domingo, 22 de agosto de 2010

Zefirina Bomba: 'Explosão' de som e fúria a partir de um violão


A banda Zefirina Bomba mandando ver seu som no palco do Bar do Zé

Os paraibanos da Zefirina Bomba estiveram se apresentando em Campinas, para mostrar seu novo disco, junto com os bragantinos da Leptospirose, no Bar do Zé, no início do mês de junho. Aproveitando a oportunidade, conversamos com o violonista e vocalista da banda, Ilson Barros, para saber mais sobre o trabalho da Zefirina, turnês e projeções para o futuro.

Canibal Vegetariano: Vamos começar com um resumo da história da Zefirina Bomba.
Ilson:
A Zefirinina Bomba começou na Paraíba, em 2003, usando um violão todo fodido que faz um barulho desgraçado. A ideia era fazer uma fusão entre o que sabíamos tocar e misturar com elementos percussivos. Eu não tinha grana para comprar uma guitarra e montei tudo no violão bem velho e me sinto confortável tocando com ele.

CV: Algumas pessoas dizem que a Zefirina Bomba é o Nirvana brasileiro. O que você pensa sobre isso?
I:
Os caras são doidos, temos uma admiração pelo Nirvana, mas penso que fazemos um som totalmente diferente. Mas tem o lance do "faça você mesmo", do som simples, sem se preocupar com o futuro. Até aconteceu de encerrarmos alguns shows com músicas do Nirvana, mas como diz minha irmã, para ela foi The Beatles, e para mim a banda top foi o Nirvana. Mas o que pessoal acaba achando parecido o som das bandas, devido à simplicidade das músicas à energia das apresentações. Eu imagino que seja por isso que existam essas comparações.


Segundo Ilson, o violão todo fodido faz um barulho desgraçado

CV: Voltando a falar sobre o uso do violão, o que você usa para tirar um som tão agressivo do instrumento?
I:
Cara, o violão veio da necessidade. Por exemplo, às vezes nós vemos os africanos na São Silvestre e os caras são foda, e eles começaram a correr descalços, isso é muito parecido com nós, pois não tínhamos grana para comprar guitarra e montei tudo no violão que acabou dando outras possibilidades de som que não teria na guitarra. Com isso conseguimos outro tipo de microfonia, feedback, uns harmônicos que não rolavam e conseguimos descobrir que o violão era tão interessante quanto a guitarra. E tem o lance de ser um trio, com baixo saturado, bateria "quebrada" e violão fazendo barulho. A necessidade gerou algo que gostamos e acabamos nos identificando com o som. Eu penso que isso seja algo muito característico de países de terceiro mundo, nunca temos nada pronto, fazemos quase tudo no improviso. O Glauber Rocha é um cara que admiro e fez coisas com fotografias estouradas e trabalhando com uma câmera na mão, tirou suas ideias da cabeça e pôs em prática, mas se ele tivesse melhores equipamentos e condições acredito que ele teria feito com os bons equipamentos. Mas o estilo dele é esse e acabou virando algo cultuado. Penso que o esquema é esse mesmo, não podemos esperar ter tudo na mão para começar a realizar o desejamos.


CV: Vamos falar um pouco sobre o novo CD que foi lançado há alguns meses. Como tá o esquema de divulgação, por onde vocês já se apresentaram e por onde pretendem apresentá-lo?
I:
O disco foi gravado no meio do ano passado no Estúdio Tambor, de propriedade de Rafael Ramos, no Rio de Janeiro. Foi um puta trampo, passamos o dia todo gravando e voltamos para João Pessoa e começamos a divulgá-lo. No formato fisíco começamos a trabalhar em março. Já fomos para o Rio Grande do Sul, lá passamos por cidades como Canoas, São Leopoldo, Porto Alegre, entre outras. Já passamos em alguns pontos dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo a capital, Rezende e Niterói. Agora teremos umas datas novamente em São Paulo, na própria capital, Sorocaba e em outros locais. Em julho faremos uma turnê por todo o Nordeste e não será somente nas capitais, vamos para o interior também.


Ilson Barros, vocalista e violonista da Zefirina Bomba. Uma das bandas mais respeitadas no underground nacional

CV: Atualmente é muito difícil viver exclusivamente da banda. Com tantas datas, a Zefirina consegue sobreviver de sua arte?
I:
Nosso baixista, Martinho, é advogado e está trabalhando. Mas Guga (batera) e eu vivemos da banda, vivemos somente da música. Mensalmente temos que bater uma meta. É muito parecido com vendedor de empresa, pois temos contas de água, luz, entre outras para pagar e precisamos de dinheiro.

CV: Então você acredita que com muito esforço é possível viver de música no Brasil, isso não é algo utópico?
I:
É possível, mas a pessoa tem que ter compromisso com que faz. Temos um disco para vender, cobramos R$ 5, que é o preço que consideramos justo e conseguimos vender. Tem todo o esquema de deslocamento. Mas o mais importante é que estou fazendo o que gosto. Não estou fazendo nada obrigado, é o meu prazer. Bem ou mal, com pouca grana, conseguimos viver. E estamos nos organizando para ir a Europa, já que somos "lisos" aqui, seremos "lisos" em outro país também.

CV: Como é a cena atual de rock na região Nordeste, como tá rolando o esquema?
I:
Cara, desde que o mundo começou tem muita banda de rock no Nordeste. Eu sou de Recife e me mudei para João Pessoa em 1989. Lá conheci a banda Desunidos, entre muitas outras, algumas bem malucas, em vários estados e essa galera começou a fazer umas paradas. Tudo isso acontecia paralelamente com São Paulo, que tinha a Pin Ups (banda) e o Junta Tribo (festival) no começo da década de 90. Mas o movimento estourou mesmo foi em Pernambuco. Mas há muitas bandas no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Sergipe. Além das bandas, tá começando a rolar os coletivos que organizam festivais. Em março rolou um festival, feito pelo coletivo Mundo, com 20 bandas e área de skate e em dois dias arrecadamos 8 toneladas de alimento para entidades assistenciais. O bacana é que tá rolando muita banda, algumas até com nomes engraçadíssimos. Se você procurar no site da Trama Virtual e procurar por Estado, vocês encontrarão uma porrada de banda do Nordeste. A Trama é massa, lá conheci Aécio Ramos e Cardoso, dois músicos do interior do Ceará. Para mim este é o site mais democrático do mundo, qualquer pessoa pode botar sua música, com foto, release, tudo bem explicado. Isso é muito legal, mostra que não precisamos de grandes estruturas para fazer rock, precisamos de bares legais como o Bar do Zé, onde você chega, toca, toma uma cerveja, vê os amigos, conversa com pessoas interessantes, vende seu material honestamente. Acabou a história de se preocupar e precisar entrar no esquema para ser contratado por uma gravadora. Para isso, o cara tem que ter 16 anos de idade, gastar muito dinheiro e usar roupa colorida.

CV: E no Nordeste tem casas legais de shows e bares?
I:
Ainda não chega a ser com o esquema legal que encontramos aqui, com um local só para show, uma área somente para tomar cerveja e conversar. Lá ainda rola o esquema de ser tudo junto, vê a banda de qualquer local do bar. Mas a precariedade deve-se ao Brasil ser um país continental. O centro administrativo por ser aqui (São Paulo) faz com o que o poder aquisitivo, seja maior e precisamos estar atentos a essas diferenças. A banda Ação Direta foi para lá apenas uma vez. Eles sempre falam que gostam de tocar no Nordeste, mas é difícil. Isso é difícil pois, o ingresso lá custa R$ 5 e a banda toca para um público de no máximo 150 pessoas, é complicado. Para fazer uma turnê é meio inviável. A banda tem que procurar um patrocínio ou uma outra forma de bancar os custos, ou esperar pintar uma proposta dos organizadores de festivais.


