domingo, 22 de fevereiro de 2015

O punk que vem da terra do descobrimento

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Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles desembarcaram onde atualmente conhecemos como o estado da Bahia. E a chamada terra de todos os santos é conhecida também como berço do axé music, mas sempre tem aquelas pessoas que subvertem a ordem estabelecida. Dois roqueiros muito famosos saíram de lá, Raul Seixas e Marcelo Nova, mas os punks também têm seus representantes, Pastel de Miolos. Para conhecer mais sobre esta banda, conversamos com seus integrantes.

Canibal Vegetariano: Para começarmos, apresentem a banda, nomes, instrumentos e houve alguma troca de formação desde o início?
Pastel de Miolos: Guitarra e voz: Alisson PDM, baixo e voz: André PDM e bateria: Wilson PDM. Nós tocamos durante 17 anos com Alex Costa no baixo e voz, e por dois anos (2000/2002) com Robson Peixoto na 2ª guitarra, mas em momentos diferentes eles saíram e são todos bons amigos da banda.

CV: O nome da banda é sensacional, de onde surgiu essa ideia?
PM: Fizemos uma lista de nomes diferentes, mas o que mais nos agradou foi Pastel De Miolos, primeiro pela sonoridade, depois fomos descobrindo os vários sentidos que ele pode ter (a música que leva o nome da banda dá uma “deixa”).

CV: Quais as bandas que os influenciaram e quais vocês mais ouvem atualmente?
PM: Sempre ouvimos muito HC/Punk, Cólera, Olho Seco, Social Distortion, Dead Kennedys, Ramones, Inocentes e continuamos ouvindo e nos influenciando. Mas depois de 19 anos fomos descobrindo outros sons e batidas. Eu hoje escuto também algumas coisas mais alternativas como Pixies e Dinosaur Jr. Enquanto os caras escutam coisas de ska (Madness, Skatallites, etc.) ou metal (Nuclear Assault, Sepultura, etc.). Por aí vai, acho que é sempre interessante conhecer sons novos e bandas novas, ou velhas que nem sempre se tem oportunidade de escutar.

CV: De Lauro de Freitas para o mundo. Como é ter uma banda punk em um estado no qual a maioria pensa que existe apenas um estilo musical que é o axé music?
PM: Na agricultura existe o conceito de monocultura e já se provou que ela só faz mal pro solo a médio e longo prazo. É o que acontece aqui na Bahia. Existe essa imposição da axé music como única linguagem possível e aceitável. Mas a gente tem buscado romper essa barreira, a do impossível. Vamos fazendo não pra ser aceitos mas porque representamos, junto com outras bandas, uma resistência. E ultimamente eu tenho dito que o rock/punk também é música baiana, já que o rock brasileiro nasceu na Bahia com Raul Seixas.



CV: Como é a cena underground na Bahia? Quais os locais nos quais vocês mais tocam?
PM: A cena é cíclica, passa por momentos de alta, depois de baixa, depois se recicla e fortalece de novo. Estamos ficando mais fortes e organizados aos poucos, e isso está se refletindo em bandas mais consistentes e eventos diversificados e com mais público. Tocamos bastante em Camaçari e Salvador, mas também rola uma movimentação bem legal em Feira de Santana, Barreiras, Juazeiro, Agreste baiano, Vitória da Conquista, Região Sul da Bahia, meio complicado citar, mas em cada região existem bandas e produtores interessados.

CV: Vocês já lançaram vários registros durante a carreira. Qual disco que vocês mais gostam e qual pensam que poderiam melhorar algo? Por quê?
PM: Cada um representa um momento então eu não mudaria nada, porque tenho muito orgulho de nossa história. Gosto muito do mais recente Novas Ideias, Velhos Ideais (2014) e do Ciranda (2009) que foi eleito o quarto melhor álbum do rock baiano no ano em que foi lançado.

CV: Comentem sobre o rolê que fizeram recentemente pela Europa. Vocês tocaram no leste, local no qual situação anda meio tensa. Como foi a recepção dos europeus ao som do Pastel De Miolos?
PM: Nós nem sentimos essa tensão, pois viajamos por países que apesar de fazer fronteira com esses que estão em conflito, nós estávamos geograficamente do lado oposto aos lugares desses acontecimentos tristes. A recepção foi muito boa, o público agitou muito, vendemos camisetas, CDs e bonés, além de termos recebidos vários convites pra retornar no ano que vem. Acho que isso é um ótimo termômetro do que rolou por lá.

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CV: Quais os próximos passos da banda?
PM: Continuar tocando e começar a pensar no ano que vem quando completaremos 20 anos de atividade, o que vamos fazer pra comemorar.

CV: Qual a principal diferença que vocês veem na cena underground nacional quando vocês começaram para agora?
PM: A principal diferença é a forma de se comunicar, antes esperávamos até um mês por uma resposta que temos hoje de maneira quase imediata. Mas hoje como ontem temos pessoas comprometidas que acreditam na força do underground e continuam na batalha assim como nós.

CV: Agradecemos pela entrevista e deixamos espaço para considerações finais. Abraço.
PM: Obrigado pelo espaço! Não tem segredo, é organização, ensaio e persistência. Nos encontramos na estrada!
Mais informações;
http://pasteldemiolos.wordpress.com/
Para saber mais sobre a turnê dos caras pela Europa acesse:
http://pasteldemiolos.wordpress.com/europeantour2014/

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