segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Rock com tesão e paixão


Quem teve o privilégio de ver ao menos uma apresentação dos uruguaios da Motosierra sabe que o rock feito por este quarteto é movido por paixão e tesão. O show dos caras é incendiário e seu vocalista Marcos é um showman e um frontman que agita até caveiras enterradas em alguns becos por aí. Para saber mais sobre o quarteto, falamos com o vocalista que falou um pouco da história da banda, dos planos para o futuro, além da cena independente no Brasil e Uruguai

Canibal Vegetariano: Como, quando e onde foi formada a banda Motosierra? Quais eram as influências de vocês quando começaram? E atualmente?
Marcos: Motosierra nasceu no final de 1999, no último show da banda Chicos Eléctricos, que foi uma das melhores bandas underground dos anos 90. A banda se formou no banheiro do clube, logo após o fim do show, quando o baixista dos Electricos, Gabriel Barbieri, junto com o baterista Walo Crespo, decidiram montar a banda. A escolha do guitarrista recaiu em Luis Machado. Depois de 2 meses sem vocalista, no mês de novembro eu fiz um teste, indicado pelo Walo, e fiquei na vaga. A ideia da banda foi fazer um som mais rápido, agressivo e cru do que as nossas bandas anteriores (eu já tocava com o Walo numa banda chamada Luisa Lane, e o Luis em La Sudaka). Nós continuamos a ensaiar durante todo o verão e fizemos a estreia em março abrindo para Buenos Muchachos. Em maio a banda gravou uma demo de 4 músicas e continuou a tocar em Montevideo e Buenos Aires. Em dezembro de 2000, de um jeito totalmente acidental e casual, nós entramos em um tributo a Turbonegro, junto com bandas como Queens of the Stone Age, Supersuckers, Dwarves, Zeke, enfim... Tudo aquilo que é bom e do que a gente gostava no momento. Daí surgiu o convite para editar o nosso primeiro disco, “XXX”, pelo selo argentino No Fun Records. O que veio depois foi uma história de vários anos de continuar gravando e editando no exterior, e tocando em Uruguai, Argentina e no Brasil, com algumas mudanças na integração e idas e vindas, incluindo a saida do baixista original, a minha estadia de 4 anos no Brasil com a minha esposa brasileira, a ida do guitarrista Luis Machado pra Espanha e, atualmente, o meu retorno ao Uruguai para tentar reativar a banda e gravar mais um disco.
As influências do Motosierra são variadas. Posso te falar que tudo aquilo que influi na banda é a vida dos integrantes da mesma em relação ao seu entorno, assim como referências culturais variadas de cinema e literatura. As influências estritamente musicais são muitas, mas as temos como base são Stooges, Turbonegro, Zeke, Dwarves, Motorhead, Black Sabbath, Rolling Stones, Sex Pistols, The Damned, AC/DC... Enfim, tudo aquilo do que é bom no punk, hardcore, metal, hard rock e rock and roll no geral.

" O negócio sempre foi a mesma coisa, fazer um disco bacana entre amigos para ter uma amostra em conjunto das duas bandas e curtir a amizade"
Canibal Vegetariano

CV: Qual é a formação atual da banda? Vocês já tiveram outras formações?
M: Como já falei, a banda teve algumas mudanças. Atualmente os originais da banda são o baterista Walo Crespo e eu. No baixo está o Leo Bianco, já faz 5 anos. E na guitarra, desde 2008, Leroy Machado, irmão do guitarrista original Luis Machado.

CV: Quantos discos vocês gravaram? Todos foram produzidos no Uruguai?
M: Temos 3 discos e um monte de gravação editada contando splits, discos de covers, tributos, etc. Foram todos gravados e produzidos no Uruguai, fora o nosso segundo disco “Rules!!!” e um disco de covers quase ao vivo, “Bathroom days”, que foram gravados em Buenos Aires. O paradoxo é que só o nosso último disco, “Life in hell”, foi editado no Uruguai. Do resto, foi todo editado em Argentina, Brasil, Alemanha, Finlândia, Espanha, Holanda, Japão e mais.

CV: Como era a cena uruguaia quando vocês começaram e como é atualmente?
M: A cena tava muito difícil naqueles tempos, e acho que isso não vai mudar. Mais agora pelo menos tem mais informação e acesso do que há 11 anos por causa da internet. Isso é bom. Também tem mudado muito as regras do mercado discográfico e fora a banda nunca ter se enfiado no mercado e tentado sempre continuar um caminho fora de tudo isso, não tem como não te afetar. O formato de disco está morto, agora todo single é produzido para o Youtube e tal. Mas não tem como negar a influência que a banda tem deixado no país, fizemos uma escola e um caminho de como se faz um trabalho underground sem comprometer teu som e os teus ideais. Acho que isso é positivo e tem banda que continua o nosso exemplo, para o bem ou para o mal.