'Não estou fazendo nada obrigado, tocar é o meu prazer'

CV: Ilson, obrigado pela entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais.
I:
Cara, há dez anos, todo mundo ficava louco para ver a banda se apresentar em sua cidade. Hoje parece que os caras preferem ver no Youtube ao ver a banda fisicamente. Trabalhamos pouco com a internet. Mas caso alguém queira saber mais sobre nós, basta digitar Zefirina Bomba e vai aparecer somente nós lá. Isso é algo que nunca prestamos atenção, mas que foi dita pelo Miranda. "Com o nome de Zefirina Bomba só tem vocês. Se o cara procurar no Google, só encontra vocês. CDs, contato para shows, camisetas, tá tudo lá", ele nos disse. Mas se você tiver paciência vamos chegar em sua cidade, pois temos um carro, boa vontade e onde houver uma tomada, vamos tocar.

Crédito das fotos: Fabinho Boss

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Leitura é fundamental... Por isso recomendamos...





Juliet Nua e Crua - Nick Hornby
Editora Rocco 269 páginas


Quando nosso leitor lê o título acima e não conhece o escritor inglês Nick Honrby, pode pensar que o livro irá tratar de alguma mulher famosa ou o texto seja sobre algo sexual e tudo mais. Mas ele é um cara que por mais que tente fugir, não consegue deixar de lado a enorme paixão que tem pela música. E o novo livro trata novamente sobre personagens, ao menos um, fanático por música.
Desta vez a estória de Hornby sai de Londres e os personagens principais residem em uma pequena cidade litorânea da Inglaterra. O ponto principal é o casamento de Duncan e Annie que após 15 anos chega ao fim. Duncan é fanático por um cantor obscuro dos meados dos anos 80 e Annie trabalha em um museu. A partir deste fanatismo e fim de relacionamento, começam várias conversas para saber quem errou e onde e vários acontecimentos mudam a vida, não só do casal e paralelamente Hornby vai contando a estória do cantor, até o ponto em que os destinos se cruzam. E outro dado importante, citações musicais em várias partes da narrativa.
Se você conhece Hornby e suas histórias, com certeza irá curtir muito o novo romance do inglês torcedor fanático do Arsenal. Se você ainda não conhece, e está procurando uma leitura que vai do drama à comédia e é quase uma crônica da vida real, pode comprar seu exemplar tranquilamente, pois a estória criada pelo escritor é leitura das boas. Este livro pode se encontrado na Livraria "Toque de Letras" em Itatiba. (IG)



Una gira en Sudamerica (Com o conjunto de música rock Merda) Fábio Mozine
Laja Records 159 páginas


Imagine você que tem uma banda de rock, ou está pensando em montar uma, reunir seus amigos em um carro popular, encher de instrumentos, CD's, camisetas e vários materiais de promoção e sair por aí, atravessando estados e chegar em outros países?
É disso que se trata o livro "Una gira en Sudamerica", escrito por Fábio Mozine, guitarrista e vocalista da banda capixaba Merda. Ele e seus dois companheiros de banda fizeram o que escrevemos acima e saíram de Vila Velha, Espírito Santo, para tocar em outros seis estados do Brasil, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e ainda não satisfeitos, foram para o Uruguai e Argentina.
O livro é leitura obrigatória para todo roqueiro e pessoas que se interessam por este tipo de cultura. Há momentos engraçados, tristes, histórias malucas e todo o relato da ousadia e atitude que esses caras tiveram, tocando praticamente todos os dias em cidades do interior ou em capitais. Os textos de Mozine mostram a paixão e a vontade de fazer música que alguns caras possuem e fazem qualquer coisa para apresentá-la. Leitura totalmente rock. Se fosse para dar nota ao livro...ela não poderia ser menor que 10!!! (IG)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Rock e poesia em um sábado à tarde

O sábado dia 7 de agosto começou como um típico sábado de inverno no Estado de São Paulo, com vento frio, nuvens, e o sol, talvez com preguiça, demorando a aparecer. Mas ao longo do dia o céu se abriu, a temperatura não subiu tanto e tivemos uma agradável tarde. O clima não estava quente, mas pegou "fogo" no Bar do Celso, no Dr. Pimenta, onde três bandas de rock, duas de Itatiba e uma do Guarujá iriam se apresentar.


A Macaco 12 fez sua estreia no Bar do Celso. A banda foi muito bem recebida pelo público

E por volta das 15h, o pessoal das bandas Macaco 12, que faria sua estreia, Bad Cookies, vindo em uma van lotada do litoral e Magnetita, que estaria fazendo o primeiro show após o lançamento de seu 1º CD, se reuniam no local das apresentações. Quem também chegou no horário foi o poeta Mateus Machado, que faria intervenções recitando poesias e poemas durante a troca de palco entre as bandas.
Por volta das 15h30 teve início a abertura do evento, que ficou a cargo da banda Macaco 12. A banda foi formada há poucos meses e é composta apenas por jovens, que ficaram um tanto intimidados no início, mas com o apoio do público e as pequenas falhas técnicas sendo corrigidas ao longo da apresentação, eles foram se soltando e agitaram o público que curte o som feito pelos garotos, influenciados por punk rock e hardcore. Devido talvez à falta de experiência e o nervosismo da estreia, o guitarrista e vocalista Madruga, se afastava um tanto do microfone e em várias partes não dava para ouvir o que ele cantava. Mas isso é coisa que eles aprenderão com o tempo e com sequência de apresentações. Mas eles estão de parabéns, pois em poucos meses, compuseram várias canções e apresentaram-nas durante o festival.


Mateus recitando um de seus poemas que faz a galera vibrar ao final da apresentação

Após o show dos jovens, o poeta Mateus Machado assumiu o microfone e recitou poemas próprios e de Jim Morrison, A galera que estava presente curtiu bastante e aplaudiu, muito, a performance do artista.
A segunda banda a se apresentar, Bad Cookies, assumiu o posto já no final da tarde e mandou várias músicas próprias que passam por diversas vertentes do rock, principalmente pelo grunge. Entre canções inéditas e algumas versões, os caras conquistaram a plateia que prestigiou e agitou bastante ao som do quinteto do litoral. E o vocalista e guitarrista Phábiño interagia a todo momento com o público, ora fazendo uma piada, ou explicando a música que apresentariam.


A Bad Cookies saiu do Guarujá e veio para Itatiba apresentar seu rock

A noite já havia tomado lugar do dia, o vento voltava a soprar e a temperatura caía. Mas no interior do bar o clima estava esquentando cada vez mais. E ficou ainda mais quente quando a banda itatibense Magnetita começou seu show. Com músicas pesadas, riffs e pegada, a banda rapidamente botou a galera para agitar com as oito canções que compõem a "bolachinha" lançada pelos caras. No final da apresentação, o vocalista Daniel Nikimba, chamou o vocalista da banda Gatilho e baixista da Olho de Cádaver, Dênis, para fazer uma versão de "Eu quero ver o oco", um dos maiores clássicos da banda Raimundos.


A banda Magnetita fez seu primeiro show após a gravação do CD

Quando o baxista Rogério puxou o famoso riff, a galera enlouqueceu de vez, e cantou junto. Entre "chuva" de cerveja, pessoas batendo cabeça e alguns tentando pogar, o proprietário do estabelecimento, Celso, que curte rock, subiu no palco e foi para a galera, dando um mosh sensacional. Quando todos pensaram que havia terminado, o guitarrista Sérgio Spell ainda puxou duas músicas. "Bichos escrotos" e "Polícia". Aí, não teve jeito, algumas pessoas que apenas acompanhavam o show, tomaram um dos microfones e cantaram com a banda. Ao final de tudo, muitos risos, abraços e a expectativa para o próximo evento.


Celso observando o agito da galera que lotou a dependência de seu estabelecimento

Antes de encerrar o texto, deixo o meu agradecimento ao guitarrista da banda The Bebers Operários, Carlinhos, ao baixista da banda Erga, André Freitas e a Carlão, baterista das bandas Mão de Vaca e The Bebers Operários, que emprestaram parte de seus equipamentos e realizaram o transporte dos mesmos. O agradecimento se estende ao Celso, que abre este importante espaço ao rock independente e a toda a galera que prestigiou o evento. Esta coluna foi escrita ao som de Belle and Sebastian - The BBC Sessions.

