segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Radiare: irradiação de melodias em forma de rock

Uma banda de Campinas, com nome em latim e com diversas influências de bandas de rock dos anos 80 e 90. A Radiare esta desde 2006 batalhando seu espaço no mercado independente, apresentando-se em festivais e em casas de shows e no ano passado lançou seu primeiro álbum. Para saber mais da banda, nós do zine/blog Canibal Vegetariano conversamos com Fabrício Frebs (guitarrista e vocalista), que falou um pouco sobre a história e o futuro do grupo.

Canibal Vegetariano: Para começarmos peço que você apresente a banda. Nomes dos integrantes, instrumentos e tal.
Fabrício Frebs:
Radiare é formado por Fabrício Frebs, guitarra e voz, Maurício Strückel, voz e guitarra, Victor Peres, baixo e voz, e Paulo Magalhães, bateria e voz. Frebs participou, no passado, das bandas Astromato e Captador, e hoje também toca contrabaixo na Máquina Voadora. Mau Strückel também é guitarrista da banda Del-O-Max. Paulo tocou bateria também na Astromato, Juli Manzi e na Captador, e hoje também assume a guitarra e vocal na banda Nüer, na qual Victor também
toca como baixista. Ah, dava para montar um Festival só com nossos projetos paralelos, eh eh.

CV: Quando e onde começou a banda Radiare? E qual o significado do nome?
FF:
Radiare começou de fato em 2006, numa iniciativa minha e do Paulo em voltar a tocar. Tínhamos tocados juntos na Astromato, depois na Captador, e após o fim dessas bandas ficou sempre a sensação de que poderíamos continuar a tocar, pois a afinidade sonora era grande. Então, após algum tempo, eu mostrei a ele algumas canções que tinha gravado em casa e logo iniciamos os ensaios, já com o Victor no baixo. Achamos que deveríamos dar um nome à banda pouco tempo depois, quando
o Maurício chegou e enxergamos que poderíamos criar uma personalidade sonora ali. Sobre o nome, Radiare vem do latim, se relaciona à emissão, irradiação de energia, luz, calor, radiação. Eu sempre gostei de significar como uma explosão de energia, espírito em forma de som, como algo incontrolável, espontâneo, puro, sem filtros. No nosso caso, são quatro personalidades fazendo isso através de uma banda de música. A letra de Radio Espírito explica um pouco Radiare.



CV: O som de vocês lembra o power pop do final dos anos 80 início de 90. Quais as principais influências da banda?
FF:
Acho que as influências vão mudando bastante, ao longo da vida. Pelo menos para mim, não são as mesmas hoje e quando eu tinha 20 anos. Alguns grupos me motivaram muito a querer ter uma banda. New Order, Teenage Fanclub, Pixies, Beatles, My Bloody Valentine... São inúmeras bandas de movimentos e cenas de época principalmente nos EUA e Reino Unido que mexeram com a minha cabeça de moleque. Tenho um carinho grande por essa época, por essas bandas. Hoje, às vezes me sinto um pouco deslocado nesse nicho de "banda de rock", como se isso restringisse as possibilidades e tornasse a banda caricata, quando na real eu só quero me expressar através da música, em geral. Mas para os tempos atuais, fiquei muito tempo viciado em Elliott Smith. Hoje, estou ouvindo alguns sons dentro do jazz, Joe Pass, The Bad Plus, Ron Carter, Jim Hall. Também gosto de choro, Ernesto Nazareth, instrumentais brasileiros. Também alguns sons pouco comerciais, sem formatos padronizados, artesanais. Não sei exatamente como isso pode transparecer na música que faço, mas acho que a mistura de tudo o que me influencia transparece na minha personalidade. Quanto ao resto da banda, acredito que todo mundo goste bastante de rock mesmo.

CV: Como é fazer rock, considerado mais tranquilo, em um País que se têm batucadas e parte dos adolescentes veneram bandas que tocam algo mais agressivo? Quem é o público do Radiare?
FF:
É curioso. Quando vou dizer a alguém que tenho uma banda "de rock", grande parte das pessoas reage imaginando que tenho uma banda de heavy-metal ou punk. E quando vamos tocar por aí, muita gente torce o nariz porque nosso som é muito "leve" e não demonstramos muito da tradicional atitude roqueira que a grande mídia caricatura como rock, algo cheio de fogos de artifício como Kiss, ou hoje em dia no Brasil, o emo do NX Zero. Daí, fica vago explicar o que fazemos e criar uma
identificação, criar um público, se não for pela própria música. O que, por sinal, deveria bastar, não? Mesmo a cena rock que formou as bandas que me motivaram a ter banda, há15 anos, já estão no passado e nada significam para a maior parte das pessoas que que estão por aí. Então acredito que estamos formando um público novo, formado por pessoas diversas, com suas personalidades próprias, e não pegando todo um nicho pronto, que já gosta de outras bandas parecidas. Talvez fosse mais fácil entrar num estereótipo de banda que já existe, e já ser lançado a um grupo fechado de público. Mas a idéia não é essa. Vamos fazendo o nosso som. O País tem muita gente, muitas personalidades. Tenho notado quando tocamos e quando recebo algum feedback do CD que as possibilidades de público para nós são muito amplas. Desde adolescentes até uma galera que já passou dos 30. Mas não está fechado, pronto, óbvio.

CV: Como foi o processo de gravação do album de vocês e como ele está sendo recepcionado pelo público e mídia?
FF:
Queriamos gravar há um bom tempo já, mas queriamos algo de qualidade, diferente das experiências de gravação que tínhamos tido até então, que iam mais para o estilo "ensaio gravado", isto é, tempo cronometrado, sem planejamento, com o Paulo (nosso batera) conhecendo o equipamento 5 minutos antes de gravar. Não queríamos mais isso. Daí conhecemos o Maurício Cajueiro. O Kju trabalhou vários anos em Los Angeles, em grandes estúdios, e acumulou uma bagagem ótima na área de produção musical. Conversamos com ele sobre o que queríamos e fechamos a gravação de 8 músicas. O processo todo foi bem bacana, como se durante esse tempo o Kju fosse o quinto membro da banda. Ele pegou as músicas antes, demos, foi aos ensaios, mexeu em algumas músicas, sugeriu alterações em letras, métricas, timbres, efeitos, enfim, nos apresentou a um estilo de “produção” que não tinhamos vivenciado até então. Desde o dia em que gravamos o primeiro material bruto até os discos ficarem prontos passou-se um ano. Tudo foi feito com muita calma e liberdade. Gravamos em três estúdios diferentes, e aos poucos, sempre ouvindo e trabalhando o material. O importante era que ficasse bom, profissional, fosse criada uma unidade, e a gente se identificasse com o resultado. Tudo isso rolou. A recepção ao álbum está sendo boa. Lançamos de forma independente, toda a correria é nossa, então depende muito da nossa disponibilidade para fazer a promoção do disco. Por isso, o processo é lento. Mas saíram matérias bacanas em veículos importantes, como a Tramavirtual e a MTV. Recebemos comentários positivos de muita gente. Viabilizamos
através do selo Midsummer Madness (www.mmrecords.com.br) uma parceria boa para distribuição agora em 2010, com a Tratore (www.tratore.com.br), que disponibilizará o disco para grandes lojas. Mas o principal, que era ter um material de qualidade gravado e acessível, já conseguimos. O CD está aí, disponível, e fundamenta bases para sermos reconhecidos como uma banda séria.



