral.” Esta letra poderia muito bem ter sido escrita no momento atual, afinal, o que vimos durante a quarentena? Pessoas desesperadas. Quantos pseudo burgueses saíram às ruas para pedir “a volta da economia” e reabertura de indústrias e comércios não essenciais? Isso também é o reflexo da falta de uma educação emancipatória. Novamente Mao mostra o quanto a escola nos doma, nos domestica. Aceitamos pós-verdades de um lado e de outro sem nos questionarmos. Ainda há uma parte da população que crê em “salvadores da pátria”. Enquanto muita gente segue “caminhando para o nada”, o pequeno grupo que realmente lucra, com risos e lágrimas, seguiu a observar o crescimento de seus números através das telas de seus celulares.

Ainda sobre história, na penúltima canção do CD, “Não questione”, Mao escreve sobre uma criança que passou toda a infância a fim de fazer perguntas sobre se era obrigada a aceitar tudo que lhe é imposto. “Papai mandava ouvir o padre, que mandava ler o livro, que mandava não questionar, nunca, jamais, o padre e o papai.” É com isso que somos obrigados a lidar, não podemos questionar. A escola reprimiu e ainda reprime quando o questionamento tem base. Mas não aprendemos a questionar na escola.

Além de história, com o Garotos também podemos aprender um pouco de Sociologia. A última música do disco “Garoto Podre” traz a história que até hoje acompanhamos os relatos aos montes. O início da música nos traz a referência de que quem vive do outro lado do muro nunca saberá o que ocorre no subúrbio.

A educação que não nos liberta, ao contrário, nos aprisiona, não nos diz que quando conseguirmos um emprego não teremos dignidade. Não aprendemos que quando estamos desempregados, seremos taxados de vagabundos e se formos à greve seremos chamados de subversivos. Mas os Garotos nos ensinaram e ainda ensinam. “Mas se arrumar emprego não lhes dão a dignidade, apesar do sujo macacão e do rosto suado.”

Algumas das canções relatadas neste texto nos ensinam que precisamos questionar sempre, mas com base e conhecimento. Conhecimento não conseguiremos nas escolas, mas precisamos frequentá-las para termos o direito de nos insurgir e tecer as críticas necessárias a esse sistema que até hoje nos manipula e não passa de um verdadeiro faz de conta. Aprendemos que o mundo tem alguns donos, que somos obrigados a viver de migalhas e que não gostar do governo, qualquer governo, é essencial.

domingo, 16 de agosto de 2020

Não importa o formato, o que importa é a música!


Por Ivan Gomes

Música, rock, punk, hardcore, metal, pop, brega... Não importa o formato, o que vale mesmo é a qualidade da música e como ela afeta o ouvinte. Música desperta paixões, sejam elas boas ou ruins, se é que é possível existir alguma paixão que seja possível ser considerada boa, positiva etc.

Sou um cara nascido no final da década de 1970 e ouço música desde que me conheço por gente. Em casa, minha mãe sempre teve seu “radinho de pia”, sim, pia, o rádio ficava sobre a pia àquela época e por meio dele era possível ouvir programas de locutores famosos e que rolavam todo tipo de estilo musical, principalmente o pop rock brasileiro que surgia no início dos anos 1980.

Com música em casa por mais de 15 horas por dia, de domingo a domingo, foi muito fácil entender que o som que propagava daquela pequena caixa, entre o plástico e a madeira, era algo essencial para vida. E além do rádio, minha mãe tinha um toca-discos e uma pequena coleção de vinis. Havia os grandes e os pequenos, chamados de disquinhos, que mais tarde fui descobrir que eram os singles.

Ao ouvir os discos e depois ao ouvir a mesma música no rádio, descobri que era possível pagar para ter as canções em casa e ouvi-las quando bem entendesse. E foi devido ao rádio que houve o despertar de um ouvinte e com o passar dos anos do colecionador de discos e apreciador de muitas bandas.

E foi devido aos sons que me identificava por meio do rádio e depois ao ver os caras na TV, em programas pitorescos de auditório, que comecei a ser presenteado com discos. Depois disso, devido a grande crise financeira, (quando o Brasil não teve uma?) fui presenteado com um rádio toca-fita e com duas fitas “virgens”. Como comprar disco havia ficado caro, fui presenteado com essas pérolas que mudaram definitivamente o modo de vida.

Sem grana para os discos, o jeito foi gravar as músicas preferidas nas pequenas fitas. E com o passar do tempo, notei que na escola mais algumas pessoas faziam o mesmo esquema, principalmente a galera que começava a se interessar pelo rock, fosse ele brasileiro ou não.

Com o passar do tempo, a situação ficou menos ruim e foi possível novamente ganhar discos de presente. E as fitas ajudavam, afinal, ouvíamos muita música e aquelas que realmente “batiam” eram selecionadas. E além de escolher de uma maneira melhor o que queríamos ganhar, gravar fitas nos fazia ser parte de um seleto grupo, isso era algo importante, principalmente na transição da infância para adolescência.

E o que todo esse “monte” de palavras tem a ver com o “streaming” e a música que podemos ter em casa no formato físico? Acredito que tudo, afinal, a dificuldade financeira nos fez ouvir muita música grátis para na hora da compra, efetuar aquela que realmente fazia você se situar fora do lugar. É o que hoje noto nos serviços vendidos pela internet. Música de todos os estilos, ventiladas para todos os lados, mas compramos realmente aquelas que realmente nos dão a sensação de desconforto.

Assim como ouvíamos diversos programas de rádio, em AM e FM, e assistíamos a programas musicais na TV, hoje temos um leque ainda maior de informação, com diversas plataformas somente para música, temos vídeos, temos redes sociais nas quais os artistas estão lá, disponíveis 24 horas por dia, todos os dias da semana.