Crédito das fotos: Fanzine Canibal Vegetariano

domingo, 8 de agosto de 2010

Uma promoção do capeta n'A HORA DO CANIBAL





Você que gosta de rock independente e revista em quadrinhos, participe desta lindíssima promoção do programa A HORA DO CANIBAL que, no fim deste mês de agosto, irá sortear aos seus ouvintes, revistas em quadrinhos de Toninho do Diabo e um CD do cantor, guitarrista e compositor Sérgio Spell.
Para participar da promoção é muito fácil. Basta você enviar um e-mail para nkrock@hotmail.com com seu nome completo e endereço. O sorteio será em algum programa de agosto.
O CD para sorteio é o primeiro registro de Sérgio Spell, que também é guitarrista da banda Magnetita. Ele está há mais de dez anos batalhando na cena independente e como músico da noite. Vale participar, pois o CD é bem produzido e tem músicas que percorrem várias vertentes do rock.
Já a revista, "O diário negro do Toninho do Diabo", é a edição um e foi lançada em 2007, e está para ser publicada na França e Estados Unidos. Ao todo são seis exemplares que serão sorteados aos ouvintes. A revista vale por ser edição de colecionador.

sábado, 31 de julho de 2010

Mais que um documentário, uma lição de vida


Capa do DVD "Breaking Brazilian Bones in Europe" que já está disponível para venda

Já está disponível em DVD para todos os fãs de rock pauleira do mundo, o mais novo lançamento da Laja Records, o documentário "Breaking Brazilian Bones in Europe" tour 2007. Mais que um simples documentário sobre a viagem de duas bandas, de rock, brasileiras à Europa, o filme é uma lição de vida àqueles que tem uma banda, ou pretendem ter uma, pois ali está relatado quase tudo o que rola em uma turnê de rock independente.
Inicialmente a turnê estava prevista para acontecer em 30 dias, entre outubro e novembro de 2007, mas devido a um acidente automobilístico, a viagem foi interrompida. Detalhes desta turnê sensacional pode ser conferida no livro do guitarrista e vocalista da Leptospirose, Quique Brown. Em 2008 ele lançou "Guitarra e Ossos Quebrados", com histórias das viagens, shows e muitas fotos dos locais visitados pelas bandas. O documentário recém lançado vem para completar este relato, com imagens que hora chegam a ser engraçadíssimas e em outros, um tanto tristes, devido ao estado de saúde que alguns músicos ficaram devido ao acidente.
Além de imagens e locais bonitos, o vídeo apresenta vários momentos das bandas nos palcos gringos, principalmente Alemanha e Holanda. Há várias cenas da banda Merda assim como da Leptospirose, além de uma banda da Indonésia e um papo com o "Homem Horrível", que ficou conhecido nos marcadores de páginas do livro de Quique Brown.
O documentário realizado por Binho Miranda e Rogério Japonês é uma jóia rara, pois capta a essência de cada integrante, seja nos palcos, nos bastidores, vendendo mercadorias antes e depois dos shows em barraquinhas recheadas de CD's, camisetas e outros materiais de divulgação. Nós concordamos com Rodrigo Lima, da banda Dead Fish que escreveu a sinópse do filme no encarte. Em um dos trechos ele cita: "... Este documentário é uma lição para quem quer ser roqueiro e acha que não vai se foder por aí. E outra para quem ama tocar: conhecer o desconhecido, viver sem concessões e se jogar no mercado do rock independente mundial". Antes de finalizar, deixo uma dica: leia o livro e veja o filme, não necessariamente nesta ordem.

...E o rock 'rolou' e foi direto...

No último dia 25 de julho a Lanchonete do Renato, ou a Sorveteria e Pastelaria 29, em Itatiba, serviu de palco para a apresentação de duas bandas de rock locais: Erga e Barco Bêbado.


A galera rock compareceu em bom número ao evento do último dia 25

O evento realizado pelo coletivo Viva a Independência com apoio de Renato e do zine/blog Canibal Vegetariano quase foi cancelado, devido a uma certa pressão que algumas pessoas, dias antes do evento, tentaram impor para que as apresentações não ocorressem. Mas mesmo assim, apoiados por nosso departamento jurídico, realizamos e festa que reuniu em uma tarde e noite de domingo, várias pessoas que curtem ouvir um rock, rever amigos e trocar ideias.


A banda Erga durante sua apresentação no 'Domingo Rock' realizado na Lanchonete do Renatão

E neste clima de união, inclusive entre as bandas, o rock rolou e tanto Erga quanto a Barco Bêbado conseguiram realizar ótimas apresentações. A Erga foi a primeira banda, e com seu rock entre o garage e o alternativo conquistou todo o público presente, inclusive o pessoal do metal e do punk, saciando a sede de rock do público itatibense que é muito carente de eventos deste tipo.
Na sequência a apresentação da Barco Bêbado, ou como disse o vocalista Mateus Machado, "ensaio aberto", chamou muito a atenção do público presente, devido as várias intervenções realizadas pelo vocalista, que hora toca violino, chuta um saco cheio de latas vazias, ou como neste último show, jogou tarot com parte do público durante a execução da música B-612.


A apresentação da Barco Bêbado contou com sons de latas vazias, escuridão e jogo de tarot

Ainda durante a apresentação, em duas músicas, amigos da banda que estavam acompanhando o show, também interviram e ajudaram nos backing vocals. Após o término dos shows, a galera deixou o local tranquilamente e com a esperança que mais eventos aconteçam. O público agradece.

sábado, 24 de julho de 2010

Um adeus com 'cara' de até logo


Walkyria a frente da Lunettes com a filha em sua barriga

A banda campineira Lunettes fez seu show de despedida dos palcos no último dia 18 de julho em Bragança Paulista durante o Festival de Inverno realizado no citado município. O adeus, de acordo com seus integrantes, deve-se ao fato da gravidez da vocalista Walkirya que deve parir sua filha em setembro. Alguns dizem que é um adeus, outros afirmam que a banda estará dando apenas um tempo até os primeiros passos da neném.
Quanto a definição do que irá ocorrer com a banda só o tempo poderá dizer, mas o show que acompanhamos foi muito bom. Como seria um show de despedida, a Lunettes preparou uma agradável surpresa aos fãs que viram novamente a formação original, com Drica nos teclados e Juju assumindo a guitarra. Haline, a guitarrista atual continuou no palco e a Lunettes se apresentou como um sexteto e com duas guitarras. Além da apresentação dos membros originais, a banda ainda mandou um som que não executava há 7 anos.


As garotas da Lunettes durante despedida em Bragança Paulista

Além da festa e do clima de despedida, a banda fez um show muito profissional e que agitou a galera bragantina, executando todo o repertório que passa por rock, punk, new wave e pop. O show da Lunettes foi encerrado por volta das 20h, após várias horas de som, além da participação da diversas bandas de outras vertentes de rock.


GANGUE DO FRANGO


Nós do zine/blog Canibal Vegetariano chegamos em Bragança Paulista por volta das 17h30, e uma das bandas independentes programadas para o dia, a Luno, estava encerrando seu show. Antes da apresentação da referida banda o palco foi tomado por bandas de material cover.


Drica, tecladista original da banda, em participação especial no show da despedida

Na sequência da Luno foi a vez da banda instrumental Matheus Canteri e a Gangue do Frango. Estavamos curiosos para ver o show deste power trio instrumental e ele correspondeu toda nossa expectativa. Com uma "cozinha", baixo e bateria, muito precisa a banda executou um vasto repertório de canções próprias, com Matheus muito "solto" no palco com sua guitarra. Para encerrar o show, eles fizeram uma homenagem ao mestre Bob Dylan, com a canção "All Along the Watchtower". Se você gosta de bandas de rock instrumentais, procure ouvir esta. E o domingo rock foi encerrado como dissemos acima, pela Lunettes.


Drica e Juju relembrando 'velhos' tempos

Este foi mais um evento que estivemos presentes na região de Itatiba, que ocorreu dentro da normalidade, com o encontro de várias "tribos" e sem registro algum de qualquer tipo de ocorrência. O evento que contou com ótima estrutura, palco, som, luz, foi realizado na pista de skate no lago do Tabão em Bragança com entrada totalmente grátis. O festival de inverno bragantino acontece durante todo mês de julho, com várias atrações para todos os públicos. Isso é disseminar cultura. Parabéns a todos de Bragança Paulista.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Daniel ETE fala sobre o novo CD da Muzzarelas e também de seus projetos paralelos

Aproveitando a deixa do lançamento do novo disco da banda campineira Muzzarelas, nós do zine/blog Canibal Vegetariano conversamos em uma noite de outono, no estacionamento do Bar do Zé, com o baixista da banda, Daniel ETE, para que ele comentasse o lançamento do novo disco e falasse também sobre seus vários projetos, entre eles, programa de TV, banda paralela, arte, política, bandas de rock, entre outros assuntos. Esta entrevista está na íntegra. Na edição impressa ela foi editada devido a quantidade de páginas.