CV: E shows, como está a agenda? Vocês fazem restrições para tocar em algum local ou que o show seja com bandas de outros estilos?
FF:
Nossa agenda está até que tranqüila. Sempre temos shows marcados, mas está longe do atropelo de uma banda com gravadora e agentes correndo atrás. Tocamos com mais frequência em Campinas mesmo. Não temos restrições de lugares ou outras bandas não. Mas nunca rolou nada tão estranho, de sermos chamados para um evento como uma festa de peão ou um batizado, por exemplo. Mas seria bem curioso.

CV: Falando em shows, peço que você comente sobre a apresentação que vocês fizeram na Livraria Cultura em Campinas, durante o Auto Rock. Como foi tocar em uma loja e no formato acústico?
FF:
Foi bacana a experiência. A Livraria Cultura, todos os funcionários com quem tratamos na organização do evento foram muito interessados, atenciosos e profissionais. Considerando que somos uma banda de Campinas, iniciativa cultural local, obtivemos um ótimo apoio para nosso trabalho. Inclusive com a comercialização do disco. Nem todas as lojas de grande porte desse segmento são receptivas ao trabalho de artistas independentes. O show, em si, foi interessante. Tocamos num auditório, com as pessoas sentadas assistindo, como num teatro. Isso foi estranho, pois criava um ambiente que sugeria algo mais intimista, mesmo acústico. Mas não mudamos o formato do show. Fizemos uma apresentação normal mesmo, tudo plugado. Rolou legal. O auditório é um pouco separado do espaço da loja (até para isolar o som), então os clientes da loja não necessariamente sabiam que havia um show rolando. Mas apareceram espectadores "curiosos", surpresos, clientes da loja, que teoricamente nunca iriam num bar cheio de fumaça (agora não mais) para ver uma banda de rock barulhenta. Esse público é interessantíssimo, e acho que difícil de atingir normalmente.

CV: Para vocês, a Internet ajuda ou atrapalha? Pois há muitos artistas que reclamam da net.
FF:
Eu acredito que a Internet ajuda. É uma ferramenta poderosa, considerando que hoje em dia com um investimento financeiro relativamente baixo um artista consegue montar uma carreira e sustentá-la virtualmente. Fazendo bom uso da rede, é possível você distribuir sua música, marcar shows, divulgar novidades e manter coesa sua rede de fãs, expandindo-a o tempo todo. Antigamente, isto é, há 15 anos, estrutura assim dependenderia de uma grande gravadora por trás, injetando bastante dinheiro para estes fins em poucos artistas escolhidos a dedo com objetivos estritamente comerciais. Houve uma democratização do acesso a iniciativas musicais, pois qualquer banda consegue disponibilizar seu trabalho para o mundo, coisa impensável quando tínhamos que gravar fitas k7 demo e enviá-las pelo correio, uma a uma. Vendo dessa maneira, não tem como pensar que a Internet atrapalha. Agora, vendo por outro lado, essa "democratização" também permite a muitas iniciativas de baixa qualidade que consigam uma projeção desproporcional ao seu trabalho. Isto é, a net às vezes coloca lado a lado artistas muito bons e jovens que nem sabem tocar direito, artistas com carreiras longas e de muita qualidade com moleques que gravaram sua primeira demo tosca em casa no fim de semana passado. Qualquer um que entenda um pouco de Internet e programação consegue criar um artista, em meia hora, e lançá-lo na rede. Então, num oceano de infinitos artistas e iniciativas, sobra para o ouvinte, consumidor, em casa, ouvir, procurar e triar o que tem qualidade do que não tem. É muita gente com diferentes intenções disputando atenções. Tem artistas que não gostam dessa perspectiva, dessa "bagunça". Eu gosto de pensar que a net possibilita a qualquer um no mundo o acesso intantâneo à minha música. Tem um outro ponto, em que a Internet pode parecer injusta. A quantidade de artistas disponíveis a um clique faz com que às vezes não demos a devida chance a um artista, isto é, ouvimos 30 segundos de sua música e já pulemos para ouvir outra banda. Antigamente, de posse de um vinil ou um CD, ouvíamos o disco todo, várias vezes, e aí formávamos uma opinião, muito mais fundamentanda. Hoje matamos ou glorificamos um artista por segundos de uma música. Parece injusto, em qualquer sentido. Mas a Internet ainda vai suscitar muitas discussões, prós e contras. Temos que nos adaptar ao que acontece. É a evolução.



CV: Frebs, além da Radiare, você está tocando em um projeto paralelo. Além de você, tem mais algum integrante da banda que tem projeto solo? E como vocês lidam com isso?
FF:
Todos da banda tem outros projetos. Eu tenho a Máquina Voadora (www.maquinavoadora.com.br), na qual toco baixo, o Paulo e o Victor tem a Nüe (http://www.myspace.com/bandnuer) e o Maurício a Del-O-Max
(http://www.del-o-max.com.br). É muito tranquila a relação com os projetos paralelos, pois nenhuma das agendas das bandas é muito sobrecarregada de maneira a dificultar os ensaios ou shows das outras. Se acontecer de algumas das bandas ir demandando mais atenção, a gente vai adaptando as outras. Mas isso subentende coisas boas acontecendo, o que seria ótimo.

CV: Uma pergunta que você pode considerar louca, mas, você acredita que o lance do Brasil sediar a Copa e Olimpiadas, isso, direta ou indiretamente, pode dar uma erguida na cena rock do País, já que as atenções estarão voltadas para cá?
FF:
Acho que indiretamente, nos grandes centros, onde vão rolar os eventos esportivos, pode ser que as programações musicais fiquem mais infladas nesses períodos, aumente um pouco as possibilidades de shows ou exposições. Mas os artistas terão que ficar antenados e buscar as situações, como é a maneira que sempre funcionou. A diferença é que a receptividade de organizadores e patrocinadores de eventos pode ser maior, pois haverá grande quantidade de turistas no País. Quanto a "erguer a cena rock", acho difícil, pois pressupõe que a cena como um todo poderia se dar bem com isso, o que é improvável pois não existe unidade ou uma organização conjunta. A não ser que fervilhem grandes festivais no País durante esses eventos, estimulados e promovidos por situações ligados a esses eventos esportivos, ou aproveitando a atenção que eles trariam ao País. Mas é utópico ainda, até que exista algum movimento ou idéia de produtores nesse sentido.