E como anda o consumo de música nos dias atuais? Não faço a mínima ideia! Quando fui convidado para escrever esse texto para primeira edição da revista Raro Zine, German me deixou livre, então parti da premissa das minhas experiências e do que acompanho dos amigos próximos e alguns colegas.

O que noto, é que ainda existe um saudosismo com o passado, não apenas da maneira do formato como a música chega até nós, mas como eram as bandas e tudo o mais que as cercavam. Há ainda os colecionadores de vinis, de CDs e agora surgiu a coleção de K7, as fitinhas.

Atualmente não uso mais fitas para gravar as canções que chamam minha atenção, pois tudo está “mastigado”. Acesse site tal, ou aplicativo, e por lá você encontra isso, aquilo, rádios webs, as plataformas de streaming, os vídeos. Nunca foi tão fácil ouvir música e acredito que nunca houve tanta produção de música, em todos os estilos.

A tecnologia nesse quesito foi uma benção. Com um clique, você ouve bandas de todos os estilos e de qualquer parte do mundo. Na infância não era assim que funcionava, você era afetado por determinado estilo, ou canção, que alguém havia selecionado. Hoje não mais, não há limites, nem fronteiras, você é seu próprio produtor.

Além disso, atualmente a situação econômica é capenga, mas, mesmo assim, pode ser considerada melhor do que era no final dos anos 1980, início dos anos 1990. Naquele período, os aparelhos eram limitados, para ouvir música portátil era preciso ter um walkman e havia o limite de tempo da fita. Atualmente você carrega discografias, centenas delas, em seu próprio aparelho de telefone móvel.

Todavia, penso que pouca coisa realmente mudou desde então. Exceto as mudanças econômicas e o avanço tecnológico, a música ainda emociona, isso é o mais importante. Se vamos ouvi-la em vinil, K7, streaming, no som mais potente do momento ou no fone do celular, isso chega a ser irrelevante, o que importa é que as canções estão soltas no mundo.

Algo que também precisa ser dito é que quando gostamos de determinada banda, isso nos faz querer consumir seu som, pois além de ouvirmos queremos cooperar com as pessoas que se dedicam a este importante ofício, afinal, só quem tem banda sabe o quanto é caro aprender a tocar, comprar e fazer manutenção de seus instrumentos, gravar, ensaiar etc.

O lado positivo do streaming é esse... oferecer o que há de música por aí, para você dar aquela peneirada e adquirir material daquelas bandas que realmente tem algo a nos dizer, que vai além dos acordes... Com esta nova modalidade, você pode comprar sua canção e ficar ali, em qualquer ponto do mundo em uma viagem constante sem sair do local onde está.

Atualmente não tenho mais walkman, discman, um avanço brutal da tecnologia nos anos 1990... Mas tenho um celular e nele carrego muita coisa para ouvir, seja na caminhada, a caminho do trabalho, antes de dormir. A tecnologia me proporciona entrar em contato com uma gama absurda de sons. Se todos fossem em formato físico, teria que dormir na varanda.

Por isso, para mim, o streaming e os downloads são fitas com seu tempo estendido. Ouço, peneiro bem e compro os CDs das bandas que realmente me dizem algo. E com o passar do tempo, é normal ter alguns discos que não te dizem mais nada, ainda bem que até hoje há pessoas que compram ou trocam por algo que realmente quero ter.

Portanto, como escrevi no início do texto, para mim pouco importa a maneira como a música chega até onde estou, pois o importante é como sou afetado por ela. Muito mais interessante que os formatos, o que vale mesmo são as canções. Às vezes bate um saudosismo, aí procuro ouvir algo na radinho, mas longe da pia, afinal, o avançar da tecnologia e do tempo, fez tudo ficar compacto. Não deixe sua vida ficar compacta, expanda-a! Ouça música!

Ivan Gomes, 42 anos, é jornalista, professor, torcedor do Santos, produtor e apresentador do programa A Hora do Canibal, que vai ao ar toda virada de segunda para terça-feira, à meia-noite, pela Mutante Rádio.     

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Tem novidade d’Os Pedrero na área

Demo inédita de 20 anos está disponível em todas as
plataformas digitais
Os capixabas da banda Os Pedrero completaram 20 anos de trabalho este ano com o lançamento do álbum “Deu um treco no teco-teco”, no início de 2018. Desde então, a banda, assim como as outras de Fábio Mozine, estão em período de recesso. Mas, neste mês de outubro, a banda soltou na rede mundial de computadores a canção inédita, gravada há 20 anos, “In Love With My Beer”.

A banda capixaba foi formada em Vila Velha/ES em 1998 com intuito de ser um projeto descontraído dos integrantes do Mukeka Di Rato. Ao invés do hardcore do grupo de origem, um punk rock escrachado com influências de FYP, Ramones e The Queers e ainda alguns elementos de garage rock, bubblegum e hard rock.

O projeto deixou de ser somente hobby conforme as turnês aumentaram e a discografia cresceu. Nestas duas décadas, a banda lançou oito álbuns.

Para ouvir a inédita canção de 2 décadas, basta acessar os aplicativos de música e curtir mais essa bela canção da banda.

terça-feira, 3 de abril de 2018

A cumbia psicodélica do Paraguai


Foi no final da década de 60 do século passado, no Peru, que foram espalhadas as primeiras sementes de um som que brota hoje, após ter dado vários frutos entre os anos 60 e 70.