Canibal Vegetariano: A banda Muzzarelas está lançando o disco "We rock you suck!". Após quase duas décadas de trabalho, de onde vem inspiração para compor músicas e o que mudou desde o início da banda?
Daniel ETE:
Nossa inspiração vem de filmes, conversas, piadas e quando todo mundo se reúne e começa a falar merda, os caras têm um grande repertório de besteiras, e acabam contando estórias de filmes de maneira errada e isso acaba virando tema de letra. Existe também a influência, na hora de escrever, de revistas em quadrinhos, algo que leio bastante, filmes vagabundos e todo tipo de cultura que não presta. Em relação às mudanças, é que no início não havia Internet, myspace, download, era fita K7 e enviávamos nosso material por correspondência, mas tem coisa que não muda, o desinteresse do público por novidade não muda, banda sem vergonha não muda, promotor picareta não muda, o respeito com as bandas ruins não muda, mudaram os meios, mas as pessoas não. Quem era ruim continua ruim e as pessoas boas continuam boas. Antes não havia referência, hoje, as pessoas têm tudo sobre as bandas que elas gostam, não tínhamos tantas referências de como fazer a parada naquela época. Quando começamos, eu tinha entre 16 e 17 anos, gostávamos de Dorsal Atlântica e odiávamos o RPM. Hoje o pessoal que gosta de Violator, odeia Cine. Eu penso que hoje o pessoal é um pouco menos apaixonado.


Daniel falando ao zine/blog Canibal Vegetariano

CV: Como é tocar há quase duas décadas com a mesma banda e ser influência, principalmente no interior, para muita banda que toca atualmente? Como que é para a banda ser considerada como uma referência?
ETE:
Nunca havia pensado nisso cara. Mas sei lá, é que tocamos muito na primeira metade dadécada de 90, do século XX, não tínhamos nada para fazer e a melhor coisa do mundo era tocar. Fim de semana era sexta-feira, sábado e domingo tocando por aí. Tocamos em muitos lugares que muita gente nem imaginava. Não havia grandes shows e fomos desbravando nosso espaço. Havia banda de metal, punk, hardcore e banda de pop bosta. E nós pendíamos um pouco para o punk, mas não éramos punks. Em muitos locais, fomos uma referência entre o underground e o mainstream. Mas somos undergrond. Da geração 90 fomos uma das primeiras bandas a fazer pequenas turnês. Tocamos em locais em que só se apresentavam bandas covers e nós fomos as primeiras a aparecer com material próprio.

CV: Agora uma pergunta pessoal. O que mudou da época dos seus 17 anos para a atualidade. E hoje, já passando dos 30, muita coisa mudou. Como você, e os outros integrantes da banda, conseguem se manter no underground, com tantas mudanças na vida pessoal. Pois hoje tem pessoas que passam cinco anos em uma banda e desistem. E você, nem o Muzza, desistem, qual a explicação?
ETE:
É que somos chatos e nosso estilo é assim porque não sabemos fazer outra coisa, não adianta querer tocar ska, rap, melódico. Só sei tocar isso e o Muzza só sabe fazer isso, misturar, punk, metal, hardocre. E para mim, o que mudou foi que fiquei um pouco surdo do ouvido esquerdo, tenho dores no ombro direito o lance físico é foda, não sou mais menino. Atualmente não tocamos tanto, pois alguns caras têm filho pequeno, trabalho, mas continuamos dando um jeito de continuar com a banda. Tem uns "véio" que diz que vai pescar e vai fazer troca troca no mato e nós vamos tocar. Tem nego que tira 15 dias para ir até o Mato Grosso fazer troca troca e nós vamos tocar. Tem cara que sai para jogar futebol e nós saímos para tocar rock. Nós não vivemos da banda, mas conseguimos mantê-la por ela mesma. A banda se paga, às vezes não precisamos gastar dinheiro com ensaio, com manutenção de instrumentos, mas não ganhamos grana com isso. A banda é um grande prazer para mim. Não sei se fomos nós que escolhemos isso ou teria que ser assim.

CV: Agora voltando ao disco, fale sobre todo o processo de composição. Parece que ele está mais pesado que os anteriores.
ETE:
A produção dele tá melhor. Nós conseguimos uma grana de apoio do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (Ficc) que nos proporcionou fazer um disco com muito mais cuidado do que os outros. Para esta gravação ensaiamos bastante e gravamos em um estúdio legal, além de trabalharmos com nosso camarada, Mauricio Cajueiro, amigo desde que éramos "metaleirinho". Ele morou nos Estados Unidos e estudou muito sobre todo o lance de gravação e tal. Quando ele retornou, montou um estúdio e gravamos com ele. No primeiro disco gravamos músicas que pareciam Misfits, pois pensávamos que só sabíamos fazer isso. Mas no ensaio tocávamos metal, rock, e acabamos perdendo a vergonha e dissemos foda-se. Se alguém vier em nosso show e não gostar de nossas músicas que vá montar uma banda para ele. Não ganhamos dinheiro, não ganhamos nada, então temos que fazer algo que gostamos e não ficarmos preocupados em agradar os outros. Quem se identifica acaba ouvindo, quem não gosta que vá fazer outra coisa ou fazer algo melhor da vida. E esse disco novo tem bastante coisa de metal e algumas coisas que lembram o primeiro, com fortes refrãos, algo que gostamos de fazer. Não vamos tocar forró, nem funk da bundinha, mas se um dia tocar foda-se. Nosso estilo é esse é a banda é a mesma há 19 anos. Somos uma banda de caras que gostam de cerveja, curtem bermuda de calça jeans cortada e camiseta do Ramones. Somos um tipo de gente que habita o interior do Estado de São Paulo.


Capa do novo disco da banda Muzzarelas 'We rock you suck'

CV: E a divulgação do novo disco como está? Com este lançamento, vocês já passaram pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo. Fale um pouco dos primeiros shows desta nova fase.
ETE:
A cada disco que sai, a bagagem aumenta e cada vez mais tem mais gente que se identifica com nosso som. Nós fomos para Vitória e Rio de Janeiro. No Rio foi muito legal, o único problema é que fomos assaltados por alguns policiais corruptos, e espero que eles levem "bala". Ser assaltado pela Polícia é a pior coisa que existe. Pois somos nós que pagamos o salário do cara, você paga a pensão da mulher dele e ainda por cima é assaltado. Mas tirando isso foi massa. Encontramos a galera da Estudantes, da Carbona, camaradas há muito tempo. Já em Vitória, apesar de ser capital, me lembrou muito nosso interior, não havia punks montados, carecas fazendo cara de mau e emos fingindo que são moças. Havia pessoas a fim de ouvir um som e ver a banda e curtir o sábado à noite, se divertir, após uma semana foda de trampo. Somos da escola do Kiss, queremos que as pessoas se divirtam, não queremos mudar a vida de ninguém, quem sou eu para querer mudar a vida de alguém? Não consigo nem mudar a minha. O que podemos fazer é levar diversão às pessoas.

CV: Mas já aconteceu de alguém chegar para você e falar que a Muzzarelas mudou a vida dela?
ETE:
Não sei cara, só se for para pior (risos). Pode ser que alguém chegue um dia e fale. "Depois que ouvi Muzzarelas comecei a bater na minha mãe, fumar crack, votar no PSDB" (mais risos), isso pode foder a vida do cara. Mas tem muito moleque que começou a curtir rock através de nós e hoje tem banda conhecida.