CV: Como é fazer rock atualmente no Brasil. Quais os objetivos da Radiare e seus planos para o futuro?
FF:
Existem vários tipos de rock e de bandas de rock no País. Eu já passei por diversos cenários, e sei que hoje em dia, dependendo da proposta, do nicho comercial e da postura da banda, do envolvimento dos integrantes e do desprendimento de suas vidas pessoais, é possível uma banda se lançar e tentar manter uma carreira vivendo da banda. Cada vez mais. Já vemos criado um nicho comercial para alguns tipos de banda de rock, principalmente os mais adolescentes. Existe um sem número de bandas de rock de outros tipos, excelentes, que topam existir e se dedicam a ser uma banda apenas pela paixão à música. O circuito alternativo, embora já exista, seja crescente e abrace essas bandas, ainda é instável a ponto de fazê-las auto-suficientes. Muitas das bandas legais que vemos na MTV, Rolling Stone e MySpace são formadas por pessoas apaixonadas, mas que não estão nem perto de conseguir viver da música que fazem. São designers, bancários e garçons. O mercado brasileiro está crescendo e se abrindo muito para diversos estilos e propostas musicais, mas acredito que no rock ainda seja assim para a maioria, embora o conceito de rock, com as misturas de estilos que vemos por aí e que são bem recebidas pelo público independente do rótulo, também esteja cada vez mais confuso. Nossos objetivos são realistas, acredito. Eu ficaria satisfeito se pudéssemos nos manter em atividade, compondo e conseguindo gravar com uma constância regular e com qualidade, e que tivéssemos um meio consolidado para ir soltando nosso trabalho para o meio. A grande ambição, talvez esta não muito realista, seria conseguir viver e manter a banda apenas com nossa banda. Mas, se pudermos gravar mais uns três ou quatro discos e conseguirmos disponibilizá-los eternamente para as pessoas, eu já me sentirei muito satisfeito. Estamos compondo e ensaiando objetivando material para um segundo disco. E a ideia hoje é ir montando um show consistente com material do primeiro disco recém-lançado e músicas novas. Atualmente as apresentações possuem este formato.

CV: E qual a importância dos blogs, zine e rádios pela Internet?
FF:
A importância hoje é imensa, no sentido de triar o material vasto que se têm por aí, do qual falei numa das questões acima, e encontrar o que existe de qualidade, criticá-lo e apresentá-lo contextualizado para o público. Faz muita falta hoje em dia uma opinião e uma sugestão. Muita gente está perdida dentro da quantidade de bobagem a que as pessoas são expostas. Antigamente os zines e rádios tinham acesso à informação privilegiada e a repassavam a um segmento específico, carente daquela informação, para colocá-lo a par das novidades e lançamentos. Hoje em dia qualquer um tem o acesso à infomação. Basta buscá-la na rede. Mas as pessoas não fazem isso, ou fazem mal, e então preferem e agradecem quando existem iniciativas que façam isso por ela, com opinião e qualidade. Os blogs, zines e rádios pela Internet fazem isso. Selecionam o grande e diverso material que existe na rede e no mercado, intrepretam, enriquecem (como no caso dessa entrevista) e o disponibilizam às pessoas com o selo de qualidade da opinião do zine, da rádio ou do blog. Hoje em dia, com a democratização da net, da informação e da novidade, esse papel é valiosíssimo. É um serviço de opinião especializada.

Foto da banda ao vivo por: Alessandra Luvisotto
As outras fotos estão com créditos no "corpo"

sábado, 6 de fevereiro de 2010

The Renegades of Punk: um power trio incendiário

A banda The Renegades of Punk, composta por Daniela (guitarra e voz),João Mario (baixo) e Ivo (bateria), faz um rock daqueles que é difícil de rotular devido a forte pegada e presença de palco do trio, que mostra toda a potência sonora também em disco. Para saber um pouco mais da história deste power trio sergipano, confira abaixo a entrevista exclusiva que Daniela concedeu ao zine/blog Canibal Vegetariano.

Arquivo pessoal

A banda recentemente esteve realizando uma turne pelo interior do Estado de Sâo Paulo

Canibal Vegetariano: Vamos começar com a apresentação da banda.
Daniela:
Então, eu e Ivo estamos junto tocando há muito tempo, desde 2003. Começamos a tocar junto na Triste Fim de Rosilene, depois na Rever e quando essas duas bandas tinham acabado eu meio que intimei ele pra fazer outro som. Ele topou, Mauricio que era amigo da gente topou também e a Renegades começou a existir no inicio de 2007.

CV: O que levou vocês a lançarem um split junto com a banda Mahatma Gangue?
D:
Nós somos amigos, há um bom tempo, de Pedro, Ingrid e Farofa. Meio que as duas bandas nasceram juntas, na mesma época e, além disso, foi identificação mais do que instantânea. Eles vinham para cá nos visitar e conversávamos, tocávamos juntos e planejávamos coisas juntos também. Sempre acompanhamos as coisas de nossas bandas, mesmo à distância. Daí a ideia do split não foi nada além de natural. Eu mesma sempre falo que considero como “bandas irmãs” a Renegades, a Mahatma Gangue [RN] e a Skate Pirata [CE].

CV: Como é o esquema de shows aí no Nordeste? E como as bandas se relacionam, chega a ter um clima de rivalidade? E com bandas de outros estilos?
D:
Os shows menores, punks, são poucos. Não foi sempre assim, mas estamos passando por uma fase terrível agora. A gente vai fazendo tudo na medida do impossível e levando como dá, mas sei lá, vejo que 2010 se inicia com uma nova cara. Parece que a coisa tá se arrumando novamente. Sobre o relacionamento entre as bandas, a gente se relaciona com quem quer se relacionar. Nunca tivemos problemas com isso. A gente quando organiza algo chama a galera punkona, crust, põe para tocar. Em outro show chama o povo do rock'n'roll e assim vai. Mas esse diálogo depende muito de ambas as partes. Tem muita banda que não entende como as coisas funcionam, que vivem com a cabeça nas nuvens, almejando sei lá o que e preferem se restringir no seu “circuito” mesmo. Nada contra. Mas é isso, nós nos relacionamos com quem quer se relacionar com a gente né? É claro que afinidade é muito importante. Mas tudo se resolve, sabe? E no rastro disso que eu disse ficam as intrigas e rivalidades normais da vida humana. Sempre rola. Sempre.

