terça-feira, 20 de outubro de 2009

Entre o retrô e o moderno, a banda Del-O-Max 'detona' seu rock'n'roll

Formada em Campinas, em 2002, a banda Del-O-Max mistura o rock garageiro do final dos anos 60, com o rock considerado moderno. Com uma formação que por muitos é considerada inusitada, pois ao invés de ter dois guitarristas, os caras têm dois baixistas, Gui Galembeck, que também faz os vocais e Renato Henriques. Com esta diferença, e o potente som que compõem, a banda que além dos baixistas, conta também com o guitarrista Maurício Struckel e o baterista Alessandro Poeta concedeu uma entrevista ao editor do blog/zine Canibal Vegetariano, onde foi comentado sobre o estilo que seguem, influências, composições entre outros assuntos. Boa leitura.
foto: Gui Galembeck e Mari Whitaker
Contra capa do disco 'Too Hard' que a banda lançou em 2007

Canibal Vegetariano: Por que o nome Del-O-Max?
Renato: Alan Lomax pode ser considerado o pioneiro na gravação independente nos EUA. Ele saía com um Ford modelo "T" procurando músicos de blues e country que ele pudesse gravar, sendo estes artistas autênticos, e não músicos querendo gravar um produto meramente comercial. Leadbelly, importante músico de blues e também para as raízes do rock foi uma de suas "descobertas". No fim dos anos 50 teve na costa Oeste dos EUA a gravadora Del-Fi, de Bob Keane. Bob gravava um tipo de rock novo até então, que tinha nos riffs e no instrumental seus pontos fortes e quebravam com aquela tradição do rock típico dos anos 50. Gravou também artistas exóticos e doo-wop. De qualquer modo, pode ser considerado um primeiro marco na destruição/resconstrução do rock, fugindo de seus modelos tradicionais. Assim, com o nome Del-O-Max achamos que poderíamos fazer nossa homenagem a Alan Lomax e à gravadora Del-Fi.
Alê: Eu entrei posteriormente na banda e não participei desta escolha. Apesar da teoria que explica a criação do nome da banda, gosto dele antes da explicação, como alguma coisa abstrata, que faz algumas referências mas não deixa explícito de que se trata, aguçando a imaginação. Na verdade, existem outros fatores que influenciaram na parte estética, como a simetria e o uso dos hífens que separam as palavras (elemento presente nos nomes de eletrodomésticos e em outras coisas dos anos 50 e 60: Trap-O-Matic, Car-a-Van, etc). O nome soou bem no meu ouvido desde a primeira vez que ouvi e acredito que esta impressão não é só minha. Parece que caíria muito bem para um grupo de surf music também, uma associação que já foi feita algumas vezes. Mas depois de ouvir o som e ver o show tudo parece se encaixar harmoniosamente.

CV: Algo de diferente que dá para notar no som e na presença de palco de vocês, é o lance de dois baixos. De quem partiu a ideia? Como o pessoal recebeu essa ideia e como é feito o trabalho de composição?
Renato: A ideia veio do Guilherme, que estava cansado de trabalhar com guitarristas, e pensou que um segundo baixo no lugar de uma guitarra poderia quebrar a hegemonia. Mas percebemos que faltavam clarezas na melodia, diferenças mais marcantes entre tons maiores e menores, etc, e daí incorporamos também uma guitarra, que também é tocada de uma maneira bem peculiar, por conta da formação. A composição para a gente é um processo natural, onde alguém vem com um riff, e vamos construindo a música a partir dos resultados legais alcançados no improviso. Depois a letra é encaixada e os riffs encaixados de maneira mais matemática.
Gui: Os baixistas ainda costumam ser mais entusiasmados a longo prazo que os guitarristas. Não mudou nada.
Alê: Os dois baixos são o principal diferencial na sonoridade da banda. O som fica pesado, gordo, e deliciosamente rouco e sujo com a distorção ao mesmo tempo que pode soar delicado. Acredito que a limitação inicial pela falta de um timbre de guitarra fez com que a banda estudasse e testasse bastante as combinações de timbres entre os baixos e a maneira como eles trabalham. Alguém aparece com um riff, e começamos a testar e adaptar as funções de cada instrumento, inclusive os baixos tem funções distintas. Às vezes o riff vem gravado num celular porque alguém assobiou algo que pareceu legal e gravou para não esquecer. Algumas coisas que a princípio parecem ridículas, acabam ficando fantásticas depois de misturar tudo e cada um dar a sua contribuição. Criticamos quando não gostamos de algo ou da linha de algum instrumento, propomos alterações, readaptamos e assim por diante até a finalização. Algumas músicas ficam prontas em poucos ensaios, outras levam meses, algumas desistimos ou damos um tempo esperando a ideia amadurecer.

foto: Tatiana Ribeiro
A dupla de baixistas da banda, Gui, à esquerda e Renato. Gui também faz os vocais

CV: Quais são as principais influências de vocês?
Renato: Não sei. A gente praticamente nem sequer sabe o que o outro ouve em casa. Mas a atitude verdadeiramente rock de todas as eras certamente é a nossa força-motriz.
Gui: Em casa... Rock, Low-Fi e recentemente música eletrônica.
Alê: Acho que não me arrisco mais responder a esta pergunta citando nomes pois me tornei eclético em relação a música. Gosto de muitos estilos e acredito que esta variedade acrescenta de todos os lados. O rock é minha preferência e como disse o Renato, nossa força-motriz. Gosto de ficar transformando tudo em rock.

