terça-feira, 22 de maio de 2012

'A solidão das pessoas nessas capitais '


O título refere-se a música do cantor e compositor Belchior, mas ela define o que é o filme argentino "Medianeras - Buenos Aires na era do amor virtual". Apesar de ter amor no título, o filme de Gustavo Taretto está longe de ser romance água com açúcar como muitos longas acabam sendo. Medianeras reflete a solidão das pessoas não apenas nas capitais, mas em qualquer lugar, seja Buenos Aires, São Paulo, Londres, Itatiba, sempre há solidão, pois como dizia Kurt Cobain "...completamente sozinhos, é tudo que todos nós somos..."
A película argentina retrata duas personagens complexas. O homem é um craque da computação que sofre de fobia, depressão e que para sobreviver desenvolve sites. A mulher é arquiteta, nunca atuou na área, e trabalha em uma loja como vitrinista. Em comum, as personagens sofrem por causa do amor. O amor que depois de anos de dedição não rendeu frutos, apenas decepções, separação e um "zilhão" de questionamentos.
Em seu início, o filme apresenta várias imagens de prédios de Buenos Aires e essas imagens que sempre voltam durante o passar do tempo, faz uma analogia da cidade com a vida moderna, com os cidadãos. Um começo diferente, mas que mexe com a imaginação e faz com o que o telespectador comece a se questionar sobre seus atos. A estória não mostra pessoas felizes, longe disso. Trata de pessoas que sofrem, que são frustradas, depressivas, solitárias, pessoas com muitos medos, que tomam remédios controlados. Pessoas que não conversam com ninguém, que não se encontram. Pessoas que sentem a angústia e a revolta muito vivas em suas almas.
As personagens são solitárias, vivem em apartamentos cheios de bagunça. O pouco de relacionamento ocorre através de sites de relacionamentos e que acabam como relacionamentos superficiais que não passam de uma noite e que contribuem para que elas sintam-se ainda mais solitárias.
A trilha sonora passa por músicas clássicas, trilhas básicas de fundo e uma canção folk. No ritmo corrido da vida moderna, a estória retrata o vazio, a superficialidade. Pessoas que são vizinhas, que se encontram na rua e não se cumprimentam, pois não se conhecem pessoalmente. Pessoas que conversam apenas pela internet e que veem o tempo passar por suas janelas, assim como são os personagens de Franz Kafka. A cidade de fundo, a desorganização, o caos.
Entre uma música que toca no rádio e as estações do ano que passam, o filme chega a um final surpreendente. Com bela atuação de Pilar Lopez e Javier Drolas, "Medianeras" merece ser visto mais de uma vez, pois é complexo, denso, questionador com muita complexidade em suas entrelinhas.

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