Zorg é uma banda de folk rock da Suíça, ou melhor, três sonhadores que um dia decidiram tocar um som lento e doce em um mundo barulhento. A banda está junta já faz um bom tempo e como eles mesmos dizem: “viramos tipo um casal de velhinhos... mas somos três e não dois. Um “ménage a trois” duradouro.” Com três discos gravados (o álbum “A Certain Idea of Love” foi lançado no Brasil em 2004), eles já tocaram para multidões em diversos festivais pela Europa, bem como para públicos pequenos em shows intimistas. O Zorg concedeu uma entrevista exclusiva para o zine Canibal Vegetariano, falando sobre a cena na Suíça, metal, álbum novo, shows no Brasil, o futuro das gravadoras, literatura e outras coisas mais. Confiram abaixo a entrevista na íntegra!
Canibal Vegetariano: Vocês já gravaram três álbuns e o último saiu em 2006. Vocês estão trabalhando em músicas novas? Em caso afirmativo, quando vai ser lançado um disco novo?
Zorg: Ha! Essa é uma pergunta complicada. Quando finalizamos a turnê do disco “Between Us”, sentimos que era necessário um tempo para fazer outras coisas como ler livros, ver filmes, assistir shows de outras bandas, ouvir sons novos... Notamos que precisávamos de experiências novas para adicionar coisas diferentes em nossa música. Caso contrário, o próximo álbum seria uma mera cópia do anterior.
Voltamos a nos encontrar recentemente... e até estamos plugando os violões novamente! Depois de três discos, queremos nos aventurar em novos caminhos, fazer as coisas de maneira diferente, nos desafiarmos A questão é a seguinte: ainda não sabemos que caminhos são esses e como encontrá-los. Mas sabemos que descobriremos cedo ou tarde. Queríamos muito ser capazes de responder: “o próximo disco já está pra sair”, mas a verdade é que ainda não sabemos de nada.
CV: Temos uma crise em termos de vendas de CDs no Brasil. Talvez não seja só uma crise local, mas internacional também. A maioria das bandas independentes brasileiras está lançando suas músicas somente na internet. Vocês podem nos dizer como está a situação da indústria musical na Europa? Que maneiras vocês usam para divulgar seu trabalho? Ainda existem lojas especializadas em rock na Suíça?
Z: A crise é internacional na verdade. Se bem nos lembramos, as vendas de discos na Suíça caíram em 20% no ano em que lançamos “Between Us”... e isso, em um país pequeno como o nosso, é muito. O que está acontecendo com as gravadoras é assustador, mas, ao mesmo tempo, interessante. Agora está claro que devemos enxergar as coisas sob um novo ponto de vista. Seria estúpido seguir em frente fingindo que nada está acontecendo.
É por causa disso também que a gente está dando um tempo para gravar o próximo disco. Estamos tentando imaginar de que forma poderíamos usar esses novos meios. Desde o começo do Zorg, enfatizamos as qualidades da “produção caseira” de nossa música. Essas novas tecnologias são uma ótima forma de continuarmos a explorar isso.
CV: Assistimos alguns festivais de música europeus aqui no Brasil (pela TV) e observamos que grande parte das bandas que participam é de metal. Em que tipo de festivais vocês tocam? Como é a reação do público?
Z: Sim, os organizadores de festivais gostam de convidar bandas barulhentas e “festivas” porque acham que só o barulho atrai multidões. Quando lançamos nosso primeiro disco, muitos organizadores tinham medo de nos convidar, pois tocávamos uma música lenta e minimalista. Mas tivemos nossa primeira chance em um grande festival na nossa cidade. Tocamos para 3000 ou 4000 pessoas sob as estrelas. Foi incrível! E foi assim que tudo começou. No verão passado, nos apresentamos em grandes festivais e ficamos surpresos do quanto foi legal. As pessoas eram receptivas e partilhavam aquele momento com a gente. Uma das nossas apresentações favoritas foi no festival francês “Les Eurockeennes de Belfort”. Foi um momento tão intenso diante de uma multidão. Quase choramos!
CV: O segundo disco de vocês saiu no Brasil. Como isso foi possível? E os outros álbuns, por que eles não estão sendo vendidos aqui?
Z: Foi uma grande surpresa pra gente. Bem, aconteceu assim: um de nossos agentes estava em uma convenção musical na França (o Midem em Cannes) e alguém do Brasil ficou interessado em nossa música. Nosso disco foi distribuído aí e até tocou em algumas rádios.
Foi incrível perceber que nossa música tinha uma vida própria, atingindo os ouvidos das pessoas em um país que nunca fomos. Realmente foi muito legal. O acordo não continuou no nosso próximo disco porque o cara, que nos contratou, saiu da gravadora e, como você sabe, as vendas de disco desceram ralo abaixo. Com isso as gravadoras ficaram mais cautelosas com o dinheiro.
Quando finalizamos a turnê do disco “Between Us”, sentimos que era necessário um tempo para fazer outras coisas como ler livros, ver filmes, assistir shows de outras bandas, ouvir sons novos... (Zorg)
CV: Vamos conversar um pouco sobre as letras. Quem é responsável por elas? De onde vem a inspiração para escrevê-las? De livros, filmes, músicas, experiências, etc.?
Z: Bem, as letras são um capítulo à parte em nossa história. Quase não escrevemos letras pro nosso primeiro disco. Foi uma amiga nossa, a Tanya, que escreveu. Tudo começou porque ela fez um texto para o funeral de um de nossos amigos e decidimos musicar esse texto. Foi nossa primeira experiência como Zorg e nos ocupamos bastante com a parte musical. O segundo disco é um misto entre letras de Tanya e algumas nossas. Já no último, há quase uma conversa entre Guillaume e Catia. Escrevemos as letras juntos, como um diálogo, ou separados. O que queríamos dizer era inserido na música. Foi muito interessante proceder dessa forma.
