Foi em uma tarde fria de inverno que aconteceu o terceiro dia do festival independente autorock. Ao lado de trens velhos, na estação cultura de campinas, o público pôde presenciar – diga-se de passagem sem pagar um tostão - o verdadeiro rock brasileiro. Digo verdadeiro porque não estou falando daquele rock movido a jabá, apresentado sob as luzes de imensos holofotes, mas sim do rock feito clandestinamente nos porões mais sujos das cidades, impulsionado por muito suor e força de vontade.
A primeira banda a subir ao palco, por volta das cinco horas da tarde, foi a Instiga de Campinas. Com um indie rock esperto, eles mandaram um repertório com músicas de melodias simples que soavam como uma mistura de Talking Heads com Los Hermanos. A única coisa que incomodou um pouco foi o fato de não ser possível entender com clareza as letras, já que a voz do vocalista estava um pouco baixa. Mas isso, vale ressaltar, não fez com que o show não fosse interessante.
Em seguida, foi a vez da Radiare, também campineira, subir ao palco. Essa banda talvez tenha sido a que mais me agradou. Remetendo a nomes como Teenage Fanclub, Elliott Smith, Superdrag e Beatles, eles executaram um Power pop muito bem feito. Talvez o público não tenha se empolgado tanto, pois geralmente quem vai a um show de rock sempre espera barulho. O Radiare caminha na direção contrária dessa idéia comum e aposta na sutileza e sensibilidade, demonstrando que, às vezes, um sussurro derruba mais do que um grito.
Já era fim de tarde quando o Drakula, também de Campinas, destilou seu empolgante misto de punk rock e surf music. O público agitou e dançou ao som de músicas rápidas sobre vampiros e zumbis. Diante das estripulias dos músicos da banda, é impossível não lembrar de Misfits e The Cramps.
Após o Drakula quem tocou foi a Violentures. Com músicas instrumentais, a banda faz uma surf music misturada a um rock de garagem. O resultado são melodias que não deixam ninguém parado.
Em seguida, quem subiu ao palco foi a Lunettes. Apesar da vocalista estar com a voz bem rouca, a banda não comprometeu e fez a galera agitar ao som de suas músicas dançantes. Que Cansei de Ser Sexy que nada! A Lunettes manda um repertório new wave muito mais interessante do que a badalada banda paulista. O teclado à la década de 80 é muito legal.
O penúltimo (e incendiário) show da noite foi o da paraibense Zefirina Bomba. Ilson, munido de sua viola envenenada a distorção, cantou músicas inteligentes que expõem um Brasil esquecido e, para muita gente, jamais visto. Raiva, paranóia e ousadia são os elementos de que a Zefirina se mune para compor seu rock explosivo. Com certeza, Kurt Cobain sorriu em seu túmulo.
Por fim, quem fechou o terceiro dia do festival foi o Rock Rocket. Talvez seja a banda que menos me agrada. Grande parte do público estava lá esperando por eles, mas o rock machista do Rock Rocket não me empolga. As letras sobre a velha retórica de sexo, drogas e rock and roll são, para mim, mais do mesmo. Até hoje não entendo o hype que a banda teve uns tempos atrás na MTV. Sério mesmo, esse negócio de coçar o saco e cuspir cerveja pro alto me soa muito falso. Mas gosto é gosto e não se discute.
Um comentário:
boa resenha, mas...
só queria creditos pela foto do radiare =/
nunca peço dinheiro pela foto, mas citar a fonte é a base do CC... (creative commons)
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