Feito com irreverência e produto de jovens rebeldes que contribuíram para explosão mundial do rock’n’roll com guitarras distorcidas, nasceu assim cumbia psicodélica. Cinco décadas depois e a 3,5 mil quilômetros de Lima, em Assunção, no Paraguai, a febre da cumbia psicodélica está mais viva do que nunca.

Como naqueles anos no Peru, também no Paraguai oito jovens rebeldes que estavam envolvidos em diferentes cenas musicais como o punk, reggae, hardcore, tiveram seus caminhos cruzados pelo pós-punk e se uniram em nome da mesma paixão: “La Cumbia”, a trilha sonora que acompanha as vidas na América Latina.

Foi assim que nasceu o Chuli Sound. Com experimentações, aprendizados e com aproveitamento desse processo de aprendizado, o coração e a amizade não atrapalham a perfeição musical.
Cristalizando o longo desejo de tocar e criar inspirado por Enrique Delgado em Manzanita, nos sons da selva e chichera nostálgico mas também tendo elementos indígenas da vida diária e musicalidade paraguaia com um único objetivo: dançar  e dançar, curtir e fazer.

Em menos de um ano como banda ativa, Sonido Chuli lançou em dezembro 2017 seu primeiro EP, "Distincion Tropical" em vinil 7", maneira totalmente auto-gerido, sob seus discos rótulo mburukuja, tornando-se assim o primeiro vinil Cumbia do Paraguai no século XXI.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Uma noite de pastel, chopp e muito rock!

Garotos do The Cavemen fizeram um show avassalador em
Campinas. Fotos: Canibal Vegetariano

Na quinta-feira (22), nós do Canibal Vegetariano percorremos os cerca de 40 quilômetros entre Itatiba e Campinas para acompanharmos três shows que estavam programados para a Casa Rock (antigo Quintal do Gordo). No cardápio, além do chopp e pastel, havia os campineiros do Footesp Surfers, os paulistanos do The Diggers e os neozelandeses do The Cavemen.

Até então, não sabíamos que um dos caras de grande importância para o rock brasileiro havia partido desse mundo, o músico, produtor musical e jornalista Carlos Eduardo Miranda. Soube disso apenas quando voltei para casa. Pois se soubéssemos, diria que ele teria tocado o vocalista do The Cavemen, antes do show, pois segundos antes dos primeiros acordes, o frontman neozelandês fez um ritual, como se algo incorporasse em seu corpo. Foi apenas uma coincidência.

Os responsáveis por abrir a noite insana de rock foram os campineiros da Footesp Surfers. Com nova formação, ao menos para mim, os caras não desperdiçaram tempo e mandaram ver em seus sons e botaram muita gente pra dançar em agradável noite de início de outono. Como ainda era “cedo” e hora da “janta”, mandamos ver naquele tradicional pastel de queijo da casa acompanhado por um chopp bem gelado para início da audição das bandas.

Os paulistanos do The Diggers também fizeram apresentação
impecável e botou a galera pra agitar
Logo após os campineiros, a The Diggers, power trio paulistano com 2 guitarras e uma bateria insana, mostraram toda potência de seu garage rock. Com uma guitarra com som bem limpo, outra bem “suja” e com participação dos três integrantes nos vocais, os caras rapidamente conquistaram a galera e botaram o povo pra agitar com uma apresentação impecável.

O encerramento da noite ficou a cargo do The Cavemen. Banda formada por quatro jovens, os caras acompanharam atentamente as apresentações das bandas anteriores. E quando subiram ao palco, foram um verdadeiro rolo compressor.

Segundos antes do início do show, o vocalista da banda tirou a camiseta, esticou-se ao solo e fez algo que parecia um ritual de incorporação. Quando seus camaradas de banda soltaram os primeiros acordes, a destruição teve início. Punk e garage rock em 220 volts. Performances a lá Iggy Pop e Dead Boys, os jovens do Cavemen não deixaram pedra sobre pedra e fizeram um show simplesmente sensacional, um verdadeiro arrasa quarteirão.

Com a surf music de primeira, os campineiros abriram a
maratona insana de rock
Ao final, como é de praxe, demos aquela passada nas barraquinhas de merchan e voltamos felizes para casa, de alma bem levada. Ao saber da morte de Miranda não deu pra sentir tanta tristeza, afinal, o legado dele está mais vivo do que nunca, novas bandas aparecem e fazem shows matadores e antológicos. Se existe algo além da morte, Miranda esteja em paz e agradecemos por tudo o que você fez, obrigado mestre!

E se você não conseguiu ir ao Cavemen quinta-feira, não tem problema, pois o baile segue e no domingo (25) os caras se apresentam em Atibaia, a partir das 18h, no Black Pub, evento do Raro Zine Fest. Além deles, você poderá conferir Churumi, Peixes Fritos e Crasso Sinestésico, todas bandas do interior de São Paulo, que mandam muito bem no rock, no garage rock, no punk e hardcore.              

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Um cardápio para deixar saudade

Julia durante apresentação dos Replicantes. 
Fotos: German Martinez/Raro Zine
Foi encerrada no domingo (17), no Cile Lavapés, em Bragança Paulista, a 14ª edição do festival Cardápio Underground. E o último dia foi daqueles que irá demorar para sair da memória de quem esteve presente. Infelizmente não conseguimos chegar para o início da maratona rock’n’roll do domingo, mas acompanhamos várias apresentações.

O deslocamento entre Itatiba e Bragança Paulista é rápido, mas tudo depende das condições da estrada, que não é duplicada, e da quantidade de caminhões, que faz com que a velocidade seja menor. Demoramos, mas chegamos, e assim que adentramos o recinto, a banda Aqueles, do Zazá, do Café in Sônia, subia ao palco.

