domingo, 22 de agosto de 2010

Zefirina Bomba: 'Explosão' de som e fúria a partir de um violão


A banda Zefirina Bomba mandando ver seu som no palco do Bar do Zé

Os paraibanos da Zefirina Bomba estiveram se apresentando em Campinas, para mostrar seu novo disco, junto com os bragantinos da Leptospirose, no Bar do Zé, no início do mês de junho. Aproveitando a oportunidade, conversamos com o violonista e vocalista da banda, Ilson Barros, para saber mais sobre o trabalho da Zefirina, turnês e projeções para o futuro.

Canibal Vegetariano: Vamos começar com um resumo da história da Zefirina Bomba.
Ilson:
A Zefirinina Bomba começou na Paraíba, em 2003, usando um violão todo fodido que faz um barulho desgraçado. A ideia era fazer uma fusão entre o que sabíamos tocar e misturar com elementos percussivos. Eu não tinha grana para comprar uma guitarra e montei tudo no violão bem velho e me sinto confortável tocando com ele.

CV: Algumas pessoas dizem que a Zefirina Bomba é o Nirvana brasileiro. O que você pensa sobre isso?
I:
Os caras são doidos, temos uma admiração pelo Nirvana, mas penso que fazemos um som totalmente diferente. Mas tem o lance do "faça você mesmo", do som simples, sem se preocupar com o futuro. Até aconteceu de encerrarmos alguns shows com músicas do Nirvana, mas como diz minha irmã, para ela foi The Beatles, e para mim a banda top foi o Nirvana. Mas o que pessoal acaba achando parecido o som das bandas, devido à simplicidade das músicas à energia das apresentações. Eu imagino que seja por isso que existam essas comparações.


Segundo Ilson, o violão todo fodido faz um barulho desgraçado

CV: Voltando a falar sobre o uso do violão, o que você usa para tirar um som tão agressivo do instrumento?
I:
Cara, o violão veio da necessidade. Por exemplo, às vezes nós vemos os africanos na São Silvestre e os caras são foda, e eles começaram a correr descalços, isso é muito parecido com nós, pois não tínhamos grana para comprar guitarra e montei tudo no violão que acabou dando outras possibilidades de som que não teria na guitarra. Com isso conseguimos outro tipo de microfonia, feedback, uns harmônicos que não rolavam e conseguimos descobrir que o violão era tão interessante quanto a guitarra. E tem o lance de ser um trio, com baixo saturado, bateria "quebrada" e violão fazendo barulho. A necessidade gerou algo que gostamos e acabamos nos identificando com o som. Eu penso que isso seja algo muito característico de países de terceiro mundo, nunca temos nada pronto, fazemos quase tudo no improviso. O Glauber Rocha é um cara que admiro e fez coisas com fotografias estouradas e trabalhando com uma câmera na mão, tirou suas ideias da cabeça e pôs em prática, mas se ele tivesse melhores equipamentos e condições acredito que ele teria feito com os bons equipamentos. Mas o estilo dele é esse e acabou virando algo cultuado. Penso que o esquema é esse mesmo, não podemos esperar ter tudo na mão para começar a realizar o desejamos.


CV: Vamos falar um pouco sobre o novo CD que foi lançado há alguns meses. Como tá o esquema de divulgação, por onde vocês já se apresentaram e por onde pretendem apresentá-lo?
I:
O disco foi gravado no meio do ano passado no Estúdio Tambor, de propriedade de Rafael Ramos, no Rio de Janeiro. Foi um puta trampo, passamos o dia todo gravando e voltamos para João Pessoa e começamos a divulgá-lo. No formato fisíco começamos a trabalhar em março. Já fomos para o Rio Grande do Sul, lá passamos por cidades como Canoas, São Leopoldo, Porto Alegre, entre outras. Já passamos em alguns pontos dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo a capital, Rezende e Niterói. Agora teremos umas datas novamente em São Paulo, na própria capital, Sorocaba e em outros locais. Em julho faremos uma turnê por todo o Nordeste e não será somente nas capitais, vamos para o interior também.


Ilson Barros, vocalista e violonista da Zefirina Bomba. Uma das bandas mais respeitadas no underground nacional

CV: Atualmente é muito difícil viver exclusivamente da banda. Com tantas datas, a Zefirina consegue sobreviver de sua arte?
I:
Nosso baixista, Martinho, é advogado e está trabalhando. Mas Guga (batera) e eu vivemos da banda, vivemos somente da música. Mensalmente temos que bater uma meta. É muito parecido com vendedor de empresa, pois temos contas de água, luz, entre outras para pagar e precisamos de dinheiro.