CV: O Forgotten Boys é uma delas?
ETE:
Cara, o finado Arturo e o Chuck quando tocavam iam aos nossos shows. O pessoal da Blind Pigs, Estudantes. Os caras tiram uma da cara do outro, tem uns que dizem: "Você é nova era, ouve a banda da época do Jumentor, eu sou velha guarda, sou do tempo da fita K7". Tem muita gente que começou a tocar devido ao Muzza. Mas tem gente que deve ter parado. "Ah cara, se música é isso eu vou estudar".


Parte dos integrantes da Muzzarelas em apresentação ao vivo

CV: Saindo do Muzza, fale um pouco sobre a Drákula. Como começou e como está o momento atual da banda?
ETE:
Cara, a banda começou quando minha vó morreu e eu fui vender a geladeira dela. Não tinha onde guardar a geladeira. Meu amigo tava montando um estúdio e perguntou se eu queria trocar a geladeira e dois falantes por horas de estúdio. Fiquei com as horas mas não tinha banda. Apareceu um cara na loja, todo o dia ele aparecia, e falava que tocava bateria. Eu acabei chamando ele para ir ao estúdio. Lá, encontramos um guitarrista e começamos a tocar stones, ultraje, tudo mal tocado. Depois disso chamamos o Renan Fattori e fomos ensaiando, fazendo jams no Bar do Zé e quando nos demos conta já havia músicas, e isso foi virando banda. Era zueira, mas depois ficou sério e acabamos gravando dois CD's. Um deles totalmente independente e o segundo saiu pela Laja Records. Atualmente estamos parados, pois nosso batera quebrou o joelho. Mas tocamos em Curitiba, no Psyco Carnival, abrimos o show da Agente Orange, com o Serginho da Leptospirose na batera. Mas em setembro nosso batera, que já operou, retorna e vamos voltar aos shows e trabalhar em músicas inéditas.

CV: Além de você tocar na Drákula, o Stênio (um dos guitarristas da Muzza), toca na Violentures e o Lirão toca com outras bandas. Os outros caras também tocam em outras bandas? E rola ciúme, pois o cara pode pensar que vocês se dedicam mais aos projetos paralelos do que ao Muzza?
ETE:
Essa viadagem sempre rola. Cara fica falando que vai tocar com outra banda e tal, mas levamos na brincadeira. O Stênio é uma puta guitarrista, tem o trampo para ele mostrar sua capacidade, que vai além do que ele faz na Muzzarelas. O Lirão, baterista, além de nós deve tocar em mais quatro ou cinco bandas fazendo as partes de baixo. Nosso vocalista, Alexandre Kiss, tem uma banda de metal, a Edrom que é muito boa. Recentemente eu fiz junto com o outro guitarrista da Muzza, Flávio, e nosso antigo batera, o Naka, a Bad Baduinos e acompanhamos o Simon Chainsow e estamos sempre tocando. Mas no fundo, a banda principal de todos é a Muzzarelas. Às vezes desmarcamos compromissos das outras bandas para nos dedicarmos ao Muzza.

CV: Além das bandas, você tem um loja de discos, a Chop Suey. Como é ter uma loja no final da primeira década do século XXI, onde o myspace, youtube e o download estão dominando tudo. Quem compra disco atualmente?
ETE:
Além de discos, eu vendo muita camiseta. O que não vende é CD, CD não vende, a mídia digital é meio "chulé". Eu vendo muito vinil, pois quem compra, gosta do vinil, gosta de por o disco para ouvir, gosta do som, pois depois da fita de rolo, o vinil é campeão de som legal. podem falar o quiser, é legal. O CD tá voltando a vender, principalmente de "podrera", que traz monstros defuntos na capa, tem uma galera que curte muito esse lance e etc.
Também tem gente que gosta de um som e quer ter uma relação de participar e apoiar a banda, tá junto com ela, fazer parte do negócio, pois ele se sente bem apoiando a banda. Eu mesmo sou assim, sou fã para caralho do RKL e descobri que tem um site vendendo camiseta para ajudar os filhos do vocalista, que morreu de overdose, pois os filhos estão precisando de dinheiro e eu quero ajudar. O que dificulta é que muita gente caga e anda para música, enquanto tem gente que lembra da música que ouvia na sétima série. Tenho um cliente que compra discos na minha loja e ele tem 60 anos e compra metal, pois ele quer curtir. E quem gasta grana mesmo é o pessoal mais velho. Mas ainda existem moleques interessados em vinil e querem participar do lance, dar apoio e acaba virando amigo da banda. Eu sou fã da Cólera desde moleque e o hoje sou amigo deles. É muito foda isso.

CV: A loja tem parceria com o Bar do Zé. Como e quando começou esse lance de organizar shows e eventos no local?
ETE:
Começou entre 2002 e 2003. Conheci o Milton (proprietário) no bar e no começo não tinha condições de ter banda tocando lá. Até tinha, mas como havia outros locais, nós íamos lá somente para discotecar e beber. Mas chegou um tempo em que os caras que tomavam conta dos lugares eram uns merdas e todos nossos amigos iam no Bar do Zé. Um dia falei, vamos tocar aqui e ele disse "é pequeno". Virei e disse " se foda, vamos aqui mesmo". E logo começaram os primeiros shows e isso foi rolando. Nas minhas discotecagens comecei encaixar uma banda e mostrar para os outros o que é o rock para nós. Tem cara que pensa que o rock é o Cine, Moptop, The Doors, tem gente que acha que é o Leptospirose, Dwarves. É isso que queremos mostrar. O Cine é rock? Não sei. Nosso rock é esse, queremos mostrar para galera, e é o que temos para vender na loja.


Todos os integrantes da banda Muzzarelas participam de projetos paralelos. Mas de acordo com ETE, a Muzza é o trabalho principal

CV: E os desenhos cara, você é um grande desenhista. Como e quando você começou e quais os principais desenhos que você fez?
ETE:
Desenho desde criança, com 2 ou 3 anos. Não falava, minha família pensava que eu era retardado. Comecei a gostar de rock e fazer desenhos relacionados com essa temática. E quando comecei com a banda, e tinha muita gente que "roubava" para fazer desenhos, eu mesmo comecei a fazer os desenhos da minha banda. E depois fiz para banda de um amigo e de outro e foi crescendo. O trabalho mais recente concluí esses dias, foi um desenho para a banda Zander. Já fiz desenhos para Ratos de Porão, capa para o Periferia SA, Leptospirose. Também desenho cartazes para bandas, shows e alguns para bares.

CV: Além de tudo isso, você também apresenta o programa Valvulado. Hoje nós vimos um programa que o pessoal riu muito. Como pintou esse lance de apresentar o programa e fale desse seu lado mais cômico.
ETE:
É cara, quem não sabe fazer direito faz na palhaçada e tem gente que se identifica com isso. E é assim que sei fazer, não conseguiria fazer tudo direito, se fosse ficaria ridículo. Já que era para fazer ridículo, vamos deitar, rolar e curtir. O Valvulado serve também, assim como outros trabalhos, para mostar nossa visão de rock. Tem o rock do Cine e tem o rock lazarento como o Motosierra. Agora o programa ficou mais popular depois que foi para a Internet. Tem um camarada, o Rafael, que é o cara que mais entende de coisa que não presta, ele é um poço de cultura inútil, ele entende tudo de TVS e SBT. Ele não é o cara do trash cult, ele gosta do trash do povão. Um dia ele chegou e disse que deveríamos usar o satã que temos na loja, que se chamava Fabrício, em homenagem a Fabrício da Garage Fuzz, pois era a cara dele. Aí apelidamos o Fabrício de Nei e ele falou que deveríamos por o Nei, o capeta, no programa para passar dicas de som. Zuamos, fomos no improviso e tá dando certo. Quando cheguei no Rio de Janeiro, já tinha uns caras imitando o Nei, "bebedeira, solidão". Tem gente que quando vê o pior dele? sendo retratado em algum lugar, ela? se diverte. O rock ainda é corrosivo, desgraçado, perigoso, tem o lado podre. Rock não é esse papo de alegria que reina atualmente. Esse papo de que hoje é legal porque não tem a fama de bandido é furada, por isso que tá uma merda. Nós ainda mantemos o espírito de zueira. Há pessoas em outros estilos que gostam de zuar. Sempre tem um lazarento na fita. O rock hoje tá muito bom moço, tipo o Guns, que tem uma rebeldia forçada. Para mim eles são uns yuppies quadradões. Mas pensa no Cramps, no Dwarves, Motorhead.