Como o festival teria mais de dez atrações, dois palcos foram montados. Acabava uma apresentação, iniciava outra, parabéns aos organizadores.  E a apresentação do Aqueles foi no melhor estilo hardcore, direito e rápido como estamos acostumados. Como nota, avisamos que não foi possível acompanhar as bandas: Tumbero, Sorry For All, All Fight For All, The Damned Human Flesh, BlankWar.

Motor City Madness
Após a destruição do trio campineiro, foi a vez dos gaúchos do Motor City Madness que encerravam a turnê paulista de mais de dez dias e muitos shows entre a capital e o interior. A Motor é uma banda que gostamos em demasia e esse foi o show mais brutal que acompanhei. Riffs, velocidade, fúria, tudo aquilo que estamos acostumados foi apresentado pelo quarteto dos pampas e músicas de seus três discos.

Nem terminou direito a porradaria da Motor, no palco em frente, estava a I am The Sun, trio sensacional que apresentou seu stoner cheio de peso e riffs geniais. Fizeram um puta show e saíram do palco com o público conquistado.

E a porradaria prosseguiu, pois na sequência vieram os fluminenses do Deaf Kids. Fica complicado rotular o tipo de som que eles fazem, mas é incrível a capacidade sonora e efeitos que eles usam e tudo soa muito bem ao vivo, sem citar a presença de palco, show daqueles que, se o evento fosse pago, teria valido o ingresso.

Muzzarelas
Após essa sequência animalesca, demos aquele tempo para comer, vale frisar que os espetinhos servidos no local estavam deliciosos. Comida, bebida, aquele rolê pelas bancas de discos e camisetas e o papo com os colegas de outras cidades. Em meio a tudo isso, conseguimos apenas ouvir a rápida apresentação da Patife Band, banda que havíamos visto há poucos meses em Campinas.

E por falar em Campinas, a Patife terminou seu show e os campineiros da Muzzarelas mandaram ver seu som, mais do que clássico. Muzzarelas no palco é sempre garantia de boa música e diversão. E foi o que eles promoveram para o sedento público de rock e ainda mandaram ver um som inédito.

Após o show do Muzza seria a vez da galera do metal, a banda Nervosa faria sua apresentação. Como o metal não é muito nossa praia, voltamos ao carrinho de lanche, mais comida, mais bebida e mais papo, afinal, ainda haveria show dos Replicantes.

Deaf Kids
E os gaúchos encerraram a festa com chave de ouro. Ainda não havia visto a banda ao vivo com a vocalista Julia Barth e a apresentação foi simplesmente sensacional. A banda botou na mesa todos seus clássicos, de maneira simples e direta, sem frescuras... fizeram apresentação de banda do porte de “time grande”. Vale destacar que Julia tem ótima performance de palco, canta todas as canções sem perder o fôlego e ainda desceu duas vezes para agitar com o público na roda de pogo. Um show daqueles que fizeram valer o ano.

Após o fechamento das cortinas, restou-nos levantar acampamento e partimos de volta para nossa cidade, com a certeza de que o festival cumpriu seu papel e aproveitamos para parabenizar a todos pela organização, nota 10.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Começa o Cardápio Underground

Uma das exposições do Cardápio realizadas na Sociedade
Ítalo-Brasileira. Fotos: Arquivo Pessoal Quique Brown
A partir desta segunda-feira (11) tem início, em Bragança Paulista, a 14ª edição do festival Cardápio Underground, que este ano será realizado até o domingo (17). Shows, debates, aulas de história, entre outras atividades, estão previstos para ocorrer em vários pontos do município. Para saber mais sobre este evento, conversamos com Quique Brown, vocalista e guitarrista do Leptospirose, e um dos organizadores do festival, desde seu início. Abaixo ele fala sobre tudo o que irá rolar nesta semana.  

Canibal Vegetariano: Brown, Cardápio Underground chega a 14ª edição. No início, você tinha ideia de que chegaria tão longe?  Comente também como surgiu a ideia de promover um evento deste tipo e como ele cresceu ao longo dos anos. O que a galera poderá acompanhar durante o Cardápio?
Quique Brown: Cara, eu acho que quando a gente monta um festival e coloca um número na frente tipo 1°, 2°, 3° é porque a gente quer que role sempre. Eu e Daniela Verde começamos essa história em 2004, numa época em que a gente produzia muita coisa aqui na cidade, sempre tinha show, cineclube, cartaz pra rua e no meio desse bolo todo, juntar uma rapaziada durante uma semana pra fazer um monte de coisa pareceu interessante e foi assim que surgiu essa fita. Nos primeiros anos, o festival rolou na Sociedade Ítalo Brasileira, foi uma época muito legal onde tudo acontecia no mesmo espaço; exposição de foto nos degraus da escadaria do porão, arte nas paredes, shows no chão, gente cortando o cabelo da galera no meio dos shows, televisões fora do ar e tudo mais.
Com o tempo, nossa relação com os “italianos” começou a piorar e a gente parou de fazer o festival lá, antes de abandonar 100% a Sociedade Italiana, fizemos uma edição no Bar do Davi, depois mais duas na Sociedade - e desde então - o festival começou a abraçar vários cantos da cidade.
Esse ano, entre os dias 11 e 15 deste mês, seis artistas irão fazer uma grande imersão na garagem de uma casa no centro que será a “Garaginha do Edith”, na sexta 15, tem abertura da exposição com discotecagem de MZK e Davi, dias 12 e 13, teremos um curso chamado História Aos Berros que aborda a história recente do Brasil em cima da discografia do Ratos de Porão, dia 16, sábado, acontece o Meninas Pra Frente, que será totalmente protagonizado por mulheres com roda de conversa com mediação da Flávia Biggs, shows com Letrux (RJ), Rakta e discotecagem com as mina do Não Sou Daqui (Peru/EUA). No domingo, último dia do festival, o ataque acontecerá no glorioso Ciles do Lavapés com Os Replicantes, Nervosa, Patife Band, Muzzarelas e outras 9 bandas.

