domingo, 2 de março de 2014

Uma vida dedicada ao punk/hardcore

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Jão, guitarrista da banda Ratos de Porão há 32 anos, membro fundador do grupo, falou ao fanzine Canibal Vegetariano sobre suas três décadas de carreira em uma das bandas mais bem sucedidas do Brasil. Além do RDP, ele lembrou o começo da Periferia S/A e também do trabalho que tem com banda de sua mulher.

Canibal Vegetariano: Jão, por favor, apresente-se para os jovens leitores que ainda não te conhecem.
Jão: Meu nome é Jão, sou guitarrista e fundador do grupo Ratos de Porão [RDP] banda à qual toco há 32 anos. Toco também no Periferia S/A, banda onde além da guitarra, faço vocal e no Trassas!

CV: Com quantos anos você começou a tocar guitarra e quais foram suas influências. Elas ainda persistem? Quais outras influências você adquiriu ao longo dos anos?
J: Comecei a tocar violão com 11 anos. Com 13 ganhei minha primeira guitarra, com 14 fundei o RDP. Quando começei como guitarrista, minhas influências eram o punk e o hardcore que rolavam na época. E essas influências permanecem até hoje. Ao longo dos anos tive outras influências, como o thrash metal, que ajudaram a moldar meu som de guitarra.

CV: Como foi formada a Ratos de Porão? Em algum momento no início da carreira, algum dos fundadores imaginou que a banda seria tão reconhecida após três décadas?
J: O RDP foi formada por três punks que não tinham nada pra fazer e é obvio que naquele tempo não tinhamos noção nem se a banda iria durar um ano, quanto mais três décadas.

CV: Você começou a carreira como vocalista e depois ficou apenas com a guitarra e quem assumiu o vocal foi o Gordo. Como rolou essa mudança?
J: Cara, quando fundei o RDP já tocava guitarra e todas a músicas ali compostas eram minhas. Resolvi assumir o vocal, mas era tímido e isso me atrapalhava, não conseguia ficar sem um intrumento na mão. Aí vi o Gordo cantando numa banda, achei que seria interessante um cara extrovertido como ele assumir os vocais.

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CV: Você chegou a pensar em desistir da carreira de músico em algum momento, principalmente no início, devido as dificuldades impostas pelo mercado?
J: Para mim sempre foi dificil ser músico. Venho de familia operária, onde muitas vezes qualquer manifestação artística era vista como sinônimo de vagabundagem, fora as inúmeras dificuldades como ter um bom instrumento etc... por isso muitas vezes pensei em desistir.

CV: Como você definia o som da banda há três décadas? E hoje? Quais foram as principais mudanças?
J: O RDP há 30 anos era hardcore/punk, mas devido as muitas influências que tivemos ao longo dos anos pode-se dizer que o RDP, atualmente, é um Punk /Hardcore crossover.

CV: E o mercado musical, mudou algo nesse tempo? Se houve mudança, foi positiva ou negativa?
J: O mercado musical é um assunto muito complexo, existe a música da mídia e a música independente que é onde me situo mais. Acho que dentro do underground brasileiro muita coisa mudou, temos mais lugares para tocar do que na época, mais bandas, etc...

CV: Apesar de não aparecer na grande mídia, o Ratos tem grande público que acompanha as apresentações da banda. Quem é o público de vocês atualmente?
J: Cara, o público do RDP sempre  foi se reciclando, mas muita gente é fiel e continuou acompanhando a trajetória da banda, nosso público é punk, banger e hardcore em geral.

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CV: A banda ainda tem aquele estigma de ser mais conhecida no exterior do que no próprio país?
J: Acho que não, até porque no Brasil temos um grande público.

CV: Qual seu disco favorito? 
J: Brasil.

CV: Nessas três décadas de banda, qual música você não aguenta mais tocar e qual você gostaria de tocar, mas o público ou galera da banda diz que não rola ao vivo?
J: Não aguento mais tocar "Pobreza" e gostaria de tocar a "Onisciente Coletivo", mas não sei se o Gordo consegue cantá-la ao vivo.

CV: Qual o melhor momento que você viveu com a banda? E o pior?
J: Não tem um melhor e um pior. A vida é cheia de altos e baixos, então nós pegamos os bons momentos e curtimos e tentamos esquecer os maus momentos!

CV: Vamos falar um pouco da Periferia S/A, outra banda da qual você faz parte. Como rolou o disco que vocês gravaram em meados da década passada? Além do processo de gravação, como foi reunir a galera? Qual o projeto da banda para o futuro?
J: O Periferia começou tocando músicas do começo da carreira do Ratos, isso foi em 2003 e na época o Gordo havia feito a cirurgia de redução de estômago, o Ratos tinha ficado quase um ano parado e o projeto seria apenas para tocar durante o tempo em que o Ratos estava parado. Mas aí foi tão legal tocar com o Jabá e o Betinho que fundaram o RDP comigo, que decidimos montar outra banda e aí surgiu o Periferia S/A. O Periferia está com CD na fábrica para sair, isso já deveria ter ocorrido há um certo tempo.

CV: Quando vocês lançaram o disco, como foi a recepção dos fãs do Ratos de Porão?
J: Acho que os fãs da facção punk e hardcore gostaram mais do que os fãs bangers.

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CV: Como é trabalhar com a esposa? O que vocês ouvem quando estão em casa?
J: Não encaro como trabalho e sim como comprometimento por uma banda que hoje eu admiro! O que ouvimos em casa é bem complexo né meu, quem imagina que a gente só escuta crust, punk e hardcore está enganado. Escutamos muito Jazz, músicas dos anos 60,70, às vezes um sambas antigos e etc...

CV: Planos do Jão para 2014?
J: Em 2014 quero lançar um DVD de 30 anos do Ratos que eu produzi. Vai sair o novo CD da banda. Também será lançado o novo Periferia e pretendo gravar o CD do Trassas, além de comprar um sofá novo!

CV: Cara, agradeço pela entrevista e deixo espaço para seus comentários finais. Abraço.
J: Quero agradecê-lo pela entrevista e a todos os fãs que acompanham meu trabalho ao longo desse anos.

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