segunda-feira, 1 de março de 2010

Oito Mãos, quatro caras e um disco com identidade

Os campineiros da banda Oito Mãos estão lançando seu primeiro álbum, intitulado "Vejo Cores nas Coisas", e aproveitando esta oportunidade, nós do zine/blog Canibal Vegetariano, conversamos com o baixista Felipe Bier, que comentou sobre o período de gravação e os próximos passos da banda. Abaixo, vocês conferem a entrevista na íntegra.

Canibal Vegetariano: Vocês estão juntos há cinco anos e após o lançamento do EP "Inverno Inusitado" e alguns singles, lançam o primeiro álbum. Podemos dizer que o disco saiu na hora certa, ou ele demorou um pouco?
Felipe Bier:
O disco saiu na hora certa, pois somente agora amadurecemos o bastante para que um disco como “Vejo Cores nas Coisas” fosse realizável. Digo isto pois sempre fomos uma banda muito criativa, mas que precisou trabalhar muito para entrar nos trilhos, se conhecer etc. O “Inverno Inusitado” tem músicas excelentes, mas reflete a nossa imaturidade em muitos aspectos, sobretudo técnicos. Além disso, durante esses cinco anos de banda, soubemos fazer com que as músicas soassem como Oito Mãos, e nãos mais como Los Hermanos, Oasis, Coldplay, Beatles etc.


Capa do CD da banda. Os caras curtiram tanto que acreditam que ela ficaria ainda melhor em vinil


CV: Como foi o processo de gravação? E como o disco será comercializado?
FB:
O processo de gravação foi, ao mesmo tempo, uma delícia e muito penoso. Passamos o ano inteiro de 2009 gravando as 13 faixas. Gravamos tudo no estúdio que montamos no quintal do André Leonardo, guitarra e voz da banda. Foi uma experiência muito legal, não só porque estávamos gravando em um ambiente que nos era familiar, mas também porque tínhamos todo o tempo do mundo para errar, experimentar, errar de novo, voltar e por aí vai. Testamos tudo que pudemos e a prova disso é a primeira faixa do álbum – “Ninguém” – que é uma puta viagem nascida das nossas experimentações. Algo realmente gratificante sobre essa produção toda do CD é que mantivemos o controle sobre todas as etapas de sua construção: o que lhe dá um ar meio ‘artesanal’ e sobretudo autoral. Ou seja, para o bem ou para o mal, o que está ali é a Oito Mãos. O disco será comercializado da maneira como são os discos de bandas independentes no sentido estrito da palavra: venderemos para as pessoas que se interessarem, venderemos em shows, pensamos em colocar em algumas lojas aqui de Campinas, bancas de jornal etc. Desse jeito pretendemos fazer o Cd chegar aos fãs. Mas não criamos nenhuma expectativa em relação a ganhar uma grana, vender todas as cópias e tal. Tanto é que já começamos a divulgação e providenciamos na Internet todas as faixas mesmo antes do Cd chegar às nossas mãos. O mais importante para nós é que o som se espalhe.

CV: Mesmo vivendo em um mundo conturbado, vocês lançaram um disco com o nome "Vejo Cores nas Coisas" e uma capa colorida. Algumas pessoas podem entender que se trata de uma banda otimista em relação ao futuro. O que vocês pensam sobre isso? E como surgiu a ideia do título e o conceito da capa?
FB:
Não saberia dizer se somos uma banda otimista em relação ao futuro, até porque estamos falando de quatro pessoas que têm visões divergentes acerca de muitas coisas. Mas acho que temos o seguinte sentimento na banda: nesse mundo conturbado, excessivamente desencantado, a música (e falando aqui da boa música) é uma das poucas coisas que guarda certa dose de mistério, de ousadia. Posso dizer que grande parte da visão que temos sobre as coisas, sobre a política, sobre a vida deve muito à música, à nossa sensibilidade musical. Por isso, para nós, não se trata de apenas fazer uma música meramente agradável: como a garota da capa, tentamos fazer música sempre esboçando aquele olhar para fora da cerca. Respondendo mais diretamente a pergunta: somos ao mesmo tempo uma banda otimista e pessimista. Não acreditamos que a nossa música vai mudar o mundo – tampouco mudará o mundo da música, muito provavelmente –, mas acho que acreditamos no poder crítico que a arte pode exercer, no teor de verdade que ela carrega.
A idéia do título surgiu em meio a muitas discussões que tínhamos na época. Numa dessas, o Leandro Publio (guitarra e voz) contou-nos de uma viagem dele. Para ele, todas as músicas tinham uma cor. Quando ele ouvia uma canção, ele dizia “essa é azul” ou “essa é vermelha”... é como se as cores, como frequências que são, fossem como os sons que compõem as músicas. Gostamos da ideia, ainda mais porque não nos soava nada blasé, o que definitivamente não é nossa característica. Sobre a ideia para a foto da capa, ela surgiu no centro de discussões ainda mais acaloradas. O André teve a ideia de alguém olhando através de uma cerca colorida. Eu comprei a ideia e fiz um teste quando estava de férias: comprei um monte de tinta guache, passei numa marcenaria e montei uma cerquinha colorida. Todo mundo gostou da ideia, ela ficou.