Cartaz com as atrações de 2017
CV: Atrações em vários pontos de Bragança, diversidade cultural... de qual ponto vocês partiram para montar o evento deste ano? Ele pode ser comparado às escolas de samba. Nem acaba direito um desfile e pensa no próximo?
QB: [risos] mais ou menos, tudo depende do orçamento né? Mas certamente, pula de um ano pro outro, até porque, a gente recebe muita proposta pra 2017, quando a gente solta a programação de 2016.

CV: Uma das atrações que chama muito atenção é o curso de história do Brasil com base na música dos Ratos de Porão. Como surgiu essa ideia e qual sua expectativa para essa atração em particular?
QB: Esse curso é disparado a coisa que mais me intriga nessa edição do festival. Essa história surgiu no começo do ano quando circulou na internet um banner da primeira edição desse curso que rolou em Caruaru-PE, cidade do Gustavo, que é Professor Mestre em história e virá pra cá dar umas aulas pra gente! Na época que rolou essa fita lá em Caruaru, mandei uma mensagem pra ele, começamos a conversar e deu certo. O Ratos é uma banda muito prolífica, mesmo com todas as dificuldades, eles nunca deixaram de produzir, nunca deixaram de viajar e sempre deixaram marcas do que estava rolando no Brasil e no mundo em seus discos, então, dar uma aula de história em cima do Ratos, é como pegar uma caixa de sapato cheia de álbuns de foto e narrar pra alguém tudo o que aparece ali, só que com a discografia deles.

Os potiguares da Camarones Orquestra Guitarrística durante
apresentação no Ciles, que receberá vários shows no
encerramento
CV: Em um momento no qual a economia não vai bem e todos os governos falam em cortes de verba, como Bragança consegue realizar um festival do porte do Cardápio Underground?
QB: Festivais desse porte botam uma puta grana pra rodar. O Cardápio contrata mais de 50 prestadores de serviço entre produtores, artistas, bandas, coletivos, djs e paga inúmeros fornecedores. Através da produção cultural estamos aquecendo a economia do setor, é uma questão de escolha, o IPI reduzido, por exemplo, colabora com uma fatia da economia e as leis de incentivo colaboram com outro e o Cardápio Underground tá nesse jogo. O festival conta com o apoio da Lei Rouanet, do ProAC, da Sabesp, do Centro de Alimentos e do Festival Café In Sônia que salvou esse ano, não só a gente, como o Festival Autorock de Campinas também.

CV: O encerramento está previsto para o Ciles do Lavapés. Haverá apresentação de muitas bandas em dois palcos. Como rolou o critério para escolha das bandas?
QB: O critério é bem simples: unir grupos mais novos que tem feito uns lances legais na cidade/região com bandas que estão se destacando no mundo da música dentro e fora do Brasil com uns veteranos pro meio.

CV: Brown, agradeço pelo papo e deixo espaço para suas considerações finais.
QB: Ivan, mais uma vez, valeu demais pelo apoio, sem pessoas como você a informação não circularia e as coisas seriam ainda mais difíceis! Tamo junto! 

domingo, 15 de outubro de 2017

Autoramas invade o Sesc Jundiaí com seu rrrrrrock!

Vários hits foram "despejados" pelo quarteto, além de outras
canções de trabalhos diversos. Fotos: Emerson Henrique
A noite de sexta-feira, 13 de outubro, foi um período de celebração do bom e velho rock no palco do Sesc Jundiaí. Duas bandas, Autoramas e Gasoline Special tomaram de assalto o palco do local e fizeram crianças, adolescentes, jovens, adultos, e até mesmo alguns senhores, bailarem à vontade pelo ginásio do local.

O Autoramas, com 19 de estrada e com a formação em quarteto, foi a responsável por fechar a festa. Sem delongas, a banda capitaneada por Gabriel Thomaz, vocal e guitarra, subiu ao palco e despejou dezenas de hits que fizeram a alegria da galera que compareceu em bom número ao evento, realizado em sexta-feira com feriado prolongado.

A galera do Autoramas passou por toda carreira do grupo, executou canções do último disco lançado, o “Futuro dos Autoramas”, o novo single “Minha namorada aprendeu karatê” além dos clássicos “Você sabe”, “Fala mal de mim”, “Paciência”, além do grande hit da Little Quail and The Mad Birds, “1,2,3,4”, banda de Gabriel no início da década de 90, do século passado e também “I saw you saying”, música composta pelo vocalista e que foi gravada pelos Raimndos, no segundo álbum da banda “Lavô tá novo”, de 1995.

Gasoline Special foi a primeira a subir ao palco do Sesc
ABERTURA

A abertura do bailão rock realizado no Sesc ficou a cargo dos jundiaenses da Gasoline Special, power trio que tem nas guitarras e vocais o “reverendo” André Bode. Com seu som calcado em diversas influências de bandas dos anos 90, o trio “jogou” em casa e com apoio da torcida e equipamento impecável, os caras fizeram grande apresentação e apresentaram o novo baixista Rodrigo “Hilbert”.

Com som “pesado” e entre riffs e solos, a banda mostrou um pouco de sua história e também apresentou uma nova canção que ainda não tem nome definido mas foi possível notar certa influência de Raimundos, da melhor época do quarteto de Brasília.