CV: Vocês lançaram em 2007, o disco "Too Hard", somente em vinil ou teve lançamento em CD? E por que fazer um lançamento em vinil?
Renato: Lançamos o disco em Vinil e em MP3 gratuito disponível no nosso site (mas que está passando por reformulações no momento).
Gui: Vinil é mais legal para a gente, e já que fazemos isso para nós mesmos antes de mais nada, ter a liberdade de lançar em vinil, que por si só um objeto mais colecionável que o CD, era uma vontade pessoal da banda. Eu mesmo não compro um CD há anos. A idéia é que a pessoa que quiser CD baixe do site e grave algumas cópias, ou passe a música em MP3, tanto faz, o importante é que a música seja ouvida, e quem quiser comprar algo, compra uma peça mais exclusiva em Vinil. Mais do que seria se lançassemos em CD.
Alê: Não é só pelo fato do disco ser de vinil (material), pelo tamanho do objeto ou da capa, ou por ser um formato antigo, colecionável … Na minha opinião o grande e verdadeiro charme e vantagem está no fato de ser um formato analógico. Mesmo novo, nenhum disco será exatamente igual ao outro e depois de usado menos ainda. A leitura é feita através de contato mecânico e isso traz tanto limitações quanto vantagens que tornam o som do disco de vinil diferente do CD. Já o CD não chega a ser exatamente um disco, é na verdade uma mídia de suporte de um arquivo digital que pode ser transferido para qualquer outro tipo de dispositivo de armazenamento digital como um pen-drive, um HD, etc. Hoje, as pessoas se preocupam em carregar mil músicas no seu MP3 portátil, não andam mais por aí com diskman e CD's na mochila. O CD já está obsoleto, vai virar lixo. Hoje poucas pessoas jogam discos de vinil no lixo, normalmente eles vão para o armário de outra pessoa ou voltam para os sebos onde são comercializados novamente. Isso chega a ser engraçado pois se parar pra pensar um disco de vinil usado pode estar sendo comprado pela terceira, quinta vez, e ainda acaba valendo mais hoje do que quando foi vendido pela primeira vez e este disco ainda tem uma história, uma tragetória, foi de outras pessoas, esteve em outros lugares. É meio que uma maneira de agregar mais valor ao som e disponibilizar um formato diferenciado também na sonoridade. Quanto a durabilidade, estou convencido de que a do vinil é superior. Tenho discos de 40 anos que continuam tocando e CD's muito mais novos que já não tocam mais. O CD é muito frágil e delicado. Se você pegar um CD com a mão úmida ou engordurada ele pode oxidar naquele ponto e se perder por completo depois de um tempo, já o disco de vinil vc pode até lavar. É uma maneira de imortalizar a coisa gravar em vinil. No disco de vinil o som está lá, você vê ele lá riscado, dá pra ver a batida do bumbo, falo sério. Você pega no som, você ouve o som saindo da agulha só de girar o disco, nem precisa ligar o aparelho. Não se ouve um disco de vinil, se toca ele, ele é praticamente um instrumento sonoro.

CV: Esse lance de lançar o trabalho em vinil partiu de quem? Houve algum apoio, selo de distribuição? O disco foi lançado somente no Brasil, ou foi para o exterior também?
Gui: Partiu da gente mesmo. O disco foi lançado no Brasil, com apoio da Riva Rock Discos apenas. Mas tem uma longa história por trás disso... Inicialmente a Pisces Records iria entrar na distribuição e produção.. acabou até saindo o logo deles na capa, porém não recebemos um puto deles até hoje, e não creio que isso vá ser acertado algum dia. Falta honestidade por parte do Ulisses, que simplesmente sumiu e não cumpriu com a parte que lhe cabia. O disco só foi lançado mesmo, por causa de nossos próprios esforços e de mais ninguém. Portanto, foda-se a Pisces Records e o Ulisses... não precisamos de "parceiros" assim. Cuidado com esses caras!
Alê: O Gui é o mais bravo dos integrantes. Ainda bem que ele está na banda.
Gui: Acho que as coisas combinadas devem ser cumpridas... underground sim, mal feito não! Então, se puder ser feito melhor que o combinado... ótimo, não é mais que obrigação... coisa que o Ulisses passou longe. Aliás... não sei como esse cara ainda não foi queimado em praça pública por bandas sedentas que estão esperando há anos na gaveta dele para serem lançadas conforme prometido... conheço várias!
foto: Tatiana Ribeiro
"A banda é uma atividade secundária em nossas vidas e também está relacionada a
diversão. Mas não deixa de ser um trabalho voluntário", Alê, baterista

