quarta-feira, 21 de abril de 2010

Canibal Vegetariano na TV e mídia impressa

Nas últimas semanas, o zine/blog Canibal Vegetariano foi destaque de dois importantes canais de informação da cidade de Itatiba. Primeiro foi a reportagem da ITV Brasil que mostrou parte de nosso trabalho, que também foi tema de uma coluna publicada no jornal Bom Dia Itatiba. Abaixo é possível você assistir e ler a matéria sobre o zine.


sábado, 17 de abril de 2010

Uma opinião sobre dois CDs e um livro


Split CD The Renegades of Punk e Mahatma Gangue

Escrever sobre este split fica difícil, pois o lance é muito louco, e para você entender, é extremamente importante ouvir este disco que reúne as bandas The Renegades of Punk, do Sergipe e Mahatma Gangue, do Rio Grande do Norte. São apenas seis faixas, três de cada banda, mas são petardos maravilhosos de rock, punk, chame do que quiser, o importante é que quando termina de ouvir, você, com certeza, ouvirá muito mais do que uma vez. Além da sonoridade, a qualidade das gravações das músicas estão excelentes e o trabalho gráfico é muito bom, dando uma ideia da filosofia das bandas. Este split mostra que o rock vai muito bem e que as bandas tem um futuro promissor. (IG)



Hell Sakura - Fubuki Sakura EP

Essa banda eu conheci em uma noite do Bar do Zé, em Campinas. Após conferir o show do Hell Sakura, imediatamente fui até a mesa onde estava disponível o material da banda e não resistindo ao poder do som que meus ouvidos acabara de ouvir, comprei duas "bolachinhas" do grupo, sendo que este EP era o mais recente. São seis faixas, mas são seis que não deixam o ouvinte parado, muito menos se ele tiver uma "cabeleira". O disco tem uma pegada rock muito foda, passeando entre influências punk's e Motorhead, isso mesmo, a maior parte das faixas lembra o grupo liderado por Lemmy Kilmister. Se você ainda não ouviu Hell Sakura, não perca mais tempo e "corra" para a Internet para saber como adquirir este disco e os outros que também são sensacionais. (IG)


Livro
Zappa - Detritos Cósmicos - Fábio Massari ed. Conrad

Um dos jornalistas musiciais mais respeitados no Brasil, Fábio Masssari, o respeito é tanto que ele é conhecido como reverendo, e fanático pela obra do mestre Frank Zappa, escreveu um livro que só poderia render um excelente relato sobre o excêntrico guitarrista, que teve a contribuição de outros jornalistas e músicos, entre eles Kid Vinil, em que o tema abordado é Zappa.
Além dos comentários de cada artista sobre o ídolo, o livro ainda trás diversos textos escritos pelo reverendo, publicado em revistas e jornais e duas entrevistas com Zappa, uma delas gravada por Massari na residência do guitarrista. Para quem ainda não conhece a obra zappiana, o livro é uma bela introdução, pois há relatos apaixonados de como uma grande parte dos roqueiros se tornou fã de carteirinha deste iconoclasta musical. (IG)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Por que estas bandas não estão nas grandes mídias?


Oito Mãos (Vejo Cores nas Coisas)

Este é o primeiro álbum da banda campineira Oito Mãos, lançado há quase um mês o CD começa a chegar aos fãs e pessoas que gostam de ouvir boa música. Lançado de maneira totalmente independente, a bolachinha chama atenção para o profissionalismo e qualidade, tanto sonora quanto estética.
Pela estética, o disco chama atenção por sua bela capa, que retrata bem a ideia do título do álbum (Vejo Cores nas Coisas). Além da capa, o encarte traz informações de toda a parte técnica, fotos e as letras para que o ouvinte possa acompanhar as músicas cantando junto com a banda. Ou seja, o CD dos campineiros é tão profissional que supera a qualidade de muito álbum que é lançado pelas grandes gravadoras.
Mas, o mais importante é a música e nesse ponto a banda também caprichou. O CD conta com 13 faixas que passam de 60 minutos de música. A faixa de abertura é a instrumental "ninguém". Depois dela, jorram canções de rock, com uma boa pegada do bom e velho pop. E os caras acertam em cheio nesta mistura, pois o disco tem alma, boas letras e melodias que fazem o ouvinte parar e prestar atenção ao que está ouvindo.
Mesmo ele sendo um bom disco, ele não conquista o ouvinte de cara, pois ao mesmo tempo que ele mostra as influências dos músicos, ao menos para mim, lembra em muitas passagens algumas bandas da década de 60 do século XX, em outras, eles mostram trechos que estão além do tempo em que estamos vivendo. Mas o disco é um grande conquistador, pois cada vez que você ouvi-lo, ficará ainda mais curioso para ouvir novamente pois, a cada passagem, o ouvinte descobre um lance diferente na melodia, no estilo do vocal, nas ideias das letras. Se você gosta de rock, se você gosta de ouvir boa música, corra e adquira o CD, pois atualmente, nem sempre é possível ouvir pérolas como esta. (IG)


Monaural (Som e Fúria ao vivo)

Outro CD muito massa que foi lançado há pouco tempo é o registro ao vivo dos paulistanos da banda Monaural. A banda que está junto desde 2003, e anteriormente havia soltado um ótimo disco de estúdio (Expurgo), mostra agora aos seus fãs, toda a fúria da banda no palco. Em sete canções, a banda faz jus ao seu logo, "rock sujo e visceral".
A bolachinha foi gravada ao vivo em outubro de 2009 e lançada por um selo francês. No disco, o ouvinte consegue ter uma ideia do que a banda é capaz ao vivo, pois para sacar o que é a banda no palco, só estando presente a algum show deles. Mas voltando ao registro, que por sinal está muito bem gravado, os caras começam mandando um improviso de alguns segundos e na sequência mandam a música "Mundinho de Merda", a partir dela, são sete petardos de rock, com destaque para a música inédita "Me Drogar Até Morrer", que para mim, é uma das melhores composições da banda.
Se você ainda não conhece a banda, este disco pode ser uma boa pedida para te iniciar no som da Monaural. Os caras, que ouvem de tudo que é estilo de rock, na hora de compor, são influenciados diretamente pelo som produzido no início da década de 90, do século passado. Mas vale lembrar, ter influência é uma coisa, ser uma mera cópia é outra. No caso da Monaural, são apenas influências, pois a banda, após anos de batalha no cenário independente, está a cada dia mostrando sua personalidade e seu estilo muito pessoal de fazer e viver a música. (IG)


Espasmos do Braço Mecânico (Volume 1)

Esta banda de São Bernardo do Campo conheci há apenas alguns dias e desde então tenho ouvido o disco dos caras sem parar, fazendo ao menos uma audição por dia.
Primeiro ouvi a banda ao vivo e só depois fui conferir este registro de sete canções da banda. Ao vivo, a Espasmos faz um som que une peso e melodias e faz com que você tenha vontade de começar a pular feito louco em frente ao palco, acompanhando a energia dos caras que mandam ver em seus instrumentos sem dó nem piedade.
Já o registro gravado, mesmo sendo em estúdio, mostra muito bem o potencial da banda e o peso de seu som. Com bons riffs de guitarra e músicas que não te deixam parar os caras conseguem fazer um rock como há muito tempo não ouvia por aí. Gosto de todas as faixas, mas sempre tem aquela chama mais atenção, e no caso do Espamos, foi a música "Quantos tijolos sua cabeça aguenta?". Um lance legal dos caras é a que a cada momento os vocais são dividos entre o guitarrista Rafael Ramos e o baixista Fukuda, fazendo com que as músicas soem com uma identidade única. Um outro destaque da banda é o batera Rodrigo Previato, que soca seus tambores e pratos com técnica e peso.
Se ficou curioso para ouvir, corra para adquirir este registro dos caras, pois bons discos de rock e boas bandas, não aparecem a todo momento. (IG)

domingo, 4 de abril de 2010

500 dias com ela


Por Vinicius França

Rock, mundo pop, amor, comédia, drama, pessoas de carne e osso. Se você se identifica com todas essas coisas não pode perder 500 dias com ela, um ótimo filme que infelizmente passou em poucos cinemas do Brasil.
A história gira em torno do romance de Summer e Tom, um casal fissurado por rock e cheio de complicações. “Mais uma comédia romântica?”, pode pensar o leitor. Sim, é uma comédia romântica, mas que não repete os imensos clichês do gênero. E isso fica claro, por exemplo, no fato do filme não ser linear, ou seja, ele vai e volta no tempo, percorrendo os 500 dias citados no título. Enfim, quer assistir um bom filme e de tabela ouvir uma ótima trilha sonora? 500 dias com ela é a pedida perfeita!

terça-feira, 23 de março de 2010

Infeçcão Raivosa: peso e fúria sem levantar bandeiras

Esses quatro paulistanos estão juntos desde 2003 tocando um som "pesado" e expondo suas ideias através de letras que refletem a realizadade de milhões de brasileiros, insatisfeitos com a situação geral do país, entre outros problemas. Em sete anos, eles lançaram um EP e pretendem em 2010, lançar o primeiro álbum. Se você ainda não conhece a Infecção Raivosa, confira abaixo a entrevista que o baterista André Barone concedeu com exclusividade ao zine/blog Canibal Vegetariano.