CV: A Renegades tem aparecido bastante no cenário independente. Recentemente vocês estiveram em shows aqui no interior de São Paulo. Como foram esses shows?
D:
Você acha? Nossa, foram bem legais. A gente tocou no sudeste com a Mahatma Gangue lançando nosso split no Rio de Janeiro e São Paulo, capital e algumas cidades do interior como Campinas, Bragança Paulista e Sorocaba. Nós curtimos muito esses shows. Tocamos na Loja Tentáculos em Sorocaba, a loja da Flávia (Biggs) e do Fábio (Pugna). Em Bragança tocamos no festival Cardápio Underground que queríamos muito conhecer! Foi foda, o local, as pessoas, as artes... Esse festival é organizado pelo Quique Brown do Leptospirose que é uma banda que a gente curte e respeita demais. E em Campinas no Bar do Zé, lugar foda. É massa tocar no interior e na capital, a gente sente as diferenças de tratamento e tal. O interior tem um algo a mais que a gente não sabe explicar, demais, um calor humano diferente. Mas, o role como um todo foi massa. Não podia ter sido melhor!

Daigo Oliva

João Mário e Daniela mandando ver ao vivo em uma das muitas apresentações que a Renegades tem realizado pelo País

CV: Como vocês trabalham a divulgação da banda?
D:
A gente faz essas coisas comuns mesmo, basicamente o boca a boca e Internet (através de flogs, orkut, facebook, emails, twitter...). Sem esquecer, claro, das trocas de material com outras bandas, zines, blogs e etc.

CV: Quais as principais influências da Renegades?
D:
Perguntinha difícil essa! Sempre fico pensando horas para responder algo assim porque, mesmo não querendo soar clichê, são muitas bandas, muitos sons... X, Rezillos, Radio Birdman, X-Ray Spex, Circle Jerks, Dead Kennedys, Buzzcocks, Cólera, Hüsker Dü, Bikini Kill, Regulations, Blondie, Devo… muita coisa…

CV: Como as pessoas que veem vocês pela primeira vez encaram uma banda que tem uma mulher nas guitarras e vocais?
D:
Hummm... não sei. Algumas pessoas ficam surpresas com isso mais pelo fato de ser punk rock, ter aquela agressividade, sabe? Tem gente que acha normal, outros que acham coisa de outro mundo, vai entender! Tem gente de topo tipo no mundo. Mas acho que não impressiona tanto isso quanto podia impressionar antigamente.

CV: Como você lida com o assédio, principalmente do público masculino. Ele rola de boa, o interesse é a música, ou ainda existem os chatos que ficam "marcando" em cima?
D:
Hahaha, engraçado isso. Os dois. Mas não rola muito assédio até porque eu não sou o estereotipo de rockeira bonita, estilosa e perfumada. Não faço questão de ser nem uma coisa nem outra, mas acabo sendo natural nos shows, vestida normal como me visto no dia-a-dia, me descabelando, suando litros... nada muito na linha mina-de-banda-da-Malhação. Geralmente a galera que chega junto em show é mais pra tocar ideia, é raro alguém se “engraçar” para meu lado, mas rola também. Acho que alguns também evitam porque inevitavelmente estou com meu namorado do lado, hehe (Ivo que toca bateria na Renegades é meu namorado de longa data).

Rafael Passos

O batera Ivo segura com força e técnica a "pancada" sonora.
A banda tem causado boa impressão por ande passa

CV: Qual a opinião de vocês sobre o atual momento do rock no Brasil? A estrutura de shows melhorou, o pagamento de cachês e o nível das bandas?
D:
Essa é uma discussão que tá na crista da onda, não é? Cena independente, pagar cachê ou não para banda, festivais e grupos chamados de panelinha e etc... Sinceramente, só posso falar do que vivo. E o que eu tenho experenciado tá mais ou menos na mesma. Digo isso quando falo de estrutura, dinheiro, organização. Minha experiência é no nicho punk, num âmbito menor, de shows menores. Num âmbito mais amplo não posso falar nada. Tem uma coisa estranha que vêem rolando – e como disse acima, parece estar mudando – que é isso de as bandas estarem estranhas, poucos, poucos lugares para tocar, poucos eventos legais... mas tem um monte de gente tentando mudar isso.

CV: E os planos do Renegades of Punk para 2010?
D:
Bom, a gente tem ideia de fazer um "clipezinho" e de começar a preparar um álbum, um full só nosso. Além disso tem uns lançamentos para sair: um 5-way – com Os Estudantes [RJ], Homem Elefante[RJ], Ornitorrincos [RS] e Velho de Câncer [RS] – e um re-lançamento do nosso primeiro ep só que em 7’’ pelo selo alemão Thrashbastard.

CV: Vocês acreditam que o esquema de blogs, rádios web, fanzines e e-zines, contribuem para o desenvolvimento do rock?
D:
Sim! Principalmente pelo fato de esse tipo de mídia ser alternativa. Dessa forma várias pessoas podem estar envolvidas com o underground, participando de alguma forma, fazendo o que pode fazer e divulgando o que está acontecendo nesse exato momento para um número indeterminado de pessoas. Essas mídias são importantíssimas.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para você divulgar shows, venda de CDs e agradecimentos e xingos, o espaço é seu.
D:
Valeu você Canibal, pelo espaço. Valeu a tod@s que perderam alguns minutos de sua vida para ler essa entrevista e quem tiver interesse em conhecer mais a Renegades é só ir nesses links:
Myspace: http://www.myspace.com/therenegadesofpunk
Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=45396462
Girls Music Zone: http://www.girlsmusiczone.com.br/banda.php?n_id=72
Last Fm: http://www.lastfm.com.br/music/The+Renegades+of+Punk
Twitter: http://www.twitter.com/renegadespunk
Ou pelo meu e-mail: daniela.rss@hotmail.com. Aqui você pode ouvir, ler e conhecer mais sobre nós. Além de saber dos shows e de como adquirir nossos materiais.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Banda de hardcore espanhola apresenta-se em Santa Catarina

No dia 9 de fevereiro, diretamente da Espanha, chega a banda de Hardcore sXe Cinder. Rodando o mundo desde 2001, os meninos da terra do Barcelona F.C, juntam no seu curriculo meia dúzia de material entre CDs e Splits, além de garantir uma performance caótica no palco.
A festa será no sempre querido Plataforma Rock Bar, localizado em Barreiros, no município de São José/SC com início às 18h. Fazem parte do show as bandas locais Stallones, Two Minutes Hated, U Pai, Echoe e Sin Rejas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sex Enough: em menos de um ano, banda conquista público com trabalho 100% autoral

A banda sorocabana Sex Enough está há menos de um ano na estrada e conquista público em cada local que passa. Fazendo um rock honesto e com influências de música erudita, os integrantes apostam em canções próprias para desbravar o Brasil e o mundo. A seguir você confere uma entrevista exclusiva que o zine/blog Canibal Vegetariano fez com a galera, para descobrir a receita desse sucesso.

Canibal Vegetariano: Para começarmos, apresentem a banda, nomes, instrumentos e etc.
Sex Enough:
Nós somos a banda Sex Enough de Sorocaba/SP. Vocal e baixo - Danny Viana, Vocal e guitarra - Wagner Ferreira, Guitarra - Mauricio Nogueira, e Bateria por Thiago Balera.