CV: Já que estamos falando em bandas, quais são suas cinco bandas favoritas, aquelas que você ouve direto, desde moleque e cinco bandas independentes atual.
ETE:
Minhas cinco clássicas são quase as mesmas que as de vocês. Ramones, Black Sabbath, Motorhead, The Clash e Ratos de Porão e mais uma porrada, é a lista das cinco que acaba virando cinquenta. Atualmente, das bandas independentes, as que mais ouço são Leptospirose, Estudantes, Violator, que são fodas demais, Evil Idols. Não sou muito de acompanhar as novidades, mas conheço bastante bandas obscuras que apareceram há cerca de dez anos. Tem muita coisa boa. Hoje para ser cool no rock, o cara tem que saber o que tá acontecendo neste momento e não o que rolou o que houve há algum tempo, isso acaba sendo chato.

CV: Sobre a mídia atual, o que você pensa do que tá rolando no momento. E se o Valvulado fosse para a MTV, como seria na mídia top.
ETE:
Não acredito que alguém nos contrataria, pois teriam dor de cabeça. Como não temos uma grande abragência vai de boa, pois falamos o que pensamos e falamos muito palavrão. Se vai para uma TV aberta pode complicar. Não sei se existiria um intersse. Um cara que conseguiu um espaço legal foi o João Gordo, pois ele é muito ágil e inteligente para caralho, tem os caras que o xingam e ele responde a altura.


Capa da edição nº 3 do Fanzine Canibal Vegetariano. O desenho é um dos vários realizados por Daniel ETE

CV: Qual o conselho que você dá aos adolescentes que estão começando a ouvir rock.
ETE:
Cara, na minha época era a mesma coisa, só mudava os nomes, no meu tempo a porcaria da vez era o RPM, só que nós não éramos legais, éramos os desgraçados. Era uma merda não ter namorada, mas às vezes rola mais tarde. Faça o que você gosta. Não queira fazer parte de um "bagulho" porque todo mudo faz. Não é porque todo mundo usa o cabelo do Chitão que você tem que usar.

CV: Você pensa em entrar para a política?
ETE:
Eu estava lendo o livro "Não devemos nada a você", de Daniel Sinker, em que o Jello Biafra fala que às vezes temos que participar da coisa, pois alguém vai pagar o vereador. Dá medo de entrar e ficar igual aos caras, mas pode não virar. Não sei como funciona isso, não me sinto preparado, por enquanto não entraria nisso. Também acredito que existem políticos sérios, nem todos são uns merdas. Pensar que todos são iguais é meio que tirar o corpo fora, é uma forma de alienação, é legal saber como as coisas funcionam, pois isso faz parte de nosso mundo. Não tenho essa pretensão no momento, mas vai que um dia eu mude de ideia.

CV: Daniel, agradecemos a entrevista e para finalizar, o espaço é seu, fale o que quiser.
ETE:
Estamos lançando a campanha Fábio Mozine presidente do Brasil, Quique Brown vice com Nei, o satã, como ministro da Cultura, então vote em nós. Divirtam-se.

Fotos por Fabinho Boss, Google e FanZine Canibal Vegetariano

Hoje é dia mundial do rock!!!

Uma singela homenagem do Fanzine Canibal Vegetariano a este estilo musical que acabou se tornando uma filosofia de vida para muitas pessoas.



Foto retirada do Google

sábado, 3 de julho de 2010

Exposição de arte que todo roqueiro deve visitar



+EXPO - de 09/07 a 14/08 de 2010
seg a sex das 9:30 às 19:00 hrs
sab das 9:30 às 16:00 hrs

entrada grátis!!

ABERTURA - 09/07 - das 19 as 22 hrs
Djs PICE LÓVI CREIZI
Apresentação MC DMO as 20:30

disORder
55 19 3381 0309

Rua General Osório, 1565 - Cambuí - Campinas/SP

www.lojadisorder.com.br
www.twitter.com/lojadisorder

Brasil x Argentina – Dois Caras que desenham posters para shows de bandas que quase ninguém conhece... mas deveria.

Na Arte Punk, diferentemente do futebol, não há rivalidade nesse clássico e essa exposição é mostra disso. De um lado do campo, vindo de Campinas, Daniel Ete, baixista da lendária banda Muzzarelas, e um dos maiores desenhistas do Punk Rock nacional. Escrevo isso sem medo de errar. Há mais de vinte anos (isso é sério) espalha caveiras, monstros, pentagramas, robôs, berinjelas endiabradas e mais dezenas de belos desenhos que não consigo entender como são originados, saem dessa mente perturbada, e isso é o interessante, aliás arte foi feita para nos surpreender, não é mesmo ?
Com um currículo que conta com capas e desenhos feitos para Periferia S.A., Zumbis do Espaço, Violator, Confronto, Ratos de Porão, Os Estudantes, Mukeka di Rato e mais umas 299 bandas, além de participação em dezenas de fanzines, alguns históricos como o DRAGA, e exposições não menos importantes, como a Ilustradores, da Galeria Choque Cultural, e a cereja do bolo de sua produção são seus CARTAZES, arrisco a dizer que tem grande chance de ser o cara que mais produziu posters de rock dos anos 90 pra cá.
Para quem nasceu ou morou em Campinas, e é rockeiro, sabe muito bem que os cartazes do Ete colado na rua ensinaram arte a mais gente do que a Unicamp e a PUCC juntos.
Já do lado argentino, Hernan DIENTE, ou se preferirem o cara mais legal do hardcore porteño, ou se ainda não estiver legal, um dos caras que mais cria desenhos para a cena punk de Buenos Aires, com incontáveis capas de discos, cartazes, estampas para camisetas e etc... enfim, é o irmão (artístico) do Ete.
Temáticas parecidas como canecas de chopp, caveiras (todo rockeiro que se preze não pode deixar de ter) irmãos siameses, referências a bandas de hardcore, frases poderosas, provocações ao status quo e etc.
Na bagagem de Diente, não podemos deixar de citar, a incrível exposição Caos=Belleza, apresentada na principal galeria de arte urbana da Argentina, e porque não dizer da América do Sul, a Hollywood in Cambodia, onde a Mostra de Diente foi uma das mais visitadas da história do espaço, portanto não é aconselhável perder a chance de conhecer fisicamente o trabalho desse fenomenal artista, ainda mais assim de mão-beijada aqui no Brasil.
Portanto, se você admira cartaz de rock, é fã do Ramones, cerveja gelada, não perca a chance de ver que tudo que você gostou a vida toda, também é arte.

Kaue Garcia
quer saber realmente do que se trata?

saca só....

ETE
http://www.fotolog.com.br/etedesenhos
http://www.myspace.com/daniel_ete

DIENTE
http://www.flickr.com/photos/camina_solo/
http://www.flickr.com/photos/thediente
http://www.fotolog.com.br/thediente

apoio

LOJA CHOPSUEY DISCOS
http://www.fotolog.com/chopsueydiscos
http://www.chopsueydiscos.com.br loja virtual

PROGAMA VALVULADO
http://www.youtube.com/user/valvuladocps

sexta-feira, 25 de junho de 2010

E o zine impresso voltou



Desde a última quarta-feira está circulando por estabelecimentos comerciais de Itatiba, exemplares da 3ª edição impressa do Fanzine Canibal Vegetariano.
Após um longo tempo de espera, muito devido a crise financeira que atingiu nosso paupérrimo país durante o ano passado, voltamos com força total e com novo layout.
Quem reside em Itatiba pode encontrar exemplares em nosso patrocinadores: Pró Rock, Wap Dead, Pastelaria 29, Intercâmbio CD's, Auto Mecânica Irmãos Piera, Escritório de Advocacia Cunha e Lima, Escritório Objetivo, Livraria Toque de Letras, La Marca Tatuagem, Piercing e Acessórios, Música em Itatiba e Pixel Engenharia Digital.
Em breve os exemplares estarão disponíveis em Campinas, Bragança Paulista, Jundiaí, Atibaia, São Paulo, entre outros municípios do Brasil e do mundo. Se você não mora em Itatiba e quer receber um exemplar do zine, envie e-mail para nkrock@hotmail.com, que estaremos enviando para qualquer lugar do planeta.















sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ayuso fala sobre o fim da banda Monaural

O ex-vocalista e guitarrista da banda Monaural falou com o zine/blog Canibal Vegetariano sobre o fim de sua banda, que estava prestes a gravar um EP de músicas inéditas, e conta sobre os novos projetos de vida e musicais.