Canibal Vegetariano: Qual o significado de Infecção Raivosa?
André Barone:
No começo a banda se chamava Infectantes. Começamos a fazer um som mais agressivo e pesado, e achamos que o nome não combinava com nossa proposta. O nome é resultado de tudo o que vemos no nosso dia-a-dia. Injustiça, desigualdade social, preconceito, e isso vai nos infectando, deixando com raiva, e através dessa infecção raivosa, passamos nossa mensagem através da música.

CV: Quais são as influências da banda? E o que vocês pensam sobre rótulos? Pois eu vi um show de vocês e deu para notar que vocês transitam muito bem por várias vertentes do rock, principalmente pela parte mais pesada.
AB:
Cara, as influências são muitas. Hardcore, Metal, Thrash. Bandas como Slayer, Biohazard, Agnostic Front, Pantera, Sepultura, Metallica, dentre muitas outras, são bandas que todos nós gostamos, depois cada um tem um gosto pessoal. O Rafael e Everton curtem muito Rap, o Claudinei e eu curtimos mais metal. Rotulação acontece, mas desde que não haja preconceito e separatismo, tudo bem. Coisas do tipo: “Aquela banda toca hardcore e eu sou headbanger, então não curto!” Isso sim é uma rotulação medíocre.


Juntos desde 2003, a banda pretende lançar ainda este ano seu primeiro álbum

CV: Em que as mudanças de formação influenciou no estilo da banda?
AB:
O Rafael e Everton gostam muito de rap e acabaram trazendo, algo disso. Isso é bom, quanto mais influências musicais, mais rica fica música.

CV: Devido a uma mistura de ritmos, nos shows de vocês acaba ocorrendo também uma mistura de pessoas de "tribos" diferentes. Rola algum tipo de violência ou acontece tudo de boa?
AB:
Sempre aconteceu de boa, mesmo porque, nós mesmos da banda não levantamos bandeira de nenhum movimento e nem nos rotulamos.

CV: Nestes sete anos de banda, vocês lançaram um EP intitulado "Tributo a uma sociedade perdida". Quais os planos para este ano e quando teremos um álbum da banda?
AB:
Este ano estamos priorizando composições, pois queremos gravar um Álbum.

CV: Em relação a espaço para shows, como está São Paulo? E o interior do Estado? Onde vocês costumam se apresentar com frequência?
AB:
Em São Paulo tem bastante lugar, porém, não tem estrutura.
Ainda tem pessoas que querem cobrar da própria banda para ela tocar. Claro, que se for banda já conhecida, com certa notoriedade, acaba tocando em lugares mais legais, com mais estrutura. Sobre o interior, tocamos em algumas cidades, e sempre foi bem legal. Acho que no interior, tem menos lugar e os eventos acontecem com menor frequência, porém quando acontece, a galera se une mais e faz uma parada bem estruturada.


Os caras acreditam que ao invés de só reclamar, a juventude, e o povo em geral, deve agir mais

CV: Nas letras de vocês, há muitas críticas à sociedade, igreja e política. Estamos em um ano de eleições. Vocês acreditam que algo pode mudar no Brasil? Qual é o ponto de vista político da banda? E quais os conselhos que vocês dão aos mais jovens sobre este assunto?
AB:
Tenho que ter fé e fazer minha parte, e assim acredito que um dia vá mudar meu velho, mesmo sabendo que vai demorar bastante. Cada um fazendo sua parte, fazendo mais e criticando menos. Nós da banda não discutimos política. Falamos apenas das coisas que estamos vendo. Fazemos crítica tanto às pessoas do governo, tanto à cidadãos comuns, acomodados e que não fazem nada de bom para colaborar. Para os jovens, deixo um conselho: falem menos e fação mais. Só falar mal do governo, falar mal do outro, não vai adiantar.

CV: Vocês estão sendo patrocinados por uma empresa. Como funciona este esquema e como os fãs veem esta ajuda à banda?
AB:
Banda independente sofre pra caralho (risos). Os caras da weird, ouviram o som e curtiram. Eles nos apóiam com o esquema de roupa, que aliás são muito foda (www.weird.com.br). Isso dá mais ânimo. Você vê seu trabalho sendo valorizado, pois há pessoas que realmente curtem. Cara, como os fãs veem?? Não sei nem se nós temos fãs (risos), mas se tem, nem imagino, acho que eles ficam mais fãs (risos).


Foto da capa do primeiro EP lançado pela banda

CV: Agradeço pela entrevista, espero que vocês voltem em breve para Itatiba e deixo o espaço para suas considerações finais.
AB:
Muito obrigado ao zine Canibal Vegetariano pela oportunidade e pela força. O show de Itatiba foi muito foda. Com certeza queremos voltar.
E muito obrigado aqueles que vem nos acompanhando e dando força. VALORIZEM A CENA UNDERGROUND E DIGA NÃO À PANELA!
Para entrar em contato:

infeccaoraivosa@gmail.com

http://www.myspace.com/infeccaoraivosa

http://www.youtube.com/user/infeccao

http://twitter.com/infeccaoraivosa

Abraço a todos.

Infecção em Itatiba

Como algumas pessoas devem saber, o editor deste zine também toca em uma banda de rock, Mão de Vaca, e em novembro de 2009, nós fomos convidados para tocar no 1º Self Fest, que foi realizado em um moto clube em Itatiba. Além de nós, Itatiba foi representada pelo punk do Olho de Cadáver e o hardcore do Gatilho. As outras três atrações eram de cidades próximos, uma banda era de Jundiaí, outra de Itupeva e o festival seria encerrado pelos paulistanos da Infecção Raivosa.
Eu ainda não os conhecia, mas pelo que ouvi do pessoal que estava trazendo o show dos caras para a cidade, eles tocavam um hardcore de peso e fúria. Os shows foram rolando, até que chega a vez da Infecçao. Logo nos primeiros acordes notei que os rapazes tinham razão, a banda era muito boa mesmo. Passando por várias influências do rock, os caras mandam muito bem, fazendo um som impossível de ficar botando rótulo.
Além das ótimas músicas, os temas das letras são muito boas também, nada de discursos vazios e sim, pontos de vista de pessoas indignadas com os rumos do país e da humanidade em geral. E a cada nova música que eles mandavam, a galera, ensandecida, cantava em coro, junto com o pessoal da banda, chegando em alguns instantes, a tomar conta sozinha da música. Ao final da apresentação, todos estavam satisfeitos, público, banda e todo o resto. Sem dúvida que o show destes caras, está entre os melhores que vi em 2009, e eu vi show para caralho neste ano.

domingo, 14 de março de 2010

Na matéria rock'n'roll estes Estudantes são dez!

Eles se consideram anti-profissionais, mas ano passado fizeram dois grandes shows, um em Campinas, no Festival Auto Rock e outro em Bragança Paulista, no Festival Cardápio Underground. Em dez anos de carreira lançaram um split CD, com uma banda de Curitiba, e lançaram em vinil o 1º álbum. A seguir, você confere a entrevista que a banda carioca Estudantes, concedeu ao blog/zine Canibal Vegetariano.


Os cariocas da Estudantes estão há dez anos tocando seu punk/hardcore pelo Brasil



Canibal Vegetariano: Para começar peço que façam uma apresentação da banda, integrantes, instrumentos e influências.
Vitão:
Eu faço os vocais. Escuto basicamente som parecido com o que a gente faz, punk e hardcore velho. Consigo escutar algo de outros estilos também, pode ser jazz, blues, rap, pop, funk, surfmusic, metal... desde que seja boa música, tô ouvindo...
Manfrini: Eu toco guitarra, e adoro punk/harcore do início dos anos 80!
Diogo: Bateria, meio o que o Vitão citou, predominando sub-gêneros do punk até aproximadamente 2003, de lá pra cá não ouvi muita coisa nova, exceto os discos novos de bandas antigas e discos antigos que eu não conhecia. Ao criar as baterias dos Estudantes, sofri acidentalmente uma certa influência do Iron Maiden, mas com os tempos descaralhados e com bem menos peças no kit.
Dony: Eu toco baixo, com distorção. Estou na banda a pouco mais de 1 ano, eu era fãnzinho dos estudantes hehe, até a hora que me ligaram perguntando se eu estaria afim de entrar pra banda, me amarrei na idéia e topei!  Gosto de ouvir as coisas quase que de sempre, Black Flag , Flipper, Bad Brains, Kennedys, Cramps, The Sonics, The Seeds, Link Wray, Ventures, Sabbath, Mc5,  Stooges, Melvins e sei lá, mais um monte de coisas.

