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sexta-feira, 12 de junho de 2015

A partilha

Reprodução internet
Por André Fiori

A separação de um casal sempre vem acompanhada de muitos aborrecimentos. Um deles éa divisão dos discos. Aqueles CDs que vocês compraram juntos, ouviram juntos e que agora se tornam motivo de discórdia.

Na música “Trocando em miúdos”, Chico Buarque diz para a ex: - eu fico com o disco do Pixinguinha, o resto é seu. Na música “A Rita”, ele reclama que a mulher foi embora e além de seu coração, levou também o disco que mais gostava.

Não há uma receita infalível para uma partilha de CDs. Você com certeza terá que comprar vários deles novamente. Em compensação, dá para passar para frente os que ela (e) te deu e você não gostava, mas ficava sem jeito de falar.

A pessoa também pode sentir vontade de vender todos os discos que a fazem lembrar da (o) ex, mas aqui vai uma sugestão: espere um pouco. Depois que a raiva passar, você pode se arrepender. Terminou um namoro? Brigaram feio? E aqueles CDs que ficaram na casa dela (e)?
Namorados, namorados, negócios à parte. Esqueça os pudores e vá até lá buscar, mesmo que você tenha sido canalha. Afinal, buscar os discos na casa do (a) ex pode ser um ótimo motivo para quem quer reconciliação.

André Fiori é dono da maravilhosa loja Velvet CDs, na rua 24 de Maio, Centro de São Paulo. Há pouco mais de 10 anos, Fiori escrevia coluna que denominada "Atrás do Balcão", na revista Zero, uma das melhores a aparecer no mercado editorial nacional.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Qual é a música?

Arquivo Pessoal
Por André Fiori

É ruim quando você está atrás de alguma música ou disco que não sabe qual é. Aquela canção que ouvimos tocar em algum lugar e não sabemos o nome e nem quem canta. Pode ser um filme, em uma casa noturna, na rua ou no rádio, sei lá. Aqui na loja, inúmeras vezes nos deparamos com essa situação. Às vezes é preciso partir do nada. A pessoa começa cantarolar um trecho: “Olha, a música é assim: lá-ra-lá-lá-ri-lá...”. Nem sempre é possível acertar. Um procedimento muito comum é o cliente trazer uma fita K7 com a música em questão. Acho muito legal isso. Dá para sentir como no antigo programa do Silvio Santos: “Maestro Zezinho, duas notas, qual é a música?”. Na maioria das vezes consegue-se descobrir.
Uma vez uma moça com uma criança de colo vibrou ao saber que o que ela procurava era Pixies, “Here comes your man”. Levou dois segundos. Ela quis saber: “nossa, o cara nem cantou ainda, como adivinhou?”. Bom, essa foi fácil. O frustrante é quando, apesar dos esforços, não conseguimos descobrir o que é. Uma vez contei seis pessoas ouvindo uma fita (outros clientes também ajudaram) e não chegamos a conclusão alguma. Cada um falava uma coisa:
- Ah, isso aí é anos 80.
- Só pode ser banda inglesa e etc.
A cada pessoa que entrava na loja, eu perguntava: “Ei, amigo, por acaso você sabe o que é isso aqui?”. E rolava a fita novamente. Mesmo assim nada. Quando o cliente foi embora, ainda pedi: “Olha, quando você conseguir descobrir o que é, liga para gente e diz, ok?”.
E quando sei o que é, mas não consigo lembrar? Teve uma vez em que achei que não conseguiria dormir naquela noite caso não lembrasse o nome da bendita música. O clipe também ajuda bastante: “Olha, estou atrás de uma música. No clipe, o cara está andando na rua e esbarra em todo mundo”. Essa é moleza: “Bittersweet symphony”, do The Verve. Um comercial de TV também, às vezes, pode esclarecer o mistério. Lembra-se de quando “Fake plastic trees”, do Radiohead, tocava num comercial, onde aparecia um menino deficiente chamado Carlinhos? No começo, muita gente achava que era U2, outros, Suede. O Radiohead aumentou bastante sua popularidade devido àquela propaganda. Uma vez uma senhora entrou na loja e disparou: “Moço, o senhor tem a música do Carlinhos:”. E eu, distraído: “Que Carlinhos, Carlinhos Brown?”.