Sílvia Montico

A banda particiou de dois festivais e ganharam uma grana que foi fundamental para a gravação do CD


CV: Algumas bandas de Campinas lançam CD's com apoio do poder público, através de uma lei municipal de incentivo a cultura. O álbum de vocês também conta com esse incentivo?
FB:
Pode-se dizer que ele conta com um incentivo indireto. Foi com o dinheiro que ganhamos no festival “Cena Musical Independente”, realizado pelo governo do Estado de São Paulo, em dezembro de 2008, que conseguimos a grana de que precisávamos para montar nosso home studio. Em setembro de 2009, ficamos em quarto lugar no segundo Unifest Rock, festival de alcance nacional promovido pela prefeitura de Campinas. Com isso, conseguimos o dinheiro para prensar as cópias do CD.

CV: Vocês prentedem lançar o disco em vinil?
FB:
Vontade nós tínhamos, mas infelizmente estamos quebrados no momento. Quem sabe, não é? Sempre dizemos que a arte do CD ficou muito bonita e merecia ser apreciada em vinil. Certamente é um desejo da banda, mas no momento o CD tem prioridade.

CV: Vocês tocaram nos espaços mais importantes da música independente em Campinas e participaram de dois festivais, um deles em São Sebastião, onde vocês ganharam uma grana, por estar entre os melhores classificados. O que vocês pensam desses festivais e como está a agenda de shows?
FB:
Esses festivais foram muito importantes, não só pela grana. Aprendemos muito, conhecemos outras bandas, vimos o que as pessoas estão fazendo no Estado, no Brasil. Isso é muito importante para sabermos localizar o nosso som em meio a tanta coisa sendo produzida. Além disso, sempre é uma experiência boa tocar num palco maior, já que estamos acostumados ao clima dos “inferninhos”. E, é claro, é ótimo saber que não estamos loucos ao pensar que nosso som é de boa qualidade: quando há a chancela de um festival de grande porte, temos a comprovação de que nossa intuição não está nos enganando.
A agenda de shows ainda está meio vazia: como passamos esse último ano muito concentrados no Cd, tocamos pouco. Pretendemos voltar a nos apresentarmos em breve, com lançamento do CD e tudo mais.

CV: Há planos para uma turnê no exterior?
FB:
Planos não há. Mas se rolasse um convite e condições materiais para que isso acontecesse, seria uma experiência inesquecível! Vamos ver... vamos mandando nosso som para todo lugar. Quem sabe algum maluco da Romênia não nos chama pra um festival de lá?

Felipe Pompeo


Uma definição importante da banda: "Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir"


CV: A cena do rock independente cresce a cada ano. O que vocês pretendem fazer para se destacar entre as demais bandas? Vocês acreditam que ainda é possível músicos de banda, principalmente de rock independente, viver de música?
R:
Essa é uma questão delicada. Se por um lado, o rock independente cresce a cada ano, ele é absorvido de maneira muito seletiva pelo grande público. Acho que estamos passando por um momento de redefinição das fronteiras e limites do campo musical. A Internet ajuda em muitos aspectos, atrapalha em outros. É possível viver de música, mas somente contando com a grana que se ganha em shows. É impossível contar com a renda de venda de CD's. A nossa estratégia é exatamente não ter uma: fazemos as músicas, simplesmente. Fazemos as músicas como nós – ouvintes exigentes – gostaríamos de ouvir. Não temos muita preocupação com nossa aparência, com a maneira como nos vestimos etc. Não pensamos em cantar em inglês para atingir a um público maior, nada disso. Tentamos pensar que estamos agregando valor à própria música em si, apesar de sabermos que só isso não é suficiente para trazer notoriedade a qualquer banda que seja. A era dos grandes estouros de mercado acabou, isso é certo.

CV: Agradeço pela entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais.
FB:
Nós é que agradecemos muito. Estamos ralando bastante para que o “Vejo Cores nas Coisas” chame a atenção das pessoas, e espaços como o Canibal Vegetariano só podem nos ajudar! Esperamos que ouçam o CD e que o apreciem e se divirtam como nós nos divertimos ao produzi-lo. Deixo aqui os lugares na internet onde podem nos encontrar: www.oitomaos.com ; www.myspace.com/oitomaos ; www.twitter.com/oitomaos ; www.oinovosom.com.br/oitomaos . Em todos esses espaços é possível ter acesso às nossas novas músicas, bem como ao link para baixar o disco “Vejo Cores nas Coisas” inteiro. Estamos também no Orkut, se quiserem nos procurar por lá!

3 comentários:

Silvia disse...

Ivan, ficou muito legal a entrevista!
Vê se atualiza aqui com mais frequência loco... este espaço que vc abre pras bandas é muito importantes!

bjs

Oito Mãos disse...

Valeu pela entrevista, ficou muito legal!

Lembrando que nosso disco está hospedado no site do rock'n'beats pra quem quiser baixar

http://migre.me/l3oZ

Abraços!

Bier

Anônimo disse...

Massa a entrevista Ivan, parabéns e a capa do CD é demais eu adorei..
Bj