CV: Qual o principal objetivo que vocês almejam como banda?
Renato: Creio que a música seja o fim por ela mesma. Tocamos por gostarmos e fazemos rock do jeito que achamos que o rock tem que ser feito.
Gui: Diversão, música, diversão.
Alê: É uma atividade secundária em nossas vidas e também está relacionada a diversão mas não deixa de ser um trabalho voluntário em que nos dedicamos a música. Claro que gostamos de elogios mas creio que a maior satisfação é quando reconhecemos ou percebemos por si mesmos que fizemos uma música boa. Concordo com o Renato, que é no fundo a música por ela mesma.

CV: Qual a opinião de vocês sobre o lance de compartilhamento de música? Vocês são contra ou a favor?
Renato: Acho que não é nem questão de ser contra ou a favor. A questão é que é isso que está acontecendo no momento, não é algo que irá mudar tão cedo e o artista precisa saber trabalhar de acordo com estas circunstâncias. Mas como público consumidor, certamente todos nós temos uma bela coleção de MP3 pego pela rede.
Gui: Sou completamente a favor.
Alê: Simplesmente é inevitável e acho bom.

CV: Campinas têm muitas bandas de rock, dos mais variados estilos. A cena parece crescer a cada dia. Vocês acreditam que isto ajuda as bandas locais, ou acaba criando alguma rivalidade?
Renato: Nós, infelizmente, não vemos uma cena crescer. Certamente existem pessoas e casas promovendo bons shows e montando bandas, mas achamos que ainda está muito longe do que acontece em locais como Goiânia, onde há uma estrutura muito mais bem fundamentada para fazer a coisa funcionar. Mas pelo menos fazemos nossa parte promovendo intercâmbios com bandas, eventualmente fazendo um show pelos bastidores e não pelo palco com a gente tocando, etc, e temos também várias bandas da cidade que são boas companheiras nesse sentido.
Gui: Acho que cada um deveria se preocupar apenas em produzir e produzir e produzir. Quanto mais gente tocando, fazendo, agitando, se mexendo... melhor ! Rivalidades nesse ponto seria mera infantilidade. A dita "cena" é um objetivo ainda, não realidade.

CV: Voltando a banda, não sei se eu ouvi direito, mas parece que o show de vocês no Bar do Zé, em agosto, foi o primeiro do ano. Por que vocês ficaram tanto tempo sem se apresentar?
Renato: Estávamos e ainda estamos compondo novo material. Isso exige uma certa dedicação, que não estavamos conseguindo ao fazermos muitos shows. Por outro lado, agora achamos que já era hora de testarmos nos palcos algumas dessas novidades.
Gui: A gente trabalha, tem contas a pagar, família (ainda não filhos, mas... ), cada um tem sua profissão fora da música... e não dá para viver da banda.... digo, de shows, venda de disco, essas coisas.... você gasta mais que ganha na maioria das vezes. Sendo assim acho que estamos dando preferência a produzir material novo quando reservamos tempo para a banda, ao invés de se desgastar em apresentações. Mas estamos aí... tocamos quando dá... quando chamam a gente... na verdade chamam a gente bem pouco.

foto: Tatiana Ribeiro
Ao contrário da maioria das outras bandas, os caras do Del-O-Max optaram por ter somente uma guitarra. Na foto, o guitarrista Maurício Struckel

CV: Quais os projetos para o futuro?
Renato: Estamos em uma fase bem introspectiva para cada um dos membros, todos procurando um melhor lugar ao sol nas suas vidas pessoais, o que dissipou um pouco da energia para algo coletivo nosso, mas certamente esta força ainda existe. Assim estamos compondo material, que provavelmente nós mesmos iremos fazer todo o processo de gravação. E para isso, precisamos também de mais boas novas músicas.
Gui: Gravar! Tirar férias .... gastar todo meu dinheiro com a banda.... rsrsrs. E por fim achar uns discos sendo vendidos a 0.50 cents no sebo da esquina daqui a 30 anos...

CV: Para encerrar, deixo o espaço para vocês divulgarem datas de shows, onde comprar o disco e etc.
Renato: Discos à venda na Riva Rock Discos, Baratos Afins e Big Papa, em São Paulo e via internet, na Livraria Cultura e Saraiva. Se preferirem entrem em contato direto com a gente: contato@del-o-max.com.br. Shows em breve! Por enquanto quem quiser pode aparecer nos ensaios e tomar umas com a gente. A garagem está aberta.

2 comentários:

Renato disse...

Bem legal ver a entrevista no ar!!!
Sobre os discos, ressaltamos ainda que as lojas Baratos Afins e Big Papa, em SP, tem também o LP no acervo.
E longa vida ao Canibal!!!

Anônimo disse...

Muito boa entrevista como sempre Canibal, e a banda também se expressa demais, adorei...
Bj
de@a