Após dois ótimos shows, só nos restou “cair” na estrada e ficar na expectativa das novas atrações. O Sesc Jundiaí é um ótimo espaço e acreditamos que irá colaborar em demasia com o fomento de novas bandas naquele município, assim como na região.  

domingo, 10 de setembro de 2017

Nove homens e um grito de independência!

Ao final do show, Leptos faz jams com outros músicos.
Fotos: Ivan Gomes
Nada de tanques, cavalos, roupas a la Napoleão Bonaparte, nada de bandas marciais, nada de 7 de setembro, nada de histórias falsas para engodar o “povo brasileiro”, o verdadeiro grito da independência ocorreu no Estúdio Zarabatana, em Campinas, em um sábado, 9 de setembro, quando Aqueles, Topsyturvy e Leptospirose “incendiaram” o porão com riffs, baterias socadas impiedosamente e baixos com disparos como se fossem canhões.

Três power trios se apresentariam no espaço aconchegante, três bandas de estilos dispares, mas com discos, turnês, indumentárias apostos nas barraquinhas e muitas horas de palco, shows e participações em importantes festivais do underground. Três trios que não ficam no comodismo de simplesmente reproduzir o que foi feito há décadas, para alegria dos jovens que não são mais tão jovens e além da música, primam pela amizade e o prazer de compartilhar com os amigos, companheiras e companheiros, punhados de canções que algumas pessoas insistem em não prestar atenção e também são simpatizantes da bela mistura de água, malte e lúpulo, que refresca os ânimos em tardes e noites quentes.  

E com a bela programação, óbvio que nós do Canibal Vegetariano daríamos em jeito de apreciar esse belo “baile”. Devido as responsabilidades que a vida adulta nos impõe, não conseguimos chegar a tempo para acompanhar a linda banda campineira “Aqueles”. Havíamos acompanhado a banda há cerca de três meses no Auto Rock, mas o show de sábado, segundo fontes, foi mais insano, pois em casas menores parece que o aconchego funciona melhor.

Leptos soltou "os cachorros" no palco
Sem vermos o Aqueles, restou-nos lamentar e curtir nosso suquinho de cevada, como diz o grande escritor Antonio Pedroso Junior, e ficar na expectativa de acompanharmos o trio que vinha de Mogi das Cruzes. Com seu som que passa por várias vertentes do rock e aliadas a brasilidades, a Topsyturvy não deixou nenhum esqueleto parado, todos acompanharam felizes a apresentação, assim como os músicos que interagiam e mostravam que estavam muito a fim de fazer um som para galera. 
Mais uma apresentação em grande estilo, e bote grande nisso, dos jovens mogianos.

E para fechar o sábado com chave de ouro, os bragantinos da Leptospirose tomaram o palco de assalto. Sem delongas, Quique Brown, disparou seus riffs, acompanhado pela “cozinha” mais explosiva do underground nacional, Velhote, no baixo, e Serginho, o Keith Moon brasileiro, atrás dos tambores. Músicas dos mais de 15 anos de carreira foram executadas para lavar a alma daqueles que estavam sedentos por rock puro, sem mistura nem gelo, ou por sequências animalescas de porradas na orelha.

O trio de Mogi fez a galera agitar ao
seu som cheio de misturas
Ao final do show, e ainda com tempo para mais algumas canções, Quique disse que rolaria um “bailinho” para galera. E o que rolou foram ótimas jams, com participação da juventude do Aqueles e do mestre das caveiras, e um dos nomes mais importantes do rock underground nacional, Daniel ETE, que cantou, fez backing vocals e mostrou talento em riffs de guitarra e pegada no baixo.

Com as caixas desligadas, só nos restou, com gostinho de quero mais, pedir a conta e passar a régua, mas não sem antes, passar por aquelas barraquinhas que é a Disneylândia dos jovens adultos, para adquirir indumentárias que chocarão as tiazinhas da padaria e os pseudo-intelectualizados no café da manhã de segunda-feira.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Infante lança versão alternativa do disco '1991'

A banda lança material inédito para comemora um ano de 
lançamento do álbum '1991'. Foto: Divulgação 
Quarteto de rock jundiaiense, a Infante conquistou muitas oportunidades após lançamento do disco de estreia “1991”, uma delas, foi ter participado recentemente Festival Amplifica, realizado no Sesc Jundiaí, em junho desse ano e no Dia da Música 2017, além de outros festivais pelo interior de São Paulo.

Para comemorar o primeiro aniversário do álbum que trouxe bons frutos, o quarteto preparou lançamento especial: uma compilação com versões iniciais de algumas músicas do disco + faixas "inéditas" que não entraram para a versão final.

"Temos o costume [especialmente o Caio] de gravar muitas ideias que no fim acabam abandonadas em um HD externo," comenta Danilo Guarniero, baterista da banda. "Fizemos uma compilação das primeiras versões de algumas músicas que estão no CD e também botamos músicas que não entraram por falta de espaço ou porque achamos que não encaixariam."

"Essas que nunca foram lançadas são músicas velhas, algumas até de 2015, ou antes, mas novas para o público. A ideia foi liberar alguma coisa interessante para fechar esse ciclo que começamos com o disco," concluiu Danilo.

