quinta-feira, 25 de junho de 2009

A música e a política do ponto de vista de um dos pioneiros do Punk no Brasil

Como diz o título acima, nós do zine/blog Canibal Vegetariano entrevistamos desta vez um dos principais nomes do movimento Punk no Brasil, um dos pioneiros, estamos falando em Ariel, o cara que montou uma das primeiras bandas do estilo no País. Se você ainda não sabe, Ariel já tocou no Restos de Nada, Inocentes e há mais de 20 anos lidera a banda Invasores de Cérebros. Abaixo, você confere a visão musical e política do eterno punk.

Ariel em uma das apresentações da banda Invasores de Cérebro Foto: Revista Comando Rock

Canibal Vegetariano: Por favor, primeiro vamos a apresentação de sua pessoa (caso ainda exista alguém que não te conheça).
Ariel: Meu nome é Ariel e sou um Punk Libertário. Gosto de Punk Rock, principalmente para tocar e dançar e acredito que uma nova forma de sociedade é possível.

CV: Você é um dos pioneiros do movimento Punk no Brasil, tocou em bandas importantíssimas como Restos de Nada, Desequílibrio e Inocentes, e há mais de 20 anos está no Invasores de Cérebros. Fale um pouco de seus mais de 30 anos de punk-rock, lembranças, alegrias, tristezas...
A: Comparo todos esses anos a uma imensa Montanha Russa, com tudo o que de prazeroso e perigoso existe nela. Foram anos intensos de muita agitação, descobrimentos e desilusões, onde pessoas muito jovens tiveram que aprender na raça o que é curtir Rock’n’Roll numa cidade que devora seus fracos. Tínhamos de estar sempre ligeiros e atentos e essa adrenalina era o que nos movia, dando o combustível para as noites quentes da cidade. Acredito que tive mais alegrias do que tristezas, conheci uma companheira que está comigo até hoje, tive filhos que cresceram dentro desse ambiente e são pessoas super conscientes em todos os sentidos, além de gostarem muito de Rock’n’Roll. Para colocar tudo isso no papel, só escrevendo um livro.

CV: A que você atribui o sucesso que as bandas, que começaram no final dos anos 70, início dos 80, como Ratos, Garotos, Cólera e etc. conseguem até hoje?
A: Acho que pelo conteúdo de cada uma existe um público específico, que aumenta a cada dia pois hoje em dia possuem estruturas que os colocam em maior visibilidade.

CV: Como é a cena atual do punk, é muito diferente do início? Quem são os punks de hoje? E como vocês, os pioneiros do movimento, veem o punk atualmente?
A: Acredito que o Movimento Punk existe há mais de 30 anos por continuar tentando mostrar uma nova forma de sociedade baseada na autogestão. Praticamos isso em todos os nossos atos, seja na música, na literatura, nas artes plásticas, nas manifestações, no nosso dia a dia, etc. E como até hoje pouca coisa mudou em termos de liberdades, indivíduais ou coletivas, com toda certeza o Punk contínua necessário para uma mudança radical da socidade.

"Onde existe democracia quando até professores são agredidos?" Ariel
foto: Portal do Rock

CV: Na sua opinião, o que melhorou e o que piorou no mundo nesses 30 anos. Sua visão de mundo nos anos 70, é muito diferente de hoje?
A: Sou completamente pessimista quanto a isso e minha visão não é muito diferente dos anos 70, onde continuo com a convicção de que tudo tem que ser mudado e como já disseram, a miséria gera monstros e eu acrescento que não é só a miséria monetária, mas a falta de cultura, o fanatismo religioso, a falta de escrúpulos e o excesso de moral, que estão entranhados na sociedade, que podem e vão realmente piorar tudo. Por isso lutamos.

CV: Quando o punk começou no Brasil, nós vivíamos a era da ditadura militar, generais no poder, exército nas ruas, censura. Atualmente nós temos um "metalúrgico" como presidente, vivemos em uma "democracia". Qual sua opinião sobre o governo Lula, e o que você pensa sobre política? É muito diferente o estilo de governo do final dos anos 70, para o final desta primeira década do século 21?
A: Como está diferente??? As bombas de gás ainda explodem em Universidades, lançadas por uma Tropa de Choque, que é especializada em conter conflitos urbanos. Qualquer manifestação sindical ou de classe é acompanhada por força policial e pronta para meter porrada a qualquer momento. Onde existe democracia quando até professores são agredidos? Eles tentam, pela força de seu cargo, colocar a população cada dia mais em casa, fazendo proibições ao direito de ir e vir, além de fecharem as casas de diversões mais cedo. O tal “metalúrgico” evoluiu e hoje diz que fala até francês e viaja pelo mundo servindo de bobo da corte de burguesias internacionais. Toda a lama do alto escalão está escorrendo pelos ralo do Congresso Nacional, mostrando mais uma vez que temos que assumir o controle.