CV: Vocês são uma banda com menos de um ano e já tem músicas próprias no repertório. Por que vocês decidiram compor o próprio material?
SE:
Na verdade, só temos material 100% próprio, até então não fizemos nenhum cover.

CV: Quais são as influências da banda e em que vocês se inspiram para escrever as letras?
SE:
Os gostos variam bastante, mas música erudita é o que mais prevalece, devido à formação de parte da banda. Mas cada integrante tem seu gosto particular, que varia em tudo que você possa imaginar. Todas as letras são da baixista. Algumas letras são baseadas em fatos vividos. Mas em outros casos, uma ou duas palavras a inspiram, e depois ela só desenvolve a estória em torno do assunto.


Danny Vianna, vocal e guitarra, por oito anos tocou na orquestra de violões de Sorocaba

CV: Nesses dez meses de banda, quantos shows vocês realizaram e como foi a recepção do público, principalmente em relação as músicas próprias?
SE:
Fizemos alguns shows em Sorocaba, Campinas e Itapetininga. Mas foram situações curiosas, em que a necessidade era mesmo de shows de bandas autorais. Nós achamos que hoje o leque musical está bem mais aberto, mais receptivo à novas bandas. O público já não busca mais ouvir somente cover de bandas iniciantes. As pessoas sempre procuram por novidades. Tivemos ótima aceitação por onde passamos e assim que o CD estiver 100% concluído, retornaremos aos shows.

CV: Como é a cena de Sorocaba e quais são os espaços disponíveis para bandas indie?
SE:
Está cada vez melhor, aos poucos as pessoas estão dando mais valor para bandas autorais. Mas há poucos lugares para tocar na cidade ainda.


Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por três anos

CV: Qual é a formação musical de cada integrante? Todos são músicos eruditos? Em caso positivo, porque montar uma banda de rock?
SE:
Danny Viana fez Conservatório de Tatuí, já tocou na "Orquestra de Violões de Sorocaba" durante 8 anos e na "Orquestra Sinfônica de Sorocaba" como musicista contratada.
Wag Ferreira - Formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos. Também foi integrante da Orquestra de Violões de Sorocaba por 9 anos. Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por 3 anos. Tem vários trabalhos lançados em MPB. Thiago Balera - multi-instrumentista, também cantor e compositor.
O fato de montar uma banda de rock surgiu naturalmente. Começamos como algo simples que foram tomando proporções cada vez maiores. O rock tem influência da música erudita em muitos pontos

CV: E vocês vivem de música ou tem outros trabalhos paralelo a banda?
SE:
Danny Viana e Wag Ferreira são professores de música. Maurício Nogueira é proprietário do estúdio Aquarela Records. Thiago Balera tem trabalhos paralelos onde é vocalista e guitarrista e também trabalha como modelo.


O batera da banda, Thiago Balera é multi-instrumentista, além de ser cantor e compositor

CV: A banda Wry, que também é de Sorocaba, passou 7 anos na Inglaterra. Vocês tem a pretensão de tocar e morar fora do Brasil?
SE:
No mês de dezembro recebemos convites para alguns shows em Nova York, Brooklin, Manhatan e Long Beach na Califórnia. Estamos fechando datas, e provavelmente faremos o lançamento do CD por lá.

CV: A previsão para vocês gravarem o primeiro EP é este mês? Quando começam? E se já começou, como está ficando,e o quais as pretensões da banda para 2010?
SE:
Estamos com o EP finalizado, mas gostamos tanto do resultado que decidimos fazer o CD. No mês de fevereiro finalizaremos as gravações por completo. Está ficando mais detalhado, estamos gravando com calma, diferente das versões ao vivo do myspace que foram gravados depois de dois ensaios. Os arranjos estão mais elaborados, a banda está bem entrosada. Esperamos atender as expectativas. Este ano também teremos um clip da musica Sunny Days, feito em Stop Motion.


Wag Ferreira é formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos

CV: Como vocês veem o jeito que a música é divulgada e comercializada atualmente? Vocês pensam que as ferramentas atuais ajudam ou acabam atrapalhando?
SE:
A Internet é um meio de comunicação muito forte, é claro que há o grande problema da pirataria, do enfraquecimento das gravadoras. Mas não conseguiríamos ter nosso trabalho divulgado em 48 países (como mostra dados em nosso Myspace), apenas com gravações demos, sem a Internet.

CV: Agradeço vocês pela entrevista e deixo o espaço para vocês xingarem, divulgar shows e etc.
SE:
Nós que agradecemos a oportunidade. Estamos fechando com alguns selos a distribuição do CD, em breve teremos grandes novidades.

Crédito das fotos: Divulgação

sábado, 16 de janeiro de 2010

Paebiru – Psicodelia à moda nordestina


Paebiru é um dos discos mais raros da música brasileira e está avaliado em cerca de R$ 4 mil

O texto que segue a seguir é uma resenha escrita por um grande camarada, Carlos Ferrari, que é fanático por música, e guitarrista, dizem as más linguas que é dos bons. Nesta resenha ele fala um pouco da história de um dos discos mais raros da música nacional, esperamos que gostem. Boa leitura!

Os discos brasileiros de música psicodélica/progressiva/instrumental/experimental dos anos 70 tornaram-se “moda” entre colecionadores e audiófilos mundo afora. Os discos originais são disputados por milhares de dólares em leilões na Internet e títulos são relançados em vinil e cd em países como Inglaterra, Alemanha, Portugal, Bélgica e até na Polônia e esgotam-se rapidamente. No mundo inteiro nessa época fazia-se um som na mesma linha, no auge do rock progressivo. O que se explica então o fato dessa procura e interesse muito maior pelo som feito aqui?
A resposta talvez esteja naquilo que sempre diferenciou nossa música. A quantidade absurda de ritmos, instrumentos e diferentes linguagens musicais, que incorporadas às sonoridades que vinham de fora, resultaram talvez na mais rica fase de música experimental brasileira, desde o sul até o norte do país.
O símbolo maior dessa fase talvez seja o disco Paebiru de Lula Côrtes e Zé Ramalho, tanto pela diversidade de sonoridades e experimentações quanto pela mística criada em torno de suas histórias.

O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui

Gravado em 1975, o disco foi planejado e gravado em 4 canais por Lula Cortês, que já vinha de um disco anterior, Satwa e pelo estreante Zé Ramalho. A obra é considerada por muitos críticos uma “Tropicália Nordestina” porque contou com a participação de nomes como Alceu Valença, Robertinho do Recife e Geraldo Azevedo. O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui. Cada lado é dividido em elementos da natureza: água, fogo, terra e ar e com sonoridades que procuravam direcionar a esses elementos, utilizando instrumentos das mais diferentes origens.
Não bastasse a qualidade musical incontestável, a tiragem do disco original foi reduzida a 300 cópias, devido a uma enchente que inundou os estoques da lendária gravadora Rozenblit de Recife. Um exemplar é avaliado hoje por volta de R$ 4 mil. Há relançamentos alemães e ingleses em cd e vinil que se esgotam rapidamente.
Paebiru é daqueles discos que devem ser ouvidos muitas vezes pra um entendimento maior e ainda sim sempre haverá algo a descobrir. É um trabalho fundamental para se entender a fusão da música brasileira, especialmente nordestina com o rock progressivo e todos os rumos do rock nacional desde então.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E mais um ano chega ao fim!