CV: Como é tocar rock pauleira, hardcore, em uma cidade como o Rio de Janeiro? Como é a cena rock local? Há vários espaços para shows?
Dony:
É como comer gengibre com banana e mijar no ralo.
Manfrini: É aquela coisa, a gente sempre reclama, mas também se diverte...se não, não estaríamos nessa há tanto tempo.
Vitão: Um pouco complicado. Tem alguns lugares legais como a Audio Rebel, Planet Music... às vezes rola em algumas boates do “rock” também.
Diogo: Nossos shows aqui ficaram meio falidos depois que boa parte dos nossos amigos desistiram de ir. Os que rolam no subúrbio são sempre bons! Um fato curioso: aqui rola um sol bizarro durante dias seguidos, mas quando tem show dos Estudantes, quase sempre chove!


Estudantes "detonando" em sua apresentação no Festival Cardápio Underground em Bragança Paulista

CV: Duas apresentações de vocês no interior de São Paulo, em 2009, chamaram muito a atenção da galera rock, devido a energia e fúria que vocês demonstram no palco. De onde vem toda a raiva e ao mesmo tempo tesão pela música?
Dony:
Bem, shows fora de casa, é sempre outra coisa, até porque aqui no Rio é uma merda, 97,9 % dos shows que fazemos por ano aqui, é no mesmo lugar, aí fode, dá no saco tá ligado?! Aí é natural, quando vamos tocar em outro estado, bate aquela adrenalina, aí a coisa fica quente.
E de onde tiramos tanta raiva? Pode ter certeza que é do calor infernal que faz aqui no "Hell de Janeiro", já passou um dia de verão aqui no Rio? “Cumpadi”, é sinistro, 42 graus na mente, e sensação térmica de 60 graus, parece que nossas mentes estão derretendo. Ainda mais eu, que sou o único suburbano da banda, onde não tem mar nem porra nenhuma. Mar aqui, só se for de sangue, bagulho doido!
Vitão: Eu moro em Botafogo, colado no cemitério, pelo menos bate uma brisa dos defuntos. Bom, como a gente não é banda profissional, tem show que é bom e tem show que é uma merda. Tem show que a platéia se amarra mas a gente acha um lixo e vice-versa. Quanto ao ódio, é isso, a gente é roqueiro e mora no Rio, isso já basta como explicação. Mas respeito com a nossa cidade, só nós podemos falar mal dela (risos)...
Diogo: O Manfrini pode falar melhor sobre a raiva, tem até música nova sobre isso. No meu caso vem de ter que trabalhar muito pra pagar as contas, viver em um país zoado, de usar o transporte público e de não querer ter um carro para não acabar preso no trânsito sem lugar pra estacionar. Podiam anunciar de fato a data certa do fim do mundo para poder largar tudo e seguir tocando rock até o juízo final, como disse o Manfra em uma noite alcoólica. O tesão vem de berço, é algo que se descobre e, em alguns casos, se perde. Felizmente, no meu caso ele aumenta. A vida de adulto costuma fazer as pessoas buscarem sentimentos bons que fluíam enquanto você era mais jovem, a vida era uma festa e você entregava sua alma em tudo que fazia. Tocar é bom pra caralho e você se lembra disso cada vez que faz. Ponto.
Manfrini: Acho que procuramos dar o máximo de nós nos shows, se não for assim, não faz sentido… E dar aqui, não é algo artificial, representado… música é uma forma de arte, de expressão humana, e no palco é a hora de soltar todo essa energia, todos os sentimentos, bons e ruins. A raiva, no sentido de gana, vontade, paixão, é o que nos faz, seres humanos, seguirmos vivos.

CV: Vocês estão juntos desde o ano 2000. Em 2001 vocês lançaram um split CD com a Evil Idols, e depois houve uma espera longa para o lançamento do primeiro album de vocês. Qual o motivo, vamos dizer assim, da demora?
Vitão:
Somos lerdos e anti profissionais. E tivemos vários baixistas mais anti profissionais que a gente.
Manfrini: Bom, acho que não houve um motivo, mas sim motivos…
Primeiro, trocamos de baixista um monte de vezes. Depois, todos nós estudávamos, ou trabalhávamos, e preferíamos gastar nosso tempo livre fazendo outras coisas… sei lá, tomando cerveja por exemplo (risos). Levamos a banda como um hobby eventual….Fazíamos 5 shows e 3 músicas por ano... Até que chegou uma hora em que estávamos com um monte de músicas prontas sem registro, e com uma formação estável, o que deixava o som bem redondo… Estava muito legal pra não ter registro…
Diogo: Eu estou sempre enrolado com projetos e já perdi muito tempo com noitadas, mulheres e bebida, aquela confusão. Risos.
Vitão: Hobby nada! Isso pra mim é sério (risos)!!!


O guitarrista Manfrini em mais uma apresentação da Estudantes: "Acho que procuramos dar o máximo de nós nos shows, se não for assim, não faz sentido…"


CV: Este álbum foi lançado em vinil. De quem foi a ideia e quantos foram lançados? As vendas atingiram a expectativa da banda?
Vitão:
Foram 100 prensados. Eu e Manfrini decidimos lançar em vinil, mas o dinheiro tava curto, só deu para fazer 100. Acabou rapidinho. Até superaram as expectativas. Depois a Laja lançou em CD, mas CD ninguém quer saber...
Manfrini: Como o Vitão falou, a ideia de lançar em vinil foi minha e dele. Muita gente falou que estávamos viajando, que deveríamos lançar em CD e tal. Mas nós batemos o pé, gastamos uma grana do nosso bolso e fizemos a bolacha. Agora, nosso bolso era pequeno, e, infelizmente só deu pra fazer 100 cópias. Que saíram bem rápido… Mas o lance legal, não foram as vendas em si, mas a capacidade do disco em divulgar nosso som. Para uma banda que não lançava nada há 7 anos, sendo que a única coisa lançada tinha sido aquele split capenga (da nossa parte) com a Evil Idols, a receptividade foi muito boa. Fiquei feliz, porque as pessoas que curtem o som que eu gosto de ouvir e fazer gostaram do disco.
Diogo: Toda hora me pedem uma cópia, mas estou guardando uma extra para vender no e-bay se alguém da banda bater as botas antes de mim.

CV: Como vocês veem o mercado musical atualmente. O CD ninguém liga, atualmente encontra-se tudo na Internet e grátis. Agora, com o vinil, que até há algum tempo era considerado obsoleto, existe uma grande procura.
Manfrini: Na verdade, o que importa, é uma forma de divulgar o som que nós fazemos, é fazer com que as pessoas que gostam da nossa música possam ouví-la. Particularmente, eu gosto muito de comprar vinil, acho, hoje, a forma mais legal de se ouvir música. Não é uma coisa descartável como o CD, ou mp3, rola todo um ritual de colocar o disco na vitrola, a capa é grande..entende?
Mas a Internet e o mp3 possuem um viés interessante também, pela facilidade de acesso a uma gama de bandas legais desconhecidas de todo o mundo...
Vitão: Atualmente eu compro só vinil. No máximo disco de banda nacional que só saiu em CD. O único problema que eu acho de pessoal baixar e só ouvir no computador é que geralmente elas ouvem em caixinhas vagabundas que deixam o som um lixo... Você gasta uma fortuna no estúdio pra deixar o som decente pra nada...
Diogo: O nosso som é meio feio e combina com o formato vinil, se o seu equipamento é antigo, como o meu, os ruídos completam o caos. O CD ganha disparado do mp3, com um bom equipamento e caixas potentes, mas não dura e não tem apelo visual. Não faço a mínima idéia de como anda o mercado real para quem vive disso, mas fico feliz de pessoas como Mozine (Laja) e Boka (Pecúlio) estarem na ativa, são tipo heróis.

CV: O que melhorou e o que piorou na cena independente nacional desde que vocês começaram a banda?
Dony:
O que melhorou é que a cena está cada vez pior, e isso é ótimo, daqui a dez anos não existirá mais nenhuma banda boa, será o fim!
Vitão: Hummm... o acesso pela Internet facilitou muito o trabalho de divulgação do som e principalmente em fazer contatos no exterior. O pior são as bandas de visual ridículo e som idem.
Manfrini: Os fotógrafos! De resto continua ruim como sempre foi. Talvez um pouco diferente, mas ainda ruim... Até porque, se fosse boa não teria graça. Não ia dar para reclamar de tudo, e ficar imaginando como na gringa seria bem melhor isto, ou aquilo... (risos)
Diogo: O novo “hardcore sertanejo” não é legal, definitivamente. A Internet é bacana e a maior presença feminina no público de rock foi a maior conquista das últimas duas décadas.