TRACKLIST:

1. Jimi (versão demo) 03:41
2. Lunático (versão demo) 03:16
3. Nostalgia (versão demo) - 03:43
4. Em Paz (versão demo) - 03:22
5. Café Gelado (versão demo) - 04:04
6. Ao Som do Nada (versão demo) - 02:54
7. De Novo, Outra Vez (versão demo) - 01:59
8. Limbo (versão demo) - 03:01
9. Seguindo (versão demo) - 02:43
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10. Riff gostoso (nunca lançada) - 03:19
11. Folky (nunca lançada) - 02:16
12. Essa não tem nome (nunca lançada) - 03:45
13. punk6.mp3 (nunca lançada) - 01:52
14. Bússola (nunca lançada) - 04:41
15. Vem e vai (nunca lançada) - 01:46
16. 2009 (nunca lançada) - 04:36

Ouça na íntegra: https://infante1.bandcamp.com/album/1991-demos-b-sides

Ouça gratuitamente no Bandcamp as 16 faixas da versão demo de 1991: 
https://infante1.bandcamp.com/album/1991-demos-b-sides

Ouça a versão oficial do disco "1991" aqui: http://smarturl.it/infante1991

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O som que vem do caos!

As garotas capixabas fazem um tremendo som e estão prontas
para detonar seus ouvidos, no bom sentido. Fotos: Divulgação
Quando ouvi pela primeira o som desse power trio capixaba formado por três mulheres foi um choque! Não é todo dia, infelizmente, que você sente uma banda cheia de energia, raiva ou sei lá o que, que usa a música para por tudo isso para fora. Com pouco mais de um ano, a Whatever Happened to Baby Jane, formada por Lorena Bona (guitarra), Ignez Capovilla (baixo) e Vanessa Labuto (bateria) lançou no último dia 21 o primeiro EP digital com quatro sons. Para saber mais sobre esse som muito promissor, batemos um papo com o trio.

Segundo as garotas, as principais influências do trio são “a vida e os acontecimentos que nos cercam, além das bandas de rock, punk, pós punk, e outros tantos estilos musicais. Joy Division, Ostra Brains, Dominatrix, Mukeka de Rato, Dead Fish, Mercenárias, Nirvana, Sleater kinney, Bikini Kill, Le Tigre, assim como tantas musicas que conhecemos a cada dia, que compõem a nossa vida. Abaixo você acompanha a entrevista na íntegra.

Canibal Vegetariano: Como o nome Whatever Happened to Baby Jane foi escolhido para banda e como rolou o lance de vocês a criarem?
Whatever Happened to Baby Jane : O nome da banda é inspirado no filme de 1962 ‘What Ever Happened to Baby Jane?’ de Robert Aldrich, um thriller–horror que é marcado pela força de atuação de Bette Davis e Joan Crawford. O nome da banda difere do nome original do filme de ‘O que será que aconteceu a Baby Jane?’ um entendimento de passado, de ocorrido, e passa a ser ‘O que quer que tenha acontecido a Baby Jane’, trazendo Baby Jane pra uma nova atmosfera contemporânea, desterritorializada. Imagine uma criança extraviada para a América Latina, que cresce ao som de rock no Espírito Santo, Brasil. Esta é Whtbj.

CV: A banda tem pouco mais de um ano e lança seu EP “Inferno de Vida”. Falem sobre o processo de gravação, inspiração para músicas e letras.
Whtbj: Nós escolhemos quatro músicas do nosso repertório, investimos nas que estavam mais redondas e lançamos nesta sexta-feira, 21 de julho de 2017. Gravamos no estúdio Comanche, em Vila Velha, um estúdio que respeitou a sujeira do som, e deixou a gente bem a vontade. Percebemos como é diferente de tocar ao vivo, acho que gravar fez a gente se ouvir pela primeira vez! [risos]. E gostamos muito do resultado.

CV: Vocês têm letras em português e inglês. Isso é proposital, de olho em um mercado exterior, ou é mera coincidência e surge durante a composição?
Whtbj: Isso é proposital pois percebemos o quão somos bombardeados por essa cultura ocidental que nos molda desde que nos conhecemos por gente. Temos mais influências de bandas gringas do que latinas, por exemplo. Então acaba acontecendo naturalmente.

CV: Como vocês pretendem trabalhar a divulgação desse registro? No futuro poderemos ter a música de vocês no formato físico?
Whtbj: A princípio não pensamos no álbum prensado, pois o mercado de música hoje é voltado pra mp3 e mídias online. Queremos fazer clipes e gravar mais músicas antes de um álbum físico. Mas não é impossível que isso aconteça no próximo ano.

CV: Como está a agenda de shows e quem costuma assistir as apresentações da banda? Tem muito local para rolar um som com boa qualidade?
Whtbj: Estamos fechando um show pra agosto e vamos participar de um tributo ao Bulimia até o fim do ano.  Pretendemos continuar ensaiando, que é nosso ponto forte pra produzir novas músicas.

CV: Como é ter uma banda de rock quase no final da segunda década do século 21 e em um país que vive um momento complicado?
Whtbj: Acho que a gente ter se reunido é mais uma consequência desse momento polarizado e violento, de corte nas partes mais sensíveis da sociedade, como a cultura. Fazemos tudo de maneira independente, e temos conseguido continuar ensaiando. Nosso ponto de partida é o ensaio, pois é o momento de expressão, de fazer vazar tudo o que vivemos nesses momentos de barbárie coletiva. Não podemos deixar que isso fique na gente, transformar as experiências é fundamental.

CV: Recentemente vocês se apresentaram na Laja Festival com várias bandas de grande nome no underground. Como foi essa experiência? Participar de festivais é bom e é possível aprender algo com eles?
Whtbj: Sim, esses momentos de trocas são bem interessantes. Por a Laja ser uma produtora que tem bastante contato com o movimento Underground do país, o pessoal vem bastante animado e contagia! É inspirador ver o que as bandas do Brasil andam produzindo, trocar ideias, é um momento de troca de ânimos. Precisamos disso em toda parte, não só no cenário musical.

