Ele é vocalista e guitarrista em uma banda, baixista de outra, baixista e vocalista em mais uma, dono de um dos selos mais legais do Brasil, grande incentivador do rock, principalmente da cena underground. Nós do zine Canibal Vegetariano conversamos com Mozine (Mukeka di Rato, Os Pedrero, Merda e dono da Laja Records), para saber mais sobre este importante empresário do rock independente.
Canibal Vegetariano: Cara, por favor, apresente-se aos leitores de nosso zine.
Mozine: Oi, meu nome é Fabão, tenho 34 anos, gosto de Roberto Carlos, GG Allin, Frankito Lopes e DRI, sou capricorniano, odeio The Smiths, sim, eu não gosto dessa banda chata.
Arquivo Pessoal
O poderoso 'Chefão' em pé junto com a galera da Mukeka di Rato em um clima bem capixaba
CV: Quando começou essa paixão pelo rock e como isso aconteceu? Quais são suas bandas favoritas?
M: Falei das bandas ali em cima, esqueci de Adelino Nascimento, o melhor cantor que já existiu no Brasil. Acho que já nasci assim, desde pequeno gosto de música, pancadão, samba, rock, etc. Gostava muito de desenho de capeta quando era criança também, antes de ser Flamengo eu era América porque o logotipo era o satanás.
CV: Quantos anos você tinha quando montou sua primeira banda? Qual era o nome dela?
M: Revolta Social, era uma banda meio anarco punk, sei lá bicho, punk, eu batia nos armários, batia em lata, com uns caras aí, Renan, Washington e Clayton. Logo após montei o Carcará com Zuzu que seria o vocal/guitarra dos Pedrero no futuro. Só depois dessas duas cagadas montei o Mukeka di Rato, em 1995 ou 94, e a partir daí o pau continua quebrando. Se hoje eu tenho 34 anos, não sei quantos anos eu tinha em 1995.
CV: Como surgiu a Laja Records? Ela veio antes das bandas em que você toca atualmente?
M: A Laja surgiu única e exclusivamente para lançar os CDs da Mukeka di Rato por eu achar que as gravadoras que trabalhavam com a gente na época eram muito incompetentes (sem querer falar mal, sendo apenas sincero, porra!!!). Porém percebi que poderia lançar outras bandas, e aí estou agarrado com isso até hoje, mas me divertindo muito.
CV: Quais os critérios que você usa para a Laja divulgar? Você recebe muitos CDs de bandas que não sejam de rock pauleira? O que você diz para quem não é lançado pelo selo?
M: Eu digo bem assim: desculpe, mas não posso lançar sua banda. Recebo CDs de todos os tipos de música, apesar de ser bem eclético no meu dia a dia, indo até em bailes funks para me divertir, a Laja mantém um estilo, não gosto de quebrá-lo. Eu tenho usado a Internet, Twitter, Fotolog, entrevistas, mas mando também material para blogs e revistas que eu mais gosto no Brasil.
CV: Cara, você acha que o consumo de CDs tende a cair ainda mais nos próximos anos? Qual sua expectativa como proprietário da Laja? E os vinis?
M: CD tá tenso, cada vez vou prensar menos CDs, mas não sei se vai cair tanto mais não, acho que estabilizou, num patamar ridículo, mas estabilizou, ai véio, quer saber, parei de querer prever o que vai acontecer no mercado fonográfico, tá bizarro essa tecnologia, amanhã nego inventa outra parada, aí fodeu tudo de novo. Vinil é uma paixão né, feliz de ter acabado de realizar um sonho que foi prensar o Gaiola (álbum lançado pela Mukeka di Rato) na França e pretendo lançar muito mais títulos.
CV: Além de CDs e DVDs, a Laja lança livros também. Como foi, ou como está, a venda dos livros que você lançou e quais os títulos? Comente sobre sua experiência como escritor.
M: Gostei, acho que consegui fazer exatamente o que eu queria, que era escrever algo de fácil leitura, engraçadinho, sincero, real, ligeiro, com a minha cara, dando a impressão que eu estivesse conversando com você. E foram esses os elogios que recebi então estou feliz. Vendi 800 cópias duma tiragem de 1.000 livros, irado, Paulo Coelho vai tomar no cú!
Divulgação
Mozine, além do baixo, ele toca guitarra na Merda e ainda comanda a Laja Records. Tudo sem falar nos Pedrero
CV: Agora vamos falar de suas bandas. Como surgiu a Mukeka di Rato? E falando em Mukeka, fale desta recente passagem por Portugal e França. Além desses países, vocês já passaram pelo Japão. Como é a cena de rock independente nestes lugares?
M: Já tocamos na Argentina, Uruguai, Chile, Portugal, França e Japão. De todos, o Japão foi o mais legal, mas pegamos muito bem com a França também. A cena hardcore é parecida no mundo todo, os mesmos moleques, mesmas tatuagens, mesmas bandas, mesmo LPs, mesmos vícios, etc. Porém no Japão, TUDO é diferente e mais legal, por ser diferente, o impacto é muito grande. Pegamos muito bem com a França e queremos voltar pra fazer uma tour por lá, somente lá!
CV: E o público destes países, como eles recebem a proposta musical da Mukeka? Quem é o público de vocês atualmente? Fui em um show, e vi poucos adolescentes e muitos adultos, inclusive mulheres. O que você pensa sobre isso?
M: Fomos bem recebidos em todos os lugares que fomos, mas no Japão foi algo realmente bizarro e brutal. O Japão é um bagulho inesquecível para nós. Você deu sorte de ver mulher no show da Mukeka, isso é raro, eu acho que nosso público mantem uma faixa jovem ainda, muito forte isso, dá muito moleque no show, mas pode ser que agora que com essa desgraça chamada emo e Restart, os jovens comecem a migrar para essa doença e pinte mais velhos no show do MDR.