O ano de 2009 sai de cena e deixa saudades em algumas partes, pois foi um ano, principalmente em Itatiba, onde aconteceu vários shows de rock e festivais e algumas festas em alguns bares e pub's que enfim, começam a contar com bandas de rock independente entre as atrações, deixando de lado um pouco as bandas que se dedicam somente aos cover's.

Arquivo Pessoal
Banda Mão de Vaca durante apresentação no 1º Festival Pró Rock realizado em maio

Entre os destaques fica os dois festivais organizados pela galera da Pró Rock, festas no Celso's Pub, Self Fest e o 2º Grito Urbano, estes dois últimos totalmente voltados para as bandas independentes. Na região de Itatiba, destaques para os festivais Auto Rock em Campinas e Cardápio Underground em Bragança Paulista. Um pouco mais afastado, mas tão importante quanto os festivais da região são as noites de rock que rolam quase todo sábado no Stúdio Phabiño, no Guarujá (abração especial para toda galera de lá) e o festival Insanidade Coletiva, capitaneado pelo nosso camarada Ayuso, em São Paulo.

Arquivo Pessoal
Banda Saint Ripper detonando em alguma tarde de agosto no festival realizado no Celso's Pub

Além das saudades dos momentos importantes, ficamos na expectativa de que neste novo ano que começa, a parada aconteça ainda com mais força, apoio de público e patrocinadores e que role com mais frequência, pois nosso povo e parte de nossa juventude anda carente de bons eventos de rock. Este ano também foi muito bom em relação a shows internacionais, várias bandas consagradas tocaram em terras tupiniquins, bandas como Faith no More, AC/DC, Sonic Youth, The Killers entre outras. E 2010 já começa com Metallica, dias 30 e 31 de janeiro em São Paulo, prometendo um novo ano de muito rock'n'roll.

Arquivo Pessoal
Galera reunida para eternizar o 1º Self Fest realizado em novembro

DINHEIRO

Mas nem tudo foi uma maravilha, pois como tudo na vida tem dois lados, precisamos lembrar de algumas merdas que aconteceram durante o ano. Uma das cenas mais vexatórias é a cena do governador de Brasília e seus "amiguinhos" escondendo dinheiro em meias e cuecas, mostrando que a politicagem e a picaretagem no Brasil continua como sempre. Quantos foram punidos até o momento?

Google
E os caras tem coragem de dizer que são inocentes. Brasil, País da impunidade

Algo que encheu muito o saco também foi a tal da crise financeira, que não foi nada daquilo que os "especialistas" previam no início de 2009. A gripe suína, que depois foi chamada de nova gripe, também torrou a paciência e como sempre a grande mídia fez um enorme alarde para algo que não foi nem um terço do que eles falavam. E a morte do Michael Jackson? Quase ninguém mais comentava sobre o cara, mas aí ele morreu e de uma hora para outra virou um cara que era meigo, doce, um amor de pessoa e "deus" do pop. Que saco!

NOVA RÁDIO WEB

E o ano encerra-se com um tom de melancolia, pois um dos canais mais legais para a divulgação do rock independente e de informação sem censura, deixou de operar nos primeiros minutos de 29 de dezembro. Após pouco mais de dois anos, a Nova Rádio Web, por decisão de seu diretor Fabio de Oliveira, Boss, deixou de transmitir sua programação. Os motivos que levaram o encerramento das atividades deve-se a falta de incentivo de empresários e comerciantes que ainda não abriram os olhos e não veem que a Internet e as rádios web, não são o futuro, são o presente.
Com isso, o público que acompanhava a programação perde um espaço muito importante para obter informação e cultura e artistas perdem um espaço para divulgação de seus trabalhos. Mas, o Boss não desanima e diz que a parada é somente para tomar um fôlego e retornar com tudo em 2011 ou ainda no fim deste novo ano. Que assim seja!
Voltando as expectativas para este 2010, nós do blog/zine Canibal Vegetariano continuaremos por aqui, entrevistando bandas, resenhando uns discos, falando sobre os shows das bandas independentes, além de algumas novidades que só o tempo dirá se vingarão ou não. O zine também deve ter uma edição impresa logo neste início de janeiro, no mais tardar no início da segunda quinzena.
O programa A HORA DO CANIBAL continuará tocando o bom e velho rock'n'roll dando prioridade para as novas bandas. Ao menos dois programas por mês serão disponibilizados em formato de podcast no site do programa www.ahoradocanibal.podomatic.com. Portanto, se você tem banda e precisa divulgá-la, é só entrar em contato conosco através do e-mail: nkrock@hotmail.com. Com a Nova Rádio Web desativada, quem acessar o site www.novaradioweb.com.br irá encontrar o conteúdo deste blog.

Arquivo Pessoal
Em agosto a banda Monaural esteve presente nos estúdios da Nova Rádio Web e fez o lançamento da música "Me drogar até morrer"

Então pessoal é isso. 2009 vai, vem 2010, e nada mudará enquanto você ficar sentando apenas reclamando que o mundo e as coisas ao seu redor estão sempre do mesmo jeito. Quer um ano diferente? Reclame menos e faça mais! Rock é atitude e não discurso panfletário. Um bom ano a todos.


Promoção Natal de Saco Cheio, resenha da vencedora

Como prometido nesse blog, estamos divulgando a resenha vencedora da promoção de Natal da Nova Rádio Web em parceria com o blog/zine Canibal Vegetariano. Quem levou o saco cheio de CD’s, DVD’s, camisetas e livro foi a ouvinte Mariana Sesti, de 14 anos. Segue abaixo o texto vencedor.

"Não tenho o que falar, o festival estava demais, assisti a apresentação de todas as bandas e curti demais. Eu adorei, todas tocaram super bem e os integrantes são super legais e simpáticos, garanti o CD de várias delas, não de todas, infelizmente. Indiquei amigos para também entrarem no caminho do rock’n’roll e aproveitarem as melhores bandas independentes.

A banda que eu mais gostei foi a Lunettes. É uma banda super legal e super feminina, só um homem, que engraçado. Já a Mão de Vaca era a mais louca e também tocaram super bem. A Banda Racha Cuca é muito porra louca, já a Drákula não tem nem o que falar, é muito maneira, além do som, eles usuram máscaras. A The Beber’s Operários fez um show empolgante e super legal. A Monaural também tocava super bem e a Sprint 77 fez um som muito massa e teve participação da galera que estava no local.