"Somos lerdos e anti-profissionais. E tivemos vários baixistas mais anti-profissionais que a gente" Vitão

CV: Quais os planos dos Estudantes para 2010?
Vitão:
Bom, já estamos gravando sons novos. Daqui a pouco estaremos com dois lançamentos inéditos. Cinco músicas num split CD e outras cinco em vinil que vai sair pelo selo americano “todo destruído”.
Dony: De repente um filme pornô dos Estudantes, nós 4 em um super clima transado. E quem sabe, contratar um sanfoneiro para dar um tiquinho de brasilidade para o som da banda.
Manfrini: Ano passado, falei que nos planos de 2009 estava, entre outros, uma tour na Europa. Bom, não rolou…Então, sem planos ousados para 2010 (risos)... Estamos esperando nosso novo 7" vir dos EUA, o split de cinco bandas que vai sair aqui no Brasil mesmo. E pretendemos tocar o máximo possível por ai...
Diogo: Eu espero arranjar algum tempo para editar algum material videográfico da banda.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para divulgação de venda de material, ou que vocês considerarem mais importante.
Dony:
É nóis! Uhu!
Vitão: Para entrar em contato, escutar som, foto, etc... checa o nosso myspace. Abraço!
Diogo: Nos convide para tocar em sua cidade, nós gostamos de conhecer novos lugares. Só estamos meio velhos pra dormir no sofá de neguinho, esquema patrão, por favor! Abraços!
Manfrini: Sintam raiva, faz bem à saúde! Ah, e não sejam passivos, desconfiem de tudo que tentarem lhe enfiar goela abaixo!

Todas as fotos foram cedidas pela banda

segunda-feira, 1 de março de 2010

Oito Mãos, quatro caras e um disco com identidade

Os campineiros da banda Oito Mãos estão lançando seu primeiro álbum, intitulado "Vejo Cores nas Coisas", e aproveitando esta oportunidade, nós do zine/blog Canibal Vegetariano, conversamos com o baixista Felipe Bier, que comentou sobre o período de gravação e os próximos passos da banda. Abaixo, vocês conferem a entrevista na íntegra.

Canibal Vegetariano: Vocês estão juntos há cinco anos e após o lançamento do EP "Inverno Inusitado" e alguns singles, lançam o primeiro álbum. Podemos dizer que o disco saiu na hora certa, ou ele demorou um pouco?
Felipe Bier:
O disco saiu na hora certa, pois somente agora amadurecemos o bastante para que um disco como “Vejo Cores nas Coisas” fosse realizável. Digo isto pois sempre fomos uma banda muito criativa, mas que precisou trabalhar muito para entrar nos trilhos, se conhecer etc. O “Inverno Inusitado” tem músicas excelentes, mas reflete a nossa imaturidade em muitos aspectos, sobretudo técnicos. Além disso, durante esses cinco anos de banda, soubemos fazer com que as músicas soassem como Oito Mãos, e nãos mais como Los Hermanos, Oasis, Coldplay, Beatles etc.


Capa do CD da banda. Os caras curtiram tanto que acreditam que ela ficaria ainda melhor em vinil


CV: Como foi o processo de gravação? E como o disco será comercializado?
FB:
O processo de gravação foi, ao mesmo tempo, uma delícia e muito penoso. Passamos o ano inteiro de 2009 gravando as 13 faixas. Gravamos tudo no estúdio que montamos no quintal do André Leonardo, guitarra e voz da banda. Foi uma experiência muito legal, não só porque estávamos gravando em um ambiente que nos era familiar, mas também porque tínhamos todo o tempo do mundo para errar, experimentar, errar de novo, voltar e por aí vai. Testamos tudo que pudemos e a prova disso é a primeira faixa do álbum – “Ninguém” – que é uma puta viagem nascida das nossas experimentações. Algo realmente gratificante sobre essa produção toda do CD é que mantivemos o controle sobre todas as etapas de sua construção: o que lhe dá um ar meio ‘artesanal’ e sobretudo autoral. Ou seja, para o bem ou para o mal, o que está ali é a Oito Mãos. O disco será comercializado da maneira como são os discos de bandas independentes no sentido estrito da palavra: venderemos para as pessoas que se interessarem, venderemos em shows, pensamos em colocar em algumas lojas aqui de Campinas, bancas de jornal etc. Desse jeito pretendemos fazer o Cd chegar aos fãs. Mas não criamos nenhuma expectativa em relação a ganhar uma grana, vender todas as cópias e tal. Tanto é que já começamos a divulgação e providenciamos na Internet todas as faixas mesmo antes do Cd chegar às nossas mãos. O mais importante para nós é que o som se espalhe.

CV: Mesmo vivendo em um mundo conturbado, vocês lançaram um disco com o nome "Vejo Cores nas Coisas" e uma capa colorida. Algumas pessoas podem entender que se trata de uma banda otimista em relação ao futuro. O que vocês pensam sobre isso? E como surgiu a ideia do título e o conceito da capa?
FB:
Não saberia dizer se somos uma banda otimista em relação ao futuro, até porque estamos falando de quatro pessoas que têm visões divergentes acerca de muitas coisas. Mas acho que temos o seguinte sentimento na banda: nesse mundo conturbado, excessivamente desencantado, a música (e falando aqui da boa música) é uma das poucas coisas que guarda certa dose de mistério, de ousadia. Posso dizer que grande parte da visão que temos sobre as coisas, sobre a política, sobre a vida deve muito à música, à nossa sensibilidade musical. Por isso, para nós, não se trata de apenas fazer uma música meramente agradável: como a garota da capa, tentamos fazer música sempre esboçando aquele olhar para fora da cerca. Respondendo mais diretamente a pergunta: somos ao mesmo tempo uma banda otimista e pessimista. Não acreditamos que a nossa música vai mudar o mundo – tampouco mudará o mundo da música, muito provavelmente –, mas acho que acreditamos no poder crítico que a arte pode exercer, no teor de verdade que ela carrega.
A idéia do título surgiu em meio a muitas discussões que tínhamos na época. Numa dessas, o Leandro Publio (guitarra e voz) contou-nos de uma viagem dele. Para ele, todas as músicas tinham uma cor. Quando ele ouvia uma canção, ele dizia “essa é azul” ou “essa é vermelha”... é como se as cores, como frequências que são, fossem como os sons que compõem as músicas. Gostamos da ideia, ainda mais porque não nos soava nada blasé, o que definitivamente não é nossa característica. Sobre a ideia para a foto da capa, ela surgiu no centro de discussões ainda mais acaloradas. O André teve a ideia de alguém olhando através de uma cerca colorida. Eu comprei a ideia e fiz um teste quando estava de férias: comprei um monte de tinta guache, passei numa marcenaria e montei uma cerquinha colorida. Todo mundo gostou da ideia, ela ficou.

Sílvia Montico

A banda particiou de dois festivais e ganharam uma grana que foi fundamental para a gravação do CD


CV: Algumas bandas de Campinas lançam CD's com apoio do poder público, através de uma lei municipal de incentivo a cultura. O álbum de vocês também conta com esse incentivo?
FB:
Pode-se dizer que ele conta com um incentivo indireto. Foi com o dinheiro que ganhamos no festival “Cena Musical Independente”, realizado pelo governo do Estado de São Paulo, em dezembro de 2008, que conseguimos a grana de que precisávamos para montar nosso home studio. Em setembro de 2009, ficamos em quarto lugar no segundo Unifest Rock, festival de alcance nacional promovido pela prefeitura de Campinas. Com isso, conseguimos o dinheiro para prensar as cópias do CD.

CV: Vocês prentedem lançar o disco em vinil?
FB:
Vontade nós tínhamos, mas infelizmente estamos quebrados no momento. Quem sabe, não é? Sempre dizemos que a arte do CD ficou muito bonita e merecia ser apreciada em vinil. Certamente é um desejo da banda, mas no momento o CD tem prioridade.

CV: Vocês tocaram nos espaços mais importantes da música independente em Campinas e participaram de dois festivais, um deles em São Sebastião, onde vocês ganharam uma grana, por estar entre os melhores classificados. O que vocês pensam desses festivais e como está a agenda de shows?
FB:
Esses festivais foram muito importantes, não só pela grana. Aprendemos muito, conhecemos outras bandas, vimos o que as pessoas estão fazendo no Estado, no Brasil. Isso é muito importante para sabermos localizar o nosso som em meio a tanta coisa sendo produzida. Além disso, sempre é uma experiência boa tocar num palco maior, já que estamos acostumados ao clima dos “inferninhos”. E, é claro, é ótimo saber que não estamos loucos ao pensar que nosso som é de boa qualidade: quando há a chancela de um festival de grande porte, temos a comprovação de que nossa intuição não está nos enganando.
A agenda de shows ainda está meio vazia: como passamos esse último ano muito concentrados no Cd, tocamos pouco. Pretendemos voltar a nos apresentarmos em breve, com lançamento do CD e tudo mais.

CV: Há planos para uma turnê no exterior?
FB:
Planos não há. Mas se rolasse um convite e condições materiais para que isso acontecesse, seria uma experiência inesquecível! Vamos ver... vamos mandando nosso som para todo lugar. Quem sabe algum maluco da Romênia não nos chama pra um festival de lá?