CV: Peço que cada integrante indique uma banda que esteja ouvindo no momento.
Vanessa – Ratos de Porão, Dominatrix, Bambix, Sonic Youth
Lorena – Anticorpos, Charlotte matou um cara, 7 Yearbitch, Babes in Toyland, Belgrado
Ignez – Mercenárias, Smiths, Warpaint

Agradeço pela entrevista e deixo espaço para considerações finais e merchan.
Whtbj: Instagram: https://www.instagram.com/whateverhappenedtobabyjane/

Impressões sobre o EP ‘Inferno de Vida’

Mais um lançamento Laja Records. Saiba como ouvir.
Como escrevemos na chamada da entrevista, o som do Whatever Happened to Baby Jane deixa qualquer um embasbacado quando o ouve pela primeira vez, afinal, é muita energia concentrada, em pouco mais de seis minutos de música, isso com a soma de tempo das quatro canções.

EP muito bem gravado, todos os instrumentos estão bem audíveis e como as garotas disseram, o técnico de som respeitou a “sujeira” que elas se propõem a fazer. Com letras em português e inglês, a banda está pronta para alçar voos maiores. Das quatro ótimas canções apresentadas, sempre temos aquela que ouvimos mais, então fica a dica para “Deixa ela em paz”.

Para curtir o som do power trio, acesse: https://lajarex.bandcamp.com/album/inferno-de-vida 

sábado, 13 de maio de 2017

Noite de punk rock para acalentar corações em Jundiaí

A banda Merda mesclou clássicos com músicas do novo
álbum. Fotos: Ivan Gomes
Noite de sexta-feira e o punk rock iria rolar solto no Aldeia Bar em Jundiaí. Mesmo com todas as dificuldades impostas pelo governo golpista há um ano, nós do Canibal Vegetariano não perderíamos essa e fomos conferir as apresentações de Ataque Sonoro, Lomba Raivosa e o do Conjunto de Música Jovem Merda.

Estamos no outono, clima muito agradável, estrada de regular para ruim, pedágio caro, mas fomos até o município vizinho para acompanhar as apresentações. O aquecimento ficou a cargo dos jundiaienses do Ataque Sonoro. A banda foi formada as pressas para substituir uma outra que ficou sem baterista às vésperas da apresentação devido a compromissos profissionais.

Lomba Raivosa em ação
No palco, os jundiaienses fizeram uma rápida apresentação onde rolaram clássicos do punk rock nacional, nada mal para aquecer à noite. Jadi Araújo, vocalista da Perturba, ao melhor estilo Artie Oliveira, foi chamado ao palco para dar uma palhinha. Enquanto os caras se apresentavam, nós do Canibal ouvíamos o Fábio Mozine, do Merda e César Passa Mal e Testa do Lomba Raivosa. Essas entrevistas serão apresentadas na segunda-feira no programa A HORA DO CANIBAL.

Após os jundiaienses, a Lomba Raivosa mostrou toda fúria de seu som e rolou faixas de seus quatro discos, entre elas, do mais recente álbum lançado, que por enquanto pode ser ouvido apenas no formato digital. O power trio mostrou entrosamento espetacular e mesmo com os integrantes que afirmam que a banda é ruim, quem viu o show pode acompanhar o contrário. Banda rápida, precisa e divertida. Show como tem que ser, direto e reto, sem pausas para frescuras.

O encerramento ficou por conta dos capixabas doo Conjunto de Música Jovem Merda. Com o disco “Descarga Adrenérgica” em mãos, os caras iniciam turnê pelo país e após tocarem em seu estado natal, a banda veio para São Paulo e na primeira apresentação do novo álbum em terras paulistas eles mostraram todo peso e fúria do novo disco aliado a canções de outros registros.

Os jundiaienses do Ataque Sonoro
abriram à noite
As músicas do novo disco encaixaram perfeitamente e a banda está inteiraça! Assim como as bandas anteriores, o público agitou e curtiu o encerramento da noite punk. Antes de partir, o Merda ainda tocou dois grandes clássicos que não podem faltar em seus shows: “Maradona” e “Nem todo brasileiro que gosta de futebol, gosta do Neymar”, essa para encerrar a apresentação com chave de ouro.

Ao final, nos restou pagar a conta, passar na barraquinha para adquirir produtos das bandas e voltar para casa com aquele zumbido fantástico nos ouvidos que somente shows do porte que as bandas apresentaram podem ocasionar.

Impressões sobre 'Descarga Adrenérgica'. Novo disco do Merda

Dizer que o power trio formado por Fábio Mozine (guitarra e vocal), Rogério Japa (baixo e vocal) e Alex Vieira (bateria e vocal), lançam bons registros é chover no molhado. Mas, o novo álbum Descarga Adrenérgica vai muito além de ser um bom disco, é o que podemos chamar de puta álbum! 

Bem gravado, bem produzido, arte muito bem feita, mas as músicas estão no mais alto nível. Com críticas sociais, assuntos nonsenses e tiração de sarro com eles mesmos e com o público, o Merda gravou um dos melhores álbuns de sua carreira.

O disco tem 22 canções executadas em pouco mais de 20 minutos. Tem passadas pelo punk e hardcore. Os destaques são muitos, mas deixamos aqui: “Crise dos 40”, “Turbulência”, “Virou coxinha”, “7 a 1”. “Roqueiro reaça” e “Odeio tudo”. Compre o disco, contribua com as bandas independentes e mantenha a chama do rock acesa. O novo álbum do Merda é também uma boa dica de presente para o Dia dos Namorados, para quem tem bom gosto musical.