Canibal Vegetariano: Qual o motivo do fim da Monaural?
Ayuso:
O motivo do término da banda, foi o Herik (batera) que estava comigo desde o começo ter saído. Já havia algum tempo uma pequena possibilidade de sua saída, mas eu acreditava muito no trabalho que estávamos realizando como banda e achava que era mútuo... mas cada um seguiu a sua órbita, seus planos... eu ainda não acredito nessa história de me tornar economicamente auto-suficiente, tendo que engolir desaforos de um chefe mala pra caralho...saca?


Ayuso 'atacando' sua guitarra em uma das várias apresentações da extinta Monaural

CV: Tudo ainda é muito recente, mas há possibilidade de um retorno da banda?
A:
Possibilidade sempre existe...mas isso não significa que irá acontecer. Estou focado em outros projetos agora, nem quero pensar no passado.

CV: E o seu relacionamento com os outros ex-integrantes como esta?
A:
O Herik é supostamente meu vizinho e desde então, nunca mais nos falamos. Acho normal esse desgaste. Ainda falo com o Gui, pois somos amigos e tal...e é só.


CV: E as músicas que vocês estavam para gravar no próximo EP? Elas ficarão para um outro trabalho, ou você irá encostá-las?
A:
Algumas já faziam parte de uma nova remessa de composições...essas vão entrar para meu novo projeto certamente.


Uma das características da banda Monaural era o som sujo e visceral

CV: Após alguns dias do fim da Monaural, você apareceu falando do projeto Mandíbula. Ele já existia ou teve início após o fim de sua banda?
A:
Eu já tinha essa ideia, esse nome na minha mente. Apenas fui empulsionado a começar...

CV: E qual a diferença entre as duas bandas?
A:
Acho a proposta da Mandíbula mais madura, "moderna" e melodiosa. Eu já tava pirando para caramba em melodias e arranjos mais "complexos", não só nos instrumentais no finalzinho da Monaural. Apenas estou dando continuidade ao fluxo criativo e registrando tudo. Estou escrevendo letras mais politizadas, mais filosóficas que as de costume...nesse aspecto lírico a Monaural era muito mais introspectiva. Sinto que estou conseguindo canalizar melhor minha música, sem que ela soe datada, isso é muito difícil de fazer no rock, ainda mais hoje em dia e em português.
Na Mandíbula estou 100% ligado ao meu computador. Eu que sempre defendi e apreciei a cultura lowfi, hoje estou abusando um pouco da tecnologia moderna para fazer rock, claro que de forma suja, mesmo que essa sujeira seja digitalizada. Estou produzindo o disco todo meio que sozinho em casa, minha guitarra, uma interface de áudio, uma garrafa de vinho, ganja, guitar rig, madrugadas, fone de ouvido, etc.

CV: E o lance de organizar eventos, você pretende continuar ou irá se dedicar apenas ao Mandíbula?
A:
Eu tinha planos de organizar o segundo "Insanidade Coletiva Festival", mas no momento estou fodido de dinheiro e pretendo me focar mesmo na Mandíbula. Isso é por enquanto, tudo é muito imprevisível.


O 'furioso' guitarrista em momento banquinho e violão. Atualmente ele se dedica exclusivamente ao projeto 'Mandíbula

CV: Ayuso, agradeço pela entrevista e deixo espaço para seus comentários finais.
A:
Em primeiro lugar, eu que agradeço pelo espaço, foi um enorme prazer responder as perguntas para o blog. Uma honra, sempre! Eu apenas peço para que as pessoas acreditem para valer em seus sonhos, objetivos e desejos. Pois essa vida aqui só vale a pena quando vivemos, acreditamos e sonhamos. Paz, amor e união em prol da música independente.

Todas as fotos são de arquivo pessoal

terça-feira, 8 de junho de 2010

Dia dos namorados com muito punk rock



O próximo sábado é dia dos namorados, mas independente disto, quem gosta de punk rock tem que dar uma passada no Decontrol Rock Bar Tattoo em Campinas e conferir o "Campinas Hardcore Festival vol. 1". O destaque do festival será a banda Lobotomia, uma das bandas mais clássicas do punk nacional. Além deles estarão se apresentando Divída Externa, Bad Taste, Toxemia e a banda itatibense The Bebers Operário. Mais informações vide o cartaz ao lado.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A banda de um homem só

Ele já tocou em um power trio que foi considerado uma das bandas mais importantes da cena underground brasileira na virada do século XX para o XXI. Atualmente ele segue com a Jam Messenger, um duo incendiário, e a Uncle Butcher and His Oneman Band, conhecida como a banda de um homem só. Para saber mais sobre os trabalhos de Marco Butcher, nós do zine/blog Canibal Vegetariano batemos um papo com o cara, que falou abertamente sobre sua antiga banda e os novos projetos.


Marco Butcher tocando na Uncle Butcher and His Onemam Band

Canibal Vegetariano: Para começar, vamos falar um pouco sobre a história da Thee Butchers Orchestra. Como começou a banda e qual o motivo para o fim do trio?
Marco Butcher:
Montamos a banda no final de 1995 e a ideia era fazer somente algumas jams na minha antiga garagem que depois de algum tempo passou a ser conhecida por Ordinary Recordings. Com o tempo começamos a fazer shows e mais shows e a coisa não parou mais. Após 12 anos todos estavam um pouco cansados e precisando de um tempo para se dedicar a outros projetos e por isso decidimos dar um tempo com a coisa toda.

CV: Vocês foram considerados uma das principais bandas do underground brasileiro no final do século XX e início deste século. Isso teve alguma influência no ego de alguns dos integrantes?
MB:
Não saberia como responder essa pergunta já que normalmente as coisas ditas sobre a banda vem de fora dela e são observações feitas por outras pessoas, nunca tivemos esse tipo de visão ou mesmo paramos para pensar no peso que isso poderia ter dentro de uma cena.

CV: Por que vocês optaram para não ter baixo na banda? Quais eram suas influências?
MB:
Não foi uma opção, na época tínhamos um punhado de guitarras em casa mas nenhum baixo, depois de um tempo tínhamos um repertorio inteiro feito com musicas sem baixo e achamos que soava bem dessa forma e a coisa acabou ficando assim. Sempre ouvimos de tudo man, na época estávamos mergulhados em tipos diferentes de música, de Harry Pussy a James Chance passando por Gories, Lydia Lunch, Pussy Galore, Wilson Picket, Lord High Fixers entre milhões de outras.

CV: E, atualmente, como é seu relacionamento com os ex-integrantes da Butchers? Eles continuam trabalhando com música?
MB:
Nossa relação continua muito boa, nunca tivemos problemas de relação dentro da banda. No ano passado nos juntamos para uma série de shows em alguns clubes de São Paulo e também no Festival Blues Punk no SESC Pompéia e atualmente todos tocando com suas respectivas bandas.

CV: Após o fim da Butchers, você deu um tempo na carreira de músico ou imediatamente entrou para outra banda?
MB:
Sempre estive envolvido em projetos mesmo durante o tempo em que estive com os TBO, não me lembro de ter tido férias ou um tempo, na época eu já trabalhava no meu lance como Oneman Band e também em vários outros combos musicais.

"É preciso uma certa dose de ridículo para fazer Rock & Roll. Sem isso fica tudo meio plástico demais e perde o sentido, afinal, a música rock não nasceu para ser entendida ou aceita de forma alguma, mas sim para criar caos e revolução" Marco Butcher


Após a saída da Thee Buthcers Orchestra, Marco seguiu carreira solo e fundou a Jam Messenger


CV: Vamos falar um pouco sobre a Jam Messengers. Como esse duo teve início e qual o motivo de ser uma dupla? E por que este projeto é o seu favorito?
MB:
Os Jam Messengers nasceram de uma longa amizade que já dura 16 anos entre mim e o Rob K, fechamos com o formato duo pois sempre pensamos que não fosse necessário mais do que isso para passar nosso recado. Então quando os Workdogs, antiga banda do Rob K e os TBO, terminaram, achamos que seria a hora perfeita para por em prática o Jam Messengers e isso já vem acontecendo a 5 anos. Gosto muito da elasticidade dos Jam Messengers, vamos do mais puro trash & Blues ao Hip Hop ou jazz ou Boogie Woogie , não seguimos uma direção ou tendência e é isso que me faz gostar tanto desse duo.