Felipe Pompeo


Uma definição importante da banda: "Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir"


CV: A cena do rock independente cresce a cada ano. O que vocês pretendem fazer para se destacar entre as demais bandas? Vocês acreditam que ainda é possível músicos de banda, principalmente de rock independente, viver de música?
R:
Essa é uma questão delicada. Se por um lado, o rock independente cresce a cada ano, ele é absorvido de maneira muito seletiva pelo grande público. Acho que estamos passando por um momento de redefinição das fronteiras e limites do campo musical. A Internet ajuda em muitos aspectos, atrapalha em outros. É possível viver de música, mas somente contando com a grana que se ganha em shows. É impossível contar com a renda de venda de CD's. A nossa estratégia é exatamente não ter uma: fazemos as músicas, simplesmente. Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir. Não temos muita preocupação com nossa aparência, com a maneira como nos vestimos etc. Não pensamos em cantar em inglês para atingir a um público maior, nada disso. Tentamos pensar que estamos agregando valor à própria música em si, apesar de sabermos que só isso não é suficiente para trazer notoriedade a qualquer banda que seja. A era dos grandes estouros de mercado acabou, isso é certo.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais.
FB:
Nós é que agradecemos muito. Estamos ralando bastante para que o “Vejo Cores nas Coisas” chame a atenção das pessoas, e espaços como o Canibal Vegetariano só podem nos ajudar! Esperamos que ouçam o CD e que o apreciem e se divirtam como nós nos divertimos ao produzi-lo. Deixo aqui os lugares na internet onde podem nos encontrar: www.oitomaos.com ; www.myspace.com/oitomaos ; www.twitter.com/oitomaos ; www.oinovosom.com.br/oitomaos . Em todos esses espaços é possível ter acesso às nossas novas músicas, bem como ao link para baixar o disco “Vejo Cores nas Coisas” inteiro. Estamos também no Orkut, se quiserem nos procurar por lá!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Radiare: irradiação de melodias em forma de rock

Uma banda de Campinas, com nome em latim e com diversas influências de bandas de rock dos anos 80 e 90. A Radiare esta desde 2006 batalhando seu espaço no mercado independente, apresentando-se em festivais e em casas de shows e no ano passado lançou seu primeiro álbum. Para saber mais da banda, nós do zine/blog Canibal Vegetariano conversamos com Fabrício Frebs (guitarrista e vocalista), que falou um pouco sobre a história e o futuro do grupo.

Canibal Vegetariano: Para começarmos peço que você apresente a banda. Nomes dos integrantes, instrumentos e tal.
Fabrício Frebs:
Radiare é formado por Fabrício Frebs, guitarra e voz, Maurício Strückel, voz e guitarra, Victor Peres, baixo e voz, e Paulo Magalhães, bateria e voz. Frebs participou, no passado, das bandas Astromato e Captador, e hoje também toca contrabaixo na Máquina Voadora. Mau Strückel também é guitarrista da banda Del-O-Max. Paulo tocou bateria também na Astromato, Juli Manzi e na Captador, e hoje também assume a guitarra e vocal na banda Nüer, na qual Victor também
toca como baixista. Ah, dava para montar um Festival só com nossos projetos paralelos, eh eh.

CV: Quando e onde começou a banda Radiare? E qual o significado do nome?
FF:
Radiare começou de fato em 2006, numa iniciativa minha e do Paulo em voltar a tocar. Tínhamos tocados juntos na Astromato, depois na Captador, e após o fim dessas bandas ficou sempre a sensação de que poderíamos continuar a tocar, pois a afinidade sonora era grande. Então, após algum tempo, eu mostrei a ele algumas canções que tinha gravado em casa e logo iniciamos os ensaios, já com o Victor no baixo. Achamos que deveríamos dar um nome à banda pouco tempo depois, quando
o Maurício chegou e enxergamos que poderíamos criar uma personalidade sonora ali. Sobre o nome, Radiare vem do latim, se relaciona à emissão, irradiação de energia, luz, calor, radiação. Eu sempre gostei de significar como uma explosão de energia, espírito em forma de som, como algo incontrolável, espontâneo, puro, sem filtros. No nosso caso, são quatro personalidades fazendo isso através de uma banda de música. A letra de Radio Espírito explica um pouco Radiare.



CV: O som de vocês lembra o power pop do final dos anos 80 início de 90. Quais as principais influências da banda?
FF:
Acho que as influências vão mudando bastante, ao longo da vida. Pelo menos para mim, não são as mesmas hoje e quando eu tinha 20 anos. Alguns grupos me motivaram muito a querer ter uma banda. New Order, Teenage Fanclub, Pixies, Beatles, My Bloody Valentine... São inúmeras bandas de movimentos e cenas de época principalmente nos EUA e Reino Unido que mexeram com a minha cabeça de moleque. Tenho um carinho grande por essa época, por essas bandas. Hoje, às vezes me sinto um pouco deslocado nesse nicho de "banda de rock", como se isso restringisse as possibilidades e tornasse a banda caricata, quando na real eu só quero me expressar através da música, em geral. Mas para os tempos atuais, fiquei muito tempo viciado em Elliott Smith. Hoje, estou ouvindo alguns sons dentro do jazz, Joe Pass, The Bad Plus, Ron Carter, Jim Hall. Também gosto de choro, Ernesto Nazareth, instrumentais brasileiros. Também alguns sons pouco comerciais, sem formatos padronizados, artesanais. Não sei exatamente como isso pode transparecer na música que faço, mas acho que a mistura de tudo o que me influencia transparece na minha personalidade. Quanto ao resto da banda, acredito que todo mundo goste bastante de rock mesmo.

CV: Como é fazer rock, considerado mais tranquilo, em um País que se têm batucadas e parte dos adolescentes veneram bandas que tocam algo mais agressivo? Quem é o público do Radiare?
FF:
É curioso. Quando vou dizer a alguém que tenho uma banda "de rock", grande parte das pessoas reage imaginando que tenho uma banda de heavy-metal ou punk. E quando vamos tocar por aí, muita gente torce o nariz porque nosso som é muito "leve" e não demonstramos muito da tradicional atitude roqueira que a grande mídia caricatura como rock, algo cheio de fogos de artifício como Kiss, ou hoje em dia no Brasil, o emo do NX Zero. Daí, fica vago explicar o que fazemos e criar uma
identificação, criar um público, se não for pela própria música. O que, por sinal, deveria bastar, não? Mesmo a cena rock que formou as bandas que me motivaram a ter banda, há15 anos, já estão no passado e nada significam para a maior parte das pessoas que que estão por aí. Então acredito que estamos formando um público novo, formado por pessoas diversas, com suas personalidades próprias, e não pegando todo um nicho pronto, que já gosta de outras bandas parecidas. Talvez fosse mais fácil entrar num estereótipo de banda que já existe, e já ser lançado a um grupo fechado de público. Mas a idéia não é essa. Vamos fazendo o nosso som. O País tem muita gente, muitas personalidades. Tenho notado quando tocamos e quando recebo algum feedback do CD que as possibilidades de público para nós são muito amplas. Desde adolescentes até uma galera que já passou dos 30. Mas não está fechado, pronto, óbvio.

CV: Como foi o processo de gravação do album de vocês e como ele está sendo recepcionado pelo público e mídia?
FF:
Queriamos gravar há um bom tempo já, mas queriamos algo de qualidade, diferente das experiências de gravação que tínhamos tido até então, que iam mais para o estilo "ensaio gravado", isto é, tempo cronometrado, sem planejamento, com o Paulo (nosso batera) conhecendo o equipamento 5 minutos antes de gravar. Não queríamos mais isso. Daí conhecemos o Maurício Cajueiro. O Kju trabalhou vários anos em Los Angeles, em grandes estúdios, e acumulou uma bagagem ótima na área de produção musical. Conversamos com ele sobre o que queríamos e fechamos a gravação de 8 músicas. O processo todo foi bem bacana, como se durante esse tempo o Kju fosse o quinto membro da banda. Ele pegou as músicas antes, demos, foi aos ensaios, mexeu em algumas músicas, sugeriu alterações em letras, métricas, timbres, efeitos, enfim, nos apresentou a um estilo de “produção” que não tinhamos vivenciado até então. Desde o dia em que gravamos o primeiro material bruto até os discos ficarem prontos passou-se um ano. Tudo foi feito com muita calma e liberdade. Gravamos em três estúdios diferentes, e aos poucos, sempre ouvindo e trabalhando o material. O importante era que ficasse bom, profissional, fosse criada uma unidade, e a gente se identificasse com o resultado. Tudo isso rolou. A recepção ao álbum está sendo boa. Lançamos de forma independente, toda a correria é nossa, então depende muito da nossa disponibilidade para fazer a promoção do disco. Por isso, o processo é lento. Mas saíram matérias bacanas em veículos importantes, como a Tramavirtual e a MTV. Recebemos comentários positivos de muita gente. Viabilizamos
através do selo Midsummer Madness (www.mmrecords.com.br) uma parceria boa para distribuição agora em 2010, com a Tratore (www.tratore.com.br), que disponibilizará o disco para grandes lojas. Mas o principal, que era ter um material de qualidade gravado e acessível, já conseguimos. O CD está aí, disponível, e fundamenta bases para sermos reconhecidos como uma banda séria.



CV: E shows, como está a agenda? Vocês fazem restrições para tocar em algum local ou que o show seja com bandas de outros estilos?
FF:
Nossa agenda está até que tranqüila. Sempre temos shows marcados, mas está longe do atropelo de uma banda com gravadora e agentes correndo atrás. Tocamos com mais frequência em Campinas mesmo. Não temos restrições de lugares ou outras bandas não. Mas nunca rolou nada tão estranho, de sermos chamados para um evento como uma festa de peão ou um batizado, por exemplo. Mas seria bem curioso.

