Quando fui chamado para escrever esse texto, já perguntei logo de cara: “Sobre o que vou escrever?”. A resposta me deixou confuso e surpreso ao mesmo tempo: “Rock independente”. “Independente. Independente. Rock. Rock Independente”. A resposta ficou martelando na minha cabeça durante uma semana. Mas de repente, enquanto eu tomava banho, uma dúvida essencial invadiu minha cabeça: “Mas pêra ai, será que todo rock não deve ser independente? Será que independência não é uma qualidade intrínseca ao rock?”
Todos esses anos, presenciei discussões calorosas sobre esse gênero tão amado e odiado pelas multidões. E sempre, no centro dessas discussões, estava a famosa questão: “O que é vendido e o que não é?”. Para a maioria das pessoas que ouvem rock, essa pergunta é essencial, uma espécie de regra de ouro que dita se uma banda é ou não é boa. Há sempre aquela ilusão de que o rock se distancia brutalmente da música pop, como se ele também não fosse feito para vender. Qualquer estilo tem seu público e isso é fato.
Acho que tentar reduzir o que é rock a um aspecto tão simples como esse, isto é, de que rock verdadeiro é tudo aquilo que se distancia do mainstream, não passa de uma perda de tempo (e de saliva gasta em discussões sem fim à beira de mesas de bar). Talvez valha mais à pena olhar para outro aspecto: o quanto as bandas fazem um som honesto, em outras palavras, INDEPENDENTE.
Mas o que quero dizer com esse termo? Se pegarmos os discos “Nevermind” e "The Earth is not a Cold Dead Place" de bandas tão díspares como Nirvana e Explosions in the Sky, vemos que algo soa como autêntico ali. Há uma tradução de uma experiência imediata, intensa e, conseqüentemente, livre de amarras. Não estou dizendo que não havia preocupações mercadológicas ou de outros tipos, mas o resultado final soa tão novo e, portanto, tão autêntico, que essas preocupações ficam a segundo plano e passam despercebidas. Pouco importa que o disco do Nirvana tenha vendido 23 milhões de cópias e o do Explosions in the Sky somente 20.000. Há em ambos uma tal entrega do artista à sua obra que tudo é tragado pela música feita por ele. E quando isso ocorre o resultado final é um disco que é centro, não periférico; um disco que não depende de nada e caminha com suas próprias pernas. Resumindo: uma obra que é INDEPENDENTE.
Quando eu ouço um disco de rock e sinto a intensidade correndo nas veias de cada música, sei que estou diante de algo verdadeiro, sincero. Mas quando o contrário ocorre, logo aparecem com toda a força as preocupações secundárias que movem o disco – grana, público alvo, imagem, fama, etc. O que estou defendo aqui é, portanto, que todo rock deve ser independente, pois se isso não ocorrer, ele já assinou seu atestado de óbito. Rock nunca deve ser música para ouvidos anestesiados, para sala de espera em consultório de dentista. Um gênero que nasceu de uma fusão de puro sentimento entre blues, R&B e country, só pode guardar em si uma granada prestes a explodir. (V.F.S.)
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Independência ou morte!
A banda Rites of Spring
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