Com relação à influência, é difícil dizer. Nós lemos livros, temos nossos autores favoritos: Philippe Djian (o autor francês que escreveu “Betty Blue”... de onde veio o nome Zorg), Bukowski, Miller, Kerouac, etc. Também gostamos do processo de escrita automática de Burroughs.
Mas, quando escrevemos, o mais importante é que as palavras sejam musicais. Elas têm que se juntar perfeitamente à música. Algumas vezes a parte musical vem primeiro, em outras a letra, não há regra. A língua inglesa é muito mais musical do que a francesa (ao menos para os nossos ouvidos). Às vezes gostaríamos de cantar mais músicas em francês, mas ainda não encontramos a musicalidade dessa língua.
CV: No álbum “A Certain Idea of Love” vocês tocaram uma versão da música “The captain of her heart” da banda Double. Essa música foi um grande sucesso no Brasil. Por que vocês decidiram fazer essa versão?
Z: Guillaume veio com a idéia em uma manhã (muito vinho no dia anterior?). A gente já estava quase acabando de mixar o disco, mas começamos a gravar essa música, só porque achamos engraçada a idéia. Sempre gostamos de covers. É muito legal pegar a música de alguém e tentar fazê-la soar como uma música do Zorg. Gostamos desse desafio, especialmente Totor.
Muitas pessoas não sabem, mas Double (a banda que fez “The Captain of her heart”) era suíça. Por isso também achamos legal gravar o cover. Além disso, transformar uma música horrorosa da década de 80 em uma canção folk e pop foi demais.
CV: Aqui no Brasil, grande parte da informação sobre rock diz respeito à Inglaterra e Estados Unidos ou metal da Alemanha e de países nórdicos. Como é a cena musical na Suíça? Vocês sabem algo sobre a cena no leste europeu?
Z: Bem, também estamos mais cercados por música anglo-saxã. Há sons que vêm da Escandinávia, mas não só metal. Há muitas bandas acústicas de pop e folk na Suécia e Noruega, tais como Kings Of Convenience ou Jose Gonzáles. Na parte da Suíça que fala francês, as pessoas também escutam música francesa. Não somos fãs desse tipo de música, mas alguns cantores como Camille, por exemplo, são incríveis.
A cena musical na Suíça é muito rica e o nível das bandas é particularmente elevado. Temos músicos realmente bons aqui e em vários estilos: do doom ao pop, do rap ao stoner rock. E, acredite ou não, nossa cidade natal (Lausanne) tem a reputação de revelar as melhores bandas e artistas do país. Ah, sim, é verdade, já ia esquecendo! Uma revista dedicou algumas páginas ao fenômeno. Nossos artistas favoritos de Lausanne são Honey For Petzi, um trio de post rock incrível, e Monkey 3, uma banda que faz um stoner-rock bem psicodélico e pesado. Ah, eles também são um trio… estranho, que coincidência, tantos trios, deve ter algo rolando no ar. Mas, verdade, existem muitas outras bandas nesse país e vários estilos diferentes. Confiram: Stress, Sludge ou Sophie Hunger, eles vão te deixar de boca aberta.
Com relação ao leste europeu, a gente não sabe muita coisa sobre a cena de lá. A maior parte das bandas são é de metal... e uma vez que a gente não tem ouvido metal ultimamente...
Nossos gostos batem mais com a cena canadense recente ou mesmo islandesa. Gostamos de gente como Olafur Arnalds... bem, queremos dizer, Guillaume and Catia, porque Totor ainda está louco por AC/DC!
CV: Essa pergunta vai para o Guillaume. Você tocou em uma banda de metal antes do Zorg, certo? Como foi a experiência de mudar abruptamente do metal para um som folk? Você ainda ouve heavy metal ou quer tocar em uma banda desse estilo?
Z: Foi algo muito lógico pra mim. Ouço música acústica desde meus 20 anos. Gosto de extremos. Quando eu era mais jovem, queria mesmo tocar música alta e pesada. Foi uma experiência incrível. Depois de alguns anos, isso passou. Fiquei cansado de ficar pulando de um lado para o outro pelo palco. Eu queria tocar algo completamente diferente. Na mesma época, estávamos começando o Zorg, tínhamos ótimas oportunidades e eu sabia que era isso o que eu queria fazer. Eu estava cansado de ouvir metal, já havia dez anos que ouvia esse tipo de música. Mas agora, depois de dois anos, estou começando a gostar de metal novamente. Tive a oportunidade de tocar covers do Alice in Chains com amigos da banda Monkey 3 e foi muito divertido. Mas tocar novamente numa banda de metal não dá. Estou feliz com a escolha que fiz. Tivemos tantas experiências boas com o Zorg e, se Deus quiser, ainda há muita coisa pra acontecer.
CV: Gostaríamos de agradecer pela entrevista e deixamos esse espaço para vocês! Ah, só mais uma perguntinha: vocês gostariam de tocar no Brasil se tivessem a oportunidade?
Z: Será que alguém responderia “não” pra essa pergunta? Claro que ficaríamos emocionados de tocar no Brasil. Isso é a dádiva da música: ser capaz de encontrar pessoas diferentes, ir para países diferentes e partilhar música. Quem poderia sonhar com uma vida melhor? A gente ia tocar por duas semanas no Brasil em 2005, mas não aconteceu por alguma razão. Quem sabe no próximo disco? Por enquanto, desejamos muito amor pra vocês, daqui do nosso planeta, e não deixem de checar nossas próximas aventuras em:
www.zorgmusic.com
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