CV: Falando em shows, peço que você comente sobre a apresentação que vocês fizeram na Livraria Cultura em Campinas, durante o Auto Rock. Como foi tocar em uma loja e no formato acústico?
FF:
Foi bacana a experiência. A Livraria Cultura, todos os funcionários com quem tratamos na organização do evento foram muito interessados, atenciosos e profissionais. Considerando que somos uma banda de Campinas, iniciativa cultural local, obtivemos um ótimo apoio para nosso trabalho. Inclusive com a comercialização do disco. Nem todas as lojas de grande porte desse segmento são receptivas ao trabalho de artistas independentes. O show, em si, foi interessante. Tocamos num auditório, com as pessoas sentadas assistindo, como num teatro. Isso foi estranho, pois criava um ambiente que sugeria algo mais intimista, mesmo acústico. Mas não mudamos o formato do show. Fizemos uma apresentação normal mesmo, tudo plugado. Rolou legal. O auditório é um pouco separado do espaço da loja (até para isolar o som), então os clientes da loja não necessariamente sabiam que havia um show rolando. Mas apareceram espectadores "curiosos", surpresos, clientes da loja, que teoricamente nunca iriam num bar cheio de fumaça (agora não mais) para ver uma banda de rock barulhenta. Esse público é interessantíssimo, e acho que difícil de atingir normalmente.

CV: Para vocês, a Internet ajuda ou atrapalha? Pois há muitos artistas que reclamam da net.
FF:
Eu acredito que a Internet ajuda. É uma ferramenta poderosa, considerando que hoje em dia com um investimento financeiro relativamente baixo um artista consegue montar uma carreira e sustentá-la virtualmente. Fazendo bom uso da rede, é possível você distribuir sua música, marcar shows, divulgar novidades e manter coesa sua rede de fãs, expandindo-a o tempo todo. Antigamente, isto é, há 15 anos, estrutura assim dependenderia de uma grande gravadora por trás, injetando bastante dinheiro para estes fins em poucos artistas escolhidos a dedo com objetivos estritamente comerciais. Houve uma democratização do acesso a iniciativas musicais, pois qualquer banda consegue disponibilizar seu trabalho para o mundo, coisa impensável quando tínhamos que gravar fitas k7 demo e enviá-las pelo correio, uma a uma. Vendo dessa maneira, não tem como pensar que a Internet atrapalha. Agora, vendo por outro lado, essa "democratização" também permite a muitas iniciativas de baixa qualidade que consigam uma projeção desproporcional ao seu trabalho. Isto é, a net às vezes coloca lado a lado artistas muito bons e jovens que nem sabem tocar direito, artistas com carreiras longas e de muita qualidade com moleques que gravaram sua primeira demo tosca em casa no fim de semana passado. Qualquer um que entenda um pouco de Internet e programação consegue criar um artista, em meia hora, e lançá-lo na rede. Então, num oceano de infinitos artistas e iniciativas, sobra para o ouvinte, consumidor, em casa, ouvir, procurar e triar o que tem qualidade do que não tem. É muita gente com diferentes intenções disputando atenções. Tem artistas que não gostam dessa perspectiva, dessa "bagunça". Eu gosto de pensar que a net possibilita a qualquer um no mundo o acesso intantâneo à minha música. Tem um outro ponto, em que a Internet pode parecer injusta. A quantidade de artistas disponíveis a um clique faz com que às vezes não demos a devida chance a um artista, isto é, ouvimos 30 segundos de sua música e já pulemos para ouvir outra banda. Antigamente, de posse de um vinil ou um CD, ouvíamos o disco todo, várias vezes, e aí formávamos uma opinião, muito mais fundamentanda. Hoje matamos ou glorificamos um artista por segundos de uma música. Parece injusto, em qualquer sentido. Mas a Internet ainda vai suscitar muitas discussões, prós e contras. Temos que nos adaptar ao que acontece. É a evolução.



CV: Frebs, além da Radiare, você está tocando em um projeto paralelo. Além de você, tem mais algum integrante da banda que tem projeto solo? E como vocês lidam com isso?
FF:
Todos da banda tem outros projetos. Eu tenho a Máquina Voadora (www.maquinavoadora.com.br), na qual toco baixo, o Paulo e o Victor tem a Nüe (http://www.myspace.com/bandnuer) e o Maurício a Del-O-Max
(http://www.del-o-max.com.br). É muito tranquila a relação com os projetos paralelos, pois nenhuma das agendas das bandas é muito sobrecarregada de maneira a dificultar os ensaios ou shows das outras. Se acontecer de algumas das bandas ir demandando mais atenção, a gente vai adaptando as outras. Mas isso subentende coisas boas acontecendo, o que seria ótimo.

CV: Uma pergunta que você pode considerar louca, mas, você acredita que o lance do Brasil sediar a Copa e Olimpiadas, isso, direta ou indiretamente, pode dar uma erguida na cena rock do País, já que as atenções estarão voltadas para cá?
FF:
Acho que indiretamente, nos grandes centros, onde vão rolar os eventos esportivos, pode ser que as programações musicais fiquem mais infladas nesses períodos, aumente um pouco as possibilidades de shows ou exposições. Mas os artistas terão que ficar antenados e buscar as situações, como é a maneira que sempre funcionou. A diferença é que a receptividade de organizadores e patrocinadores de eventos pode ser maior, pois haverá grande quantidade de turistas no País. Quanto a "erguer a cena rock", acho difícil, pois pressupõe que a cena como um todo poderia se dar bem com isso, o que é improvável pois não existe unidade ou uma organização conjunta. A não ser que fervilhem grandes festivais no País durante esses eventos, estimulados e promovidos por situações ligados a esses eventos esportivos, ou aproveitando a atenção que eles trariam ao País. Mas é utópico ainda, até que exista algum movimento ou idéia de produtores nesse sentido.

CV: Como é fazer rock atualmente no Brasil. Quais os objetivos da Radiare e seus planos para o futuro?
FF:
Existem vários tipos de rock e de bandas de rock no País. Eu já passei por diversos cenários, e sei que hoje em dia, dependendo da proposta, do nicho comercial e da postura da banda, do envolvimento dos integrantes e do desprendimento de suas vidas pessoais, é possível uma banda se lançar e tentar manter uma carreira vivendo da banda. Cada vez mais. Já vemos criado um nicho comercial para alguns tipos de banda de rock, principalmente os mais adolescentes. Existe um sem número de bandas de rock de outros tipos, excelentes, que topam existir e se dedicam a ser uma banda apenas pela paixão à música. O circuito alternativo, embora já exista, seja crescente e abrace essas bandas, ainda é instável a ponto de fazê-las auto-suficientes. Muitas das bandas legais que vemos na MTV, Rolling Stone e MySpace são formadas por pessoas apaixonadas, mas que não estão nem perto de conseguir viver da música que fazem. São designers, bancários e garçons. O mercado brasileiro está crescendo e se abrindo muito para diversos estilos e propostas musicais, mas acredito que no rock ainda seja assim para a maioria, embora o conceito de rock, com as misturas de estilos que vemos por aí e que são bem recebidas pelo público independente do rótulo, também esteja cada vez mais confuso. Nossos objetivos são realistas, acredito. Eu ficaria satisfeito se pudéssemos nos manter em atividade, compondo e conseguindo gravar com uma constância regular e com qualidade, e que tivéssemos um meio consolidado para ir soltando nosso trabalho para o meio. A grande ambição, talvez esta não muito realista, seria conseguir viver e manter a banda apenas com nossa banda. Mas, se pudermos gravar mais uns três ou quatro discos e conseguirmos disponibilizá-los eternamente para as pessoas, eu já me sentirei muito satisfeito. Estamos compondo e ensaiando objetivando material para um segundo disco. E a ideia hoje é ir montando um show consistente com material do primeiro disco recém-lançado e músicas novas. Atualmente as apresentações possuem este formato.

CV: E qual a importância dos blogs, zine e rádios pela Internet?
FF:
A importância hoje é imensa, no sentido de triar o material vasto que se têm por aí, do qual falei numa das questões acima, e encontrar o que existe de qualidade, criticá-lo e apresentá-lo contextualizado para o público. Faz muita falta hoje em dia uma opinião e uma sugestão. Muita gente está perdida dentro da quantidade de bobagem a que as pessoas são expostas. Antigamente os zines e rádios tinham acesso à informação privilegiada e a repassavam a um segmento específico, carente daquela informação, para colocá-lo a par das novidades e lançamentos. Hoje em dia qualquer um tem o acesso à infomação. Basta buscá-la na rede. Mas as pessoas não fazem isso, ou fazem mal, e então preferem e agradecem quando existem iniciativas que façam isso por ela, com opinião e qualidade. Os blogs, zines e rádios pela Internet fazem isso. Selecionam o grande e diverso material que existe na rede e no mercado, intrepretam, enriquecem (como no caso dessa entrevista) e o disponibilizam às pessoas com o selo de qualidade da opinião do zine, da rádio ou do blog. Hoje em dia, com a democratização da net, da informação e da novidade, esse papel é valiosíssimo. É um serviço de opinião especializada.