CV: Cara, vocês eram independentes e atualmente estão na Deck Disc. Como surgiu o convite e qual o motivo que levou vocês a trabalhar com a Deck? E o DVD, qual a previsão de lançamento?
M: Cara, estamos na Deck, sim, mas eu considero uma banda 110% independente. A Deck nos dá toda liberdade de trabalhar livremente, não se mete em nada e quando pode ajudar, ajuda. É simples demais para nós trabalharmos com os caras, é como se fossemos do mundo e da Deck. Eles liberam músicas para coletâneas punks, liberam a gente para lançar outro material por outros selos, liberam o disco para gringa, a Deck é sangue!!!
CV: Além da Mukeka, você também participa d'Os Pedrero e da Merda. Qual delas surgiu primeiro? E o que te motivou a participar de outra banda?
M: É bicho, nem sei exatamente porque fui montando tanta banda doida bicho, mas foi surgindo, sei lá. Os Pedrero veio antes. Também tenho um projeto chamado Tenebrio Peixoto que nunca saiu do papel apesar de eu ter composto mais de 30 músicas, um dia eu gravo, seria brega o projeto. Também já toquei numa banda de Roberto Carlos anos 60 (cover) que pode voltar a qualquer momento e estou montando uma banda chamada Os Dotadões para tocar Cascavelletes. Tenho problemas?
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Fábio Mozine com seu baixo e uma cerveja gelada em algum show pelo Brasil, ou exterior?
CV: Como é tocar em três bandas ao mesmo tempo e ainda administrar a Laja Records? E como você consegue tempo para a vida particular?
M: É uma doidera doida bicho, tô todo doído, todo cagado, mas tá rolando, eu sou workaholic, estar acordado para mim significa estar trabalhando, com dois celulares no bolso e mandando e-mails, no msn, no twitter...
CV: Agora voltando as bandas, fale um pouco do novo CD d'Os Pedrero "Sou feio mas tenho banda". Como está a agenda de shows e como está a aceitação do público com este novo trabalho?
M: O público sempre fala que gosta, não sei se estão mentindo ou apenas falam isso por falar. Temos feito alguns poucos shows, mas é isso mesmo, esta na frequência da banda. Acabamos de gravar 6 músicas pra um EP em vinl chamado "Pin up Gordinha", com capa de Victor Stephan, vocalista dos Estudantes, ficou brutal.
CV: Para você, qual a diferença entre a Mukeka, Os Pedrero e a Merda?
M: Mukeka é hardcore reto, político. Os Pedrero é rock hardcore doido, Merda banda doida, pode tudo.
CV: Agora falando sobre a Merda, vocês acabaram de lançar um split com a banda DFC. Qual o motivo que leva as bandas a lançar split?
M: Amizade, cachaça e afinidade musical.
CV: Além do CD, atualmente vocês estão divulgando o DVD "Breaking Brazilian Bones in Europe" sobre a turnê que você realizaram em parceria com a Leptospirose em 2007. Como está a divulgação deste trabalho?
M: Divulgação normal feita pela Laja, ou seja, divulgar na Internet e enviar para lista de revistas e blogs que eu mais gosto. Estamos planejando algumas exibições públicas do filme, tem passado em pequenos cinemas, salas, mostras, festivais, a galera tem recebido bem, se pá nego nem vê, mas fala que gosta para puxar o saco!
CV: Vou te perguntar algo que você deve estar com o saco cheio de responder, mas muita gente tem curiosidade em saber. Por que a banda chama-se Merda? Tem alguma influência do filme "Joey e as baratas"?
M: Não tem influência nenhuma disso aí. Tô ligado nesse filme mas nem sei porque perguntou isso, o cara tinha uma banda chamada Merda nesse filme chato? Bicho, não sei porque tem esse nome, sério, acho que porque talvez fosse uma Merda, será isso?
CV: Você faz parte de três bandas que tocam hardcore. Em algumas vocês fazem algumas críticas, mas costumam "zuar" bastante, tirando sarro e falando de outros assuntos. Admiro o estilo debochado de vocês. Como o público encara esta zueira? E o que vocês pensam dos caras que tocam o mesmo estilo de vocês e ficam com pose e cara de mal, só usa roupa preta e preso a ouvir somente um estilo musical?
M: Cada um cada um, não fico observando como os outros são ou se comportam, cago para os outros, cuido da minha vida. Acho que a galera já acostumou com nosso sarcasmo. Não é nada tão diferente assim, Dead Kennedys já fez há 20 anos. Nós tentamos fazer algo parecido.
CV: Este foi um ano com vários lançamentos de seus projetos. Há mais por vir até o fim do ano? E a Laja?
M: Tem bicho, esse ano tá tenso. Até o final do ano sai o DVD da Mukeka di Rato no Japão, um documentário com um show extra feito em Vitória e shows no Japão em geral. Sai também DVD do BB. Kid antologia. Ano que vem tem DVD Laja 100, contando a trajetória da Laja. Agora, acabou de sair o CD da Dizzy Queen. Vou lançar um menino capixaba chamado Fe Paschoal, meio tropicalista hardcore doido cheio da maconha, vai sair o pin up gordinha d'Os Pedrero e o aguardado Atletas de Fristo, da Mukeka di Rato pela Deck.
CV: Mozine, valeu pela entrevista e o espaço é teu. Critique, xingue, agradeça, divulgue seus trabalhos...
M: Bicho, 100% é nós! Valeu a você pelo espaço e tamo aí béacho, fala que eu te escuto.
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