O evento começou as 14h e foi terminar às 22h30, mais ou menos, eu participei do começo ao fim e amei, podem garantir meu ingresso de qualquer evento dessas bandas, pois gostei muuito e vou sempre que tiver. Bom, enfim quero dizer que amei o evento, as bandas estão de parabéns e espero ganhar o saco cheio, pois acho que mereço. Boas festas".

Mariana Sesti

Mariana Sesti provando que esteve presente no 2º Grito Urbano. Ao fundo, apresentação da banda Mão de Vaca

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Nas trincheiras da cultura, Moacyr Scliar fala sobre sua vida e obras

Para encerrarmos muito bem 2009, nós do blog/zine Canibal Vegetariano, entrevistamos um dos escritores mais famosos e reconhecidos do Brasil. Autor de livros como o "Exército de Um Homem Só", Mês de Cães Danados", "Max e os Felinos" e "Centauro no Jardim", o escritor, médico e professor Moacyr Scliar, falou sobre seus vários trabalhos e contou um pouco sobre seu ponto de vista político.

Canibal Vegetariano: Faça uma apresentação de sua pessoa para nosso leitores.
Moacyr Scliar: Sou porto-alegrense, filho de imigrantes pobres, médico, escritor e uma pessoa extremamente simples.

CV: Com quantos anos o senhor escreveu sua primeira obra? E desde qual idade o senhor é escritor e o motivo que o levou a escrever?
MS:
Escrevo desde a infância, estimulado por uma mãe professora que era grande leitora. Minhas primeiras histórias eram narrativas de criança, mas quando entrei na Faculdade de Medicina surgiu uma nova temática na qual se baseou "Histórias de médico em formação", meu primeiro livro de 1962.

Arquivo Pessoal
Moacyr Scliar já conquistou vários prêmios de literatura e tem várias de suas obras publicadas em vários países

CV: Como é a vida de escritor no Brasil, um País em que as pessoas não tem o hábito da leitura? E de onde vem a inspiração para suas estórias?
MS: É certo que no Brasil ainda se lê pouco, mas tenho muitos leitores, sobretudo entre o público juvenil. E baseio minha ficção numa variedade de fontes: episódios históricos, notícias de jornal, pessoas que conheci, a Bíblia...

CV: Além de escritor, o senhor é médico e professor universitário. Qual a opinião do senhor, sobre a educação e saúde no Brasil? E o nível cultural das pessoas, o senhor acredita que atualmente é muito diferente de quando começou a publicar seus livros? Melhorou ou piorou?
MS: O Brasil tem muitas deficiências, tanto na área da saúde como na da educação, mas melhorou muito. Os dados mostram que os brasileiros vivem mais, se alimentam mais, lêem mais.

CV: Qual sua opinião sobre o governo Lula? E o que o senhor pensa desses presidentes, como Chaves e Evo Moralez e outros da América do Sul, que defendem a censura, a orgãos de imprensa, entre outras arbitrariedades?
MS:
No presidente Lula admiro sua empatia para com a população, mas acho que às vezes fala de forma precipitada. E como alguém que viveu sob a ditadura, não posso concordar com atitudes anti-liberdade de imprensa, como as de Chavez.


A obra "Mês de Cães Danados", como em muitos textos do escritor, mistura realidade e ficção


CV: Com a cena política atual da América do Sul, o senhor acredita que nós possamos viver novamente um período de autoritarismo como a Europa viveu entre as décadas de 20 e 40 do século passado, com tiranos como Hitler e Mussolini?
MS: Não, não acredito. Acho que aprendemos nossa lição.

CV: Mudando de assunto, o senhor é membro da Academia Brasileira de Letras há quase 10 anos, tem vários livros publicados no Brasil, em vários estilos, tem obras publicadas em mais de 12 linguas diferentes. O senhor acredita que seu trabalho tem o devido reconhecimento em nosso País? E como suas obras foram recebidas pelo público do exterior?
MS: Sou daqueles escritores que não têm do que se queixar: fui, sim, reconhecido em meu País e no exterior. E é muito gratificante viajar para um País como os Estados Unidos e discutir com leitores, sobretudo jovens, literatura brasileira, o que é um aprendizado para eles.

CV: Alguns de seus livros são citados em algumas músicas, principalmente dos Engenheiros do Hawaii, casos como "O Exército de Um Homem Só", que inclusive é o título da canção e tem a música "Descendo a Serra", em que Humberto Gessinger cita "Mês de Cães Danados". Como o senhor se sentiu quando ficou sabendo e ouviu essas citações? E o senhor acredita que música e literatura podem "caminhar" juntas?
MS: Não tenho dúvidas de que literatura e música podem se associar, e no Brasil isto é muito comum. Para mim é motivo de orgulho; acho que um bom compositor é tão importante quanto um bom escritor.


O título do livro é citado pela banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, em uma de suas canções e dá nome a ela. A música é uma das mais populares da banda


CV: Exército de Um Homem Só é um de seus livros que foi escrito há quase 40 anos e continua atual até hoje. Como o senhor explica esse fenômeno? E ele é um de seus preferidos, pois o senhor cita-o bastante na obra "Enigmas da Culpa".
MS: Sim, "O Exército" é muito lido, e acho que é por causa do tema: ele fala da revolta contra a injustiça, do desejo de mudar o mundo, coisas que para minha geração eram tremendamente importantes. O nosso sonho desmoronou, mas acho que os ideais atrás dele permanecem válidos.

CV: Falamos sobre música e literatura. Além dos Engenheiros, há várias bandas que gravam discos e músicas baseados em obras literárias, além de músicos que escrevem livros e se manifestam através de outros tipos de arte, um exemplo é o Arnaldo Antunes. Com tudo isso, na sua opinião, qual seria o motivo para termos poucos leitores e novos escritores com obras interessantes?
MS:
O Brasil tem um longo passado de analfabetismo, do qual apenas agora estamos saindo. Mas o número de leitores vem crescendo, e entre os jovens escritores há gente com muito talento.

CV: Uma de suas obras, Sonhos Tropicais, foi adaptada para o cinema. Como o senhor vê essas adaptações que são muito comuns no exterior, aqui ainda não, e qual sua opinião sobre o filme. Para o senhor que escreveu, o filme é fiel a suas ideias?
MS: Gostei muito dessa adaptação, como gostei da peça baseada em "A mulher que escreveu a Bíblia", mas nem sempre a transposição para a tela ou para o palco dá certo. De qualquer modo, parto do princípio que o escritor não deve interferir na adaptação.

CV: Além de sua vasta obra, ser membro da academia, o senhor ganhou vários prêmios de literatura. Qual a importância desses troféus para um escritor?
MS: Prêmios são importantes: representam reconhecimento (especialmente no caso do importante Jabuti) e às vezes uma grana não desprezível... Mas o melhor juri é aquele que cada escritor tem dentro de si.