Foto da banda ao vivo por: Alessandra Luvisotto
As outras fotos estão com créditos no "corpo"

sábado, 6 de fevereiro de 2010

The Renegades of Punk: um power trio incendiário

A banda The Renegades of Punk, composta por Daniela (guitarra e voz),João Mario (baixo) e Ivo (bateria), faz um rock daqueles que é difícil de rotular devido a forte pegada e presença de palco do trio, que mostra toda a potência sonora também em disco. Para saber um pouco mais da história deste power trio sergipano, confira abaixo a entrevista exclusiva que Daniela concedeu ao zine/blog Canibal Vegetariano.

Arquivo pessoal

A banda recentemente esteve realizando uma turne pelo interior do Estado de Sâo Paulo

Canibal Vegetariano: Vamos começar com a apresentação da banda.
Daniela:
Então, eu e Ivo estamos junto tocando há muito tempo, desde 2003. Começamos a tocar junto na Triste Fim de Rosilene, depois na Rever e quando essas duas bandas tinham acabado eu meio que intimei ele pra fazer outro som. Ele topou, Mauricio que era amigo da gente topou também e a Renegades começou a existir no inicio de 2007.

CV: O que levou vocês a lançarem um split junto com a banda Mahatma Gangue?
D:
Nós somos amigos, há um bom tempo, de Pedro, Ingrid e Farofa. Meio que as duas bandas nasceram juntas, na mesma época e, além disso, foi identificação mais do que instantânea. Eles vinham para cá nos visitar e conversávamos, tocávamos juntos e planejávamos coisas juntos também. Sempre acompanhamos as coisas de nossas bandas, mesmo à distância. Daí a ideia do split não foi nada além de natural. Eu mesma sempre falo que considero como “bandas irmãs” a Renegades, a Mahatma Gangue [RN] e a Skate Pirata [CE].

CV: Como é o esquema de shows aí no Nordeste? E como as bandas se relacionam, chega a ter um clima de rivalidade? E com bandas de outros estilos?
D:
Os shows menores, punks, são poucos. Não foi sempre assim, mas estamos passando por uma fase terrível agora. A gente vai fazendo tudo na medida do impossível e levando como dá, mas sei lá, vejo que 2010 se inicia com uma nova cara. Parece que a coisa tá se arrumando novamente. Sobre o relacionamento entre as bandas, a gente se relaciona com quem quer se relacionar. Nunca tivemos problemas com isso. A gente quando organiza algo chama a galera punkona, crust, põe para tocar. Em outro show chama o povo do rock'n'roll e assim vai. Mas esse diálogo depende muito de ambas as partes. Tem muita banda que não entende como as coisas funcionam, que vivem com a cabeça nas nuvens, almejando sei lá o que e preferem se restringir no seu “circuito” mesmo. Nada contra. Mas é isso, nós nos relacionamos com quem quer se relacionar com a gente né? É claro que afinidade é muito importante. Mas tudo se resolve, sabe? E no rastro disso que eu disse ficam as intrigas e rivalidades normais da vida humana. Sempre rola. Sempre.

CV: A Renegades tem aparecido bastante no cenário independente. Recentemente vocês estiveram em shows aqui no interior de São Paulo. Como foram esses shows?
D:
Você acha? Nossa, foram bem legais. A gente tocou no sudeste com a Mahatma Gangue lançando nosso split no Rio de Janeiro e São Paulo, capital e algumas cidades do interior como Campinas, Bragança Paulista e Sorocaba. Nós curtimos muito esses shows. Tocamos na Loja Tentáculos em Sorocaba, a loja da Flávia (Biggs) e do Fábio (Pugna). Em Bragança tocamos no festival Cardápio Underground que queríamos muito conhecer! Foi foda, o local, as pessoas, as artes... Esse festival é organizado pelo Quique Brown do Leptospirose que é uma banda que a gente curte e respeita demais. E em Campinas no Bar do Zé, lugar foda. É massa tocar no interior e na capital, a gente sente as diferenças de tratamento e tal. O interior tem um algo a mais que a gente não sabe explicar, demais, um calor humano diferente. Mas, o role como um todo foi massa. Não podia ter sido melhor!

Daigo Oliva

João Mário e Daniela mandando ver ao vivo em uma das muitas apresentações que a Renegades tem realizado pelo País

CV: Como vocês trabalham a divulgação da banda?
D:
A gente faz essas coisas comuns mesmo, basicamente o boca a boca e Internet (através de flogs, orkut, facebook, emails, twitter...). Sem esquecer, claro, das trocas de material com outras bandas, zines, blogs e etc.

CV: Quais as principais influências da Renegades?
D:
Perguntinha difícil essa! Sempre fico pensando horas para responder algo assim porque, mesmo não querendo soar clichê, são muitas bandas, muitos sons... X, Rezillos, Radio Birdman, X-Ray Spex, Circle Jerks, Dead Kennedys, Buzzcocks, Cólera, Hüsker Dü, Bikini Kill, Regulations, Blondie, Devo… muita coisa…

CV: Como as pessoas que veem vocês pela primeira vez encaram uma banda que tem uma mulher nas guitarras e vocais?
D:
Hummm... não sei. Algumas pessoas ficam surpresas com isso mais pelo fato de ser punk rock, ter aquela agressividade, sabe? Tem gente que acha normal, outros que acham coisa de outro mundo, vai entender! Tem gente de topo tipo no mundo. Mas acho que não impressiona tanto isso quanto podia impressionar antigamente.

CV: Como você lida com o assédio, principalmente do público masculino. Ele rola de boa, o interesse é a música, ou ainda existem os chatos que ficam "marcando" em cima?
D:
Hahaha, engraçado isso. Os dois. Mas não rola muito assédio até porque eu não sou o estereotipo de rockeira bonita, estilosa e perfumada. Não faço questão de ser nem uma coisa nem outra, mas acabo sendo natural nos shows, vestida normal como me visto no dia-a-dia, me descabelando, suando litros... nada muito na linha mina-de-banda-da-Malhação. Geralmente a galera que chega junto em show é mais pra tocar ideia, é raro alguém se “engraçar” para meu lado, mas rola também. Acho que alguns também evitam porque inevitavelmente estou com meu namorado do lado, hehe (Ivo que toca bateria na Renegades é meu namorado de longa data).

Rafael Passos

O batera Ivo segura com força e técnica a "pancada" sonora.
A banda tem causado boa impressão por ande passa

CV: Qual a opinião de vocês sobre o atual momento do rock no Brasil? A estrutura de shows melhorou, o pagamento de cachês e o nível das bandas?
D:
Essa é uma discussão que tá na crista da onda, não é? Cena independente, pagar cachê ou não para banda, festivais e grupos chamados de panelinha e etc... Sinceramente, só posso falar do que vivo. E o que eu tenho experenciado tá mais ou menos na mesma. Digo isso quando falo de estrutura, dinheiro, organização. Minha experiência é no nicho punk, num âmbito menor, de shows menores. Num âmbito mais amplo não posso falar nada. Tem uma coisa estranha que vêem rolando – e como disse acima, parece estar mudando – que é isso de as bandas estarem estranhas, poucos, poucos lugares para tocar, poucos eventos legais... mas tem um monte de gente tentando mudar isso.

CV: E os planos do Renegades of Punk para 2010?
D:
Bom, a gente tem ideia de fazer um "clipezinho" e de começar a preparar um álbum, um full só nosso. Além disso tem uns lançamentos para sair: um 5-way – com Os Estudantes [RJ], Homem Elefante[RJ], Ornitorrincos [RS] e Velho de Câncer [RS] – e um re-lançamento do nosso primeiro ep só que em 7’’ pelo selo alemão Thrashbastard.

CV: Vocês acreditam que o esquema de blogs, rádios web, fanzines e e-zines, contribuem para o desenvolvimento do rock?
D:
Sim! Principalmente pelo fato de esse tipo de mídia ser alternativa. Dessa forma várias pessoas podem estar envolvidas com o underground, participando de alguma forma, fazendo o que pode fazer e divulgando o que está acontecendo nesse exato momento para um número indeterminado de pessoas. Essas mídias são importantíssimas.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para você divulgar shows, venda de CDs e agradecimentos e xingos, o espaço é seu.
D:
Valeu você Canibal, pelo espaço. Valeu a tod@s que perderam alguns minutos de sua vida para ler essa entrevista e quem tiver interesse em conhecer mais a Renegades é só ir nesses links:
Myspace: http://www.myspace.com/therenegadesofpunk
Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=45396462
Girls Music Zone: http://www.girlsmusiczone.com.br/banda.php?n_id=72
Last Fm: http://www.lastfm.com.br/music/The+Renegades+of+Punk
Twitter: http://www.twitter.com/renegadespunk
Ou pelo meu e-mail: daniela.rss@hotmail.com. Aqui você pode ouvir, ler e conhecer mais sobre nós. Além de saber dos shows e de como adquirir nossos materiais.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Banda de hardcore espanhola apresenta-se em Santa Catarina

No dia 9 de fevereiro, diretamente da Espanha, chega a banda de Hardcore sXe Cinder. Rodando o mundo desde 2001, os meninos da terra do Barcelona F.C, juntam no seu curriculo meia dúzia de material entre CDs e Splits, além de garantir uma performance caótica no palco.
A festa será no sempre querido Plataforma Rock Bar, localizado em Barreiros, no município de São José/SC com início às 18h. Fazem parte do show as bandas locais Stallones, Two Minutes Hated, U Pai, Echoe e Sin Rejas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sex Enough: em menos de um ano, banda conquista público com trabalho 100% autoral

A banda sorocabana Sex Enough está há menos de um ano na estrada e conquista público em cada local que passa. Fazendo um rock honesto e com influências de música erudita, os integrantes apostam em canções próprias para desbravar o Brasil e o mundo. A seguir você confere uma entrevista exclusiva que o zine/blog Canibal Vegetariano fez com a galera, para descobrir a receita desse sucesso.