André Fiori é dono da maravilhosa loja Velvet CDs, na rua 24 de Maio, Centro de São Paulo. Há pouco mais de 10 anos, Fiori escrevia coluna que denominada "Atrás do Balcão", na revista Zero, uma das melhores a aparecer no mercado editorial nacional. 

domingo, 22 de março de 2015

Histórias sobre dono de loja de disco e seus clientes

Arquivo Pessoal
Galero que acompanha o zine/blog Canibal Vegetariano, atenção. Em algumas publicações, vamos relembrar textos de André Fiori, dono da maravilhosa loja Velvet CDs, na 24 de Maio, em São Paulo. Há pouco mais de 10 anos, Fiori escrevia uma coluna que chamava-se "Atrás do Balcão", na revista Zero, uma das melhores a aparecer no mercado editorial nacional.
A ideia de publicar esses textos surgiu como uma homenagem a essas pessoas valentes que seguem com suas lojas. Para quem não sabe, a pessoa que escreve essas mal traçadas linhas já foi gerente de loja de discos e dono de uma, mas ambas faliram, vejam quanta competência deste cidadão. Mas a Velvet segue firme e vamos trazer a vocês ótimas histórias de pessoas que frequentam lojas de discos.

Comprando na surdina

Por André Fiori

O músico Jools Holland, que apresenta um dos programas mais legais da TV inglesa, disse uma frase curiosa: "pessoas em uma loja de discos são como 'junkies' atrás de uma picada". Exagerou, mas não esté de todo errado. Quantas vezes você já se deparou olhando para sua pilha (geralmente enorme) de CDs e LPs e disse para si mesmo: "putz, não tenho nada para ouvir".
Só que o assunto que trataremos aqui é outro: o drama das pessoas que precisam comprar CDs escondido. Sim, isso existe. Muitas vezes, na hora de fazer uma encomenda, quanto anoto o telefone, a pessoa avisa: "olha, quando você ligar, para avisar que chegou, não diga que é da loja de CDs, inventa qualquer outra coisa."
Os motivos são vários. A esposa que não pode saber que o sujeito está gastando. A mãe que não quer que o filho "gaste dinheiro com besteiras". A namorada que pensa que o cara economiza para casar. Gente insensível, que nem desconfia que música é gênero de primeira necessidade. As desculpas são muitas. Na maioria das vezes, na hora de ligar, digo que "sou amigo da faculdade", ou do colégio. Neste aspecto, o advento e-mail veio bem a calhar.
É mais comum do que você imagina o cliente que, após voltar da loja para casa, precisa criar os mais intrincados esquemas para não dar bandeira. O procedimento mais comum é o do "cd emprestado: "esses CDs aqui? Ah, são emprestados." Depois é só esperar um tempo, jogar na estante, que passa batido.
Em casos de exagero, periga não dar certo. A mãe de um conhecido nosso acabou percebendo: "mas filho, se você não compra mais discos, como é que essa pilha não para da crescer?" Houve o caso daquele que criou um zine e começou a enviar CDs para ele mesmo pelo correio. "é o pessoal mandando CDs para eu resenhar no zine". A criatividade não tem limites.
Tem aquele caso de um cara que chegava em casa sempre com um amigo, que levava a sacolinha. Ele entrava sozinho, sem nada em mãos, ia até o quarto e abria a janela. O amigo dava volta escondido pelo quintal, chegava embaixo do quarto e passava os preciosos disquinhos pela janela, que ginástica.
Outro cliente na hora de marcar o valor no canhoto do cheque, ficou pensativo: "humm, deixa eu ver o que vou marcar aqui. Minha mãe fiscaliza meu talão, não posso escrever cd, se não vou ouvir pra caramba. Já sei: 'calça, 30 reais'." Aí tive que intervir para ajudar: "não acho boa ideia, sua mãe vai perceber que você não comprou uma calça." A solução mais comumente usada nesses casos é riscar um X no canhoto e escrever "cheque preenchido errado."
O caso mais triste que temos notícia é de um cliente, em fase de marcação cerradíssima da esposa, que comprou o box de 4 CDs do Crosby, Stills e Nash. Como era ítem grande e chamativo, ele não teve dúvidas: jogou fora a caixa e ficou só com os CDs separados, que não ocupariam espaço e passariam desapercebidos. Nosso amigo preferiu essa opção a criar uma crise em seu casamento. Um verdadeiro mártir.
Bem, imagino que com esta coluna tenha estragado os principais esquemas de camuflagem das aquisições. Peço desculpas, juro que não foi minha intenção. Tenho certeza que vocês conseguem imaginar novas e criativas formas de não "dar bandeira."

André Fiori é dono da loja Velvet CDs. Texto originalmente publicado na edição 4 da Revista Zero