CV: Então você acredita que com muito esforço é possível viver de música no Brasil, isso não é algo utópico?
I:
É possível, mas a pessoa tem que ter compromisso com que faz. Temos um disco para vender, cobramos R$ 5, que é o preço que consideramos justo e conseguimos vender. Tem todo o esquema de deslocamento. Mas o mais importante é que estou fazendo o que gosto. Não estou fazendo nada obrigado, é o meu prazer. Bem ou mal, com pouca grana, conseguimos viver. E estamos nos organizando para ir a Europa, já que somos "lisos" aqui, seremos "lisos" em outro país também.

CV: Como é a cena atual de rock na região Nordeste, como tá rolando o esquema?
I:
Cara, desde que o mundo começou tem muita banda de rock no Nordeste. Eu sou de Recife e me mudei para João Pessoa em 1989. Lá conheci a banda Desunidos, entre muitas outras, algumas bem malucas, em vários estados e essa galera começou a fazer umas paradas. Tudo isso acontecia paralelamente com São Paulo, que tinha a Pin Ups (banda) e o Junta Tribo (festival) no começo da década de 90. Mas o movimento estourou mesmo foi em Pernambuco. Mas há muitas bandas no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ceará, Sergipe. Além das bandas, tá começando a rolar os coletivos que organizam festivais. Em março rolou um festival, feito pelo coletivo Mundo, com 20 bandas e área de skate e em dois dias arrecadamos 8 toneladas de alimento para entidades assistenciais. O bacana é que tá rolando muita banda, algumas até com nomes engraçadíssimos. Se você procurar no site da Trama Virtual e procurar por Estado, vocês encontrarão uma porrada de banda do Nordeste. A Trama é massa, lá conheci Aécio Ramos e Cardoso, dois músicos do interior do Ceará. Para mim este é o site mais democrático do mundo, qualquer pessoa pode botar sua música, com foto, release, tudo bem explicado. Isso é muito legal, mostra que não precisamos de grandes estruturas para fazer rock, precisamos de bares legais como o Bar do Zé, onde você chega, toca, toma uma cerveja, vê os amigos, conversa com pessoas interessantes, vende seu material honestamente. Acabou a história de se preocupar e precisar entrar no esquema para ser contratado por uma gravadora. Para isso, o cara tem que ter 16 anos de idade, gastar muito dinheiro e usar roupa colorida.

CV: E no Nordeste tem casas legais de shows e bares?
I:
Ainda não chega a ser com o esquema legal que encontramos aqui, com um local só para show, uma área somente para tomar cerveja e conversar. Lá ainda rola o esquema de ser tudo junto, vê a banda de qualquer local do bar. Mas a precariedade deve-se ao Brasil ser um país continental. O centro administrativo por ser aqui (São Paulo) faz com o que o poder aquisitivo, seja maior e precisamos estar atentos a essas diferenças. A banda Ação Direta foi para lá apenas uma vez. Eles sempre falam que gostam de tocar no Nordeste, mas é difícil. Isso é difícil pois, o ingresso lá custa R$ 5 e a banda toca para um público de no máximo 150 pessoas, é complicado. Para fazer uma turnê é meio inviável. A banda tem que procurar um patrocínio ou uma outra forma de bancar os custos, ou esperar pintar uma proposta dos organizadores de festivais.


'Não estou fazendo nada obrigado, tocar é o meu prazer'

CV: Ilson, obrigado pela entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais.
I:
Cara, há dez anos, todo mundo ficava louco para ver a banda se apresentar em sua cidade. Hoje parece que os caras preferem ver no Youtube ao ver a banda fisicamente. Trabalhamos pouco com a internet. Mas caso alguém queira saber mais sobre nós, basta digitar Zefirina Bomba e vai aparecer somente nós lá. Isso é algo que nunca prestamos atenção, mas que foi dita pelo Miranda. "Com o nome de Zefirina Bomba só tem vocês. Se o cara procurar no Google, só encontra vocês. CDs, contato para shows, camisetas, tá tudo lá", ele nos disse. Mas se você tiver paciência vamos chegar em sua cidade, pois temos um carro, boa vontade e onde houver uma tomada, vamos tocar.

Crédito das fotos: Fabinho Boss

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