CV: Em cinco anos de banda, vocês gravaram cinco álbuns. Como é o trabalho de composição e de onde vem a inspiração? Como rola a comunicação entre você e o Rob K?
MB:
Eu e o Rob K sempre pensamos música da mesma maneira e é por isso que temos os Messengers, as músicas normalmente vem em forma de Jam ou algo que tenha rolado no nosso dia-a-dia. Não fantasiamos ou criamos histórias do nada mas usamos nossas experiências pessoais ou coisas que rolam na nossa rotina.

CV: Rob tocou com o Jon Spencer (Jon Spencer & The Blues Explosion), que faz um rock bem enérgico e cru. O som de vocês dá para dizer que é mistura do que ele fazia na antiga banda, e você com a Butchers? Ou você considera a sonoridade da Jam Messenger algo totalmente novo?
MB:
A música dos Messengers esta a quilômetros de tudo que já fiz com os TBO e com certeza também longe da música feita pelos Workdogs e acho que o único elo seria nossa paixão pela música Blues. O Jon foi guitarrista dos Workdogs por alguns anos e com os Dogs lançou alguns álbuns também, mas na verdade a sonoridade dos Workdogs pouco tem a ver com o trabalho feito pelos Blues Explosion mesmo que os dois grupos tenham tido a música Blues como fio condutor.

CV: Já que estamos falando da banda, faça um comentário sobre o novo trabalho de vocês "Dictionary of Cool".
MB:
Dictionary Of Cool é com certeza um do meus discos favoritos pois aborda temas que são muito interessantes na minha opinião, não é um disco fácil e tão pouco um disco pop no sentido ouvir uma vez e sair cantando na segunda, mas é justamente isso que me faz gostar tanto dele, é um disco que faz o ouvinte pensar e questionar várias coisas.


No segundo semestre deste ano o duo deve partir para a Europa e divulgar o trabalho mais recente da banda

CV: Vocês estão sempre em turnês pela Europa e Estados Unidos. Como é a recepção do público? Há diferenças entre o público europeu e estadunidense? E no Brasil? E a facilidade para realizar shows é maior fora ou dentro do país?
MB:
Pessoas são diferentes a cada metro que se anda então não é o caso de ser Brasil ou Europa ou EUA mas sim o fato de estarmos lidando com seres humanos com suas culturas locais e todo o tipo de loucuras ou barreiras que em alguns casos pode ser muito positivo ou não. Realizar shows nunca foi ou será uma missão fácil pois envolve muitas coisas, então acho que tudo depende de como isso é feito e principalmente de quem está fazendo. No nosso caso temos a Mamma Vendetta que é quem cuida de nossas tours e biss no sentido de manter a banda ativa e lançando discos o que tem sido perfeito para nós.

CV: E quais são os planos da Jam Messenger para o 2º semestre deste ano?
MB:
Acabamos de lançar um novo vinil Dictionary Of Cool, como disse anteriormente, que saiu por um selo da Escócia, Eruption Records, no Brasil o disco foi lançado em CD pela Mamma Vendetta numa tiragem bem limitada. Temos planos para uma próxima tour rolando pela Europa na segunda parte do ano para divulgação desse álbum.

CV: Agora mudando um pouco, além da Jam Messenger, você toca na Uncle Butcher and His Oneman Band. Como é tocar em uma banda de um homem só? E o que te levou a tocar sozinho?
MB:
Posso dizer que para mim é uma espécie de terapia onde coloco todas as minhas viagens musicais de forma bem primitiva mantendo a coisa simples e crua. O que me levou a tocar no formato Oneman Band foi a necessidade de estar sempre tocando e o fato de poder fugir do circuito casas noturnas e clubes. Também como Oneman Band é bem fácil estar numa estação de trens ou praça, rua e coisas assim.

CV: Com os compromissos com a Jam Messenger, como você consegue tempo para o trabalho solo?
MB:
É até bem fácil pelo fato de eu morar no Brasil e o Rob K em Nova York, pois de certa forma acaba dando um tempo maior entre nossas atividades e tempo nunca foi um problema para mim.

CV: E como você diferencia as composições? Essa música é para a Jam, essa é para o trabalho solo.
MB:
Acho que minhas músicas já nascem com uma cara, não me lembro de ter tido que pensar nisso, elas simplesmente vem!!


Capa do último registro lançado pela Uncle Butcher

CV: E os locais das apresentações das bandas? Onde você toca solo, rola também de tocar com a Jam? Ou são locais e públicos distintos?
MB:
Os locais geralmente são os mesmos e o público de forma geral também é. Claro que às vezes acaba trazendo um ou outro tipo de pessoa mas acho que tudo faz parte do mesmo momento na música.

CV: Agora, abrangendo um pouco o assunto, como era a cena independente quando você começou? E hoje? Você acredita que houve melhoras, tanto na qualidade das bandas como das pessoas que promovem eventos? E as casas de shows?
MB:
Acho que dá para notar alguma diferença sim. Não sei dizer se para melhor ou pior já que nunca fiz parte de uma cena ou pacote na intenção de tentar vender uma nova ideia. Gosto de fazer as coisas do meu jeito e é assim que levamos os Jam Messengers, num mundo onde a música se tornou corporativa e onde a cada dia que passa vemos mais e mais pessoas entrando nisso pelos motivos errados me sinto bem em dizer que nossas expectativas com música são simplesmente continuar tocando.

"As coisas ditas sobre a banda vem de fora dela e são observações feitas por outras pessoas, nunca tivemos esse tipo de visão ou mesmo paramos para pensar no peso que isso poderia ter" Marco Butcher

CV: Como você pensa que a música será consumida daqui alguns anos. Você acredita que o CD será extinto? E o vinil? Você mesmo lança seus trabalhos em vinil. Existe mercado para o disco no Brasil atualmente? E no exterior?
MB:
Acredito no lance dos ciclos, não sei dizer se o CD vai morrer ou se será a volta do vinil ou algo assim. No momento está tudo bem confuso mas isso se deve ao fato de que uma boa parte das pessoas não ouve ou sente música da mesma maneira pois a coisa toda se tornou bem mais descartável e fácil perdendo uma boa parte do romantismo e com isso um senso geral de arte. Meus últimos discos tem sido lançados por selos da Europa sendo em 90% dos casos em vinil pois o mercado de vinil por lá sempre esteve em uma boa posição. Aqui no Brasil estamos passando por uma fase onde acredito que os selos ainda estejam tentando lidar com o lance da era digital e downloads e coisas assim, não sei dizer o que vai rolar mas acredito que em algum momento isso acabe voltando ao que era antes, bandas fazendo seus discos em casa, fazendo suas próprias capas e vendendo nos shows durante as tours.


Foto totalmente rock. Marco toca guitarra, repare nas cordas estouradas, bateria e canta. Ao fundo é possível notar garotas dançando em frente ao palco

CV: Devido ao respeito que você tem no meio underground, qual o conselho que você dá para os jovens que estão começando?
MB:
Sou apenas um estudante da música, não saberia dar conselhos a ninguém mas acho que não levar a coisa toda tão a sério, tipo um plano de carreira, já seria um bom começo. É preciso uma certa dose de ridículo para fazer Rock & Roll. Sem isso fica tudo meio plástico demais e perde o sentido, afinal, a música rock não nasceu para ser entendida ou aceita de forma alguma, mas sim para criar caos e revolução nas cabeças um pouco mais atentas.

CV: Marco, agradeço pela entrevista, valeu mesmo. Deixo o espaço para suas considerações finais.
MB:
O que você esta fazendo para participar??
Thanx man!!

FOTOS: Todas as imagens são de arquivo pessoal