Canibal Vegetariano: Para começarmos, apresentem a banda, nomes, instrumentos e etc.
Sex Enough:
Nós somos a banda Sex Enough de Sorocaba/SP. Vocal e baixo - Danny Viana, Vocal e guitarra - Wagner Ferreira, Guitarra - Mauricio Nogueira, e Bateria por Thiago Balera.

CV: Vocês são uma banda com menos de um ano e já tem músicas próprias no repertório. Por que vocês decidiram compor o próprio material?
SE:
Na verdade, só temos material 100% próprio, até então não fizemos nenhum cover.

CV: Quais são as influências da banda e em que vocês se inspiram para escrever as letras?
SE:
Os gostos variam bastante, mas música erudita é o que mais prevalece, devido à formação de parte da banda. Mas cada integrante tem seu gosto particular, que varia em tudo que você possa imaginar. Todas as letras são da baixista. Algumas letras são baseadas em fatos vividos. Mas em outros casos, uma ou duas palavras a inspiram, e depois ela só desenvolve a estória em torno do assunto.


Danny Vianna, vocal e guitarra, por oito anos tocou na orquestra de violões de Sorocaba

CV: Nesses dez meses de banda, quantos shows vocês realizaram e como foi a recepção do público, principalmente em relação as músicas próprias?
SE:
Fizemos alguns shows em Sorocaba, Campinas e Itapetininga. Mas foram situações curiosas, em que a necessidade era mesmo de shows de bandas autorais. Nós achamos que hoje o leque musical está bem mais aberto, mais receptivo à novas bandas. O público já não busca mais ouvir somente cover de bandas iniciantes. As pessoas sempre procuram por novidades. Tivemos ótima aceitação por onde passamos e assim que o CD estiver 100% concluído, retornaremos aos shows.

CV: Como é a cena de Sorocaba e quais são os espaços disponíveis para bandas indie?
SE:
Está cada vez melhor, aos poucos as pessoas estão dando mais valor para bandas autorais. Mas há poucos lugares para tocar na cidade ainda.


Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por três anos

CV: Qual é a formação musical de cada integrante? Todos são músicos eruditos? Em caso positivo, porque montar uma banda de rock?
SE:
Danny Viana fez Conservatório de Tatuí, já tocou na "Orquestra de Violões de Sorocaba" durante 8 anos e na "Orquestra Sinfônica de Sorocaba" como musicista contratada.
Wag Ferreira - Formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos. Também foi integrante da Orquestra de Violões de Sorocaba por 9 anos. Maurício Nogueira é cantor, guitarrista e compositor. Foi integrante da Orquestra da Violões de Sorocaba desde seu inicio em 1998 onde permaneceu por 3 anos. Tem vários trabalhos lançados em MPB. Thiago Balera - multi-instrumentista, também cantor e compositor.
O fato de montar uma banda de rock surgiu naturalmente. Começamos como algo simples que foram tomando proporções cada vez maiores. O rock tem influência da música erudita em muitos pontos

CV: E vocês vivem de música ou tem outros trabalhos paralelo a banda?
SE:
Danny Viana e Wag Ferreira são professores de música. Maurício Nogueira é proprietário do estúdio Aquarela Records. Thiago Balera tem trabalhos paralelos onde é vocalista e guitarrista e também trabalha como modelo.


O batera da banda, Thiago Balera é multi-instrumentista, além de ser cantor e compositor

CV: A banda Wry, que também é de Sorocaba, passou 7 anos na Inglaterra. Vocês tem a pretensão de tocar e morar fora do Brasil?
SE:
No mês de dezembro recebemos convites para alguns shows em Nova York, Brooklin, Manhatan e Long Beach na Califórnia. Estamos fechando datas, e provavelmente faremos o lançamento do CD por lá.

CV: A previsão para vocês gravarem o primeiro EP é este mês? Quando começam? E se já começou, como está ficando,e o quais as pretensões da banda para 2010?
SE:
Estamos com o EP finalizado, mas gostamos tanto do resultado que decidimos fazer o CD. No mês de fevereiro finalizaremos as gravações por completo. Está ficando mais detalhado, estamos gravando com calma, diferente das versões ao vivo do myspace que foram gravados depois de dois ensaios. Os arranjos estão mais elaborados, a banda está bem entrosada. Esperamos atender as expectativas. Este ano também teremos um clip da musica Sunny Days, feito em Stop Motion.


Wag Ferreira é formado em violão clássico pelo Conservatório de Sorocaba, onde regeu a Orquestra de violões da mesma instituição por 6 anos

CV: Como vocês veem o jeito que a música é divulgada e comercializada atualmente? Vocês pensam que as ferramentas atuais ajudam ou acabam atrapalhando?
SE:
A Internet é um meio de comunicação muito forte, é claro que há o grande problema da pirataria, do enfraquecimento das gravadoras. Mas não conseguiríamos ter nosso trabalho divulgado em 48 países (como mostra dados em nosso Myspace), apenas com gravações demos, sem a Internet.

CV: Agradeço vocês pela entrevista e deixo o espaço para vocês xingarem, divulgar shows e etc.
SE:
Nós que agradecemos a oportunidade. Estamos fechando com alguns selos a distribuição do CD, em breve teremos grandes novidades.

Crédito das fotos: Divulgação

sábado, 16 de janeiro de 2010

Paebiru – Psicodelia à moda nordestina


Paebiru é um dos discos mais raros da música brasileira e está avaliado em cerca de R$ 4 mil

O texto que segue a seguir é uma resenha escrita por um grande camarada, Carlos Ferrari, que é fanático por música, e guitarrista, dizem as más linguas que é dos bons. Nesta resenha ele fala um pouco da história de um dos discos mais raros da música nacional, esperamos que gostem. Boa leitura!

Os discos brasileiros de música psicodélica/progressiva/instrumental/experimental dos anos 70 tornaram-se “moda” entre colecionadores e audiófilos mundo afora. Os discos originais são disputados por milhares de dólares em leilões na Internet e títulos são relançados em vinil e cd em países como Inglaterra, Alemanha, Portugal, Bélgica e até na Polônia e esgotam-se rapidamente. No mundo inteiro nessa época fazia-se um som na mesma linha, no auge do rock progressivo. O que se explica então o fato dessa procura e interesse muito maior pelo som feito aqui?
A resposta talvez esteja naquilo que sempre diferenciou nossa música. A quantidade absurda de ritmos, instrumentos e diferentes linguagens musicais, que incorporadas às sonoridades que vinham de fora, resultaram talvez na mais rica fase de música experimental brasileira, desde o sul até o norte do país.
O símbolo maior dessa fase talvez seja o disco Paebiru de Lula Côrtes e Zé Ramalho, tanto pela diversidade de sonoridades e experimentações quanto pela mística criada em torno de suas histórias.

O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui

Gravado em 1975, o disco foi planejado e gravado em 4 canais por Lula Cortês, que já vinha de um disco anterior, Satwa e pelo estreante Zé Ramalho. A obra é considerada por muitos críticos uma “Tropicália Nordestina” porque contou com a participação de nomes como Alceu Valença, Robertinho do Recife e Geraldo Azevedo. O disco era duplo, numa época em que isso raro no Brasil e com encartes em alto relevo num nível até então inédito por aqui. Cada lado é dividido em elementos da natureza: água, fogo, terra e ar e com sonoridades que procuravam direcionar a esses elementos, utilizando instrumentos das mais diferentes origens.
Não bastasse a qualidade musical incontestável, a tiragem do disco original foi reduzida a 300 cópias, devido a uma enchente que inundou os estoques da lendária gravadora Rozenblit de Recife. Um exemplar é avaliado hoje por volta de R$ 4 mil. Há relançamentos alemães e ingleses em cd e vinil que se esgotam rapidamente.
Paebiru é daqueles discos que devem ser ouvidos muitas vezes pra um entendimento maior e ainda sim sempre haverá algo a descobrir. É um trabalho fundamental para se entender a fusão da música brasileira, especialmente nordestina com o rock progressivo e todos os rumos do rock nacional desde então.