Em uma época de iPhones e mp5s, um disco gravado em quatro canais soa um tanto quanto anacrônico. Mas o fato é que “Either / Or” de Elliott Smith está ai para lembrar que existe algo além de toda essa plasticidade que nos rodeia. Em cada música, é possível ouvir a fragilidade e fracassos de um homem no limite.
Com seu violão e uma voz sussurrada - que beira o ininteligível em certos momentos - Elliott compõe melodias folk em que há ecos da suavidade pop dos Beatles e a melancolia sombria de Nick Drake. A fusão desses dois elementos vem acompanhada de letras fortes que tratam principalmente da luta de Elliott para vencer as drogas, ou melhor, para continuar vivo. Em uma primeira audição, pode-se passar despercebido todo o desespero de versos como “Quando eles limparem a rua, eu serei a única merda deixada pra trás.” ou “Torço para que você não fique me esperando / porque não estou indo pra lugar algum.”. São necessárias várias audições para que o ouvinte consiga digerir todo o conteúdo intenso de “Either/Or” que, vale notar, se esconde sob suas melodias assobiáveis.
Infelizmente Elliott Smith morreu em 2003 com uma facada no peito em um provável suicídio. Mas felizmente ele deixou uma discografia recheada de obras-primas. E “Either/or” não é exceção. Mais do que um disco, “Either/ or” é uma espécie de tesouro naufragado que nos faz notar que há ainda algo de estranho batendo em nossos peitos. E isso, em uma época de tecnologia sufocante, é um sopro vital. (V.F.S.)
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