CV: Quais as melhores bandas uruguaias de todos os tempos?
M: Nos anos 60, Los Mockers. Nos anos 90, Chicos Electricos e Cross.

CV: A Motosierra faz um som rápido e agressivo. O que vocês ouvem quando estão em casa?
M: Muitísima coisa. Rockabilly, rock de garagem, psicodelia, killer rock, glam, punk, hardcore, hard rock, metal... Enfim, um pouco de tudo. Para você ter uma ideia, o baixista Leo é colecionador de vinil e faz reedições junto ao selo Munster Records da Espanha de bandas perdidas de garagem e psicodelia latinoamericanas dos anos 60. É um negócio muito, mais muito amplo.

CV: Além do Uruguai, quais outros países que vocês mais se apresentam?
M: Só na Argentina e no Brasil.

CV: Qual o disco de vocês que a banda mais curte?
M: Acho que o primeiro, “XXX”. Até agora é um chute na bunda, rápido, agressivo, vivo, sincero e honesto. E muito, muito raivoso. É um reflexo perfeito da banda, do nosso entorno e de nós mesmos naquela época.

CV: É possível fazer uma comparação da cena atual do Uruguai com o que vocês encontram no Brasil?
M: Não tem como comparar. O Brasil é um país gigante, com muitíssimas cenas divididas entre vários estados, regiões e cidades, cada uma com as suas características próprias. E tem poderio econômico e uma indústria musical muito forte. Tudo isso muda a ideia pela qual qualquer moleque tenta montar uma banda. Além disso, o apoio estatal na cultura no Brasil é muito forte, assim como o movimento alternativo. Já no Uruguai você está sozinho, o mercado é mínimo, as posibilidades também e o público é, em sua maioria, conservador. Se você tenta fazer alguma coisa como o que a gente faz, você sabe que vai se ferrar. A única saída é orientar a banda para fora do país. Ou então, fazer o jogo do gosto popular e montar uma banda mais convencional. E isso nunca foi o nosso caso.

Canibal Vegetariano

CV: Na América do Sul, qual o país mais estruturado para shows de bandas independentes?
M: Do que eu conheço, o Brasil sem nenhuma dúvida. O apoio estatal da Petrobrás, a ABRAFIN, o circuito Fora do Eixo, tudo isso eu não vi nem no Uruguai nem na Argentina.

CV: Vocês gravaram um split cd com a banda brasileira Forgotten Boys. Como rolou gravar com uma banda diferentes de vocês?
M: Nós gravamos splits com várias bandas e o Forgotten Boys não foi nem a primeira nem a primeira do Brasil. A primeira foi o Evil Idols, de Curitiba. Também fizemos um com o Culpables do Uruguai. E o negócio sempre foi a mesma coisa, fazer um disco bacana entre amigos para ter uma amostra em conjunto das duas bandas e curtir a amizade. E sempre fizemos em troca um cover de cada banda. Isso ajuda e dar um gás para manter os laços de união com as bandas que achamos legais.

CV: A banda existe há mais de dez anos. Quais os planos para o futuro?
M: Gravar mais um disco no Uruguai, ainda neste ano e tocar em Montevidéo e Buenos Aires. E, no final do ano, voltar no Brasil de turnê. Depois, vamos decidir o que vai rolar.

CV: De onde vem a inspiração para as letras da banda? 
M: As letras são de minha responsabilidade. Tento botar nelas o sentimento que a música me produz e como isso se relaciona com minha vida, com minha situação em particular, tento ser honesto. Tento extrair a letra da música, como um catalizador de sentimentos que me ajudam a levar a bola para frente. Nunca faço uma música e depois a letra é o caminho contrário. Também, boto nelas, e por pura diversão, piadas internas, referências culturais de quadrinhos, cinema e literatura, particularmente da coisa mas trash, do que eu gosto muito. E nunca fiz uma canção de amor.

"XXX é um chute na bunda, rápido, agressivo, vivo, sincero e honesto. E muito, muito raivoso. É um reflexo perfeito da banda, do nosso entorno e de nós mesmos naquela época"

CV: Agradeço pela entrevista, deixo espaço para as considerações finais e para propaganda da banda. Muchas gracias.
M: Obrigado a voçês pelo espaço!! Demorou, mais está aí!! Eu tenho uma relação íntima com o Brasil. Cinco turnes pelo país, 2 festivais, 4 anos morando (2 em São Paulo e 2 em Uberlândia), uma esposa linda e uma segunda familia lá. Tenho uma divída imensa com todos vocês e eu sei que isso não acaba por aqui. Agora estou voltando e faz um mês e meio que estou no Uruguai, para tentar gravar mais um disco com a banda, que é uma parte importante da minha vida. Mais assim que puder, voltaremos para o Brasil e encontrar de novo todos os amigos e afetos que a gente tem colhido nesses anos de rock and roll. Então, é só aguardar notícias dos seus irmãos malucos do Uruguai!! Salve, salve e keep on rockin!!

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