Arquivo Pessoal
Mesmo após várias obras publicadas e ser reconhecido no Brasil e no exterior, Moacyr afirma ser uma pessoa simples

CV: Fora os livros, o senhor escreve para vários jornais. Desde que a Internet se popularizou, várias pessoas acreditam que os exemplares impressos de livros e jornais serão extintos. O senhor acredita que isso possa acontecer. Várias editoras já começaram a comercilizar os "e-books". O que o senhor pensa a esse respeito?
MS: A mídia eletrônica veio para ficar, mas o livro ainda tem uma longa sobrevivência. A mim não importa como serei lido; o que importa é que meus textos sejam, literariarmente, os melhores possíveis.

CV: Se possível, cite os seus cinco autores favoritos e as cinco melhores obras que o senhor já leu. E quais são suas principais influências?
MS: Influências: Érico Veríssimo, Franz Kafka, Guimarães Rosa. Cinco grandes obras: Dom Quixote, de Cervantes, A metamorfose de Franz Kafka, O alienista, de Machado de Assis, A hora da estrela, de Clarice Lispector, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Arregaçando as mangas e botando o pé na estrada. Conheça a banda Keps

Influenciados por várias vertentes do Rock'n'Roll, a banda Keps, do município de Guarulhos, está há alguns anos na estrada, "batalhando" seu espaço entre as principais bandas de rock independente nacional. Para você conhecer mais sobre a banda, nós do zine/blog Canibal Vegetariano, batemos um papo com o guitarrista e vocalista Joey. Confira a entrevista abaixo.

Canibal Vegetariano: Faça um resumo da história da banda.
Joey Keps: Nós surgimos de uma reunião de amigos que tocavam em bandas de som próprio e covers. Numa noite típica de bebedeira da banda eu dei a ideia de fazer um som e deu certo. Ficamos satisfeitos e tornamos isso profissional. Tocando para os amigos e agora para um grupo de pessoas que já curti o nosso som.

CV: Quais as principais influências?
JK: Muita coisa diferente, mas tem desde os Beatles, passando por tudo que imaginar dos anos 60 aos anos 10 do novo século, a gente gosta de música e não tem limites pra ouvir nada... a música é um bem universal e deveria ser apreciado com mais gosto e deixar as diferenças de lado é sempre o melhor começo pra poder apreciá-la.

Capa do single "Jim Wilson", o primeiro lançamento dos caras da banda Keps

CV: O estilo que vocês se propuseram a seguir é o mesmo desde o início?
JK: Estilo é dificil de se dizer: é um punk grunge´roll, um rock sem vergonha, um garagem rock safado. Posso dizer que nosso som é um pouco diferente, mas porque gostamos de mudar as coisas, descobrir sempre algo diferente mas que seja o rock sincero de sempre.

CV: Quais as principais dificuldades que vocês enfrentaram e enfrentam até hoje?
JK: Tocar ainda é uma dificuldade, mas muitas portas tem sido abertas para a Keps e convites de pequenos shows. Divulgar graças a Internet é bem mais fácil e barato, mas o maior barato sempre é de mostrar o som para o público certo. Mas claro, senão fosse difícil nao teria tanta graça. O prazer de consquistar essa dificuldade é que torna a coisa mais legal. Agora para quem quer seguir e tem duvidas, não entre nesse caminho, senão pode acabar frustrado.

CV: Como é o espaço para as bandas de Guarulhos apresentarem o seu trabalho? Como é o público na cidade de vocês?
JK: Uma bosta! Aqui você tem que ter um grande nome ou ficar pagando 200 reais para tocar em festivais de bosta. A falta de espaço para a diversidade de música que tem aqui é o que torna a cidade horrível nesse ponto. Tem ótimos lugares para banda TOP, mas nada para o underground, nem há um pico de rock fixo. Mas mudaremos isso! Porque público de rock tem, uma pena que a classe roqueira daqui é financeiramente incapaz de frequentar qualquer casa de rock, mas é bem fiel e as bandas lutam para mostrar seu som através da net mesmo.

Os caras da banda tem o ideal de mudar a cara da "cena" de Guarulhos

CV: Qual o momento mais bacana que vocês tiveram com a banda e qual a maior "furada"? JK: Ah, só 10 meses juntos, aconteceu muita coisa legal, até hoje fizemos tudo que planejamos, abrimos shows pra uma banda foda: ZEFIRINA BOMBA, fomos tocar numa cidade litorânea (Guaruja), fomos convidados para pequenos e ótimos shows, que até que a apresentação não foi tão agradável e as pessoas curtiram e elogiaram principalmente as bandas que tocaram com a gente. Maior furada ainda não teve, mas se ano que vem for igual ao que nós estamos planejando agora, a Keps continuará mostrando seu som para um público maior e mais diferenciado.

CV: Vocês tinham algumas canções gravadas e recentemente vocês regravaram elas. Qual o motivo para regravação? JK: Queriamos lançar um EP, algo pequeno para poder divulgar mas com ótima qualidade de som, daí entramos em estúdio, gravamos o single Jim Wilson e lançamos. Na sequência lançamos o EP "Tem gente", as pessoas queriam o som bem gravado e nós demos isso ao público. É engraçado encontrar pessoas que já foram em um show seu e te elogiar.

CV: Quais os planos da banda para 2010? JK: São segredos...rsrs... Posso dizer que vamos continuar batalhando e tocando, viajar mais e divulgar nosso "roquim rou!" Continuaremos a planejar e gravar o nosso primeiro album e com calma fazer a coisa dar certo.

O vocalista e guitarrista Joey se preparando para fazer "barulho" com sua guitarra

CV: Em festivais de rock, alguns organizadores costumam misturar bandas de vários estilos. O que você pensa sobre isso? Você acredita que está mistura é valida? JK: Concordo, é válida, mas precisa saber fazer isso. Para história da música isso é bom. É bom em festivais grandes, no Brasil infelizmente, as pessoas são muito preconceituosas contra outros estilos, ao contrário da Europa, por isso lá grandes festivais não acabam. E aqui infelizmente, somem cada vez mais. Daí você precisa procuram no interior, nas cidades longe das grandes capitais para achar bons festivais de rock.

CV: Deixo o espaço para divulgação de venda de material, data de shows, contato. Resumindo, o espaço é seu.
JK: Por enquanto a banda fez seu último show esse ano, e só volta a ativa, no ano que vem. Refrescar a cabeça um pouco. Para quem quiser é só procurar myspace da Keps
www.myspace.com/kepsrock
Baixem as músicas e esperem as novas datas de shows já confirmados para o fim de janeiro. Queria agradecer a você Canibal, ao pessoal da Nova Rádio Web que tem nos apoiado e nossos ´pequenos fans', que graças a Deus tem nos divulgado no myspace e outras bandas
que tem nos ajudados nessa jornada foda de shows e contatos. Agradecer a banda Zefirina Bomba, ao Gabriel Thomaz e outras bandas de amigos que curtimos muito. Rock'n'Roll!!

Todas as fotos são de arquivo pessoal, cedidas por Joey