CV: No documentário Botinada, você cita uma frase, se não me engano dos índios zapatistas, "para mim nada, para nós tudo". Você é anarquista, comunista ou nenhuma das opções?
A: Sou libertário e como dizia o Sub-Comandante Marcos, Intergalático na minha luta. Já fui Trotskista no final dos anos 70 e depois que conheci toda a ideologia Anarquista me tornei militante dessa luta. Coloco isso no meu dia a dia e apoio todas as lutas em todos os sentidos.

CV: Você acompanha a política mundial? Qual sua opinião sobre Barack Obama?
A: Não tenho boas expectativas, pois conheço a história e sei que ninguém muda nada se não houver algum tipo de interesse. O capitalismo está ruindo e como não conseguem mais dar soluções para seus problemas, colocou uma figura simpática para acalmar os ânimos, criando uma falsa ilusão de mudanças, mas a crise está aí e cada dia mais feroz, tornando homens em monstros.

CV: Voltando a falar em música, como está indo o trabalho dos Invasores. Você atualmente está apenas com eles, ou tem outros projetos?
A: Minha vida é movida a projetos ligados ao Punk e sempre estou agitando de uma forma ou de outra e o trampo com o Invasores tem uma prioridade nesse contexto todo, pois com ele junto tudo e cuspo. Com o Invasores estamos tocando bastante e conseguindo invadir alguns cérebros. Lançamos recentemente um CD com músicas inéditas chamado: “O cérebro é uma bomba relógio, o cérebro é o apocalipse.”. Está tendo uma boa repercussão no meio. Estamos finalizando 2 clipes e compondo alguma coisa.

CV: Como é tocar em uma banda por mais de 20 anos? Como você vê esse provável fim da música física (CD, LP...) e ficar somente pela Internet? Você acredita que isso é melhor, pior ou não faz diferença? Pelo tempo de estrada que vocês tem, a banda consegue viver somente de música?
A: Como disse, minha vida está entranhada nesse movimento que teima em continuar radical e estar numa banda para mim significa muito, pois consigo despejar toda minha raiva de uma forma forte e autêntica e por que não poética, sugerindo que pessoas parem para pensar sobre decidir por si mesmas suas próprias vidas. Acho impossível acontecer isso, pois de uma forma ou de outra, desde que começou a indústria fonográfica, foram lançados milhões e milhões de exemplares dos mais diversos tipos de formatos e hoje em dia o vinil está voltando com força, principalmente na Europa, e existe um público enorme para isso. Se depender de mim prefiro o vinil ao CD e outras mídias.

Ariel está há mais de 30 anos batalhando na cena Punk-Rock e é um dos caras mais respeitados e admirados do meio
foto: Cristina Sá

CV: Cara, valeu pela entrevista, deixo o espaço para você. Aproveitando, só te peço mais um favor. Deixe dicas de bandas para nosso leitores e dica de leitura, principalmente para os mais jovens que agora estão descobrindo, não só o Punk, mas todo o Rock'n'Roll.
A: Valeu a vocês que propagam informação independente. Bem, minha escola musical foi completamente fora do Rock’n’Roll que tocava nas rádios e buscava sempre um conteúdo que fizesse a diferença. Bandas como Pink Fairies, Cactus, Dust, Stooges, MC5 e uma leva de tantas outras desde os 50 até hoje com algumas que me surpreenderam recentemente como The Datsuns e The Lords of Altamont, na linha do Rock . Do lado Punk, minhas influências vêm de bandas como Speed Twins, The Suicide Commandos, The Dickies, The Weirdos, Radio Birdman, além das “clássicas”, Ramones e Sex Pistols. Na literatura me identifico com os marginais que viviam o que escreviam, seja na loucura do Teatro da Crueldade de Antonin Artaud, na filosofia além do bem e do mal de Nietzsche ou mesmo na solidão do Lobo da Estepe de Hermann Hesse. Tenho lido recentemente a Trilogia Suja de Havana de Pedro Juan Gutierrez, um escritor cubano que não deixa nada a desejar ao velho Bukowski, de quem também gosto muito.

Gostaria de deixar alguns contatos: invasoresdecerebros@ig.com.br
Myspace.com/invasoresdecerebros
ORKUT – comunidade invasores de cérebros

7 comentários:

Anônimo disse...

EXCELENTE ENTREVISTA, ADOREI
ABRAÇO
de@

Beto Ramone disse...

o ariel é uma lenda viva..

abraços
Racha Cuca

Ricardo Cachorrão disse...

O Ariel é o cara!

Entrevista franca e direta, como deve ser!

Abs.

Brasil in-line Hockey Blog disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Christian Camilo disse...

Ivan!
o site do rocknbeats ta no ar
www.rocknbeats.com.br
vou acompnhar o conteúdo de vcs aqui

abração
chris

Lobizomem Drakula disse...

Parabéwns pela entrevista.
Curti mesmo!

Marcel (Lobizomem do Drakula)

Renato Andrade disse...

Ariel é o cara!!!
nunca mudou o som e continua ai, conspirando.... Invasores banda fodastica!!!